Sabe... Nós costumamos pensar que o futuro sempre vai ser como planejamos, mas a verdade é que isso não está sob nosso controle. Infelizmente, não podemos decidir, de fato, o que irá nos acontecer no dia de amanhã, na próxima semana, meses ou até mesmo anos à frente. A vida é uma grande surpresa, e comigo não foi nada diferente disso.
Aos meus dezoito anos, minha família e eu fomos fazer uma viagem de inverno à Europa. Minha mãe, Jenna, meu pai, Phill, meu irmão gêmeo, Alfred, e eu, claro, costumávamos viajar juntos nas férias. Meu irmão e eu já havíamos nos formado na escola, então estávamos apenas tirando um ano sabático. Meus pais sempre gostaram de viajar muito, principalmente quando eram apenas os dois. Papai era dono de uma empresa de viagens que mamãe administrava com ele. Apesar de ela ser pesquisadora, apenas dava aulas particulares e palestras sobre algumas coisas que tirava de conhecimento durante seus passeios pelo mundo.
Mas, voltando a falar um pouco sobre aquele inverno, não foi uma viagem como qualquer outra que tivemos. Eu vinha sentindo muitas dores nas costas, porém, ainda assim, ignorei-as, pelo fato de que elas poderiam ser por eu ter entrado recentemente na equipe de vôlei, depois de anos sem jogar, e estar me esforçando um pouco demais. Aquelas dores já estavam persistindo por alguns dias, talvez até semanas, mas as coisas ficaram mais preocupantes no momento em que elas começaram a se estender para o abdômen, até que chegaram a ser muito insuportáveis.
Quando resolvi procurar um médico, meio que já era tarde demais. Eu não estava apenas com dores no corpo por um esforço físico exigido, estava com um tumor no rim. E ter demorado algumas semanas a mais do que deveria para ir à consulta fez com que meu quadro clínico piorasse. A notícia me deixou apavorada. Ninguém pode dizer quando vai ser seu último dia, sendo a pessoa mais saudável do mundo ou não, mas quando você está em uma luta constante para poder viver, é completamente doloroso.
Por sorte, o hospital especializado no tratamento de câncer, na Austrália, na cidade de Melsmont, era bem confortável. Conheci pessoas incríveis, e isso me ajudou bastante no tempo que precisei passar lá. Porventura, eu estava respondendo bem ao tratamento e não precisaria de um transplante se tudo ocorresse como o planejado. Nessa época, eu costumava passar pelo menos duas noites no hospital para melhores acompanhamentos, porém, mesmo assim, minha saúde estava mais crítica do que o esperado e não ajudava em nada eu ver a minha família da forma como estavam.
Minha mãe se tornou uma mulher emotiva demais depois que Alfred e eu nascemos, e me doía fingir que não a escutava chorar todas às vezes que se escondia no banheiro do hospital, do outro lado do quarto. Meu pai sabia o quanto era difícil pensar que nunca mais eu voltaria para casa e com isso, ele fazia de tudo para arrancar meus sorrisos mais sinceros. Nós nos divertíamos de todas as maneiras possíveis. Eu sabia que poderia contar com a presença dele para todas as circunstâncias, para me apoiar e me dar forças sempre que eu precisasse.
No entanto, após dois longuíssimos anos de tratamento, em uma noite que deveria ser como qualquer outra, eu estava encostada no balanço de madeira que havia em minha casa, lendo um bom livro, quando comecei a sentir meu corpo dar fisgadas tão fortes, que eu não conseguia nem sequer respirar. Então fui levada o mais rápido possível para a ala de emergência do hospital. Meu câncer havia evoluído de estágio e, como consequência, já tinha se disseminado para outras regiões do meu corpo, resultando em uma metástase.
O ano mais difícil que eu poderia ter imaginado, começou a acontecer, pois além de eu estar em um quadro mais grave, meu pai não estaria mais presente para me motivar a seguir adiante. Ele sofreu um acidente quando estava dirigindo; um cara bêbado entrou na frente dele com o carro. Papai tentou desviar, só que isso fez com que ele perdesse o controle do veículo. O levaram com vida para o hospital, mas infelizmente ele não resistiu.
Desde então, minha mãe praticamente se distanciou de todos nós e se fechou completamente. A sua rotina de me visitar todas as manhãs que eu passava internada, de me levar café na cama e sair quase sempre sem dizer nada. Isso me fez perceber que estar ali a deixava pior cada vez mais. O que, sinceramente, fazia eu me sentir apagada como ela. Era o que, às vezes, eu mais desejava: apagar. Contudo, pelo meu pai, eu queria resistir, mesmo sendo tão complicado e, na maioria das vezes, eu só querendo poder desistir de tudo.
