ALEXANDER
No momento em que Caterine viu o garoto, a emoção em seus olhos se transformou em algo que eu não sabia identificar. Mas eu podia dizer com convicção uma coisa: Era o mesmo olhar de quando ela me contou que estava grávida. Bem, era o olhar depois que ela me contou sobre a gravidez e viu que eu não ia surtar com um bebê.
O mesmo do dia em que nos casamos.
Não tinha outra alternativa.
Nós tentaríamos adotar um menino de dezessete anos.
— Onde paramos? Ah! Sim, as crianças até cinco anos voltaram e... — Lori voltou a falar, mas Caterine continuava me fitando com aquela expressão determinada e apaixonada.
— Na verdade, Lori — Interrompi. —, gostaríamos de saber mais sobre Simon, é possível? — Lori olhou para o menino por um momento e olhou para nós com certa dúvida.
— Senhor Hartnett, Simon tem dezessete anos e...
— Nós queremos conversar sobre ele, é possível? — Interrompi novamente.
Lori assentiu finalmente e Carter me olhou com um sorriso largo.
— Vamos até o meu escritório, por favor. — A assistente social andou em nossa frente enquanto, abraçados, Caterine e eu a seguíamos.
Caterine continuou em silêncio, mas eu sabia que sua mente estava em um turbilhão, entendi o seu olhar e entendi o que ela queria imediatamente.
— Queiram ficar à vontade, por favor. Eu vou pegar água para nós — Lori avisou assim que entramos em sua pequena sala. Era decorada com desenhos dos meninos e um grande quadro cheio de fotos, também de garotos. Identifiquei uma de Simon, rodeado de meninos, em um porta-retratos na mesa de Lori e o peguei no momento em que sentei ao lado de Caterine. Analisei o rosto do rapaz que minha esposa escolheu para ser seu filho. Os olhos tristes eram os mesmos ao vivo. Ele era um menino bonito, parecia saudável e tinha uma postura um tanto tensa.
— Alex? — Caterine chamou delicadamente, colocando sua mão em meu joelho. — Você tem certeza?
— Você tem certeza? — devolvi a pergunta a ela. Fitei seus belos olhos verdes, cheios de emoção e ansiedade.
Como eu não teria certeza?
— Eu... eu...
— Você tem certeza, Caterine. Eu vejo isso nos seus olhos. Todo o seu corpo está reagindo a isso. Você está iluminada, mas, baby, precisamos conversar com Lori primeiro. — Procurei trazê-la para a realidade. Tínhamos que conhecer o garoto em primeiro lugar. Não era porque o estado de Nova Iorque tinha nos dado autorização para adotarmos que levaríamos alguém para depois, por algum motivo, devolver para o sistema. Era por isso que estávamos sendo cautelosos, foi por isso que voltamos sozinhos para casa depois de visitar outros orfanatos.
— Eu sei — concordou e se esticou para beijar os meus lábios. — Obrigada, de qualquer forma, por entender.
Quando Lori voltou, nos serviu a água e sentou em nossa frente.
— Pois bem, vocês querem falar de Simon...
— Sim! — Carter exclamou com excitação.
— Bem, ele entrou para o sistema aos três anos de idade...
Ela nos contou todo o histórico de Simon Heyes. O rapaz aparentemente não teve a oportunidade de ver nada de bom da vida. Foi abandonado várias vezes e abusado. Mesmo assim, se manteve na linha. Lori Stone falou com admiração de Simon, era um bom garoto, nunca se meteu no que não devia. Com exceção de uma vez que para se defender de um abuso sexual bateu em sua mãe adotiva. Ele estava com dificuldades na escola e não iria para o último ano do colegial se não obtivesse ajuda.
— Ele é muito doce com as crianças daqui e também com os funcionários, mas realmente não quer ir para qualquer lar, e meio que me fez prometer que eu não o enviaria para qualquer lar depois da última vez que voltou. — Seu tom era sério e parecia que ela estava determinada a manter a sua promessa para Simon. Caterine chorava sem parar enquanto escutávamos a história daquele menino. — Eu não quero ser rude aqui, senhor e senhora Hartnett, mas Simon é um rapaz crescido e sua ficha diz que, embora não tenham quaisquer exigências, assinalaram que gostariam de ter crianças. Simon tem dezessete anos.
