Alejandro González
Cheguei ao meu apartamento em Nova York por volta das 19 horas, exausto. Depois de um banho longo e relaxante, preparei uma dose de uísque e me sentei no sofá para ouvir as mensagens na caixa postal.
De repente, uma voz familiar interrompeu minha concentração:
— Boa noite, Alejandro...
Quase derrubei o copo e engasguei. Ponderei, surpreso:
— Porra, é a maluca, com voz de anjo!
Continuei ouvindo a mensagem:
— Boa noite, Alejandro, aqui é Isabelle, a maluca que salva vidas. Fiquei lisonjeada com sua delicadeza. Gostaria de agradecer os lindos presentes — realmente, não precisava. Você é muito gentil. Muito obrigada pelo carinho e atenção. Tenha uma boa noite.
Ouvi a mensagem umas duas vezes, incapaz de controlar meu fascínio. Sua voz tinha algo hipnotizante. Em um instante de devaneio, imaginei-a sussurrando safadezas ao pé do meu ouvido. Sacudi a cabeça, tentando afastar os pensamentos, e quando me estabilizei, peguei o telefone. No Brasil, já deveria ser umas dez da noite.
— Será que ela já foi dormir? — murmurei, antes de criar coragem e ligar.
O telefone chamou algumas vezes antes de ser atendido.
— Alô? Isabelle?
— Olá, tudo bem? — Sua voz soou calorosa, e meu coração disparou.
— Melhor agora, que consegui falar com você. — Sorri, ouvindo-a rir levemente do outro lado da linha.
— Você é bem difícil de encontrar, sabia?
— Acredito que sim. A organização de super-heróis que faço parte é bem rigorosa com nossos esconderijos. — O tom brincalhão dela era encantador. Ela demonstra um humor inteligente, que me faz pensar como deve ser interessante conhecê-la.
— Poxa, não tinha pensado nisso. Não se preocupe, guardarei o segredo como minha própria vida.
— É bom mesmo! Outras pessoas podem precisar dos meus serviços. — Rimos juntos.
— Preciso agradecer novamente o que fez por mim. Se não fosse você, eu provavelmente estaria morto.
— Admito que foi uma loucura, porque aqueles caras não estavam brincando. Mas fico feliz que tudo tenha dado certo.
— Gostou do meu presente singelo?
— Você não precisava mandar algo tão lindo e caro. Quase não aceitei, é um exagero.
— Por favor, Mulher Maravilha, aceite. Não me deixe triste. — Ela riu de leve, antes de responder:
— Está bem, vou ser boazinha com você e aceitar. Muito obrigada.
— Ótima garota. É assim que os anjos fazem: deixam seus protegidos felizes.
— Agora estou confusa. Sou maluca que salva vidas, anjo ou Mulher Maravilha?
— Na verdade, pretendo descobrir, se você permitir... — Soltei a provocação, ouvindo-a rir do outro lado.
— Fique à vontade, espertinho.
— Posso te convidar para jantar?
Um breve silêncio pairou antes de sua resposta.
— Como não quero deixar meu protegido triste, aceito, sim.
— Que tal neste sábado?
— Infelizmente, neste sábado tenho um compromisso familiar.
— Entendo. Posso ligar na próxima semana para combinarmos outro dia?
— Claro, fico aguardando seu contato.
Conversamos mais um pouco, e nos despedimos. Quando desliguei, percebi que havíamos falado por mais de trinta minutos. Nunca uma conversa com uma desconhecida fora tão leve e agradável. Fui para a cama pensando nela e demorei a dormir. Aquela ligação havia mexido comigo.
Assim que cheguei ao Brasil, coloquei meu foco em trazer Miguel para trabalhar comigo urgente. Quando peguei no telefone para ligar pra ele, me surpreendi com uma chamada sua…
— Você não morre mais homem da minha vida. — Falei provocando-o.
— Sai pra lá bonitão, sou muito bem casado e não troco minha baixinha por ninguém, nem por esses olhos verdes sedutores. — Diz sorrindo e retribuindo a provocação. — Está no Rio de Janeiro?
