Valéria respirou fundo enquanto se preparava para sair. O apartamento parecia mais vazio do que nunca, e o silêncio só aumentava a sensação de distanciamento entre ela e Felipe. Pegou sua bolsa e saiu sem hesitar, decidida a ocupar a mente com o trabalho no estúdio. O trajeto até o estúdio foi longo, ou pelo menos parecia. A cada passo que dava, os pensamentos se acumulavam. As ruas estavam movimentadas, mas Valéria se sentia perdida em meio ao caos. Ela sabia que havia algo quebrado entre ela e Felipe, mas não sabia como consertar. Ao chegar ao estúdio, a visão de Lara mexendo nas partituras e organizando a sala a trouxe um breve momento de alívio. Ali, pelo menos, as coisas pareciam no lugar. Lara ergueu os olhos assim que Valéria entrou. — Finalmente apareceu! — disse ela, com um sorriso, tentando descontrair o ambiente. — Pensei que ia me deixar sozinha hoje. Valéria tentou sorrir de volta, mas era evidente que algo a incomodava. Lara notou imediatamente. — Valéria, o que
Valéria estava sentada no sofá do apartamento, olhando para o relógio enquanto seus pensamentos se misturavam. Ela já sabia que Felipe havia resolvido tudo. O estúdio estava seguro, e Gustavo estava fora do caminho. Mas o peso do silêncio entre eles ainda pairava no ar, tão denso quanto antes. Seu celular vibrou com uma mensagem. Era de Felipe: "Chego em 20 minutos." Ela respirou fundo, já esperando que essa conversa fosse difícil. Algo entre eles havia mudado, e Valéria não sabia ao certo como lidar com isso. Embora estivessem juntos, parecia que estavam mais distantes do que nunca. Quando Felipe entrou pela porta, o ar no ambiente pareceu ficar ainda mais frio. Ele colocou as chaves na mesa, mantendo a expressão neutra de sempre. Depois de alguns segundos, ele quebrou o silêncio: — Está tudo resolvido. Gustavo não vai mais incomodar — disse ele, indo direto ao ponto, como sempre. - A documentação do estúdio está pronta em breve. Valéria apenas assentiu. Ela já sabia, mas
Valéria passou o resto do dia tentando se concentrar no trabalho, mas seus pensamentos estavam longe. As palavras de Felipe ecoavam em sua mente, e a distância entre eles parecia maior do que nunca. No estúdio, Lara notou a expressão distante da amiga. Durante um intervalo entre as aulas, ela se aproximou e sentou-se ao lado de Valéria, que folheava uma agenda sem prestar atenção. — Você está bem? — Lara perguntou, a preocupação evidente. Valéria respirou fundo antes de responder. — Eu e Felipe conversamos ontem... as coisas não estão fáceis. Lara inclinou a cabeça, curiosa. — O que ele disse? — Ele foi claro. — Valéria soltou um suspiro. — Ele quer manter tudo prático, sem complicações emocionais. E, honestamente, eu não sei mais lidar com isso. Lara observou a amiga em silêncio por alguns segundos. — E você está disposta a aceitar isso? — perguntou, com um tom suave. — Eu não sei — Valéria balançou a cabeça. — Eu achei que poderia, mas agora está ficando difícil. O problema
Valéria estava na cozinha, arrumando a mesa após o café da manhã. Felipe estava sentado à mesa, tomando o último gole de café, alheio à inquietação dela. Depois de alguns minutos em silêncio, Valéria finalmente quebrou a tensão no ar. — Você vai sair hoje? — perguntou, tentando soar casual enquanto secava as mãos. Felipe, sem tirar os olhos da xícara, respondeu com a mesma neutralidade de sempre. — Sim, tenho alguns compromissos. Não sei a que horas volto, mas provavelmente tarde.. Enquanto guardava os utensílios, o celular de Valéria tocou, vibrando no balcão. Ela olhou para a tela: era Lara. — Oi, Lara — atendeu Valéria, tentando soar animada. — Oi, Valéria! O Rafael nos convidou para tocar de novo no pub. Vai ser como da última vez! O que você acha? — disse Lara, com entusiasmo. Valéria ficou em silêncio por um momento. Sentia-se cansada e distante, sem muito ânimo para sair. — Não sei, Lara. Acho que não estou no clima hoje — respondeu, enquanto reorganizava algumas par
