A mesa estava elegantemente posta, iluminada por velas suaves e decorada com arranjos florais discretos. Laura e Alberto fizeram questão de manter a tradição de jantares familiares refinados, mas o clima pesado parecia inevitável. Felipe e Valéria foram colocados lado a lado, mas, para desconforto de ambos, Isabela acabou sendo posicionada ao lado de Felipe. Daniel ficou em um assento próximo, quase oposto a Valéria.— Bem, agora que todos estão acomodados, vamos aproveitar a noite. — disse Alberto, o avô de Felipe, em um tom acolhedor.A refeição prosseguia de forma mais descontraída do que Valéria imaginava. As conversas fluíam graças ao calor e à simpatia de Laura e Alberto, enquanto Carlos observava tudo com sua postura reservada, mas interessado nos acontecimentos.Laura suspirou, emocionada, após ouvir Felipe falar sobre como conheceu Valéria.— Isso é lindo... — Disse ela, sorrindo suavemente. — Parece que você finalmente encontrou sua felicidade.Felipe apertou levemente a mã
Felipe estava sentado na beira da cama, a expressão confusa e a camisa parcialmente desabotoada. Isabela estava de frente para ele, suas mãos pousadas nos ombros dele enquanto se inclinava, unindo seus lábios aos dele em um beijo. O choque percorreu o corpo de Valéria, gelando cada parte de seu ser. Por um momento, ela ficou imóvel, incapaz de processar o que estava diante de seus olhos. O beijo parecia real. Intenso. Doloroso. Felipe não reagiu de imediato. Seu corpo estava visivelmente tenso, mas ele não se afastou. O tempo parecia congelar enquanto Valéria observava, sentindo seu mundo desmoronar. Ela deu um passo para trás, a mente girando. O ar parecia escapar de seus pulmões, e uma lágrima quente escorreu por sua bochecha. Sem fazer barulho, virou-se e saiu silenciosamente pelo corredor, como se fugisse de uma armadilha invisível. Valéria saiu pelo jardim como se estivesse em um estado automático, os passos acelerados e a respiração trêmula. O ar frio da noite a atingiu,
Valéria estava sentada em frente ao imponente piano de cauda, no centro de um palco iluminado, enquanto o silêncio da plateia preenchia o grande salão. As luzes suaves refletiam no acabamento brilhante do instrumento, criando um contraste perfeito com o fundo escuro do teatro. Ela respirou fundo, deixando os dedos repousarem sobre as teclas. A tensão em seus ombros parecia diminuir por um breve momento. Ali, naquela sala lotada em Paris, ela sentia que tudo estava suspenso... pelo menos por alguns minutos. O som do primeiro acorde preencheu o espaço, rico e intenso. A melodia fluía como uma extensão dela mesma, levando sua alma e suas emoções para cada nota que tocava. Alguns dias antes... Após aceitar a turnê, Valéria mergulhou em uma rotina frenética de ensaios e preparativos. A decisão de partir tinha sido rápida, quase impulsiva, mas parecia ser a única escolha possível. Paris seria a primeira parada, seguida por Londres, Viena e outras capitais icônicas da música clássic
Felipe estava sentado no sofá de seu apartamento, o celular em mãos. A tela mostrava a chamada não atendida, e ele bufou em frustração.— Por que você não me atende, Valéria? — Murmurou, apertando o celular com força.Antes que pudesse discar novamente, ouviu o som da porta se abrindo. Era Miguel, com uma expressão séria e um tablet em mãos.— Senhor, acho que encontrei algo que o senhor precisa ver. — Disse Miguel, caminhando até ele.Felipe ergueu o olhar, impaciente.— O que foi agora, Miguel?Miguel estendeu o tablet, e Felipe pegou o dispositivo, franzindo o cenho ao ver a manchete destacada na tela."Valéria Carvalho, revelação da música clássica, estreia turnê internacional em Paris após sucesso com documentário produzido pela GoulartMídia."Abaixo da manchete, uma foto de Valéria em frente ao piano iluminado capturava sua expressão intensa e focada, o vestido longo brilhando sob as luzes do palco.Felipe sentiu o coração apertar ao vê-la. A imagem dela parecia tão distante, tã
