Uma Tarde em BerlimO ar em Berlim estava frio e levemente úmido, carregando consigo a história de uma cidade que, apesar de seus contrastes, transbordava de vida. Valéria havia passado o dia mergulhada em ensaios no teatro, ajustando cada detalhe para a próxima apresentação da turnê. Era como se ela estivesse tentando preencher os vazios de sua alma com a perfeição de cada nota.Entre uma pausa e outra, Nicolas entrou na sala, trazendo consigo um ar de novidade.— Valéria, só para lembrar, Sofia Magalhães chegará a Berlim amanhã. Ela sugeriu que comecem os ensaios para o concerto de Viena no tempo livre que você tiver. — Disse ele, casualmente.Valéria assentiu, mantendo o olhar nas partituras.— Claro, vou me organizar. — Respondeu, com a mente ainda focada no piano.Na manhã seguinte, Sofia apareceu no teatro com um sorriso caloroso e um estojo de violino nas mãos. Ela era alta, elegante, e trazia uma energia vibrante que parecia contagiar o ambiente.— Espero não estar te sobrecar
O sol atravessava as cortinas grossas do hotel, preenchendo o quarto de Valéria com uma luz dourada e suave. Ela despertou lentamente, ainda sentindo o cansaço da noite anterior. Mas, diferente dos outros dias, havia uma leveza em seu peito. Talvez fosse a descontração proporcionada por Sofia ou o fato de ter saído da rotina por algumas horas.Após um banho rápido e um café reforçado no restaurante do hotel, Valéria seguiu para o teatro para mais um ensaio. Sofia já estava lá, ajustando as cordas de seu violino com a precisão de uma cirurgiã.— Bom dia, Valéria. Dormiu bem? — Perguntou Sofia, sem levantar os olhos do instrumento.— Sim, acho que consegui descansar um pouco. E você? — Respondeu Valéria, enquanto colocava a partitura no suporte.— Como uma pedra. — Respondeu Sofia, sorrindo. — Embora minha cabeça ainda esteja cheia de ideias para o concerto de Viena.Valéria riu levemente, apreciando o entusiasmo da amiga.— É um bom sinal. Significa que estamos no caminho certo.As pró
A atmosfera de Praga era diferente de qualquer outro lugar que Valéria havia visitado durante a turnê. A cidade parecia saída de um conto de fadas, com suas ruas de paralelepípedos, pontes majestosas e castelos que pareciam sussurrar histórias antigas. No entanto, o teatro Rudolfinum, onde seria o próximo concerto, era a verdadeira joia da cidade para Valéria. A fachada neoclássica impunha respeito, mas era o interior, com suas decorações opulentas e acústica perfeita, que a deixava sem palavras.Na tarde do concerto, Valéria se encontrava no palco, ajustando-se ao piano Steinway de cauda longa que seria seu companheiro naquela noite. Nicolas estava na plateia vazia, observando com atenção.— Você sempre parece tão à vontade no palco, mesmo quando está apenas ensaiando. — Comentou Nicolas, enquanto se aproximava do palco.Valéria olhou para ele e sorriu levemente.— Acho que é o único lugar onde me sinto realmente no controle. — Respondeu ela, deslizando os dedos pelas teclas.— E ain
As luzes do palco brilhavam intensamente, refletindo nos detalhes do piano de cauda que parecia um trono no centro do grande salão. Valéria sentou-se pela última vez naquela turnê, em um teatro lotado na cidade de Milão. O som das palmas iniciais foi abafado pela respiração profunda que ela tomou antes de começar a tocar. Este era o momento final da jornada que a trouxera por diversas cidades, cada uma marcando uma etapa de sua redescoberta. A música fluía de seus dedos como uma despedida, carregada de emoções que ela guardava desde o início da turnê. Quando a última nota se dissipou no ar, a plateia explodiu em aplausos, mas Valéria só conseguia pensar no próximo passo: Viena. Dois dias depois, Valéria embarcou em um trem para Viena. A paisagem que deslizava pela janela era uma mistura de campos verdes e montanhas distantes, quase cinematográfica. Nicolas estava sentado à sua frente, revisando papéis sobre o concerto beneficente que aconteceria dali a poucos dias. — Nervosa para
