Selene estava sentada à beira da cama, o tecido macio do lençol roçando contra suas coxas nuas, mas sua mente estava distante, perdida em uma encruzilhada que ela não sabia como cruzar. Cassian estava no banheiro, cantando baixinho, a despreocupação juvenil tão evidente em cada nota que ele emitia. Ele era o homem que todos diziam ser perfeito para ela — belo, doce, e acima de tudo, apaixonado. Mas, naquela quietude, Selene sentiu um vazio estranho. Um sentimento obscuro, uma sombra que crescia, se espalhava pelas suas entranhas e tomava forma de algo que não conseguia nomear, mas que queimava com o calor da culpa. Ela o amava, claro que amava. Mas havia algo de incompleto, algo que Cassian, em sua pureza, jamais poderia oferecer. Ele a adorava como se ela fosse uma joia rara, e, ironicamente, esse tipo de devoção começou a sufocá-la. Ela não queria ser uma joia. Queria sentir-se carne, calor, desejo... E foi Lucian que a fez sentir assim, logo que ela o conheceu.
Ele era o oposto. Onde Cassian era luz, Lucian era trevas; onde o noivo a venerava, o irmão a desafiava. Lucian era mais velho, mais cínico, e trazia em seus olhos um fogo que não apenas seduzia — ele queimava. Selene já tinha cedido. Ela sabia disso, mesmo que nunca tivesse pronunciado em voz alta. O pensamento de Lucian — suas mãos firmes, seus olhos perscrutadores — fazia seu corpo estremecer de desejo. Havia uma noite específica que retornava à sua memória constantemente, quando ela estava fraca, vulnerável, e ele não hesitou. Ele sabia como provocá-la, como fazê-la implorar sem usar uma única palavra.
A traição estava ali, viva, pulsante, entrelaçada nos lençóis de cada noite em que ela pensava nele ao invés de Cassian. Ela traía a promessa, traía a devoção do noivo, e mesmo assim, não conseguia se impedir. Havia algo incontrolável, um desejo que Cassian, por mais amoroso que fosse, jamais saciaria. Lucian era como um veneno delicioso, algo que a corroía por dentro, mas ela bebia de bom grado.
Lucian tinha o dom de destruir o psicológico das pessoas. Não com palavras diretas, não com ameaças, mas com sutileza. Ele tinha uma habilidade inata para invadir mentes, como um predador que penetra lentamente na sua presa, envenenando-a com dúvida, desejo e caos. Quando Lucian falava, ele não só captava sua atenção — ele tomava posse dela. Seus olhos pareciam sondar a alma, e Selene sabia, cada vez que se encontrava sozinha com ele, que era um jogo perigoso. Ele manipulava suas emoções com precisão cirúrgica, mexendo em cada insegurança, cada lacuna em seu relacionamento com Cassian.
— Você acha que ele sabe o que você realmente deseja? – Lucian sussurrou em seu ouvido uma vez, quando ela estava à beira de ceder, o rosto próximo demais, a respiração dele quente contra a pele dela.
Selene se sentia como um pássaro preso em uma gaiola, mas a gaiola era ela mesma, as barras eram seus próprios sentimentos e o desejo incontrolável que sentia por aquele homem proibido. Cada encontro, cada conversa com Lucian, era como caminhar por um campo minado — e ela gostava disso. Lucian a fazia sentir viva de uma maneira que Cassian não conseguia. Ele a testava, brincava com ela, e, mesmo sabendo que isso era perigoso, Selene não conseguia parar.
Era mais do que apenas desejo físico. Era a mente de Lucian. Ele era um hedonista, um incendiário. Ele entendia as profundezas da psique humana, sabia onde mexer para gerar confusão e medo. Ele invadia o subconsciente, abria portas trancadas e acendia chamas onde deveria haver apenas cinzas. Cassian poderia amá-la até o fim dos tempos, mas Lucian a conhecia de um jeito que a tornava refém de si mesma. Ele era o caos encarnado, e ela, impotente, sentia-se atraída pela destruição que ele representava.