— Fui para o Rio e depois para Nova York e acabei de chegar em São Paulo.
— Nossa, só fez a volta ao mundo em uma semana…
— Quase isso… Preciso falar com você, Miguel. Vem passar esse fim de semana comigo? Só você, precisamos conversar seriamente.
— Você está bem? — Ele pergunta preocupado.
— Estou ótimo. Preciso ter uma conversa com você, sobre negócios, só nós dois, sem companhia feminina para nos distrair. Você sabe que somos fracos, quando tem mulher envolvida.— brinquei com ele.
— Eu não, meu amigo. Você que é fraco. — Ele fala rindo.
— Alejandro, sábado é o aniversário de Gaby e como o tio dela esqueceu...
— Meu Deus, aquela pequena linda iria me matar! Eu já comprei os presentes dela há um mês, mas esqueci do dia da festa. Vou no sábado de manhã e passo o dia com vocês.
— Fica o fim de semana cara, Carla e as crianças, vão adorar. Você está em falta com a gente.
— Estou mesmo, tem toda razão. Combinado. Preciso de um tempo para conversarmos, cara.
— Então a gente se vê no sábado. Beijos, gostosão. — Ele se despede, cheio de gracinhas.
— Nos despedimos, desligo o telefone e fico pensando que preciso ser perfeito para convencer Miguel, porque não vai ser fácil.
***
No sábado, acordei por volta das oito da manhã. Estava exausto e não tive ânimo para sair na noite anterior. Chamei Luiza para um vinho, uma conversa descontraída e um sexo gostoso. Acabamos no quarto, mas a canseira falou mais alto, e pedi para Raul levá-la para casa. Luiza era uma "amiga" que sabia muito bem que comigo não passava disso.
Às dez da manhã, embarquei no helicóptero para Campo Verde. Miguel já me esperava no heliponto. Seguimos para um barzinho local.
Quando vi meu amigo de uma vida inteira, percebi o quanto estava sentindo sua falta e que uma parte do vazio que eu estou sentindo também é falta do que ele representa pra mim - família!
Quando minha mãe estava viva, eu visitava muito o Brasil e sua cidade Natal com ela, que é próxima de Campo Verde. Mas depois do seu falecimento, me mantive afastado.
No barzinho só consegui relatar o assalto por alto, sem mencionar o nome da moça que me salvou e nem que eu vou jantar com ela. Melhor evitar a zoação de Miguel, porque sei que ele não vai perdoar. Também comentei sobre os negócios em Nova York, mas não consegui chegar até a proposta de trabalho, que quero fazer pra ele. Miguel é muito conhecido na cidade e frequentemente aparecia alguém para cumprimentá-lo. Deixando impossível nossa conversa ficar mais séria.
Um tempo depois ele diz:
— É melhor nós irmos, Alejandro, antes que eu vire um homem morto, ou coisa pior...
— O que é pior que morrer? — Pergunto rindo, já prevendo a resposta.
— Receber um castigo de uma semana de greve de sexo. — Demos uma risada juntos.
— Vamos logo, que estou louco para ver minha amiga e meus amores pequenos.
Sou louco pelos filhos de Miguel: Arthur de 3 anos e Gaby que está fazendo 6 anos e é o meu xodó, sou apaixonado por essa menina.
Chegar à casa de Miguel era sempre uma festa. As crianças corriam para mim, Carla era receptiva, e o amor deles me fazia refletir sobre minha própria vida.
Enquanto organizávamos a festa, não consegui deixar de pensar em Isabelle. Aquele jantar precisava acontecer. Ela era diferente, e algo em mim queria descobrir mais sobre ela.