Valéria parou abruptamente, o mundo parecendo girar ao redor dela. Os olhos de Felipe encontraram os dela, e por um instante, tudo ao redor ficou em segundo plano.— Valéria... — Disse Felipe, com um tom baixo e carregado de significado.Sofia olhou de um para o outro, a confusão evidente em sua expressão.— Espera, vocês já se conhecem? — Perguntou, sua voz cheia de surpresa.Valéria abriu a boca para responder, mas Felipe foi mais rápido.— Sim, nós... nos conhecemos há algum tempo. — Disse ele, tentando manter a calma, mas os olhos nunca deixando os de Valéria.— Ah! Que coincidência maravilhosa! — Disse Sofia, sem perceber a tensão no ar. — Então isso torna tudo ainda mais especial.Valéria desviou o olhar para Sofia, forçando um sorriso.— Coincidência mesmo. — Disse, com a voz controlada.Sofia parecia prestes a fazer mais perguntas, mas algo na postura de Felipe a fez hesitar. Em vez disso, ela sorriu, aparentemente alheia à profundidade do momento.— Bem, Valéria, tenho que ad
O teatro explodiu em aplausos enquanto a última nota ainda ecoava no ar. Valéria e Sofia se levantaram, reverenciando o público que agora estava de pé. O sorriso profissional de Valéria escondia o turbilhão de emoções que fervilhavam em seu interior. Cada olhar dela para Felipe na plateia parecia queimar, mas ela se recusava a demonstrar.Sofia, ao seu lado, parecia extasiada com a recepção calorosa, acenando para o público com entusiasmo. Quando as cortinas finalmente fecharam, as duas retornaram aos bastidores, ainda sentindo a adrenalina da apresentação.— Foi incrível, Valéria! — Exclamou Sofia, abraçando-a brevemente. — Eu sabia que seria memorável, mas isso... isso superou tudo!Valéria esboçou um sorriso discreto, tentando ignorar a presença de Felipe em sua mente.— Obrigada, Sofia. Você também foi maravilhosa. — Respondeu ela, pegando uma garrafa de água para se recompor.Nicolas apareceu logo em seguida, aplaudindo com vigor.— Damas, vocês arrasaram. Esse concerto será lemb
Entendi o ponto e concordo que seria mais O som de batidas firmes na porta ecoou pelo apartamento silencioso. Valéria estava no sofá, ainda em seu vestido de apresentação, os pensamentos girando em um turbilhão. Ela não esperava ninguém, especialmente àquela hora. Franziu a testa ao se aproximar da porta.Quando abriu, o ar pareceu desaparecer de seus pulmões. Felipe estava ali, tão próximo que ela quase podia sentir o calor dele. Ele usava um terno impecável, mas seus olhos estavam intensos, determinados.— O que você está fazendo aqui? — Perguntou ela, surpresa, mas mantendo um tom defensivo.Felipe cruzou os braços, os ombros tensos.— Precisamos conversar. — Disse ele, sem rodeios.Valéria piscou, sentindo uma mistura de emoções. Ela tentou fechar a porta, mas ele a segurou, sem forçar, mas sem recuar.— Valéria, não faça isso. Você pode me odiar, mas não pode fugir de mim agora. — Disse ele, sua voz baixa, mas cheia de firmeza.Ela suspirou, recuando e deixando espaço para ele e
Valéria recuou um passo, tentando recuperar o fôlego e processar o que acabara de acontecer. O olhar de Felipe estava fixo no dela, intenso, carregado de emoção, e ela sabia que não podia mais negar o que sentia.— Felipe... — Começou, mas a voz dela falhou por um instante. Não havia mais o que dizer. Tudo estava claro entre eles.Ele deu um passo à frente, a mão estendendo-se levemente, hesitante, mas cheio de determinação.— Eu sei que você já entendeu tudo, Valéria. Que não foi o que pareceu, que não houve intenção de te magoar. Mas agora não se trata do passado. Se trata de nós... e do que ainda somos. — Ele falou baixo, mas cada palavra carregava um peso que ela sentiu profundamente.Ela respirou fundo, tentando manter o controle sobre si mesma, mas o calor da presença dele era avassalador.— E o que nós somos, Felipe? — Perguntou, com a voz quase um sussurro.Ele deu mais um passo, a mão pousando delicadamente no braço dela, o toque enviando uma onda elétrica por seu corpo.— Nó