Então minha esposa resolveu contar a sua história para Lori, não escondeu nenhum detalhe, nem mesmo o alcoolismo.
— Simon era o nome que daríamos ao nosso filho e sei que pode parecer mórbido, senhorita Stone, mas tudo o que pedi em nossas visitações pelos orfanatos era um sinal de que eu estaria fazendo a coisa certa. — Ela pegou a minha mão e apertou com força, sorri para ela concordando com suas palavras e lhe dando ainda mais coragem para continuar. — Nós não estamos adotando porque precisamos de amor, mas porque simplesmente queremos um filho — explicou. — Nós estamos transbordando amor aqui, nós sentimos necessidade de compartilhar toda a harmonia, afeto, paixão e respeito que temos em nossa casa, e Simon...
Minhas próprias lágrimas começaram a cair ouvindo o quanto minha esposa era perfeita. O quanto ela havia crescido, nós havíamos crescido. Claro que ainda tínhamos alguns dias complicados, nossa dor nunca seria esquecida, a depressão de Caterine sempre estaria à espreita e teríamos que tratar dela o resto de nossas vidas, mas nós viveríamos bem, felizes, formaríamos uma família apesar disso.
— Simon foi o sinal que eu precisava. — Continuou ela. — Ele foi o sinal que pedi para saber que estava tomando a decisão certa. Se ele deixar, nós daremos o que lhe foi negado pelos últimos dezessete anos. — Ela me olhou procurando por apoio, concordância. Eu assenti com firmeza. — E se quando ele completar dezoito anos quiser ir embora, nós abriremos a janela.
— Desculpa, o quê? — Lori perguntou confusa sobre a janela, nos fazendo rir.
— É uma metáfora — expliquei. — Ela quer dizer que ele terá liberdade. Nós libertamos quando amamos.
SIMONAs visitas se fizeram muito mais fáceis depois que descobri que os H. tinham uma parede enorme de livros em sua casa, passávamos a maior parte do tempo falando sobre os livros que gostávamos. Contei que gostava de fantasia e terror.— Quais livros você tem? — senhora H. perguntou entusiasmada.— Eu não tenho muitos — respondi sem graça.— Ah! — disse também sem graça. — Você lê na escola, então?— E às vezes vou à livraria e sento lá para ler os livros. — Dei de ombros, como se não fosse grande coisa. Depois disso, os Hartnett passaram a aparecer com sacolas de livros. Lori chamou a atenção deles, dizendo que não era saudável e podia ser interpretado como suborno para eu aceitar ir com eles. Mas a senhora Hartnett tinha algo nela que fazia as pes
SIMONA casa dos Hartnett ficava em Tribeca. Era um bairro legal. Bem diferente dos lugares que eu havia frequentado.Os H. são ricos? Pensei comigo enquanto olhava para os prédios e ruas bem cuidadas do bairro.Eles moravam em um loft, era impressionante, para ser honesto, parecia casa de revista. Era grande e com decoração legal. Tinha uma cozinha imensa, sem contar o número de janelas.— Vamos subir, depois você vê tudo com calma — senhora H. disse pegando a minha mão e subindo para o segundo andar comigo sendo praticamente arrastado por ela. Eu podia ouvir o seu marido resmungando e rindo atrás de nós, mas não consegui entender bem o que ele dizia. Ela parou em frente a uma porta e engoliu em seco, quando me olhou, percebi que havia uma pontada de tristeza em seus olhos, mas rapidamente se apagaram e a tristeza deu lugar ao entusiasmo. E no
SIMONA primeira semana de aula foi ignorada por mim e os Hartnett, eles alegaram que queriam que eu me familiarizasse com o novo lar antes de ingressar, então durante a semana Alexander e Caterine trabalharam em casa, enquanto eu lia e passava tempo com eles. No final de semana iríamos a Jérsei para eu conhecer toda a família. E na próxima semana seria sujeitado à tortura do High School [1] para mauricinhos.Pela manhã, sempre havia café na mesa para nós três. Ao menos não foram servidos na janela, embora eu tenha gostado de comer lá na primeira noite.A mesa era sempre repleta de waffles, pães variados, iogurte, cereal e panquecas. Caterine e Alexander se esforçavam ao máximo e eu conseguia ver aquilo. A preocupação deles em me incluir, em preencher o ambiente com conversa toda vez, contar sobre sua