O ar em Londres estava carregado de expectativa, como se a cidade inteira aguardasse aquele momento. A sala de concertos, um templo dedicado à arte, brilhava sob as luzes douradas que pareciam dançar nas paredes ornamentadas. Valéria estava ali, no centro do palco, como uma chama solitária no meio da escuridão, iluminada apenas pelos holofotes que refletiam o brilho sutil de seu vestido.Seus dedos repousavam sobre as teclas do piano como amantes hesitantes, prontos para se encontrar. A respiração dela era lenta, medida, como quem precisa lembrar que o ar é essencial para viver, mesmo quando o coração dói.E então, o primeiro acorde.O som reverberou como uma confissão, denso e carregado de emoções. Cada nota parecia um sussurro de sua alma, uma memória transformada em música. A plateia estava em silêncio absoluto, capturada pela vulnerabilidade que ela entregava sem reservas.A melodia subia e descia como ondas em um mar agitado, cada variação de intensidade refletindo a tempestade i
Uma Tarde em BerlimO ar em Berlim estava frio e levemente úmido, carregando consigo a história de uma cidade que, apesar de seus contrastes, transbordava de vida. Valéria havia passado o dia mergulhada em ensaios no teatro, ajustando cada detalhe para a próxima apresentação da turnê. Era como se ela estivesse tentando preencher os vazios de sua alma com a perfeição de cada nota.Entre uma pausa e outra, Nicolas entrou na sala, trazendo consigo um ar de novidade.— Valéria, só para lembrar, Sofia Magalhães chegará a Berlim amanhã. Ela sugeriu que comecem os ensaios para o concerto de Viena no tempo livre que você tiver. — Disse ele, casualmente.Valéria assentiu, mantendo o olhar nas partituras.— Claro, vou me organizar. — Respondeu, com a mente ainda focada no piano.Na manhã seguinte, Sofia apareceu no teatro com um sorriso caloroso e um estojo de violino nas mãos. Ela era alta, elegante, e trazia uma energia vibrante que parecia contagiar o ambiente.— Espero não estar te sobrecar
O sol atravessava as cortinas grossas do hotel, preenchendo o quarto de Valéria com uma luz dourada e suave. Ela despertou lentamente, ainda sentindo o cansaço da noite anterior. Mas, diferente dos outros dias, havia uma leveza em seu peito. Talvez fosse a descontração proporcionada por Sofia ou o fato de ter saído da rotina por algumas horas.Após um banho rápido e um café reforçado no restaurante do hotel, Valéria seguiu para o teatro para mais um ensaio. Sofia já estava lá, ajustando as cordas de seu violino com a precisão de uma cirurgiã.— Bom dia, Valéria. Dormiu bem? — Perguntou Sofia, sem levantar os olhos do instrumento.— Sim, acho que consegui descansar um pouco. E você? — Respondeu Valéria, enquanto colocava a partitura no suporte.— Como uma pedra. — Respondeu Sofia, sorrindo. — Embora minha cabeça ainda esteja cheia de ideias para o concerto de Viena.Valéria riu levemente, apreciando o entusiasmo da amiga.— É um bom sinal. Significa que estamos no caminho certo.As pró
A atmosfera de Praga era diferente de qualquer outro lugar que Valéria havia visitado durante a turnê. A cidade parecia saída de um conto de fadas, com suas ruas de paralelepípedos, pontes majestosas e castelos que pareciam sussurrar histórias antigas. No entanto, o teatro Rudolfinum, onde seria o próximo concerto, era a verdadeira joia da cidade para Valéria. A fachada neoclássica impunha respeito, mas era o interior, com suas decorações opulentas e acústica perfeita, que a deixava sem palavras.Na tarde do concerto, Valéria se encontrava no palco, ajustando-se ao piano Steinway de cauda longa que seria seu companheiro naquela noite. Nicolas estava na plateia vazia, observando com atenção.— Você sempre parece tão à vontade no palco, mesmo quando está apenas ensaiando. — Comentou Nicolas, enquanto se aproximava do palco.Valéria olhou para ele e sorriu levemente.— Acho que é o único lugar onde me sinto realmente no controle. — Respondeu ela, deslizando os dedos pelas teclas.— E ain