Capítulo 3 - Namorando?

Alejandro González

Acordei no hospital com dores por todo o corpo e uma leve confusão mental. Olhei ao meu redor, tentando organizar as memórias do que havia acontecido. Assim que meus olhos se ajustaram à luz do quarto, vi que uma mulher estava sentada ao meu lado, dormindo em uma cadeira. Por um instante, pensei que fosse a "mulher maravilha" que me ajudara, mas ao focar melhor, percebi que era Ingrid. Um suspiro de descontentamento escapou antes mesmo que eu pudesse contê-lo.

— Porra, era tudo que eu não queria agora — murmurei para mim mesmo. Quem teve a brilhante ideia de avisar Ingrid que eu estava no hospital certamente seria demitido.

Tentei me levantar devagar, mas a camisola de hospital e os movimentos limitados fizeram barulho o suficiente para acordá-la. Assim que abriu os olhos, sua voz melosa me atingiu imediatamente.

— Oi, belo adormecido! Passei a noite toda velando seu sono. Como você está? — disse, sorrindo.

— Eu vi você roncando — retruquei, sem pensar muito. Ela ficou visivelmente sem graça, e me arrependi na mesma hora. Apesar de tudo, ela passou a noite ali.

— Estou brincando, Ingrid. Desculpe.

— Você é muito sem graça, Alejandro. Sério, como você está? Posso fazer alguma coisa por você?

— Acho que estou melhor. Pode chamar o médico, por favor? Quero saber se posso ir embora. Ah, e veja se conseguem minhas roupas também.

O médico veio logo depois, fez os exames necessários e me liberou. Algumas horas depois, já estava de volta ao quarto do hotel. Ao me encarar no espelho, vi meu rosto ainda inchado e senti o corpo inteiro reclamar de dor. Ingrid, como era de se esperar, insistiu em ficar comigo, mas consegui convencê-la a ir embora sob a desculpa de que precisava descansar e tomar os remédios.

— Antes de sair, Ingrid, você sabe algo sobre a moça que me ajudou? — perguntei casualmente, mas atento à sua reação.

Ela fez uma careta antes de responder:

— Ah, ela ficou até eu chegar. Depois saiu reclamando. Disse que já tinha feito a parte dela.

Aquilo não parecia bater com a impressão que tive da mulher. Ela não parecia ser egoísta! Tentei ignorar o incômodo e passei o resto do dia descansando. Dormi tanto que quando chamei Raul, meu motorista, já eram mais de seis da tarde.

— Raul, você tem algum contato daquela moça que me salvou? Quero mandar flores ou algo para agradecê-la.

— Não, senhor Alejandro. Ela pegou um táxi em frente ao hospital. Não deixou que eu a levasse ao hotel.

Raul hesitou antes de continuar:

— Senhor, acho que a dona Ingrid não foi muito gentil com ela. Disse que não tinha mais utilidade ali e que era sua namorada, então ficaria com o senhor.

— O quê? Que porcaria é essa? — gritei, completamente perplexo. — Namorar a Ingrid? Deus me livre!

Raul tentou segurar o riso, mas falhou miseravelmente.

— Ingrid é… interessante para uma noite ou outra. Mas namorar? Nunca. Quem avisou essa mulher que eu estava no hospital?

— Fui eu, senhor Alejandro. Ela ligou dizendo que tinha um encontro com o senhor naquela noite e…

Lembrei-me imediatamente do compromisso na casa de um amigo. Claro que Ingrid conseguiu o telefone de Raul. Suspirei fundo, tentando conter a irritação.

— Raul, você acha que consegue encontrar a mulher que me ajudou? Descubra o ponto de táxi em que ela entrou e veja se conseguimos alguma informação.

— Vou tentar, senhor Alejandro.

Enquanto ele saía do quarto, falei mais para mim mesmo:

— Eu preciso agradecê-la. Se não fosse por ela, eu provavelmente estaria morto.

Raul parou na porta e comentou, com um sorriso gentil:

— Milagres acontecem, senhor Alejandro. Mas ela também parecia bem determinada. Ou bem maluca.

Rimos juntos, e pela primeira vez no dia, eu me senti entusiasmado.

