Lara
Quando a campainha tocou, eu estava no meio de um caos em casa. Meu irmão mais novo, Thiago, estava assistindo televisão com o volume no máximo, enquanto minha avó tentava se aconchegar na poltrona, como se isso fosse ajudá-la com a dor nas costas que a incomodava tanto. Júlia, estava no sofá, desenhando em um caderno, tentando se distrair da bagunça ao redor. A casa estava desorganizada, com brinquedos espalhados pelo chão e roupas por todo canto — e, por mais que eu me esforçasse para dar conta de tudo, não parecia que conseguiria controlar nem o básico. Eu precisava de mais tempo. Mas, ao abrir a porta, me deparei com um homem bem arrumado, de terno, com uma postura rígida e uma expressão que não mostrava nem um sinal de emoção. O que ele queria comigo? Eu mal sabia quem ele era, mas seu ar formal me deixou imediatamente desconfiada. “Boa tarde,” ele disse, com um tom de voz que soava ensaiado, como se estivesse acostumado a dar ordens. “Sou Eduardo Ribeiro, trabalho com Alexandre Costa.” Eu o olhei por um momento, sem saber o que responder. Eu não fazia ideia de quem fosse esse tal de Alexandre Costa, e ele parecia não se importar nem um pouco com a bagunça na minha casa. Não que isso fosse uma surpresa — não era como se eu tivesse tempo ou dinheiro para dar conta de deixar tudo perfeito. Eu tinha responsabilidades demais em cima de mim, e a última coisa que queria era uma visita inesperada. “Sim?” Perguntei, tentando esconder o cansaço na minha voz. “O que posso fazer por você?” Eduardo entrou sem ser convidado, o que me incomodou. Ele estava aqui para falar comigo, então eu também tinha o direito de saber o que queria. A princípio, ele se manteve calmo, como se estivesse esperando que eu pedisse para ele se sentar, mas eu não fazia ideia do que ele estava fazendo ali. “Na verdade,” ele começou, depois de um silêncio incómodo, “Alexandre Costa, o CEO da Costa Empreendimentos, tem uma proposta para você. Algo que pode ajudá-la com sua situação financeira.” Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Eu não estava acostumada com esse tipo de abordagem. No meu mundo, dinheiro era sempre uma luta diária. Eu tinha 23 anos e já era responsável por meus dois irmãos menores, Thiago e Júlia, que dependiam de mim desde que nossos pais faleceram em um acidente. Além de cuidar da minha avó, que já não conseguia mais se sustentar sozinha. O que mais eu poderia fazer para pagar as contas, se não trabalhar incansavelmente como modelo? Mas a carreira, por mais sólida que fosse, não estava me permitindo respirar. Eu não sabia como ia continuar cuidando de todos com tão pouco. “Que tipo de proposta?” Perguntei, ainda cética. A palavra “financeira” pegou minha atenção, mas eu sabia que precisava ser cuidadosa. Já havia escutado muito sobre como as coisas podiam ser fáceis demais para ser verdade. Eduardo fez uma pausa, como se ponderasse o que deveria ou não revelar. Ele então me olhou nos olhos, e, sem rodeios, respondeu: “Não posso entrar em detalhes agora, mas posso garantir que a oferta envolve algo que poderia aliviar a carga financeira que você tem. Estou aqui para agendar um encontro entre você e Alexandre Costa. Ele acredita que essa proposta pode ser a solução para as suas dificuldades.” Eu franzi a testa, meu cérebro tentando processar as palavras dele. Alexandre Costa? O nome não me dizia muito, mas o tom de Eduardo me fez pensar que ele era alguém importante. Eu poderia aceitar a oferta, mas ao mesmo tempo, eu sabia que o que parecia ser uma oportunidade poderia se transformar em mais um peso. “Como... Como ele sabe da minha situação?” Perguntei, já esperando uma explicação que fosse convincente. Não podia ser coincidência. Alguém como ele, com tanto poder, saberia da minha situação por pura sorte. Não parecia ser o tipo de pessoa que ofereceria ajuda sem mais nem menos. Eduardo deu de ombros, como se o conhecimento de minha vida fosse irrelevante. “Alexandre conhece o mercado e as pessoas que nele trabalham. A proposta dele não envolve apenas um contrato simples. Ele