Valéria estava na cozinha, arrumando a mesa após o café da manhã. Felipe estava sentado à mesa, tomando o último gole de café, alheio à inquietação dela. Depois de alguns minutos em silêncio, Valéria finalmente quebrou a tensão no ar. — Você vai sair hoje? — perguntou, tentando soar casual enquanto secava as mãos. Felipe, sem tirar os olhos da xícara, respondeu com a mesma neutralidade de sempre. — Sim, tenho alguns compromissos. Não sei a que horas volto, mas provavelmente tarde.. Enquanto guardava os utensílios, o celular de Valéria tocou, vibrando no balcão. Ela olhou para a tela: era Lara. — Oi, Lara — atendeu Valéria, tentando soar animada. — Oi, Valéria! O Rafael nos convidou para tocar de novo no pub. Vai ser como da última vez! O que você acha? — disse Lara, com entusiasmo. Valéria ficou em silêncio por um momento. Sentia-se cansada e distante, sem muito ânimo para sair. — Não sei, Lara. Acho que não estou no clima hoje — respondeu, enquanto reorganizava algumas par
Valéria estava na cozinha, limpando os últimos pratos, quando ouviu a porta sendo destrancada. Imaginou que fosse Felipe chegando mais cedo, então foi até a sala para recebê-lo. Para sua surpresa, era Beatriz quem entrou. — Valéria? — Beatriz sorriu, surpresa, mas sem esconder um toque de superioridade. — Não sabia que você estaria aqui. Valéria parou por um instante, surpresa. — Como você entrou? — perguntou, a confusão evidente. — Felipe me deu a senha há um tempo. Não sabia? — disse, com um olhar quase inocente. — Ele não mudou até hoje, e sabe o que é curioso? A senha é o aniversário da ex-namorada dele. Interessante, não? Valéria sentiu o estômago revirar, mas tentou disfarçar. Beatriz parecia à vontade, como se estivesse na própria casa, e continuou. — Acho que Felipe se esquece dessas coisas. Ou talvez, elas simplesmente não importem para ele — disse ela, vagando pela sala como se conhecesse cada detalhe. — O importante é que as famílias sempre esperaram que ele e eu
Valéria e Lara estavam sentadas ao fundo do pub, as luzes baixas e a música suave criando uma atmosfera que melancólica. Valéria já havia bebido mais do que o habitual, e Lara, sempre atenta, percebia que sua amiga estava prestes a desmoronar. — Quer me contar o que está acontecendo? — perguntou Lara, tentando parecer descontraída, mas com a preocupação evidente. Valéria olhou para o copo vazio, ainda segurando-o como se estivesse prestes a enchê-lo novamente. Sentia-se à beira de explodir, mas as palavras simplesmente não saíam. — Só... está tudo acumulando, sabe? — começou ela, sem saber ao certo por onde começar. — Às vezes, sinto que estou vivendo algo que não faz sentido. Felipe... ele é tão distante. E então, Beatriz aparece. A família dele quer que eles se casem. Como eu deveria me sentir sobre isso? Lara franziu o cenho, compreendendo o peso da situação. — Val, você está envolvida com alguém que não deixa espaço para você se envolver de verdade. Isso vai te consumir se vo
Valéria acordou com a cabeça latejando, uma lembrança dolorosa da noite anterior no pub com Lara. A dor era intensa, um eco direto do excesso de bebida e da tensão que se acumulava dentro dela. Ela se virou na cama, procurando por Felipe, mas o espaço ao seu lado estava vazio. Ele, mais uma vez, havia dormido no escritório. Com um suspiro pesado, Valéria se levantou, os músculos tensos com o peso emocional que carregava. Foi até o banheiro, tomou um analgésico e ficou encarando o próprio reflexo no espelho. O rosto pálido refletia o cansaço e as dúvidas que vinham consumindo-a. “Eu não posso continuar assim...”, ela pensou, mas não conseguiu completar o raciocínio. Sua mente ainda estava em um turbilhão de emoções confusas. Enquanto se arrumava, decidiu que seguiria o que Felipe queria desde o começo. Se ele preferia um relacionamento sem envolvimento emocional, era isso que ela ofereceria a partir de agora. Ela não deixaria que os sentimentos a controlassem mais. Saiu de cas
