SIMON
As visitas se fizeram muito mais fáceis depois que descobri que os H. tinham uma parede enorme de livros em sua casa, passávamos a maior parte do tempo falando sobre os livros que gostávamos. Contei que gostava de fantasia e terror.
— Quais livros você tem? — senhora H. perguntou entusiasmada.
— Eu não tenho muitos — respondi sem graça.
— Ah! — disse também sem graça. — Você lê na escola, então?
— E às vezes vou à livraria e sento lá para ler os livros. — Dei de ombros, como se não fosse grande coisa. Depois disso, os Hartnett passaram a aparecer com sacolas de livros. Lori chamou a atenção deles, dizendo que não era saudável e podia ser interpretado como suborno para eu aceitar ir com eles. Mas a senhora Hartnett tinha algo nela que fazia as pessoas terem dificuldades em negar-lhe alguma coisa. Então, depois de explicar para Lori que era apenas um empréstimo e que a intenção dela não era me comprar e sim me proporcionar entretenimento, a assistente social acabou relaxando e permitindo que ela os trouxesse.
Dizer que não fiquei tocado com a sua atitude seria mentira. Mas eu precisava tomar cuidado. Os Hartnett eram legais, mas eu ainda não via motivos para ficar em um lugar, criar expectativas para ir embora em seguida. Eu sabia também que depois de um ano, ou talvez antes, eles me mandariam embora.
Durante nossas conversas, Caterine sempre procurava saber coisas sobre mim, desde meu gosto por livros até minha numeração de sapatos. Minhas cores favoritas e comidas também. Ela fazia ser muito difícil não gostar dela.
Quando chegou o dia de eu tomar a decisão, foi para Lori que contei sobre ela. Os Hartnett não participaram da conversa pois Lori não gostaria que eu me sentisse pressionado a aceitar ir com eles.
— Eles são legais, Lori — expliquei nervosamente para ela. Eu não tinha dormido e mal consegui prestar atenção na aula com aquela questão na minha cabeça. Não sabia explicar o que estava sentindo. Mas sabia que não queria ser abandonado novamente. Eu não daria essa chance. Então, depois de muito pensar, resolvi. — Mas não quero ser adotado e sei que não sou eu quem resolve, mas eu queria pedir, por favor, para não me deixar ir com eles.
— Eu entendo, Simon, e não vou forçá-lo...
— Mas os Hartnett podem, não podem? Uma vez que estou no sistema. — Interrompi o que ela estava dizendo. De repente estava me sentindo ansioso com aquilo tudo.
— Os Hartnett não te forçarão a nada, Simon. De fato eles assinaram apenas o termo de compromisso de casa de passagem. Eles querem dar a você a decisão de ir embora quando você completar dezoito anos. — Fechei meus olhos tentando me concentrar e manter a minha palavra. — Escute, eles estão te dando opções aqui, mas você já parou para pensar em todas as oportunidades que terá? Uma casa, pais que se importam, escola, talvez até faculdade...
— Eu já me dei mal tantas vezes, Lori...
— Talvez seja a hora de você se dar bem — afirmou e ficou quieta, apenas aguardando eu e meus pensamentos. Eu continuava firme em minha decisão, até que vi, pela persiana do escritório eu os vi, o senhor H. estava abraçando a sua esposa e a embalando enquanto ela parecia apreensiva. Ela estava daquela forma por causa de mim. Eles me visitaram por um mês para me conhecer. Nunca aconteceu isso antes.
Talvez eu pudesse lhes dar uma chance.
Talvez eu pudesse me dar mais essa chance.
Com medo, muito medo.
Foi o que fiz.
SIMONA casa dos Hartnett ficava em Tribeca. Era um bairro legal. Bem diferente dos lugares que eu havia frequentado.Os H. são ricos? Pensei comigo enquanto olhava para os prédios e ruas bem cuidadas do bairro.Eles moravam em um loft, era impressionante, para ser honesto, parecia casa de revista. Era grande e com decoração legal. Tinha uma cozinha imensa, sem contar o número de janelas.— Vamos subir, depois você vê tudo com calma — senhora H. disse pegando a minha mão e subindo para o segundo andar comigo sendo praticamente arrastado por ela. Eu podia ouvir o seu marido resmungando e rindo atrás de nós, mas não consegui entender bem o que ele dizia. Ela parou em frente a uma porta e engoliu em seco, quando me olhou, percebi que havia uma pontada de tristeza em seus olhos, mas rapidamente se apagaram e a tristeza deu lugar ao entusiasmo. E no
SIMONA primeira semana de aula foi ignorada por mim e os Hartnett, eles alegaram que queriam que eu me familiarizasse com o novo lar antes de ingressar, então durante a semana Alexander e Caterine trabalharam em casa, enquanto eu lia e passava tempo com eles. No final de semana iríamos a Jérsei para eu conhecer toda a família. E na próxima semana seria sujeitado à tortura do High School [1] para mauricinhos.Pela manhã, sempre havia café na mesa para nós três. Ao menos não foram servidos na janela, embora eu tenha gostado de comer lá na primeira noite.A mesa era sempre repleta de waffles, pães variados, iogurte, cereal e panquecas. Caterine e Alexander se esforçavam ao máximo e eu conseguia ver aquilo. A preocupação deles em me incluir, em preencher o ambiente com conversa toda vez, contar sobre sua