***
Isabelle MattosGaby é a menina mais iluminada e especial do planeta. Inteligente, amável e feliz, possui uma percepção emocional fora do normal. Miguel e Carla sempre foram muito unidos. O que parecia um amor de verão revelou-se um encontro de almas, porque desde o princípio Miguel escolheu amá-la de maneira simples e intensa.A chegada de Gaby foi um acalento ao coração deles, especialmente após a perda devastadora do primeiro filho ainda bebê. Há momentos em que pensei que o relacionamento deles não sobreviveria, mas o amor deles mostrou-se verdadeiro e resiliente. Gaby veio como um raio de luz, trazendo alegria para todos nós.Eu e Gustavo somos padrinhos dela, e o aniversário de Gaby é coisa seríssima. Ai de nó
Alejandro GonzálezMiguel e Carla sempre gostaram de reunir os amigos em casa. Em uma cidade do interior, as amizades costumam ser de longa data, e com eles não era diferente. Toda vez que estou na companhia deles, sou tomado por lembranças da infância e da adolescência. Minha mãe estava viva naquela época, e vínhamos muito ao Brasil. Ela e o pai de Miguel eram melhores amigos, desde a infância. Minha mãe, aliás, era madrinha dele e sempre fez questão de participar da educação de Miguel, garantindo que ele tivesse oportunidades semelhantes às que eu tinha.Eles também nos incentivavam a sermos como irmãos. O pai de Miguel era uma das melhores pessoas que já conheci. Sempre admirei a maneira como ele cuidava da família, e, de certa forma, invejei isso. Quando olho para Miguel, vejo o reflexo do homem que o criou.Naquela noite, Gustavo também estava presente. Ele é amigo de infância de Miguel e alguém com quem sempre me dei bem. Um verdadeiro camarada para viagens, festas e, claro, um
Isabelle MatosMesmo sem gostar de ser obrigada a viajar, ir ao Rio de Janeiro não parecia tão ruim assim. Após sair de uma reunião com um cliente — já passava das 18 horas, mas o céu ainda estava claro — decidi pegar um táxi. No entanto, pedi para descer algumas quadras antes do hotel. Queria caminhar um pouco. O fim de tarde estava agradável, e eu precisava organizar meus pensamentos.Enquanto caminhava, perdida em meus devaneios, ouvi um grito abafado vindo de uma ruazinha lateral. Não pensei, apenas agi. Virei na direção do som, movida por um impulso que logo se mostrou um grande erro.Assim que entrei na rua, vi a cena e me arrependi instantaneamente. Um homem alto, visivelmente machucado, estava sendo segurado por dois rapazes. Um terceiro, mais agressivo, segurava uma pistola apontada para ele. Meu coração gelou.Tentei sair dali discretamente, mas meu salto entrou em um buraco no asfalto, quebrando e fazendo um barulho alto. O homem armado virou-se abruptamente, com os olhos f
Dias antesIsabelle Mattos— Marcos, você só pode estar brincando comigo! Viajar agora? Eu não posso assumir mais um projeto no seu lugar. Estou lotada de trabalho! Tenho três projetos em finalização e quatro em andamento que precisam de acompanhamento. E, me desculpe, mas você deveria estar à frente de todos eles, pois essa é a sua função.Marcos me olha contrariado, mas não me intimido. Sustento o olhar, firme, enquanto sinto a frustração crescente de ter que assumir responsabilidades alheias. Trabalhar com dois chefes idiotas, numa empresa tão machista, está me levando ao limite.Pela terceira vez, fui vetada de uma promoção, sempre com desculpas esfarrapadas. No fundo, sei o verdadeiro motivo: sou mulher. O mais revoltante é que eles são promovidos às custas do meu trabalho e do das outras mulheres aqui. Estou saturada.— Não adianta reclamar, Isa. Eu estou muito ocupado, e não tem ninguém melhor do que você para encantar um cliente em potencial e acalmar outro que esteja desconte