O perigo disso era evidente. Lucian não era um homem comum. Ele tinha o poder de destruir a todos ao seu redor, porque ele queria destruição. Não por maldade, mas por um desejo intrínseco de domínio. Ele gostava de ver o caos que deixava em seu rastro. O que começou como uma tensão entre Selene e ele logo se espalharia como fogo em palha seca, afetando todos os que estivessem por perto. Cassian, com seu coração puro e amor inabalável, era o primeiro em risco. Ele não via o irmão como uma ameaça — por que deveria? Mas Selene sabia que Lucian estava jogando, e o prêmio final era o controle total. Não apenas sobre ela, mas sobre a vida de todos ao seu redor. Ele queria provar que era superior, que ele podia ter tudo, até mesmo o que era precioso para seu irmão mais novo. E isso apavorava Selene, porque ela sabia que Lucian não pararia até conseguir. Ele era implacável, e ela estava cada vez mais enredada em suas teias. O que começara como uma faísca de desejo agora era um incêndio incontrolável que ameaçava engolir todos — Cassian, Lucian e ela mesma. Havia algo de perverso na forma como Lucian a prendia, algo que transcendia o físico, alcançando os recônditos mais sombrios de sua mente e de sua alma. Ele era uma força destrutiva, e ela era o combustível.
O caos estava à espreita, e Selene sabia que não havia volta. O fogo de Lucian consumiria tudo, e ela, tragicamente, não sabia se queria escapar disso.
O vinho servido por Lucian era um raro francês, o último de um estoque antigo que ele havia adquirido logo após se instalar em Flerks. O aroma intenso da bebida pairava no ar, enquanto ele observava o casal à sua frente. Seus olhos, porém, repousavam por mais tempo em Selene. Havia algo magnético nela, algo que ele não conseguia — ou não queria — ignorar. Ele a estudava com uma intensidade previamente calculada, cada movimento, cada gesto. Quando um pequeno fio do vinho escorreu pelo canto da boca dela, sua atenção ficou ainda mais afiada. Seus olhos seguiram a trilha escarlate até o lábio inferior, que ela logo secou com a língua. O formato de seus lábios o fascinava, a forma suave e perfeita que o deixava em um estado quase febril de excitação.
Lucian engoliu em seco, sentindo o calor se acumular em sua virilha, um formigamento que o fez ajustar a postura, cruzando as pernas em uma tentativa sutil de mascarar sua reação. O controle era uma habilidade refinada nele, e seu rosto não revelava nada além de um sorriso frio e misterioso enquanto mudava de assunto com fluidez.
— Então, quando se casarão? — perguntou ele, sem desviar os olhos de Selene por um segundo sequer.
— Daqui a dois meses — respondeu Cassian, orgulhoso, seu sorriso inocente contrastando com a tensão invisível no ar.
Ele não via, não sentia o que estava acontecendo, a energia que se formava entre Selene e Lucian, como um campo magnético impossível de resistir.
Selene, por outro lado, sentiu o impacto das palavras de Lucian como um soco invisível no estômago. Havia algo mais naquela pergunta do que simples curiosidade. Era uma provocação. Um lembrete. Ele sabia o que estava fazendo. Lucian tinha a habilidade de invadir não só a mente, mas o coração de quem estivesse por perto, e com Selene, ele já tinha feito isso muito antes. Aquilo era um jogo. Um jogo perigoso.
Ela se mexeu desconfortável no sofá, tentando se concentrar no calor do vinho, mas sua pele formigava sob o olhar penetrante de Lucian. Ele sabia. Sabia como aquela simples troca de olhares fazia sua mente girar e seu corpo arder de uma forma que Cassian nunca conseguira.
