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Capítulo 06: Pedra no sapato

As cortinas brancas flamularam com o vento, a brisa fresca trazia a luminosidade da manhã. Tateei o colchão, percebendo-o vazio e sentei-me na cama assustada, escutando o barulho do chuveiro ligado. Maestro. Podia sentir aquela típica ressaca: tontura, boca seca, dor de cabeça. Aquilo tudo tinha mesmo acontecido? A sensação era de que fazia parte de um sonho maluco.

Fiquei na cama encolhida, sentada segurando as pernas com o lençol branco do hotel por cima de mim. Eu estava com minha camisola preta de cetim. O celular de Maestro continuava sobre o criado mudo exatamente onde ele tinha deixado antes de se deitar, ao lado do relógio de pulso com a pulseira de ouro branco e a pistola cromada.

Ouvi o aparelho vibrando e o nome de Piera Murino apareceu escrito no visor, que droga é essa? Odiei a sensação de que eu era uma maldita amante, quando na verdade, ela devia fazer coisas mais sórdidas com o meu noivo quando estivessem sozinhos.

Deixei o telefone morrer de tocar. Piera insistiu mais três vezes antes de desistir. Ainda esperei alguns minutos antes de Maestro sair do banheiro com a toalha enrolada na cintura e secando os cabelos com outra. Ele parou quando me viu, acho que minha feição devia estar péssima e só então percebi que eu estava de braços cruzados, rangendo os dentes.

O que foi agora? — Ele perguntou. Nem mesmo o cheiro doce do sabonete me fazia gostar daquele instante e a queimação no estômago voltou com força, me deixando enojada.

Eu vou tomar banho, não precisa me esperar para o café, carogna. — Rosnei e sai da cama empurrando o lençol.

Fui ligeira, passando por ele e batendo a porta com um estrondo. Que raiva!

♞♞♞

Saí do banho de roupão branco no corpo e toalha enrolada na cabeça. Maestro não estava no quarto. Senti solidão e mirei os olhos no criado mudo, o celular não estava lá e nem o relógio. A janela continuava aberta, flamulando a cortina branca e de panos leves.

Odiei aquela sensação fria em meus ombros e a saudade do seu toque que parecia impregnada em mim. Deslizei as mãos nos ombros por dentro do roupão, lembrando da sensação da barba de Maestro em minha pele. Senti uma pontada no estômago. Ele tinha ido atrás de Piera Murino?! Que raiva… Mas o que eu esperava? Senti o amargor na boca e sentei-me na cama com o coração batendo forte e a respiração travada. Aquela maldita precisava ter ligado? E Maestro? Por que ele precisava correr atrás dela como um cachorrinho domado?!

Pensei em cancelar todos os compromissos e ficar deitada na cama choramingando, mas eu não podia me dar ao luxo de agir como se estivesse com o coração partido, além do mais, minha mãe esquentaria as palmas das mãos com uma bela palmada se eu não reunisse minhas forças e enfrentasse aquele problema de frente! Fiquei em pé e fui ao banheiro, terminar de me arrumar. Meus cabelos estavam úmidos, passei um pente e escolhi uma roupa para encarar aquela maratona.

A agenda estava cheia de compromissos: provar alianças e depois, almoçar um dos cardápios sugeridos para o casamento, eu provaria três ao longo da semana e escolheria - junto com Dona Arminda, suponho - aquele que agradasse mais ao paladar e às tradições. Depois quem sabe eu fosse para um spa esfriar a cabeça! Sabe como é casamento italiano? Começa antes do almoço e dura até o almoço do outro dia. Cansativo e alegre, cheio de danças… Mas eu não sabia se queria encarar doze horas de festa com Piera Murino cercando meu noivo!

Eu sabia que essa garota estava em cima de Maestro e imaginei que muitas mulheres queriam a minha posição, especialmente depois de ver como ele era bonito. Eu estava disposta a lutar por isso com unhas e dentes e ia defender meu casamento! Eu só não sabia como iria fazer isso.

Pelo celular avisei que ia descer para o café da manhã, mandando uma mensagem para Gianna e Surya que estavam hospedadas no mesmo hotel que eu. A resposta veio em forma de “Estamos indo!”