Valéria estava na cozinha, limpando os últimos pratos, quando ouviu a porta sendo destrancada. Imaginou que fosse Felipe chegando mais cedo, então foi até a sala para recebê-lo. Para sua surpresa, era Beatriz quem entrou. — Valéria? — Beatriz sorriu, surpresa, mas sem esconder um toque de superioridade. — Não sabia que você estaria aqui. Valéria parou por um instante, surpresa. — Como você entrou? — perguntou, a confusão evidente. — Felipe me deu a senha há um tempo. Não sabia? — disse, com um olhar quase inocente. — Ele não mudou até hoje, e sabe o que é curioso? A senha é o aniversário da ex-namorada dele. Interessante, não? Valéria sentiu o estômago revirar, mas tentou disfarçar. Beatriz parecia à vontade, como se estivesse na própria casa, e continuou. — Acho que Felipe se esquece dessas coisas. Ou talvez, elas simplesmente não importem para ele — disse ela, vagando pela sala como se conhecesse cada detalhe. — O importante é que as famílias sempre esperaram que ele e eu
Valéria e Lara estavam sentadas ao fundo do pub, as luzes baixas e a música suave criando uma atmosfera que melancólica. Valéria já havia bebido mais do que o habitual, e Lara, sempre atenta, percebia que sua amiga estava prestes a desmoronar. — Quer me contar o que está acontecendo? — perguntou Lara, tentando parecer descontraída, mas com a preocupação evidente. Valéria olhou para o copo vazio, ainda segurando-o como se estivesse prestes a enchê-lo novamente. Sentia-se à beira de explodir, mas as palavras simplesmente não saíam. — Só... está tudo acumulando, sabe? — começou ela, sem saber ao certo por onde começar. — Às vezes, sinto que estou vivendo algo que não faz sentido. Felipe... ele é tão distante. E então, Beatriz aparece. A família dele quer que eles se casem. Como eu deveria me sentir sobre isso? Lara franziu o cenho, compreendendo o peso da situação. — Val, você está envolvida com alguém que não deixa espaço para você se envolver de verdade. Isso vai te consumir se vo
Valéria acordou com a cabeça latejando, uma lembrança dolorosa da noite anterior no pub com Lara. A dor era intensa, um eco direto do excesso de bebida e da tensão que se acumulava dentro dela. Ela se virou na cama, procurando por Felipe, mas o espaço ao seu lado estava vazio. Ele, mais uma vez, havia dormido no escritório. Com um suspiro pesado, Valéria se levantou, os músculos tensos com o peso emocional que carregava. Foi até o banheiro, tomou um analgésico e ficou encarando o próprio reflexo no espelho. O rosto pálido refletia o cansaço e as dúvidas que vinham consumindo-a. “Eu não posso continuar assim...”, ela pensou, mas não conseguiu completar o raciocínio. Sua mente ainda estava em um turbilhão de emoções confusas. Enquanto se arrumava, decidiu que seguiria o que Felipe queria desde o começo. Se ele preferia um relacionamento sem envolvimento emocional, era isso que ela ofereceria a partir de agora. Ela não deixaria que os sentimentos a controlassem mais. Saiu de cas
No final do expediente, Valéria estava se preparando para sair quando Ana, a secretária, apareceu com um pequeno sorriso. — Valéria, antes de você ir, tem um recado. — Ela entregou um papel. — O senhor Ricardo Goulart pediu que eu passasse isso para você. Valéria pegou o papel e, ao abri-lo, viu o horário e o local do jantar e da reunião. Lara, que estava ao lado, levantou uma sobrancelha, curiosa. — Jantar? Que jantar é esse? Valéria deu de ombros, guardando o papel na bolsa. — O Ricardo Goulart veio aqui hoje. Ele quer propor uma parceria para o estúdio. Marcou um jantar para ver se consegue mudar minha opinião e fechar o negócio. Ele está interessado em fazer um documentário sobre música clássica. Lara olhou com interesse, mas ainda cautelosa. — Um documentário? Parece interessante, mas... sei lá, tem algo nisso que não me convence. Valéria sorriu, tentando tranquilizá-la. — Não é nada demais. Só um jantar de negócios. Se der certo, pode ser bom para o estúdio. L