A manhã de Valéria começou antes mesmo do sol nascer. Depois de uma noite inquieta e sem muito descanso, ela decidiu sair mais cedo para o estúdio, buscando conforto na música. As palavras de Felipe ainda ecoavam em sua mente, mas o vazio deixado pela dúvida era maior.Quando Felipe acordou, encontrou a cama vazia. Um suspiro pesado escapou de seus lábios enquanto olhava para o lado onde Valéria deveria estar. Era óbvio que ela tinha saído mais cedo de propósito. Ele sabia que estava perdendo espaço no coração dela, e isso o consumia.Valéria mergulhou nas aulas no estúdio, usando cada nota para se desconectar dos sentimentos que a perseguiam. Mas depois de horas intensas, o peso emocional parecia ainda maior.Quando sua última aula terminou, ela foi até seu escritório para organizar algumas partituras e verificar os e-mails. O celular vibrou, e uma nova mensagem destacava-se na tela:“Proposta de Turnê Internacional – Urgente”Suas sobrancelhas se arquearam enquanto clicava para abri
Valéria acordou cedo, a mente ainda ocupada com os acontecimentos da noite anterior e com a proposta da turnê internacional. Sem fazer barulho, ela se levantou, trocou de roupa rapidamente e saiu do apartamento antes que Felipe acordasse. No estúdio, o ambiente acolhedor parecia oferecer uma breve pausa para seus pensamentos inquietos. Ela se dedicou às aulas matinais, mas seus pensamentos voltavam constantemente à proposta de turnê e ao jantar na casa dos avós de Felipe.Por volta das 10h, enquanto preparava um café na pequena cozinha do estúdio, Lara apareceu, sorrindo ao vê-la.— Bom dia! Acordou cedo hoje. — Lara comentou, servindo-se de uma xícara também.Valéria sorriu levemente. — Não consegui dormir muito bem... Tinha muita coisa na cabeça.Lara arqueou uma sobrancelha, curiosa. — O que aconteceu? Foi por causa do Felipe?Valéria suspirou. — Em parte... mas também tem algo mais. — Ela hesitou antes de continuar. — Recebi uma proposta de turnê internacional... uma série de con
Valéria desceu do carro com a ajuda de Felipe, que segurava sua mão com firmeza. A luz suave do entardecer iluminava a fachada imponente da mansão dos avós dele, criando um clima elegante, mas carregado de expectativa.— Pronta? — Felipe perguntou, oferecendo um sorriso caloroso.Valéria assentiu, ajustando o vestido de seda azul-marinho que ele havia escolhido para ela. — Sim... eu acho.Ele a puxou suavemente para um beijo na testa antes de guia-la em direção à entrada principal. Assim que entraram, a governanta os conduziu à sala de estar.A sala estava decorada com um toque clássico e acolhedor. O som suave de uma música instrumental preenchia o ambiente, enquanto conversas animadas ecoavam ao redor.— Felipe! — exclamou Laura, a avó de Felipe, levantando-se da poltrona com um sorriso radiante. — Finalmente chegaram!Ela abraçou Felipe calorosamente antes de se voltar para Valéria. — E esta deve ser a encantadora Valéria. Valéria sorriu com timidez. — É um prazer conhecê-la, senh
A mesa estava elegantemente posta, iluminada por velas suaves e decorada com arranjos florais discretos. Laura e Alberto fizeram questão de manter a tradição de jantares familiares refinados, mas o clima pesado parecia inevitável. Felipe e Valéria foram colocados lado a lado, mas, para desconforto de ambos, Isabela acabou sendo posicionada ao lado de Felipe. Daniel ficou em um assento próximo, quase oposto a Valéria.— Bem, agora que todos estão acomodados, vamos aproveitar a noite. — disse Alberto, o avô de Felipe, em um tom acolhedor.A refeição prosseguia de forma mais descontraída do que Valéria imaginava. As conversas fluíam graças ao calor e à simpatia de Laura e Alberto, enquanto Carlos observava tudo com sua postura reservada, mas interessado nos acontecimentos.Laura suspirou, emocionada, após ouvir Felipe falar sobre como conheceu Valéria.— Isso é lindo... — Disse ela, sorrindo suavemente. — Parece que você finalmente encontrou sua felicidade.Felipe apertou levemente a mã
