Manuela.
Um ano se passou desde que tudo aconteceu e cá estou eu, no último ano do ensino médio. Meu segundo ano foi um grande inferno, passei por muita coisa, tive que entrar no psicólogo para tentar viver em paz comigo mesma depois de tanta humilhação que passei. Foi torturante. Esse ano não iria ser muito diferente, as piadas iriam continuar, os olhares críticos e até os olhares maldosos mas eu estava decidida que iria passar isso de cabeça erguida e não ia ligar para nenhum comentário imbecil.
Não ia me deixar levar por isso, não mesmo.
Eram seis e vinte da manhã e eu estava passando a prancha no meu cabelo. Nesses últimos meses ele tinha crescido bastante e estava batendo até a bunda e uma coisa que eu amava era meu cabelo, ele era tudo pra mim. Passei um rímel e peguei minha mochila antes de sair do quarto. Meu pai não era muito presente por conta das viagens de trabalho, então por isso acabava que morava eu e meu irmão mais velho três anos, Gabriel.
— Acordado essa hora? Que bicho te mordeu? — coloquei minha mochila no sofá e fui tomar café.
— Bom dia pra você também — mandei um beijo no ar — Vou para faculdade e depois para empresa do papai.
— Só assim você fica com menos cara de vagabundo — pisquei e mordi um pedaço do pão.
— Me poupe, querida — deu um gole no seu achocolatado — Tô indo nessa, quer uma carona?
— Quero
Acabei de tomar café e fui escovar os dentes rapidinho para Gabriel não me deixar de pista. Voltei para sala e ele já estava me esperando em frente ao elevador, peguei minha mochila no sofá e tranquei a porta antes de sair. Graças a Deus não teve engarrafamento, cheguei na escola em quinze minutos e agradeci por ter sido rápido, as músicas de Gabriel são muito ruins, é de sair sangue do ouvido.
— Muito obrigada e melhore seu gosto musical — coloquei uma alça da mochila no ombro.
— Você está no meu carro e quer controlar as minhas músicas? Piada né — ele riu — Se cuida, maninha.
Mandei um beijo no ar e sai do carro. Falo com toda convicção que quando se entra no ensino médio os primeiros dias de aulas deixam de ser "o início de um sonho" para "deu tudo errado". Como o esperado: as pessoas me olhando estranho e cochichando entre si. Não me abalei por isso, continuei andando indo em direção a Lya e Natália que estavam conversando entre elas e nem perceberam minha chegada.
— Oi, quengas — elas me olharam de boca aberta — O que? Viram um fantasma?
— Você tá maravilhosa, Manu — sorri.
— Isso eu sempre fui — me gabei e elas riram.
Lya e Natália eram minhas amigas desde o ensino fundamental, eu não era de falar com muita gente, até porque ninguém nunca fui com a minha cara e eu nunca fui com a cara de muita gente aqui. Era muita garota nariz em pé e muito garoto se achando a última coca cola do deserto e eu tenho um total de zero paciência para esse tipo de gente. Fiquei conversando com as meninas até o sinal bater e nós irmos para a sala de aula. A primeira aula seria de Biologia, abri meu caderno e comecei a copiar o que a professora passava no quadro.
Apesar de não gostar muito de estudar, minhas notas eram boas desde nova. Tinha um sonho de fazer faculdade nos Estados Unidos, então mesmo não gostando de estudar eu fazia por onde pra eu poder me mandar do Brasil assim que eu pudesse.
..
As aulas passaram rápido, quando o último sinal bateu eu peguei minhas coisas, me despedi das meninas e fui embora. Peguei o ônibus um pouco cheio, fui escutando música o caminho todo e agradeci mentalmente quando cheguei no prédio.
— Boa tarde, seu João — sorri para o mesmo, que era o porteiro que eu mais gostava daqui.
— Boa tarde, Manuzinha — sorriu amigavelmente.
Chamei o elevador e não demorou para que eu já estivesse no meu andar. Destranquei a porta e não tinha ninguém em casa, provavelmente Gabriel iria chegar tarde hoje. Fui direto para o banheiro tomar um banho, estava muito calor e eu estava pensando em ir para a piscina do condomínio. Terminei meu banho e coloquei meu biquíni branco de cortininha. Eu gostava bastante do meu corpo, pra mim ele era perfeito. Coloquei uma blusa de Gabriel que eu tinha roubado e peguei meu óculos de sol e meu celular.