Escolhi uma calça confortável e um suéter, preferindo meias e botas de salto quadrados, abandonando um pouco os saltos finos para descansar os pés. Abri a porta, olhei para os lados procurando Maestro, não sei porque achei que ele poderia estar me esperando, que ilusão. Tudo o que tinha passado no rosto tinha sido lápis de olho e brilho labial, sabe, um rosinha “moça-comportada”.

O crush foi trocar de roupa, minha querida, ele já volta. — Piersanti falou quando meus olhos pousaram nele encostado na parede do outro lado do corredor. Vi a marca da arma em sua cintura e ele tinha um sorriso besta no rosto bonito. Revirei os olhos. — Não se esqueça que vão provar doces do casamento hoje.

Doces? Não são alianças? — Arfei tremulando os lábios em derrota. — Estou de ressaca, não dá para cancelar para mim?

Vou dizer o quê a Dona Arminda? — Ergueu as mãos para cima naquele típico gesto italiano de confusão. — Que você e o beato filho dela gemeram a noite toda? Olha, me deu um trabalhão manter as pessoas longe dessa porta, me respeite. — Piersanti estalou a língua nos dentes. Eu o fulminei com o olhar. — O que é? Não vai contar os detalhes para o seu querido melhor amigo, não?

Você não é meu melhor amigo Piersanti. — Empurrei ele para trás, para me dar espaço.

Suponho que vai contar as suas amigas que está com ciúmes?

Você é um horroroso. Guarde este segredo ou te mato, ouviu bem? — Ameacei. — Eu estou dando na cara?

Oh está! — Piersanti deu uma larga risada, divertindo-se.

O som de sua voz, sempre tão melodioso agora era como um rochedo sendo atirado contra a minha cabeça. Coloquei a mão na testa.

O que ele disse quando saiu? — Caminhei pelo corredor.

Para não deixar ninguém ver você de camisola. — Piersanti sorriu em deboche.

Benito disse que tem câmera em todos os cantos, exceto no banheiro. Aposto que você e seus colegas viram tudo. Gostou do show? — Bati a porta atrás de mim, ajeitando a bolsa no ombro e atravessando o corredor.

Vi a bunda do Sr. Gostoso, mas não deixei ninguém mais assistir, ou o Sr. Baroni enfiaria uma bala na minha testa e uma faca no meu traseiro. Eu não iria gostar. — Acrescentou abrindo bem os olhos azuis.

Impediu mesmo os outros de verem o que aconteceu? — Arfei puxando a bolsa.

Sim e não… Deixei saberem para que a ragazza que você tanto detesta saiba que você está em Ischia de uma vez por todas. — Assoviou, com um sorriso de canto.

Uau! — Suspirei. Piersanti soou como um homem treinado pelo meu pai, então eu soube que poderia confiar nele. — Que bom que está sintonizado com os objetivos da família.

Sou o melhor guarda que você poderia ter. — Piersanti sorriu, apertando o botão para chamar o elevador.

Pare de chamar meu homem de gostoso, viu? Senão arranco suas bolas.

Com certeza que sim, Signora. — Piersanti deixou uma risada vazar. — Vejo que já se tornou possessiva.

O que é meu, é meu. — Dei de ombros. — Maestro comentou algo sobre Piera Murino ao sair? — Perguntei esperando o elevador, os números na parte de cima acendiam em um visor laranja e preto. Piersanti balançou a cabeça em negação. — Comentou para onde ia?

Apenas disse que não quer ser incomodado. — O soldado se encostou na caixa do elevador. — Por quê?

Não ria, tá bem?

Vou tentar. — Ele já estava sorrindo, o que me fez cruzar os braços chateada. — Pode falar não vou rir. — Mordeu os lábios se segurando e colocou o dedo na frente.

Ergui as sobrancelhas. Eu tinha amigas, Aposto que esse maldito foi atrás da tal ragazza que não suporto. O que vou fazer Piersanti? — Choraminguei virando-me para ele, que apenas ergueu os olhos surpreso. — Foi tudo ótimo ontem, mas hoje, um fracasso! Tenho a sensação que estou perdendo esse cabo de guerra sem nem ao menos ter começado a lutar.