Lucian continuou, a voz sempre sedutora, como se sussurrasse segredos ao vento:
— Dois meses... — ele repetiu, fingindo consideração, mas o cinismo era inegável. — Muito tempo para preparar tudo. — Ele fez uma pausa, inclinando-se ligeiramente para frente, os olhos azuis mais intensos, como se pudesse despir Selene com o olhar. — Tenho certeza de que será uma cerimônia memorável.
Cassian, alheio à tensão, assentiu entusiasmado.
— Com certeza! Selene está cuidando de todos os detalhes.
Mas Lucian não estava interessado em detalhes de casamento. Ele estava interessado em Selene, em como ela reagia a ele, mesmo com o noivo ao lado. E ela, lutando contra a culpa e o desejo, sentia-se puxada para ele como uma mariposa em direção à chama.
Lucian se levantou, ainda com aquele sorriso que Selene já havia visto demais. Ele sabia o que estava fazendo. Sabia o que provocava. Ele andou até a enorme janela de vidro que dava vista para as montanhas distantes, sua presença dominante preenchendo o ambiente. Virou-se, segurando sua taça de vinho com um ar descontraído, mas seus olhos continuavam fixos em Selene.
— Sabem, o amor é uma coisa fascinante... — ele disse calmamente. — Pode ser a coisa mais bela do mundo, mas também... pode destruir.
Selene sentiu um arrepio na espinha. Ele estava jogando com ela, manipulando suas emoções, e o pior de tudo era que ela estava cedendo. Ela sabia que deveria parar, mas não conseguia. O desejo que sentia por ele a consumia, a fazia querer mais, mesmo sabendo que aquilo poderia arruinar tudo. Ela olhou para Cassian, que continuava despreocupado, inocente, alheio ao perigo. Lucian caminhou de volta até eles, sentando-se na poltrona com uma pose relaxada, mas o sorriso em seus lábios era quase cruel.
— Afinal... o que seria da vida sem um pouco de caos, não é? — murmurou ele, com os olhos cravados em Selene, que se remexeu no sofá, sentindo seu coração acelerar.
Ela sabia o que ele estava insinuando. Sabia que Lucian não era apenas uma ameaça externa, mas uma tempestade que já estava dentro dela, pronta para destruir tudo que ela conhecia.
Lucian tomou um gole lento de seu vinho, saboreando o silêncio antes de continuar. A noite estava carregada de algo mais denso que apenas a escuridão lá fora. Ele inclinou a cabeça, sempre calculista, seus olhos faiscando enquanto ponderava suas próximas palavras. O jogo, para ele, nunca era apressado.
— O amor... — começou ele, arrastando a palavra como se estivesse provando seu peso. — ...é uma coisa engraçada, não acham? Tão volátil. Tão efêmero. Há o amor carnal, o desejo que queima como um fogo descontrolado... — Ele lançou um olhar furtivo para Selene, observando o leve tremor em seus lábios enquanto ela ouvia. — Mas esse fogo, por mais intenso que seja, sempre se apaga. É inevitável. A paixão que uma vez devora, depois, não passa de cinzas — Selene apertou os lábios, sentindo o calor subir por seu corpo. As palavras de Lucian pareciam sussurrar diretamente a ela, como se apenas eles dois estivessem na sala. — E depois... — continuou Lucian, jogando uma perna sobre a outra e descansando um braço sobre o encosto da poltrona, o semblante descontraído, mas os olhos predadores. — Há o amor sentimental, aquele que promete durar. Doce, confortável... — Ele fez uma pausa, os olhos brilhando com cinismo. — ...mas tão facilmente iludido. As promessas de juventude, beleza, de uma eternidade juntos, como se o tempo não fosse o maior inimigo de todos. Porque, vejam bem... — Lucian virou-se para Cassian, quase sorrindo de forma paternal. — A beleza... essa beleza que você tem, irmão, que hoje encanta e segura, também envelhece. E o que resta então?
Cassian riu descontraído, sem captar o veneno sutil nas palavras do irmão mais velho.
— Ainda bem que isso vai demorar, né? — ele respondeu despreocupado, com seu sorriso de garoto. Inocente.