Chamei o elevador e em um minuto já estava no térreo. A piscina não estava cheia, só tinha umas crianças com suas mães. Tirei minha blusa e a coloquei na cadeira, desci pela escadinha e apoiei meus braços na borda da piscina, a água estava maravilhosa. Fiquei na piscina até me dá fome, eram três da tarde então resolvi subir para almoçar. Coloquei uma pedaço de lasanha no microondas e enquanto esquentava, fui tirar o cloro da piscina do corpo. Tomei um banho rapidinho e sai com um top preto da Nike e um short de pijama rosa curtinho. Deixei a toalha na cabeça pra secar meu cabelo enquanto eu almoçava.
Eu amava lasanha, sempre que fazia devorava tudo igual uma draga mas parando pra pensar....O que eu não devorava igual uma draga?
Magra de ruim, amores.
Almocei assistindo o que eu mais gostava, desenho. Quando acabei limpei o que sujei na cozinha e fui para meu quarto, escovei meus dentes e deitei. Não demorou muito para o sono bater.
..
O silêncio gostoso que estava durante o dia todo não tinha mais, Gabriel tinha chego e trouxe amigos pra cá.
Tortura.
Peguei meu telefone para olhar as horas e eram sete horas da noite, respondi algumas mensagens e entrei em algumas redes sociais até levantar para ir beber água. Nem me importei com a roupa que eu estava, a casa era minha e os incomodados que se mudem. Passei pela sala e eles estavam jogando vídeo game e bebendo cerveja, senti uns olhares sobre mim mas não dei importância, bebi minha água e procurei algo no armário pra comer.
— Perdeu o cu na cara dela? Presta atenção no jogo, mané — escutei Gabriel falando e me acabei de rir.
Muito ciumento.
Peguei um saquinho de batatas e uma lata de refrigerante e fui para meu quarto. Fiquei vendo série a noite toda e quando senti sono já era umas uma e pouca da manhã, desliguei tudo, fechei os olhos e apaguei logo em seguida.
Acordei mais que atrasada, dei um pulo da cama quando vi que eram sete e vinte da manhã, tomei um banho rápido e vesti minha roupa na velocidade da luz. Se não me apressasse eu ia entrar vai saber em qual tempo de aula e tem professor que é chato com isso de atraso.E eu sei de todos, porque a minha vida era chegar atrasada mas tô tentando mudar esse hábito. Estava tentando tanto que falhei miseravelmente no segundo dia de aula.Mas sigo na luta porque o que importa é a intenção.Peguei minha mochila no chão do canto do quarto e calcei o tênis em uma rapidez que quase fui de cara no chão. Resolvi chamar um uber porque não ia dar tempo de pegar o ônibus e chegar no colégio menos atrasada do que eu já estou. Eu estava igual uma maluca, meu cabelo estava todo para o alto pelo simples fato de não ter passado pelo menos uma escova nele. Prendi o mesmo e
Finalmente sexta.A semana passou bem rápido e eu dei graças a Deus, já não estava mais aguentando professor socando matéria na gente e estava de saco cheio de fazer cálculos.Não sou de exatas e nem de humanas, sou de nadas.Estava deitada vendo televisão e conversando com a galera no WhatsApp marcando a boa para hoje.Mensagem on:GustaPub hoje 22h?NatáliaBoaaLya VacaÓbvio, já tô láEuCom toda certezaPedroPresença vip, só boraoff.A boa para hoje já estava marcada e meu lado baladeira gritava de emoção. Qualquer chance de rebolar a tabaca, eu não desperdiçava. Eram duas da tarde e eu estava dando um revisada na matéria de biologia e português. Lá para quase três hora
Tinha acordado um pouco depois do horário que eu tinha colocado para despertar, ou seja, estava mega atrasada. Meu celular estava cheio de mensagens e seria provavelmente do pessoal me xingando. Eu sempre me atraso, não era novidade pra ninguém. Estava terminando de passar o gloss, resolvi fazer uma maquiagem básica porque estava sem tempo e paciência pra caprichar no reboco. Vesti um cropped decotado de renda fina preto e uma mini saia apertadinha branca. Eu estava um verdadeiro arraso e uma grande gostosa.Peguei minha bolsa de sair e coloquei apenas o necessário. Coloquei um salto plataforma preto com pedrinhas e de baixinha eu fui para girafa, eu adorava colocar saltos, era a única hora que eu tinha moral para falar de altura já que eu tinha a de uma pessoa de onze anos. Passei meu perfume e sai do quarto apagando a luz.— Onde tu acha que vai desse jeito? — tirou sua atenção do telefo
