Capítulo 3

Lara

Quando a campainha tocou, eu estava no meio de um caos em casa. Meu irmão mais novo, Thiago, estava assistindo televisão com o volume no máximo, enquanto minha avó tentava se aconchegar na poltrona, como se isso fosse ajudá-la com a dor nas costas que a incomodava tanto. Júlia, estava no sofá, desenhando em um caderno, tentando se distrair da bagunça ao redor. A casa estava desorganizada, com brinquedos espalhados pelo chão e roupas por todo canto — e, por mais que eu me esforçasse para dar conta de tudo, não parecia que conseguiria controlar nem o básico.

Eu precisava de mais tempo. Mas, ao abrir a porta, me deparei com um homem bem arrumado, de terno, com uma postura rígida e uma expressão que não mostrava nem um sinal de emoção. O que ele queria comigo? Eu mal sabia quem ele era, mas seu ar formal me deixou imediatamente desconfiada.

“Boa tarde,” ele disse, com um tom de voz que soava ensaiado, como se estivesse acostumado a dar ordens. “Sou Eduardo Ribeiro, trabalho com Alexandre Costa.”

Eu o olhei por um momento, sem saber o que responder. Eu não fazia ideia de quem fosse esse tal de Alexandre Costa, e ele parecia não se importar nem um pouco com a bagunça na minha casa. Não que isso fosse uma surpresa — não era como se eu tivesse tempo ou dinheiro para dar conta de deixar tudo perfeito. Eu tinha responsabilidades demais em cima de mim, e a última coisa que queria era uma visita inesperada.

“Sim?” Perguntei, tentando esconder o cansaço na minha voz. “O que posso fazer por você?”

Eduardo entrou sem ser convidado, o que me incomodou. Ele estava aqui para falar comigo, então eu também tinha o direito de saber o que queria. A princípio, ele se manteve calmo, como se estivesse esperando que eu pedisse para ele se sentar, mas eu não fazia ideia do que ele estava fazendo ali.

“Na verdade,” ele começou, depois de um silêncio incómodo, “Alexandre Costa, o CEO da Costa Empreendimentos, tem uma proposta para você. Algo que pode ajudá-la com sua situação financeira.”

Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Eu não estava acostumada com esse tipo de abordagem. No meu mundo, dinheiro era sempre uma luta diária. Eu tinha 23 anos e já era responsável por meus dois irmãos menores, Thiago e Júlia, que dependiam de mim desde que nossos pais faleceram em um acidente. Além de cuidar da minha avó, que já não conseguia mais se sustentar sozinha. O que mais eu poderia fazer para pagar as contas, se não trabalhar incansavelmente como modelo? Mas a carreira, por mais sólida que fosse, não estava me permitindo respirar. Eu não sabia como ia continuar cuidando de todos com tão pouco.

“Que tipo de proposta?” Perguntei, ainda cética. A palavra “financeira” pegou minha atenção, mas eu sabia que precisava ser cuidadosa. Já havia escutado muito sobre como as coisas podiam ser fáceis demais para ser verdade.

Eduardo fez uma pausa, como se ponderasse o que deveria ou não revelar. Ele então me olhou nos olhos, e, sem rodeios, respondeu: “Não posso entrar em detalhes agora, mas posso garantir que a oferta envolve algo que poderia aliviar a carga financeira que você tem. Estou aqui para agendar um encontro entre você e Alexandre Costa. Ele acredita que essa proposta pode ser a solução para as suas dificuldades.”

Eu franzi a testa, meu cérebro tentando processar as palavras dele. Alexandre Costa? O nome não me dizia muito, mas o tom de Eduardo me fez pensar que ele era alguém importante. Eu poderia aceitar a oferta, mas ao mesmo tempo, eu sabia que o que parecia ser uma oportunidade poderia se transformar em mais um peso.

“Como... Como ele sabe da minha situação?” Perguntei, já esperando uma explicação que fosse convincente. Não podia ser coincidência. Alguém como ele, com tanto poder, saberia da minha situação por pura sorte. Não parecia ser o tipo de pessoa que ofereceria ajuda sem mais nem menos.

Eduardo deu de ombros, como se o conhecimento de minha vida fosse irrelevante. “Alexandre conhece o mercado e as pessoas que nele trabalham. A proposta dele não envolve apenas um contrato simples. Ele acredita que você será a pessoa certa para a situação dele, assim como ele será a solução para os seus problemas.”

Eu ainda estava relutante. Algo não soava bem. Algo me dizia que essa história tinha mais camadas do que ele estava deixando transparecer. “E se eu não aceitar?” Perguntei, mais por impulso do que por vontade real de recusar a oferta. “O que acontece?”

Ele me olhou com um olhar calculista, como se já tivesse uma resposta preparada. “Nada acontece. Mas acredito que você vai ver o valor da proposta quando tiver a chance de conversar com Alexandre. Ele é uma pessoa que pode mudar a sua vida para melhor. Esse é o tipo de oportunidade que, se perdida, pode não aparecer novamente.”

Fiquei em silêncio, absorvendo as palavras dele. Eu sabia que não podia mais adiar as responsabilidades que estavam sobre meus ombros. Cada dia era uma luta para conseguir dar conta de tudo. Minha avó, meus irmãos... Eu não sabia como ia manter a casa de pé por muito mais tempo. As dívidas estavam se acumulando, e por mais que minha carreira de modelo estivesse me proporcionando alguma estabilidade, a pressão era constante.

“Então, o que você está dizendo é que tenho que me encontrar com ele, certo?” Perguntei, ainda sem entender muito bem o que ele queria de mim.

“Exatamente,” Eduardo respondeu com um sorriso sutil. “O encontro vai acontecer em breve. Alexandre Costa gostaria de conversar pessoalmente com você para discutir a proposta. Ele acredita que você tem o perfil perfeito para o que ele precisa.”

E assim, sem mais explicações, ele se despediu. Eu estava mais confusa do que nunca, mas uma coisa estava clara: eu tinha uma escolha a fazer. E, mesmo sem saber exatamente do que se tratava, algo dentro de mim dizia que não podia deixar essa oportunidade passar. Eu tinha um peso imenso sobre os meus ombros, e talvez fosse isso o que eu precisava para finalmente respirar.

No fundo, eu sabia que aceitaria o encontro. Mesmo que algo me dissesse que havia mais nisso do que eu imaginava, eu não tinha outra opção senão dar esse passo. A minha vida estava prestes a mudar, e eu ainda não sabia em que direção.

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