Alejandro GonzálezSempre falam para não reagir em assalto, mas como sempre fiz luta e sempre me senti um cara fisicamente preparado, não pensei duas vezes. Mas quando vi aquela arma sendo engatilhada para mim, por segundos eu tive a certeza que seria meu fim. Eles me bateram sem dó e quando achei que iria morrer, mas uma maluca apareceu do nada no local, e quando eu consegui levantar o rosto e olhar para ela vi que ela estava petrificada e por frações de segundos tive dó dela, que foi parar no lugar errado e estava com cara de que não sabia o que fazer e que iria morrer junto comigo.Para minha surpresa, ela olha para mim e seu olhar queimou o meu, parecia de um “anjo” que tinha vindo pra não me deixar morrer sozinho. De repente ela deu uma levantada de perna por cima do cara, num golpe, acho que de capoeira, ou outra luta qualquer e vi que a arma dele foi parar longe. Sem perder tempo ela deu um chute no meio das pernas do cara e eu juntei a pouca força que ainda tinha e lutei com o
Alejandro GonzálezAcordei no hospital com dores por todo o corpo e uma leve confusão mental. Olhei ao meu redor, tentando organizar as memórias do que havia acontecido. Assim que meus olhos se ajustaram à luz do quarto, vi que uma mulher estava sentada ao meu lado, dormindo em uma cadeira. Por um instante, pensei que fosse a "mulher maravilha" que me ajudara, mas ao focar melhor, percebi que era Ingrid. Um suspiro de descontentamento escapou antes mesmo que eu pudesse contê-lo.— Porra, era tudo que eu não queria agora — murmurei para mim mesmo. Quem teve a brilhante ideia de avisar Ingrid que eu estava no hospital certamente seria demitido.Tentei me levantar devagar, mas a camisola de hospital e os movimentos limitados fizeram barulho o suficiente para acordá-la. Assim que abriu os olhos, sua voz melosa me atingiu imediatamente.— Oi, belo adormecido! Passei a noite toda velando seu sono. Como você está? — disse, sorrindo.— Eu vi você roncando — retruquei, sem pensar muito. Ela fi
Gustavo MorettiIsabelle viajou a trabalho para o Rio de Janeiro e ainda não nos falamos. Não sei porque mas estou angustiado. Às vezes eu odeio essa preocupação que tenho com ela. Mandei um milhão de mensagens e depois de muito insistir eu consigo falar com ela e fui convencido de que estava tudo bem, senti-me aliviado. Combinamos que eu a pegaria no aeroporto em São Paulo no outro dia e seguiríamos juntos para Campo Verde.O avião pousou em São Paulo e, como combinado, já a aguardava. Fizemos um lanche rápido e pegamos a estrada rumo a Campo Verde. O silêncio nos acompanhou por alguns minutos. Esperei que ela começasse a falar sobre a viagem, mas nada. Ela estava calada, com um ar desconfiado, e eu precisava pressioná-la.— Não enrola, Isabelle. Fala logo o que houve.— Se eu disser que não aconteceu nada demais, você não vai acreditar, vai? — respondeu, desconfiada.— Claro que não. Fala logo.— Acho que desta vez eu vou para o céu. — Ela sorriu, mas algo no tom dela não me parecia
Alejandro González Depois de cinco dias da viagem louca que fiz ao Rio de Janeiro e que quase me custou a vida, finalmente estou de volta a São Paulo. Mal tenho tempo de respirar antes de organizar minha próxima viagem – uma ida rápida a Nova York. Há compromissos que não posso adiar e preciso retornar ao Brasil em poucos dias. Entre esses compromissos, está a conversa séria que preciso ter com Miguel.Miguel está se perdendo naquele emprego medíocre como diretor de agência bancária. Pelo amor de Deus, ele estudou em Harvard, é extremamente competente e talentoso. Não consigo aceitar que ele se contente com tão pouco numa cidade pequena e com um trabalho que limita seu potencial.Preciso convencê-lo a ser meu diretor, meu braço direito. Oferecerei até uma participação societária, se for necessário. Quero meu “irmão” comigo, e isso é uma questão de honra. Quando fizemos pós-graduação juntos em Londres, tínhamos um plano. De repente, tudo mudou. Ele conheceu a Carla, ele engravidou e e