acredita que você será a pessoa certa para a situação dele, assim como ele será a solução para os seus problemas.” Eu ainda estava relutante. Algo não soava bem. Algo me dizia que essa história tinha mais camadas do que ele estava deixando transparecer. “E se eu não aceitar?” Perguntei, mais por impulso do que por vontade real de recusar a oferta. “O que acontece?” Ele me olhou com um olhar calculista, como se já tivesse uma resposta preparada. “Nada acontece. Mas acredito que você vai ver o valor da proposta quando tiver a chance de conversar com Alexandre. Ele é uma pessoa que pode mudar a sua vida para melhor. Esse é o tipo de oportunidade que, se perdida, pode não aparecer novamente.” Fiquei em silêncio, absorvendo as palavras dele. Eu sabia que não podia mais adiar as responsabilidades que estavam sobre meus ombros. Cada dia era uma luta para conseguir dar conta de tudo. Minha avó, meus irmãos... Eu não sabia como ia manter a casa de pé por muito mais tempo. As dívidas estavam se acumulando, e por mais que minha carreira de modelo estivesse me proporcionando alguma estabilidade, a pressão era constante. “Então, o que você está dizendo é que tenho que me encontrar com ele, certo?” Perguntei, ainda sem entender muito bem o que ele queria de mim. “Exatamente,” Eduardo respondeu com um sorriso sutil. “O encontro vai acontecer em breve. Alexandre Costa gostaria de conversar pessoalmente com você para discutir a proposta. Ele acredita que você tem o perfil perfeito para o que ele precisa.” E assim, sem mais explicações, ele se despediu. Eu estava mais confusa do que nunca, mas uma coisa estava clara: eu tinha uma escolha a fazer. E, mesmo sem saber exatamente do que se tratava, algo dentro de mim dizia que não podia deixar essa oportunidade passar. Eu tinha um peso imenso sobre os meus ombros, e talvez fosse isso o que eu precisava para finalmente respirar. No fundo, eu sabia que aceitaria o encontro. Mesmo que algo me dissesse que havia mais nisso do que eu imaginava, eu não tinha outra opção senão dar esse passo. A minha vida estava prestes a mudar, e eu ainda não sabia em que direção.Lara Eu nunca pensei que fosse estar em um restaurante como aquele. O lugar era um dos mais exclusivos do Rio, onde a sofisticação transbordava a cada canto. As mesas eram de mármore polido, as cadeiras de couro com detalhes dourados, e a iluminação suave criava uma atmosfera de luxo. O perfume dos pratos, que pareciam mais obras de arte do que comida, flutuava no ar. Era um ambiente de uma elegância que eu mal conseguia processar, como se eu fosse uma intrusa nesse mundo de riqueza e poder.Eu me preparei para aquele encontro com a mesma seriedade com que eu me preparava para qualquer evento importante. A diferença, no entanto, era que desta vez eu não estava ali por uma campanha de moda ou um desfile. Eu estava ali por causa de um homem que mal conhecia, e que prometia, de alguma forma, mudar a minha vida.Escolhi um vestido longo e preto, com um corte impecável que se ajustava ao meu corpo de maneira a ressaltar minha figura. O tecido fluía como seda, e o decote discreto realçava
LaraO jantar se arrastava diante de mim, a comida no prato quase intocada. Eu estava em um estado de choque, meus pensamentos estavam milhas à frente do que estava acontecendo ao meu redor. Alexandre me oferecera um contrato que poderia mudar minha vida, mas ao mesmo tempo, havia algo ali que não parecia certo. Algo que não estava completamente claro, algo que eu ainda precisava entender.Ele observava me atentamente, como se soubesse que eu estava processando tudo aquilo de uma vez, e eu não sabia o que pensar. Eu não sabia como me sentir sobre a oferta dele, sobre a maneira como ele parecia tão tranquilo, tão seguro de que eu iria aceitar. Como se ele estivesse me comprando como um simples contrato de negócios, uma peça no seu jogo de poder.Quando o garçom trouxe o envelope, Alexandre não hesitou. Pegou-o com a mesma calma, colocando-o sobre a mesa na minha frente. Eu olhei para o envelope preto, sentindo o peso do que estava prestes a vir.“Este é o contrato,” ele disse, a voz fr