Mas Lucian, sem desviar os olhos de Selene, apenas arqueou uma sobrancelha.
— Será que vai mesmo? O tempo, Cassian, é implacável. Ele tira tudo de nós. O que hoje é belo, jovem e vibrante, um dia será... diferente. — Ele fez uma pausa, girando o vinho em sua taça, observando o líquido rodopiar antes de continuar, em tom quase meditativo. — E o desejo, ah, o desejo... não é eterno. Ele precisa ser alimentado constantemente, com algo novo, algo que sempre desafie, excite.
Selene tremia por dentro. Ele não estava falando apenas de filosofia, ela sabia. Ele estava falando dela, de como o desejo entre ela e Cassian já não era suficiente. De como Lucian havia se infiltrado em sua mente e corpo. Como ele a fazia queimar de um jeito que seu noivo jamais poderia.
— O hedonismo, por outro lado... — Lucian sussurrou, seus lábios se curvando em um sorriso perigosamente sedutor. — Esse é um deus que nunca envelhece. Prazer pelo prazer. A busca incansável por aquilo que nos satisfaz de maneiras que a moralidade jamais permitirá. É puro. Cru. Incontrolável.
Ele fez uma pausa dramática, deixando o silêncio entre eles ser preenchido apenas pelo som do vento lá fora e pela respiração acelerada de Selene.
— Sabe, Cassian... — ele voltou a falar, agora em tom mais casual. — O amor sentimental é belo, claro. A ideia de duas almas unidas pela eternidade, superando o tempo, a decadência... Mas será que é suficiente? Será que um dia, quando as noites ficarem mais longas e o corpo não responder como antes, será que o amor ainda será o bastante para preencher esse vazio?
Cassian olhou para Lucian, confuso, sem perceber o jogo oculto em suas palavras.
— Eu... acho que sim. Quer dizer, Selene e eu temos isso. Não é só físico, é mais do que isso. É... — ele procurou as palavras, sem saber que o irmão já havia vencido o jogo antes mesmo de começar.
Lucian sorriu, um sorriso suave e indulgente, mas cheio de um subtexto que só Selene compreendia.
— Ah, claro, claro. Vocês têm algo especial. Algo que muitos não têm. Mas veja... — Ele abaixou a voz, fazendo com que Selene tivesse que se inclinar ligeiramente para escutá-lo, sentindo o calor de suas palavras atingirem sua pele. — A carne... a carne sempre fala mais alto. O corpo, meus caros, sempre busca o que é intenso. O que é proibido — e então, seus olhos voltaram para Selene. O olhar era profundo, como se estivesse invadindo sua mente, lendo seus pensamentos mais secretos e sombrios. — A mente... a mente é um território traiçoeiro, Selene. Difícil de controlar. Pode-se amar alguém com todo o coração e, ainda assim, o corpo pode desejar outro. É a nossa natureza, afinal. Quem somos nós para lutar contra ela?
Selene sentiu o nó na garganta se apertar. Suas mãos estavam frias, mas o resto de seu corpo queimava com o desejo. As palavras de Lucian, sua filosofia perversa sobre o amor e o desejo, estavam lentamente desarmando cada uma de suas defesas.
Ele estava certo. Ela sabia que ele estava certo.
E enquanto Cassian sorria, ainda alheio ao veneno que Lucian estava destilando, ela se perguntava: Quanto tempo mais poderia resistir antes de ceder completamente?
