Nossas mãos se tocavam no alto e eu sentia o peito de Ash subir e descer com sua respiração, enquanto estava deitada sobre ele.Na noite passada, havíamos conversado sobre tudo que ainda estava pendente. Nós, principalmente eu, choramos. Eu chorava como uma criança que pedia o colo de uma mãe. E enquanto ele afagava meu cabelo, eu pedia a quem me ouvisse que nunca o tirasse de mim. Jamais conseguiria esquecer Ash, o amor da minha vida. Sempre haveria uma parte minha que se lembraria de quem fomos. Eu estava pedindo para isso acontecer e acreditei que aconteceria. Poderíamos envelhecer juntos e ter uma família, ou mesmo sermos apenas nós dois; já seria mais que o suficiente.Eu lhe pedi para que me mostrasse mais alguma lembrança, e ele fez isso. Mostrou-me tantas coisas. Mas algumas delas não passavam de vislumbres. Eu sabia que o afetava não conseguir nos manter em sua mente por tempo o bastante antes que aquela memória se esvaísse e se tornasse apenas um vazio entre nós. Prometi que
AshEmma segurava a minha mão, sem força alguma, e eu podia imaginar que era a sua intenção. Sua pele estava pálida e o cabelo quebradiço. Ela estava deitada, apoiada com as costas em meu peito. Nós nos olhávamos e meu rosto estava quente, de tanto que eu havia chorado naquela manhã. Eu queria poder fazer mais por ela, mas a única coisa que eu tinha ao meu alcance eram os seus últimos minutos de vida.Depois, tudo começaria de novo e de novo. No entanto, se eu conseguisse a sorte de não ter que passar por essa situação mais uma vez, entregaria tudo que quisessem. Eu faria isso com todo o resto do meu coração, sem pensar duas vezes.— Asher — sua voz era trêmula e fraca, só que ela não deixava de sorrir mesmo assim.Lembro-me de quando nos conhecemos. Ela estava dando uma aula de francês e eu passei em frente ao seu trabalho. Quando ela saiu de lá, nossos olhares se esbarraram. Foi então que a reconheci. Ela tinha os mesmos olhos e o mesmo rosto; apenas pequenas mudanças a faziam ser d
Repassei as minhas lembranças com Ash naquela manhã. Conforme ia pensando nelas, também ia escrevendo-as em um papel. Talvez, assim, fosse mais fácil não as esquecer. Eu contaria as melhores partes para Ally e Troyan. Teria mais pessoas para se lembrarem de nós e mais memórias para serem apagadas. Também, eu ficava relembrando-as a todo momento.O problema era que eu não conseguia saber se havia me esquecido de alguma coisa. Essa era a pior parte: não saber em qual estaca estávamos. A única coisa que eu sabia, porque tinha passado boa parte da noite passada escrevendo alguns diálogos e pensando em outros, era que, até então, eu só havia me esquecido do nosso começo. Isso já era algo prejudicial, só que, pelo menos, estagnou ali. O restante, por ora, ainda estava intacto.Eu fui, animada, naquela manhã, para o hospital. Mesmo que eu os tenha visto há pouco tempo, sentia muita saudade de Ally e Troyan. Como ficamos juntos durante muitos anos, eles meio que começaram a fazer parte da min
Quando abri os olhos, não me encontrava mais no sofá preto, nos braços de Ash. Estava em uma cama, coberta com um edredom que parecia bem reconfortante naquele momento. Eu estava só e sabia o que havia acontecido. Minha mente fez questão de me lembrar de tudo bem rápido. Porém, dessa vez, apenas suspirei em vez de cair no choro.Afastei o edredom de minhas pernas e me levantei. A porta estava entreaberta, então apenas a puxei para que se abrisse mais. Ash foi minha primeira visão. Ele estava apoiado no balcão que havia entre a cozinha e a sala. Quando percebeu minha presença, ficou ereto e me encarou.— Você está melhor?Eu concordei com um sorriso fraco nos lábios.Quando cheguei ali algumas horas antes, não tinha reparado em todas as coisas, somente nele, na verdade. Mas olhando ao redor... A casa não era grande. Talvez até fosse a menor daquele bairro em que vivíamos. Havia duas portas à direita, depois da entrada. Uma levava até onde eu estava, e a outra ficava ao meu lado. Supus