— Ela ficou no hospital, Raul? — Perguntei antes que ele se retirasse.

— Sim, senhor. E ela foi bem atenciosa. Acho que ela até ficaria com o senhor, se não fosse por dona Ingrid. É uma opinião minha, senhor.

— O senhor teve muita sorte dessa moça ter aparecido e salvo sua vida.

— Se não fosse ela eu estaria morto, Raul! — Falei sentindo o peso daquelas palavras.

— Como lhe disse senhor… Milagres acontecem.

— Parece que sim, Raul. — Falei sorrindo e continuei: Encontre ela Raul, faça o que for preciso e encontre ela… Eu preciso agradecer a ela pela minha vida!

***

Isabelle Matos

Cheguei no hotel às cinco horas da tarde, depois de mais uma reunião com o cliente insatisfeito. Dessa vez, fiquei mais esperançosa com a possibilidade de virar o jogo.

O dia foi bastante exaustivo e eu não tive tempo nem de olhar o celular. Quando liguei o aparelho, vi que tinha muitas ligações e mensagens. Tomei um banho rápido, coloquei um vestido leve, uma sandália baixa, uma maquiagem sutil com batom cor de boca e deixei os cabelos soltos. Fui até a área da piscina tomar um drink para relaxar enquanto respondia mensagens e fazia algumas ligações.

— Oi, Gustavo, quem está morrendo? Você me ligou dez vezes de ontem para hoje? — Perguntei assim que ele atendeu.

— Sério, Isabelle, você viaja e não atende nenhuma ligação minha? — respondeu ele, com um tom de leve irritação.

— Gustavo, eu estou trabalhando e tive alguns problemas. Mas você tem razão, desculpa. Ontem foi uma noite complicada e eu tinha muito trabalho para fazer.

— Só avisa, por favor, porque eu me preocupo com você! Preciso desligar, tenho que atender um cliente. Te amo e se cuida. Depois a gente conversa.

Se Gustavo souber que, por pouco, eu não levei um tiro na cara ao me meter em um assalto e que acabei salvando um homem lindo de morrer... Ele mesmo me dá o tiro.

E que homem... Me peguei várias vezes pensando nele e me perguntando se estava bem. Saí tão rápido do hospital, depois que a enjoada da "namorada" dele apareceu me tratando mal, que achei melhor me retirar antes de perder a paciência. Tenho o sangue quente e não costumo levar desaforo para casa.

Será que eu deveria ligar para o hospital e perguntar por ele? Mas nem o nome dele eu sei. Lembro que o motorista repetiu algumas vezes um sobrenome espanhol, mas não consegui gravar.

O garçom chegou com o drink que pedi, e depois de ponderar bastante, se deveria ligar ou esquecer o tal moreno lindo, decidi ligar para o hospital. A ansiedade tomou conta enquanto a atendente procurava por um paciente com as características que descrevi.

— Senhora, desculpe a demora, mas achei um paciente que deu entrada ontem com traumas pelo corpo, resultado de um assalto.

— Que bom — respondi, tentando conter a ansiedade.

— O nome dele é Alejandro González, e ele teve alta hoje pela manhã.

— Ótimo, fico muito feliz.

Depois de agradecer e desligar o telefone, voltei minha atenção para responder as mensagens e degustar meu drink. Tentei afastar pensamentos sobre o gato espanhol, mas fiquei decepcionada ao constatar que provavelmente não o veria mais.

Tomei mais dois drinks, e fui me arrumar para sair com uns amigos e curtir um pouco a noite carioca. 

Às oito horas da noite, já estava pronta no saguão do hotel. Com um vestido curto vermelho, mas elegante, com sandálias de salto fino. Finalizei com uma maquiagem básica, batom vermelho-sangue e brincos grandes que contrastavam com meus cabelos castanhos claros e médios, soltos.

Olhei-me no espelho do hall do hotel, passei a mão na cintura e pensei: "Eu te pegava, gata. Tu é gostosa, garota." Ri das minhas próprias bobagens e fui curtir minha noite…

Chega de ficar pensando no espanhol bonitão! 

***

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