Lara Depois daquela conversa com Alexandre, voltei para casa com a cabeça latejando. O contrato que ele me entregou continuava na minha bolsa, dobrado cuidadosamente. Era engraçado como um simples pedaço de papel podia carregar tanto peso. Cada cláusula parecia gritar comigo, cada palavra tentando me forçar a tomar uma decisão que eu ainda não tinha certeza de que queria. Assim que entrei em casa, fui recebida pelo aroma de comida. Minha avó estava na cozinha, como sempre, mantendo tudo sob controle enquanto eu me esforçava para manter as contas pagas. Júlia e Thiago estavam sentados à mesa, discutindo algo baixinho, mas pararam assim que me viram entrar. — Tá tudo bem, mana? — perguntou Thiago, com uma preocupação evidente. — Tá sim, só cansada — menti, tentando afastar qualquer desconfiança. Júlia se aproximou e me abraçou, como fazia sempre. Eu sorri, acariciando seus cabelos, mas minha mente não parava de voltar àquele contrato e à proposta absurda que Alexandre Costa havia
Lara No instante em que enviei a mensagem para Alexandre, me arrependi. Senti um peso no peito, como se tivesse acabado de cruzar uma linha sem volta. Meu celular vibrou quase imediatamente, e lá estava a resposta dele, rápida e direta, como sempre. Alexandre: "Claro. Podemos nos encontrar amanhã às 18h no meu escritório. Estarei esperando." Era isso. O jogo estava em andamento, e eu era uma das peças no tabuleiro dele. Passei o resto da noite tentando me preparar mentalmente, mas nada parecia suficiente. No dia seguinte, fui para o trabalho como de costume, tentando agir como se tudo estivesse normal. No entanto, as horas pareciam se arrastar, e a ansiedade crescia a cada minuto. Quando o relógio marcou 16h, eu já estava repassando mentalmente o que diria a Alexandre. Antes de sair, Júlia me puxou pelo braço. — Você tá tão distante esses dias, mana. Tá acontecendo alguma coisa? — Ela me olhou com preocupação genuína, seus olhos castanhos cheios de curiosidade e apreensão. — Só
LaraEu nunca imaginei que, aos 23 anos, a vida me faria carregar o peso de uma responsabilidade tão grande. Quando os pais morreram, o mundo, de repente, se transformou em uma espécie de pesadelo do qual não havia como acordar. Eles partiram em um acidente de carro, e, embora eu tenha tentado me preparar para a dor, nada poderia me preparar para o vazio que se formou no lugar onde antes existia uma família.Eu não tinha noção do quanto minha vida mudaria em um único segundo. Um telefonema. Uma ligação para informar que tudo o que eu conhecia, tudo o que me dava segurança, tinha acabado. O impacto do acidente foi tão forte que, quando eu vi o carro amassado nas imagens do noticiário, nem parecia possível que eles haviam estado ali. A imagem ficou gravada na minha mente, como se ainda estivesse vendo tudo em câmera lenta. Não havia mais dúvidas, não havia mais pais. Eu estava sozinha.Mas não completamente. Meus irmãos estavam comigo. Thiago, com 11 anos, e Júlia, com 14, estavam tão p
Alexandre Sou Alexandre Costa, CEO da Costa Empreendimentos, uma das maiores corporações do Brasil. Fui treinado desde jovem para assumir o controle da empresa, e aos 28 anos, quando meu pai se aposentou, fui colocado à frente de tudo. Mas desde então, a realidade de estar no comando não é tão simples quanto parecia. As pressões são intensas, e não se resumem apenas aos negócios. Há também uma batalha constante pela autoridade dentro da família.Meu pai, sempre tão firme e decidido, sempre me disse que a herança da Costa Empreendimentos não seria um presente, mas uma responsabilidade. E, de certa forma, ele estava certo. A cada dia, o peso dessa responsabilidade aumenta. Não é só minha imagem que está em jogo, mas a imagem da família, da empresa, e de todos que dela dependem.O problema atual é o meu cunhado, Marcelo. Ele casou-se com minha irmã, Clarice, e desde o começo, seus interesses sempre foram claros: ele possui uma grande parte das ações da Costa Empreendimentos, e como qual