O destino poderia parar de me sacanear uma vez, esperava eu. Não sabia mais pelo que viver. Já havia aceitado que não seria mais a mesma pessoa que fui um dia, até conhecer alguém que, não exatamente, mudou esses princípios, porém fez com que eu enxergasse o que estava diante dos meus olhos de uma forma diferente: coisas que sempre estiveram lá, mas para as quais eu tinha me fechado.
Minha rotina não era mais estar só no hospital, mesmo que, na maior parte do tempo, estivesse, pois ali poderia ficar com as pessoas mais incríveis que eu já havia conhecido, e até que tinha meus dias mais divertidos por lá.Como meus resultados haviam progredido o suficiente, minha médica concluiu que eu ficar em casa poderia ser uma boa ideia. Estar perto de minha mãe e poder estar em um lugar que, realmente, eu chamaria de lar, com certeza me faria um bem maior, considerando que ficar internada e sob vigia não seria mais tão necessário. E nisso, eu já tinha completado seis meses sem ter que lidar com o câncer, mas, ainda assim, fazia exames periódicos para que não houvessem riscos inesperados e eu voltasse à estaca zero. Entretanto, como mencionei, às vezes eu também ia ao hospital apenas para passar algumas noites com meus melhores amigos, principalmente Troyan, que quase nunca estava em sua casa, e quando estava, tirava um tempo somente para a família.Naquele exato momento, enco
Eu nunca fui muito de comemorar em festas e em qualquer outra coisa que envolvesse uma galera bêbada. Ally já era alguém mais experiente do que eu nesse quesito. Também não quero dizer que jamais tinha ido a uma festa ou a uma fogueira na praia junto com o pessoal. Em Cough, nós fazíamos muito isso. Mas essas coisas não eram mais o meu estilo depois que me mudei de cidade, onde não conhecia muitas pessoas. Em Melsmont, sempre fui a garota que levava o livro na bolsa, procurava um cantinho iluminado e se esquecia de todo o resto quando, finalmente, podia mergulhar no universo contido em pequenas páginas brancas preenchidas com palavras.Ally sempre gostou de participar de aglomerações. Para ela, quanto mais gente tivesse, melhor. Eu era totalmente o contrário. E pensando nessa lógica, eu não ficava preocupada com o meu guarda-roupa, se tinha roupas suficientemente bonitas para esse tipo de evento. E como eu não tinha nada além de moletons, vestimentas meio velhas e nada muito bom para
Minha casa não era longe da praia onde estávamos, mas eu sabia que Ally tinha pegado o caminho mais longo para que pudéssemos conversar um pouco mais. Ela estava tão feliz, que isso me deixava em êxtase por ela. Minha amiga podia ser alguém bem divertida, porém sabia muito bem esconder a tristeza e o medo por baixo de qualquer sorriso. Mas, dessa vez, era diferente. Não havia máscara nenhuma naquele sorriso.— Obrigada por ter ido hoje à festa comigo, Blay — ela agradeceu, animada. — E me desculpe por não ter ficado com você. Mas te vi indo caminhar com um cara e achei que não deveria atrapalhar.— Não, Ally. Não se preocupe com isso. — Pensei que, talvez, se as coisas tivessem sido diferentes, eu não teria tido a oportunidade de conhecer Ash. — Eu me diverti muito também.— É, eu percebi. — Riu e mordiscou o lábio inferior como se estivesse se segurando para não fazer perguntas. — Quem era aquele gatinho?— Para ser sincera, eu o conheci hoje. Não sei muitas coisas sobre ele, mas
Um dos meus passatempos favoritos era a leitura. Com toda a certeza, eu escolheria passar a minha vida toda com o rosto entre páginas e mais páginas de histórias incríveis que me levariam a milhares de lugares que, de certa maneira, eu não poderia conhecer verdadeiramente nesta vida.Alguns quarteirões depois da minha casa havia uma pequena livraria, onde, sempre que possível, eu passava horas dos meus dias lendo e até mesmo escrevendo alguns contos que surgiam em minha mente. Desde pequena, eu gostava muito de recriar histórias de livros que lia ou de filmes aos quais eu assistia. Era uma forma que eu encontrava de poder criar meu próprio mundo, na minha maneira de pensar. Se bem que, pelo menos comigo, sempre deixei que a escrita me guiasse, às vezes sendo o final dela uma surpresa até para mim mesma. Mas, de certa forma, nunca achei que essa fosse a questão.Escrever, realmente, era uma das coisas que eu melhor sabia fazer, tanto que pouco antes de o verão terminar — isso no começo