Troyan sorriu ao me ver chegando com Ash e Ally. Seu rosto era tão ingênuo, que quase me fazia fraquejar. A casa dele era bem grande e tinha decorações por todas as partes. Claro. Ali eu soube de onde vinha tanto gosto por decorações, em geral, que ele possuía.— Feliz aniversário! — nós três falamos ao mesmo tempo, mas eu o abracei primeiro. Foi um longo abraço.Eu o apresentei para Ash. Troyan ficou empolgado, dizendo que eu seria uma grande escritora, graças à imaginação fértil que ele me proporcionou em um fim de semana em Cough.Eu amava vê-lo sorrindo.Em sua casa, estavam apenas sua mãe e alguns de seus amigos do hospital, incluindo Bárbara e algumas das enfermeiras mais próximas, que estiveram ao lado dele desde o início de sua luta.Todos estávamos emocionalmente estáveis. A intenção era agirmos normalmente, mas sempre ficávamos de olho em cada movimento de Troyan e nos apressávamos para fazer algo para ele antes que pudesse nos pedir.— Eu só quero um copo e uma faca, suas d
Meus olhos se abriram novamente. A noite já não era tão escura. Na verdade, estava clara demais, como se eu não estivesse na mesma realidade que antes. Talvez porque não estivesse, de fato.— Oh, amor — a voz de Ash soou, pesada e triste.Dava para eu ver que ele havia chorado, mas que estava aliviado por algum motivo.Quando meus olhos focaram nele, notei que estávamos em um lugar totalmente diferente, sentados em uma colina e de frente para o nascer do sol, que iluminava o caminho de árvores e o riacho ao nosso redor. Eu sabia que essa não era a nossa realidade, porém não conseguia me recordar do que aconteceu anteriormente. Talvez só estivesse sonhando.Parecia que Ash queria evitar me dizer qualquer palavra que fosse. Eu nunca o tinha visto de tal maneira, tão magoado e com tanta dor evidente em seu olhar, a não ser em todas as vezes que ele me olhava, sabendo que estava me perdendo mais uma vez.Não.Não.Não.Isso não era justo. Não daquela maneira, naquele momento. Nós íamos co
Alguns meses se passaram desde a última vez que fomos para a casa de campo, em Cough. Estávamos animados para o fim de ano. Passaríamos o Natal juntos, como costumávamos fazer. Sendo assim, eu teria que adiantar todo o meu trabalho para que não precisasse me preocupar com artigos de revisões para entregar, já que havia me atrasado com muitos deles.Nesses meses, muitas coisas aconteceram. Troyan decidiu que não voltaria a fazer quimioterapia depois dos últimos exames e, infelizmente, seu corpo não conseguiu se sustentar por mais que algumas semanas após isso. Nós passamos por um luto e foi muito difícil ter que encarar tudo para voltar à realidade, que não nos esperaria por muito tempo. Fizemos tudo que podíamos para que seus últimos dias compensassem, pelo menos, uma parte de todo o sofrimento que ele enfrentou.Meu amigo me fez prometer que eu focaria mais em mim e que eu iria atrás dos meus sonhos. E era por esse motivo que eu estava na cafeteria, encarando meu notebook, pensando e
Sabe... Nós costumamos pensar que o futuro sempre vai ser como planejamos, mas a verdade é que isso não está sob nosso controle. Infelizmente, não podemos decidir, de fato, o que irá nos acontecer no dia de amanhã, na próxima semana, meses ou até mesmo anos à frente. A vida é uma grande surpresa, e comigo não foi nada diferente disso.Aos meus dezoito anos, minha família e eu fomos fazer uma viagem de inverno à Europa. Minha mãe, Jenna, meu pai, Phill, meu irmão gêmeo, Alfred, e eu, claro, costumávamos viajar juntos nas férias. Meu irmão e eu já havíamos nos formado na escola, então estávamos apenas tirando um ano sabático. Meus pais sempre gostaram de viajar muito, principalmente quando eram apenas os dois. Papai era dono de uma empresa de viagens que mamãe administrava com ele. Apesar de ela ser pesquisadora, apenas dava aulas particulares e palestras sobre algumas coisas que tirava de conhecimento durante seus passeios pelo mundo.Mas, voltando a falar um pouco sobre aquele inverno