O jantar correu com a mesma velocidade exorbitante que Lucian Thorn passou a ditar. De comida, Lucian mandou preparar um Filet Mignon ao Molho de Trufas Negras com Purê de Batatas e Aspargos Grelhados, algo que tanto Cassian quanto Selene saborearam com prazer, ainda mais com um bom Château Margaux 2009. Mesmo que a morena tenha ficado em silêncio a maior parte do jantar, o sabor da refeição não passou despercebido. Cada garfada, cada gole do vinho, eram tentativas desesperadas de se prender à realidade, de não deixar sua mente vagar para os olhares que Lucian lançava a ela. Ela tentou focar apenas na comida, evitando os assuntos entre os dois irmãos, tentando ignorar o jeito como a conversa parecia girar ao seu redor, mesmo sem ela participar. Cassian estava animado, envolvido nas falas de Lucian, sem perceber as pequenas faíscas de tensão entre seu irmão e sua noiva. Após o jantar, Lucian os conduziu até a sala de estar, onde disse que pegaria um ótimo e forte uísque para
Ao tocar novamente a escuridão, é quase certo que escapar de um destino cruel se torna uma tarefa árdua. Selene Holloway, com toda a sua angústia, conhecia essa dura verdade. Cada vez que seus dedos percorriam os músculos daquele corpo, do corpo de Lucian, seu cunhado, sentia o gosto amargo de que o fim estava próximo. Mas a pergunta que pairava em sua mente era clara e cortante: quando tudo isso acabar, o que restará de mim? Talvez apenas a infame lembrança de que tudo havia falhado. A situação era uma equação difícil, que demandava cálculos precisos. Mas Selene nunca foi boa em matemática. Preferia disciplinas que envolviam o pensamento crítico, mesmo que isso também não a tivesse protegido da filosofia sombria de Lucian Thorn. Ela não o amava. Seu coração pertencia inteiramente a Cassian Thorn, o irmão mais novo. Para Lucian, restou o fogo ardente, a faísca que se acendia quando sua pele tocava a dela. O prazer que Lucian extraía não era exatamente o que ele proporcionava a S
O ser humano é, por natureza, um enigma duplo. Ele manipula com a mesma facilidade com que se deixa manipular, flutuando entre o papel de marionete e o de mestre das cordas. Não há beleza na sinceridade de suas intenções, nem pureza nos gestos que ele chama de afeto. O prazer, para esse ser tão desconcertante, não é apenas o objetivo, mas a desculpa para a degeneração e a queda. E ninguém entende isso tão bem quanto Lucian Thorn. Para ele, a manipulação é uma arte que exige sutileza, uma dança cruel onde as máscaras caem, e o prazer não reside apenas no controle, mas na queda do outro. Lucian, nascido sob a sombra de um nome poderoso, foi forjado no fogo da tragédia e na perversidade do desejo. Desde cedo, aprendeu que a dor é uma moeda, uma ferramenta que, nas mãos certas, pode comprar qualquer alma. Quando o corpo do pai foi engolido pela estrada, e sua mãe Evangeline se perdeu nos braços do vício, Lucian viu o mundo se despedaçar — mas ele não chorou. Ele aprendeu. Descobriu,
Quando a semente da dúvida é plantada numa mente perturbada como a de Cassian Thorn, ela não apenas cresce, mas se enraíza nas profundezas de sua alma, sufocando-o de dentro para fora. Enquanto a água quente deslizava por sua pele no banho, Cassian sentia o calor tentando aliviar seu corpo tenso, mas sua mente estava fria, congelada pelo veneno das palavras de Lucian. As mentiras que seu irmão despejara, habilmente disfarçadas de preocupação, envenenavam cada pensamento, como se fossem serpentes sussurrando em seus ouvidos. A imagem de Selene, outrora perfeita, agora distorcia-se em sua cabeça, um retrato quebrado e agora sem utilidade. Será que ela realmente o amava? Ou estaria nos braços de outro, enquanto ele, como um tolo, acreditava em suas juras de lealdade? As dúvidas surgiam como fantasmas no vapor do banheiro, assombrando-o. Lucian havia insinuado, com a sutileza de uma víbora, que a traição estava à espreita. "Enquanto você está aqui, chorando por ela, outro pode esta