Felipe estava sentado na beira da cama, a expressão confusa e a camisa parcialmente desabotoada. Isabela estava de frente para ele, suas mãos pousadas nos ombros dele enquanto se inclinava, unindo seus lábios aos dele em um beijo. O choque percorreu o corpo de Valéria, gelando cada parte de seu ser. Por um momento, ela ficou imóvel, incapaz de processar o que estava diante de seus olhos. O beijo parecia real. Intenso. Doloroso. Felipe não reagiu de imediato. Seu corpo estava visivelmente tenso, mas ele não se afastou. O tempo parecia congelar enquanto Valéria observava, sentindo seu mundo desmoronar. Ela deu um passo para trás, a mente girando. O ar parecia escapar de seus pulmões, e uma lágrima quente escorreu por sua bochecha. Sem fazer barulho, virou-se e saiu silenciosamente pelo corredor, como se fugisse de uma armadilha invisível. Valéria saiu pelo jardim como se estivesse em um estado automático, os passos acelerados e a respiração trêmula. O ar frio da noite a atingiu,
Valéria estava sentada em frente ao imponente piano de cauda, no centro de um palco iluminado, enquanto o silêncio da plateia preenchia o grande salão. As luzes suaves refletiam no acabamento brilhante do instrumento, criando um contraste perfeito com o fundo escuro do teatro. Ela respirou fundo, deixando os dedos repousarem sobre as teclas. A tensão em seus ombros parecia diminuir por um breve momento. Ali, naquela sala lotada em Paris, ela sentia que tudo estava suspenso... pelo menos por alguns minutos. O som do primeiro acorde preencheu o espaço, rico e intenso. A melodia fluía como uma extensão dela mesma, levando sua alma e suas emoções para cada nota que tocava. Alguns dias antes... Após aceitar a turnê, Valéria mergulhou em uma rotina frenética de ensaios e preparativos. A decisão de partir tinha sido rápida, quase impulsiva, mas parecia ser a única escolha possível. Paris seria a primeira parada, seguida por Londres, Viena e outras capitais icônicas da música clássic
Felipe estava sentado no sofá de seu apartamento, o celular em mãos. A tela mostrava a chamada não atendida, e ele bufou em frustração.— Por que você não me atende, Valéria? — Murmurou, apertando o celular com força.Antes que pudesse discar novamente, ouviu o som da porta se abrindo. Era Miguel, com uma expressão séria e um tablet em mãos.— Senhor, acho que encontrei algo que o senhor precisa ver. — Disse Miguel, caminhando até ele.Felipe ergueu o olhar, impaciente.— O que foi agora, Miguel?Miguel estendeu o tablet, e Felipe pegou o dispositivo, franzindo o cenho ao ver a manchete destacada na tela."Valéria Carvalho, revelação da música clássica, estreia turnê internacional em Paris após sucesso com documentário produzido pela GoulartMídia."Abaixo da manchete, uma foto de Valéria em frente ao piano iluminado capturava sua expressão intensa e focada, o vestido longo brilhando sob as luzes do palco.Felipe sentiu o coração apertar ao vê-la. A imagem dela parecia tão distante, tã
O ar em Londres estava carregado de expectativa, como se a cidade inteira aguardasse aquele momento. A sala de concertos, um templo dedicado à arte, brilhava sob as luzes douradas que pareciam dançar nas paredes ornamentadas. Valéria estava ali, no centro do palco, como uma chama solitária no meio da escuridão, iluminada apenas pelos holofotes que refletiam o brilho sutil de seu vestido.Seus dedos repousavam sobre as teclas do piano como amantes hesitantes, prontos para se encontrar. A respiração dela era lenta, medida, como quem precisa lembrar que o ar é essencial para viver, mesmo quando o coração dói.E então, o primeiro acorde.O som reverberou como uma confissão, denso e carregado de emoções. Cada nota parecia um sussurro de sua alma, uma memória transformada em música. A plateia estava em silêncio absoluto, capturada pela vulnerabilidade que ela entregava sem reservas.A melodia subia e descia como ondas em um mar agitado, cada variação de intensidade refletindo a tempestade i