Era uma manhã quente, quando meu telefone me acordou com uma ligação perdida de Ally e uma mensagem que dizia para eu contar logo os detalhes da noite anterior para ela. Não se passavam das 9h30 da manhã de domingo e a luz do sol, que ultrapassava as cortinas semiabertas, preenchia metade do quarto. Ainda deitada, involuntariamente, sorri ao ver uma mensagem de Ash me desejando um bom dia. Nós dois ficamos até tarde juntos e foi tudo maravilhoso. Depois de acordar, eu repassei cada detalhe na mente sobre tudo que havia acontecido. Infelizmente, a realidade me trouxe de volta ao presente assim que uma voz familiar soou no final do corredor. Era o meu irmão, Alfred. Ele parecia animado, cantarolando enquanto saía de seu quarto e descia as escadas. Mas acontece que já fazia um tempo que as coisas não eram mais assim. Naqueles últimos meses tiveram muitos acontecimentos, na verdade, e alguns deles não foram nem um pouco bons. Lembro-me perfeitamente da noite em que cheguei em casa, de
A festa para a comemoração do noivado seria no dia seguinte. De início, havíamos decidido que seria em nossa casa, mas o nosso espaço da piscina não era tão grande quanto o da casa dos pais de Meredith. Então, finalizamos a ideia de onde seria, concordando que lá era um ambiente mais propício. As reformas já tinham terminado, e eu também havia acabado o meu desenho. Estava tudo certo para que pudéssemos encher a propriedade dos Carrington de convidados. Se bem que meu irmão me dissera que eles preferiram chamar apenas os mais próximos e aqueles a quem fariam os convites para serem madrinhas e padrinhos. Eu me recordava perfeitamente de quando Alfred e eu falávamos sobre o momento em que chegaria o dia que casaríamos. Prometemos que nunca faríamos isso sem a aprovação um do outro. Era engraçado pensar nisso no momento atual em que estávamos. Passamos uma boa parte da noite conversando e eu pensei em ir para a fogueira na praia com Ally. Porém, preferi ficar em casa. Ficamos com nossa
Minha mãe estava sentada de frente para a piscina, lendo um livro, quando me sentei ao seu lado. Também sorri em sua direção assim que ela parou o que estava fazendo e se virou para mim.— Bom dia — cumprimentei-a.— Bom dia, minha querida. — Passou a mão em meu cabelo, afastando uma mechinha dele para trás.— Hoje faz uma semana desde o noivado. Você está melhor? — perguntei, rindo só de pensar em como ela estava animada naquela noite. A noite que a torturou por quase uma semana.— Nunca mais me deixe beber tanto vinho, por favor. Preciso ressaltar isso.Concordei, lembrando-me de como ela não parava de rir de qualquer coisa que falavam. E nós duas demos uma gargalhada, recordando-nos do momento em que ela disse a Ash que ele era tão bonito, que se não fosse minha mãe, iria querer ficar com ele também.— Foi vergonhoso. — Ela tapou o rosto com as mãos.— Foi engraçado — contrapus.— Mas, então, vocês dois vão mesmo para a casa de seus avós hoje à tarde?— Acha que eu não deveria ter
Minha mãe estava sentada de frente para a piscina, lendo um livro, quando me sentei ao seu lado. Também sorri em sua direção assim que ela parou o que estava fazendo e se virou para mim.— Bom dia — cumprimentei-a.— Bom dia, minha querida. — Passou a mão em meu cabelo, afastando uma mechinha dele para trás.— Hoje faz uma semana desde o noivado. Você está melhor? — perguntei, rindo só de pensar em como ela estava animada naquela noite. A noite que a torturou por quase uma semana.— Nunca mais me deixe beber tanto vinho, por favor. Preciso ressaltar isso.Concordei, lembrando-me de como ela não parava de rir de qualquer coisa que falavam. E nós duas demos uma gargalhada, recordando-nos do momento em que ela disse a Ash que ele era tão bonito, que se não fosse minha mãe, iria querer ficar com ele também.— Foi vergonhoso. — Ela tapou o rosto com as mãos.— Foi engraçado — contrapus.— Mas, então, vocês dois vão mesmo para a casa de seus avós hoje à tarde?— Acha que eu não deveria ter