Então lute, Signora. — Respondeu-me simplesmente, encarando-me com seriedade. — Sei que casamentos na máfia são diferentes para quem é de fora, mas no dia a dia eles são completamente iguais: o que vale são os sentimentos. Lute pelos seus.

O elevador chegou fazendo um som de campainha e adentramos. Apertei o botão para o restaurante.

Va bene. — Concordei.

♞♞♞

Contei tudo sobre a minha noite para Surya e Gianna. Claro que, como sempre, Surya ficou louca e cheia de conselhos para melhorar as experiências enquanto Gianna cobria o rosto envergonhada e tentava me convencer a respeitar o casamento.

Estou respeitando, Gia! Maestro é meu marido. Quem não está me respeitando é ele! — Resmunguei furando o ovo mexido como se fosse a cabeça de Maestro. — Piera Murino ficou ligando, schifosa! Até acordei com o celular e a maldita insistiu. Claro que ele deve ter atendido e corrido para ela.

Ou ele a ignorou, porque a noite com você foi maravilhosa e agora ele sabe que o casamento dele vai ser uma delícia. — Surya deu outra leitura do momento, que me fez furar de novo o mesmo pedaço de ovo. Eu poderia quebrar o prato. — Agora, você com ciúmes, é novidade, Firenze.

Não é ciúmes, é raiva. É uma humilhação que ele tenha outra. — Rosnei, larguei o garfo com tanta força que ele tilintou. Os funcionários me olharam, incluindo os guardas.

Viu, eu disse, desconsidere a cláusula da amante. — Gianna colocou um pedaço de sua salada de frutas na boca. Torci o queixo, eu tinha que erguer essa bandeira, ou Piera Murino nunca respeitaria meu casamento e seria fatal. — Maestro terá que respeitar isso.

Isso se ele não exigir a cláusula, por causa daquela maldita. — Comentei sentindo insegurança. Pelo visto o jogo tinha virado contra mim.

Quando cheguei queria que Maestro sofresse um pouco por ser um desses machistas que se senta em uma mesa e escolhe a sua esposa. Por anos eu fui criada sempre escutando sobre como seria ao me casar, as coisas que eu teria que fazer e o quanto tinha que ser uma boa sposa para o homem mais poderoso da máfia. Pensei que poderia chegar de uma maneira rígida, colocando banca e causando uma impressão, que se demonstrasse indiferença, Maestro poderia me compreender como um desafio e correr atrás de mim. Que isso fosse fazer valer o casamento. Porém na prática, havia uma grande inversão: ele não ficou esperando o dia do casamento como eu fiquei, ele não ficou imaginando como seria comigo. Talvez eu tenha sido influenciada pelos relacionamentos que vi ao meu redor: minha mãe e meu pai se amam de verdade, mesmo com todas as adversidades e com o fato de que ele basicamente a comprou com uma dívida para forçá-la a se casar com ele — nossa isso soou horrível, mas eu juro que eles se apaixonaram e que no dia do casamento, ao dizerem “sim”, ambos estavam perdidamente apaixonados. E claro que eu não esperava que o meu relacionamento com Maestro fosse ser maravilhoso, instalove, ou qualquer coisa do tipo, mas acredito que mesmo ponderando o quão ruim poderia ser, eu não ponderei o suficiente. Às vezes, idealizações podem causar sérias decepções!

Nem mesmo todos esses anos que fiquei pensando em como seria me prepararam para como está sendo. Maestro é impassível, difícil de impressionar, mais sério do que eu gostaria que ele fosse e certamente eu não estava pronta para o quão lindo, gostoso e cheiroso ele é! Claro que milhares de mulheres caíram aos seus pés e claro que haveriam várias candidatas atrás do casamento com ele, mas Piera Murino era uma pedra no meu sapato, uma que eu não queria ter.

Vou parecer boba se disser que tenho medo que ele diga que se casará comigo por obrigação, mas que quer continuar com ela?! Eu fico até sem ar de pensar nisso!