Estava com a cabeça tão longe que não percebi que tinha um carro na minha frente, forcei pra tentar ver quem era lá dentro mas o vidro era muito escuro. Nada como um sequestro para melhorar a noite, não é mesmo?O vidro foi abaixado e na mesma hora meu corpo se relaxou quando vi que era Diego mas fechei a cara automaticamente.— Te deixo em casa, vem — ele apertou o botão que destrancava as portas.— Não precisa, vou de chamar um táxi — disse sem o olhar pra ele.— Deixa de ser orgulhosa e entra, Manuela — olhei pra ele com a sobrancelha arqueada.— Lya foi buscar minhas coisas, ela vai dem...— Cheguei — olhou para minha cara sem entender o porque de Diego estar ali.Lya não conhecia Diego, só sabia dele por causa de fotos e nome, porque eu sempre que podia falava o quanto eu o odiava. Me despedi dela e d
Diego.Estava preparando meu café da manhã, morar sozinho tem suas vantagens e desvantagens e fazer a própria comida, arrumar a própria casa, lavar e passar a própria roupa as vezes se tornava uma grande desvantagem. Eu moro sozinho desde que fui pra São Paulo, não fui muito difícil me adaptar, minha mãe abandonou eu e meu pai quando eu tinha seis anos e meu pai era como se não existisse pois só queria saber de trabalhar, sempre foi muito ausente.Minha maior campanhia foi a Rosa, a empregada que é quase minha mãe. Sinto maior falta do cheiro da sua comida, aprendi muita coisa com ela e uma delas foi cozinhar bem.Tomei meu café tranquilamente enquanto mexia no telefone, assim que acabei lavei o que sujei e fui ao banheiro escovar meus dentes. Voltei para o Rio por simplesmente ter cansado de São Paulo e o estresse na empresa estava absurdo,
— Mata! — gritei.— Mantém a calma, gente — Alex gesticulou com as mãos segurando uma vassoura.— Como que mantém a calma com um rato a solta, seu imbecil? — Victor falou segurando uma garrafa de cerveja, o mesmo estava em cima de uma cadeira.— Você podia ser mais homem e me ajudar.— Virei mulher, se vira.A sexta que era pra ser relaxante estava sendo tensa por causa de um rato. Parece que ninguém tinha vida porque todo dia era uma farra diferente e claro, eu com nada melhor para fazer, estava acompanhando eles em todas. — Cadê o rato? — perguntei desesperada olhando para os lados.— Eu não faço a mínima — Alex andava de um lado para o outro procurando o mesmo.— Como assim voc&eci
Era Diego, estava encostado no corrimão e com um sorriso sarcástico no rosto. Rezava pelo dia que teria a oportunidade de arrancar dente por dente seu, eu queria ver ele ser debochado banguela.- O que foi, Diego? Tá fazendo o que aqui? - me ajeitei.- Encontro você lá em baixo, loirinha - caio disse antes de descer e eu assenti.O ódio que eu estava sentindo não estava escrito, por que caralhos ele tinha que estragar o momento?- Qual é a tua, garoto? - cruzei os braços - Tá me seguindo?Ele riu debochadamente e meu sangue ferveu.- Seguir você pra que, Manuela? Se enxerga- seus olhos rodaram nas órbitas - Qual é a tua com o Caio?- Ta perguntando por que? - arqueei a sobrancelha.- Sou uma pessoa curiosa - rolei os olhos.Ele só podia estar de brincadeira.- Se quiser falar para o Gabriel, vai lá - disse perto
Duas semanas depois..Essas duas semanas passaram voando e foram até que boas. Sai algumas vezes com Caio, nada sério, só estávamos nos conhecendo um pouco melhor e teve um dia que ele até me buscou na escola e me levou para almoçar.Tudo no sigilo, óbvio, se Gabriel sonhasse com isso eu estava morta.Hoje era o dia da viagem e eu não podia estar mais ansiosa. Tinha feito as malas umas três vezes na noite passada e os motivos foram meu irmão enchendo meu saco dizendo que era muita bolsa. Nós íamos sair lá da casa de Alex, iríamos em apenas dois carros então provavelmente um deles iriam passar aqui para buscar eu e a dondoca que não gostava de dirigir, Gabriel.O mesmo apareceu com duas mochilas na sala e as colocou no sofá, ele estava vestindo uma bermuda jeans branca e uma blusa da Nike cinza.Lindo igual a irm&ati