O medo, que antes parecia pulsar sob sua pele, dissipou-se como vidro estilhaçado, fragmentado em milhares de pedaços, sem deixar espaço para retorno. Selene não era mais apenas sua noiva; naquele instante, ela era uma mulher determinada a provar seu amor por Cassian Thorn. Ela não precisava de palavras, apenas estendeu a mão em sua direção, os dedos delicados mas firmes. Sem hesitar, ele a seguiu, como se aquela dança entre eles fosse inevitável, algo que ambos precisavam. Ela o guiou de volta ao quarto, um espaço que, para Cassian, era como uma prisão durante a noite, cercado por paredes que pareciam se fechar ao redor de seus pensamentos. Ao entrar, sentiu o peso sufocante daquele ambiente apertar novamente seu peito. Mas agora, havia algo diferente. O toque de Selene, a firmeza com que o fez sentar-se sobre a cama, era uma tentativa de quebrar essas correntes invisíveis. Ela sabia dos fetiches de seu noivo, dos desejos que ele nutria e, naquela manhã, estava disposta a alimen
Lucian Thorn saiu do imponente edifício do Grupo Thorn ao final daquela tarde. A cidade de Flerks exibia seu habitual cenário nebuloso, a chuva recente ainda marcando presença nas calçadas e no ar. As gotas persistentes que escorriam pelas fachadas refletiam a grandiosidade da metrópole, um local de infraestrutura moderna e uma vibração cultural forte, onde os pontos turísticos eram intercalados entre a natureza e a urbanidade. Ele desceu as escadarias de mármore do edifício com passos firmes, sua presença dominante chamando a atenção dos poucos que passavam. Ao chegar ao seu carro, um clássico Mustang negro que brilhava sob a fraca luz das lâmpadas da rua, Lucian deslizou para o interior do veículo com a mesma precisão e controle que aplicava a tudo em sua vida. O motor rugiu sob suas mãos firmes no volante, e ele partiu, cruzando as ruas da cidade que começavam a se encher com as luzes noturnas refletindo no asfalto úmido. O caminho até sua mansão era sinuoso, mas familia
As pessoas são frágeis por natureza. Não na constituição física, não nos ossos ou na carne que as compõem, mas em algo muito mais profundo: a mente. A mente humana é maleável, como um pedaço de argila, moldada pelas mãos daqueles que a tocam, pelas circunstâncias que a cercam. E o mais trágico disso tudo é que, na maioria das vezes, quem molda essas mentes são outras igualmente vazias. Mentes que não têm substância própria, que se dobram e se retorcem ao sabor das influências externas, das expectativas sociais, dos desejos alheios. Somos, todos nós, vítimas e algozes de um ciclo interminável de subserviência mental. Observa-se nas interações diárias como as pessoas se perdem na necessidade de agradar, de serem aceitas, de pertencerem a um coletivo que, por si só, é vazio. É um vazio que ecoa, que ressoa nas decisões que tomam, nas palavras que escolhem dizer e até nos silêncios que optam por manter. A sociedade exige conformidade, uma conformidade tão insidiosa que poucos seque
Damian era o tipo de homem que personificava o que o mundo moderno chamaria de perfeição bruta, mas havia algo além da carne esculpida e dos olhos profundos. Ele carregava no corpo a selvageria indomada, gravada em cada centímetro de pele. Seus músculos, desenhados com a precisão de um escultor, sugeriam uma força inata, mas o que realmente atraía a atenção eram as tatuagens que adereçavam seu ombro e braço. Cada linha da tinta parecia contar uma história, mas de um modo que não oferecia respostas, apenas mais perguntas — como um enigma tatuado sobre a pele que ele nunca permitia que alguém decifrasse por completo. A cidade de Flerks, onde Damian morava, era um reflexo perfeito de sua alma: cinzenta, chuvosa, eterna em sua melancolia. Era um lugar onde a luz do sol era quase uma lenda, substituída pelas goteiras incessantes que manchavam as janelas de vidro das casas modernas. Damian morava no centro, em uma construção fria e minimalista, tão afiada quanto a sua personalidade. A