No final do expediente, Valéria estava se preparando para sair quando Ana, a secretária, apareceu com um pequeno sorriso. — Valéria, antes de você ir, tem um recado. — Ela entregou um papel. — O senhor Ricardo Goulart pediu que eu passasse isso para você. Valéria pegou o papel e, ao abri-lo, viu o horário e o local do jantar e da reunião. Lara, que estava ao lado, levantou uma sobrancelha, curiosa. — Jantar? Que jantar é esse? Valéria deu de ombros, guardando o papel na bolsa. — O Ricardo Goulart veio aqui hoje. Ele quer propor uma parceria para o estúdio. Marcou um jantar para ver se consegue mudar minha opinião e fechar o negócio. Ele está interessado em fazer um documentário sobre música clássica. Lara olhou com interesse, mas ainda cautelosa. — Um documentário? Parece interessante, mas... sei lá, tem algo nisso que não me convence. Valéria sorriu, tentando tranquilizá-la. — Não é nada demais. Só um jantar de negócios. Se der certo, pode ser bom para o estúdio. L
Felipe chegou ao restaurante, esperando um jantar tranquilo com seus pais, como de costume. Ao entrar, percebeu algo diferente. Seus pais estavam à mesa, mas ao lado deles, ele viu Beatriz e seus pais. Um desconforto imediato tomou conta dele. Ele sabia o que aquilo significava. Quando se aproximou, seus pais o cumprimentaram calorosamente, mas os olhares estavam cheios de expectativa. — É bom estarmos todos aqui hoje — começou o pai de Felipe, rompendo o silêncio. — Temos muito a discutir. Felipe assentiu, mas ficou em silêncio. Beatriz, sempre elegante, estava ao seu lado. Seus pais do outro lado. O garçom chegou para anotar os pedidos. Enquanto isso, Felipe sentiu a tensão. Seus pais estavam ansiosos por algo, e ele sabia o que era. Depois que o garçom se afastou, o pai de Beatriz foi direto ao ponto. — Felipe, seu pai e eu conversamos bastante. Acho que já é hora de você e Beatriz considerarem algo mais sério. A mãe de Felipe olhou para ele, com expectativa. Beatriz também,
O beijo entre eles crescia em intensidade, o calor do momento quebrando a distância das últimas semanas. As mãos de Felipe desceram suavemente pela cintura de Valéria, puxando-a para mais perto. De repente, ele a levantou com firmeza. Valéria envolveu as pernas ao redor da cintura dele, sentindo a conexão física, como se todos os sentimentos não ditos agora se manifestassem através do toque. Felipe a carregou em direção ao quarto, ainda trocando beijos enquanto caminhava. O trajeto parecia curto, movido pela urgência que sentiam. Ao chegarem no quarto, Felipe deitou Valéria com cuidado na cama, inclinando-se sobre ela. Por um instante, seus olhares se cruzaram, em silêncio. Havia uma compreensão mútua que não precisava de palavras. As mãos dele deslizavam pelo corpo dela, redescobrindo o desejo que por muito tempo não tinham compartilhado. Valéria respondeu ao toque com a mesma intensidade, se deixando levar pelo momento. No quarto, o mundo exterior desaparecia, deix
Assim que Lara recebeu a ligação da polícia, já tinha corrido para o hospital com Rafael. Eles estavam ansiosos para saber mais detalhes sobre o estado de Valéria, que havia sido levada às pressas para a emergência na noite anterior. Lara estava visivelmente agitada, andando de um lado para o outro na sala de espera, enquanto Rafael tentava manter a calma. — Ela vai ficar bem, Lara. Precisamos esperar pelos médicos — disse Rafael, tentando ser racional, mas também preocupado. Pouco tempo depois, uma enfermeira saiu da área restrita e se aproximou. — Senhorita Lara Costa? — chamou a enfermeira. Lara deu um salto e se aproximou rapidamente. — Sim, sou eu. Como está a Valéria? — perguntou, com a voz carregada de ansiedade. — A senhorita Valéria Carvalho está estável. Ela foi colocada na UTI por precaução, devido à inalação de fumaça. Os médicos estão otimistas, mas ela precisará de monitoramento por mais algumas horas antes de podermos fornecer mais detalhes — explicou a