SIMONNa sexta-feira à noite estávamos seguindo para Nova Jérsei. Eu gostei do carro dos H, eles geralmente usavam apenas táxis para andar por Nova Iorque, o que era totalmente compreensível, mas quando iam para Jérsei, Alexander tirava seu Jeep maneiro da garagem.Eles passaram um bom tempo falando do caso em que Alexander estava trabalhando, o caso Hoffman. Foi um caso que o senhor H. aceitou quando ele e a senhora H. passaram por uma crise, eu não sabia detalhes, mas KitCat, como eu gostava de chamar Caterine, me contou sobre o caso e deixou escapar que foi no meio de um momento complicado para os dois. Tinha pelo menos um ano que ele trabalhava neste caso na promotoria. Caterine trabalhava em casos muito menores e era em defesa e não na acusação como o seu marido, mas era maneiro ouvi-los falando sobre os casos.— Alex, essa música é digna de fazer qualq
SIMON— Mas eu quero dormir com Simon. — Joselie chorou enquanto Josh a pegava no colo.— Mas você não vai, Jo. — Revirou os olhos. — Dá para acreditar? Nem um dia inteiro e ela já está apaixonada pelo Simon aqui.Josie esteve pendurada em mim a noite toda até que finalmente deixou escapar que me amava e que se casaria comigo. Eu engasguei com o refrigerante na minha boca e todos os outros riram da situação, eu era bom com crianças, mas não tinha ideia de que era um destruidor de corações de nove anos de idade.Quando Jojo finalmente se entregou ao sono, Josh voltou.— Agora os homens da casa irão tomar uma bebida forte e conversar sobre coisas de homem no jardim, senhoras — anunciou forçando uma voz autoritária para todos na sala.— Papo machista! — Mary provocou.
SIMONMeu estômago estava pulando para fora do meu corpo no momento em que Carter me deixou em frente à escola Warden High School. Olhei nervosamente para a entrada da imponente escola onde vários alunos já subiam a escadaria e entravam no prédio, mas não saí do carro, nem me movi.— Quer que eu entre com você? — Caterine perguntou devagar, como se estivesse testando o meu humor.— Não, tudo bem, eu consigo. Obrigado. — Engoli nervoso, tentando convencer a mim mesmo que conseguiria.— Não há necessidade de ter medo, querido. Alex e eu já providenciamos tudo — avisou, dando um tapinha no saco marrom do lanche que havia preparado para mim. Eu quase ri lembrando daquela manhã quando ela preparou o sanduíche de peito de peru para o meu almoço e o entregou para mim.Alex havia sido, com
ALEXANDER— É bom falar com você também, Mel. Mande meus cumprimentos a Bennett, por favor. Diga que nos encontramos em breve para o julgamento.— Claro, diga a Carter que enviei as fotos que ela me pediu e que mandei um abraço para ela e parabéns novamente pelo novo membro na família, aguardo fotos de Simon.— Enviaremos. Até mais, Mel!Desliguei o telefone e me joguei na cadeira tentando descansar. Os últimos acontecimentos estavam me deixando exausto. O caso Hoffman estava tomando boa parte de meu tempo e eu queria dar atenção para Simon, precisávamos que ele entendesse que estávamos nessa para valer. Conhecendo o seu histórico, era compreensível que ele estivesse reticente conosco. Parte dele se recusava a acreditar que não seria abandonado. Esta parte estava se preparando para ir embora na primeir
SIMONQuando avisei os H. que Kennedy voltaria para me buscar no dia seguinte, Alex ficou empolgado. Carter nem tanto.— Vamos, baby. Ele já fez uma amiga, isso é bom. — Ouvi eles conversando no quarto enquanto eu fingia que estava indo para o banheiro tomar banho antes de ir para a escola.— Uma amiga que pode ter um bebê, Alex. — Choramingou ela. Por que ela estava falando de bebês?— Agora você está sendo irracional e fazendo julgamentos, Carter — Alex defendeu. Não entendia por que eles estavam discutindo aquele tipo de coisa. Não era da conta deles.— Só estou preocupada.— Então pense comigo. — Ele introduziu. — Ele tem dezessete anos, é um garoto bonito e está com os hormônios à flor da pele.Deus! Me mate, por favor. 
ALEXANDER— Precisamos comprar um telefone para Simon — Caterine disse enquanto cortava as cenouras. Estávamos preparando um almoço apenas para nós dois. Simon estava na escola e voltaria apenas após as três horas, e resolvemos ter um momento para nós.— Concordo, mas gostaria que fosse uma recompensa para ele, não apenas mais um presente. Talvez quando ele apresentar a primeira prova.— Telefone é uma necessidade, Alex, ele pode precisar para alguma emergência. Tem mais de um mês que ele está morando conosco, precisa de um telefone — Carter rebateu.— Eu sei, mas ele tem ido para escola com você e voltado com a amiga dele — Ela suspirou e passou a cortar as cenouras com mais agressividade. Percebi que ela não havia gostado da minha réplica e me aproximei a abraçando por tr&aacu