Nosso último adeus
Nosso último adeus
Por: Fernanda Barducchi
Prólogo

Sabe... Nós costumamos pensar que o futuro sempre vai ser como planejamos, mas a verdade é que isso não está sob nosso controle. Infelizmente, não podemos decidir, de fato, o que irá nos acontecer no dia de amanhã, na próxima semana, meses ou até mesmo anos à frente. A vida é uma grande surpresa, e comigo não foi nada diferente disso.

Aos meus dezoito anos, minha família e eu fomos fazer uma viagem de inverno à Europa. Minha mãe, Jenna, meu pai, Phill, meu irmão gêmeo, Alfred, e eu, claro, costumávamos viajar juntos nas férias. Meu irmão e eu já havíamos nos formado na escola, então estávamos apenas tirando um ano sabático. Meus pais sempre gostaram de viajar muito, principalmente quando eram apenas os dois. Papai era dono de uma empresa de viagens que mamãe administrava com ele. Apesar de ela ser pesquisadora, apenas dava aulas particulares e palestras sobre algumas coisas que tirava de conhecimento durante seus passeios pelo mundo.

Mas, voltando a falar um pouco sobre aquele inverno, não foi uma viagem como qualquer outra que tivemos. Eu vinha sentindo muitas dores nas costas, porém, ainda assim, ignorei-as, pelo fato de que elas poderiam ser por eu ter entrado recentemente na equipe de vôlei, depois de anos sem jogar, e estar me esforçando um pouco demais. Aquelas dores já estavam persistindo por alguns dias, talvez até semanas, mas as coisas ficaram mais preocupantes no momento em que elas começaram a se estender para o abdômen, até que chegaram a ser muito insuportáveis.

Quando resolvi procurar um médico, meio que já era tarde demais. Eu não estava apenas com dores no corpo por um esforço físico exigido, estava com um tumor no rim. E ter demorado algumas semanas a mais do que deveria para ir à consulta fez com que meu quadro clínico piorasse. A notícia me deixou apavorada. Ninguém pode dizer quando vai ser seu último dia, sendo a pessoa mais saudável do mundo ou não, mas quando você está em uma luta constante para poder viver, é completamente doloroso.

Por sorte, o hospital especializado no tratamento de câncer, na Austrália, na cidade de Melsmont, era bem confortável. Conheci pessoas incríveis, e isso me ajudou bastante no tempo que precisei passar lá. Porventura, eu estava respondendo bem ao tratamento e não precisaria de um transplante se tudo ocorresse como o planejado. Nessa época, eu costumava passar pelo menos duas noites no hospital para melhores acompanhamentos, porém, mesmo assim, minha saúde estava mais crítica do que o esperado e não ajudava em nada eu ver a minha família da forma como estavam.

Minha mãe se tornou uma mulher emotiva demais depois que Alfred e eu nascemos, e me doía fingir que não a escutava chorar todas às vezes que se escondia no banheiro do hospital, do outro lado do quarto. Meu pai sabia o quanto era difícil pensar que nunca mais eu voltaria para casa e com isso, ele fazia de tudo para arrancar meus sorrisos mais sinceros. Nós nos divertíamos de todas as maneiras possíveis. Eu sabia que poderia contar com a presença dele para todas as circunstâncias, para me apoiar e me dar forças sempre que eu precisasse.

No entanto, após dois longuíssimos anos de tratamento, em uma noite que deveria ser como qualquer outra, eu estava encostada no balanço de madeira que havia em minha casa, lendo um bom livro, quando comecei a sentir meu corpo dar fisgadas tão fortes, que eu não conseguia nem sequer respirar. Então fui levada o mais rápido possível para a ala de emergência do hospital. Meu câncer havia evoluído de estágio e, como consequência, já tinha se disseminado para outras regiões do meu corpo, resultando em uma metástase.

O ano mais difícil que eu poderia ter imaginado, começou a acontecer, pois além de eu estar em um quadro mais grave, meu pai não estaria mais presente para me motivar a seguir adiante. Ele sofreu um acidente quando estava dirigindo; um cara bêbado entrou na frente dele com o carro. Papai tentou desviar, só que isso fez com que ele perdesse o controle do veículo. O levaram com vida para o hospital, mas infelizmente ele não resistiu.

Desde então, minha mãe praticamente se distanciou de todos nós e se fechou completamente. A sua rotina de me visitar todas as manhãs que eu passava internada, de me levar café na cama e sair quase sempre sem dizer nada. Isso me fez perceber que estar ali a deixava pior cada vez mais. O que, sinceramente, fazia eu me sentir apagada como ela. Era o que, às vezes, eu mais desejava: apagar. Contudo, pelo meu pai, eu queria resistir, mesmo sendo tão complicado e, na maioria das vezes, eu só querendo poder desistir de tudo.

O destino poderia parar de me sacanear uma vez, esperava eu. Não sabia mais pelo que viver. Já havia aceitado que não seria mais a mesma pessoa que fui um dia, até conhecer alguém que, não exatamente, mudou esses princípios, porém fez com que eu enxergasse o que estava diante dos meus olhos de uma forma diferente: coisas que sempre estiveram lá, mas para as quais eu tinha me fechado.

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