SIMONNa sexta-feira à noite estávamos seguindo para Nova Jérsei. Eu gostei do carro dos H, eles geralmente usavam apenas táxis para andar por Nova Iorque, o que era totalmente compreensível, mas quando iam para Jérsei, Alexander tirava seu Jeep maneiro da garagem.Eles passaram um bom tempo falando do caso em que Alexander estava trabalhando, o caso Hoffman. Foi um caso que o senhor H. aceitou quando ele e a senhora H. passaram por uma crise, eu não sabia detalhes, mas KitCat, como eu gostava de chamar Caterine, me contou sobre o caso e deixou escapar que foi no meio de um momento complicado para os dois. Tinha pelo menos um ano que ele trabalhava neste caso na promotoria. Caterine trabalhava em casos muito menores e era em defesa e não na acusação como o seu marido, mas era maneiro ouvi-los falando sobre os casos.— Alex, essa música é digna de fazer qualq
SIMON— Mas eu quero dormir com Simon. — Joselie chorou enquanto Josh a pegava no colo.— Mas você não vai, Jo. — Revirou os olhos. — Dá para acreditar? Nem um dia inteiro e ela já está apaixonada pelo Simon aqui.Josie esteve pendurada em mim a noite toda até que finalmente deixou escapar que me amava e que se casaria comigo. Eu engasguei com o refrigerante na minha boca e todos os outros riram da situação, eu era bom com crianças, mas não tinha ideia de que era um destruidor de corações de nove anos de idade.Quando Jojo finalmente se entregou ao sono, Josh voltou.— Agora os homens da casa irão tomar uma bebida forte e conversar sobre coisas de homem no jardim, senhoras — anunciou forçando uma voz autoritária para todos na sala.— Papo machista! — Mary provocou.
SIMONMeu estômago estava pulando para fora do meu corpo no momento em que Carter me deixou em frente à escola Warden High School. Olhei nervosamente para a entrada da imponente escola onde vários alunos já subiam a escadaria e entravam no prédio, mas não saí do carro, nem me movi.— Quer que eu entre com você? — Caterine perguntou devagar, como se estivesse testando o meu humor.— Não, tudo bem, eu consigo. Obrigado. — Engoli nervoso, tentando convencer a mim mesmo que conseguiria.— Não há necessidade de ter medo, querido. Alex e eu já providenciamos tudo — avisou, dando um tapinha no saco marrom do lanche que havia preparado para mim. Eu quase ri lembrando daquela manhã quando ela preparou o sanduíche de peito de peru para o meu almoço e o entregou para mim.Alex havia sido, com
ALEXANDER— É bom falar com você também, Mel. Mande meus cumprimentos a Bennett, por favor. Diga que nos encontramos em breve para o julgamento.— Claro, diga a Carter que enviei as fotos que ela me pediu e que mandei um abraço para ela e parabéns novamente pelo novo membro na família, aguardo fotos de Simon.— Enviaremos. Até mais, Mel!Desliguei o telefone e me joguei na cadeira tentando descansar. Os últimos acontecimentos estavam me deixando exausto. O caso Hoffman estava tomando boa parte de meu tempo e eu queria dar atenção para Simon, precisávamos que ele entendesse que estávamos nessa para valer. Conhecendo o seu histórico, era compreensível que ele estivesse reticente conosco. Parte dele se recusava a acreditar que não seria abandonado. Esta parte estava se preparando para ir embora na primeir
SIMONQuando avisei os H. que Kennedy voltaria para me buscar no dia seguinte, Alex ficou empolgado. Carter nem tanto.— Vamos, baby. Ele já fez uma amiga, isso é bom. — Ouvi eles conversando no quarto enquanto eu fingia que estava indo para o banheiro tomar banho antes de ir para a escola.— Uma amiga que pode ter um bebê, Alex. — Choramingou ela. Por que ela estava falando de bebês?— Agora você está sendo irracional e fazendo julgamentos, Carter — Alex defendeu. Não entendia por que eles estavam discutindo aquele tipo de coisa. Não era da conta deles.— Só estou preocupada.— Então pense comigo. — Ele introduziu. — Ele tem dezessete anos, é um garoto bonito e está com os hormônios à flor da pele.Deus! Me mate, por favor.