Faça ele desistir. Homens topam tudo para conseguir o que querem. Da próxima vez, não dê a ele um orgasmo, você vai ver. — Surya decretou apontando a colher com a qual estava comendo um pudim na minha direção. — É o que eu faço com Andrea. — Deu de ombros. — Se ele for um homem honrado não vai voltar atrás na decisão.

Vou seguir o conselho das duas dessa vez. — Decretei com um suspiro, passei a mão na testa. — Não quero ficar pensando em como vai ser com Piera Murino cercando meu marido e sendo a amante dele! Eu teria nojo de beijar a boca de Maestro se soubesse que no mesmo dia, ele a beijou. Ugh!

Hm, alguém está apaixonada! — Gianna comentou com um sorriso de divertimento no rosto. Ela parecia deslumbrada com a possibilidade, um brilho atravessando o olhar. — Essa eu pago para ver, de camarote!

Ah, cale a boca. — Revirei os olhos. — Eu não vou me apaixonar por Maestro, nunca.

Duvido! — Gianna assoviou musicalizando. Suspirei aborrecida. — Não seria ruim. É melhor do que ter que se deitar todos os dias com alguém por quem você não tem tesão nenhum.

Hm, verdade. Acho que esse é o medo de todas nós. — Surya concordou balançando a cabeça cheia de cachos. Eu tive que dar razão para ela. — Aproveite essa fase, Firenze, vire esse jogo a seu favor e chute Piera Murino para longe de Maestro uma vez por todas!

Aliás, queria só ver a cara dela se visse vocês ontem a noite. — Gianna riu pegando o celular, curtindo aquele momento como uma vingança. Amigas de verdade te defendem assim, com unhas dentes e fotografias furtivas dos momentos de amasso. Eu sorri. — Vou dar um jeito de fazer isso chegar nela.

Será que não irá provocá-la? — Surya perguntou confusa, engolindo o pudim.

Ótimo, provoque. É bom ver como nossos inimigos reagem, dá para medir seu desempenho dessa forma e traçar seus próximos passos. — Eu incentivei que Gianna mandasse a fotografia para quem fosse capaz de repassá-la.

Uau, soou como Benito agora. — Gianna disse digitando a mensagem no celular. — Cruel e calculista.

Talvez para vencer Piera Murino, seja exatamente como preciso ser. — Concluí. Respirei fundo, encarando os olhos espantados das minhas amigas, acho que elas não queriam me ver nessa situação. — Ela vai cometer erros e vou enforcá-la na frente de todo mundo.

Antes de duelar com ela, você precisa de provas. — Gianna lembrou-me.

Existia uma regra inominável na Máfia em que uma sposa ou donna poderia desafiar a amante de seu marido para um duelo caso sentisse necessidade, embora a maioria evitasse esse tipo de confronto por ser de alguma forma humilhante.

Mas eu achava pior deixar Maestro transitando de camas, visto que as decisões que ele toma são estritamente políticas e podem definir o destino da Giostra. Eu não tinha nada contra a cadela Murino!

Por isso que preciso provocá-la. — Ergui uma sobrancelha, fazendo Gianna e Surya sorrirem. — Se ela cair na armadilha, vou perfurar aquele cérebro de ameba com uma bala!

Para finalizar, fiz uma pistola com os dedos, fingindo que estava atirando nela e assoprei, piscando um olho.

♞♞♞

Você foi irresponsável!

Benito e Gianna cativaram minha atenção no estacionamento do hotel. Eles estavam agindo muito estranho. Eu tinha reparado os olhares intensos e as palavras ardidas como se estivessem brigando e reconhecia aquele olhar de meu primo: alguma coisa havia acontecido.

Ah, por favor! Você foi o pior. — Gianna abriu a porta do SUV blindado e se sentou.

Surya tinha feito menção de ir com eles, mas recebeu um olhar mortal de Benito, girando nos saltos e veio em nossa direção, com um sorriso sem graça.

Posso ir com vocês, não é? — Aproximou-se dando um sorriso sem graça.

O que há com eles? — Perguntei para Enrico que estava batucando no capô do sedã preto alugado e blindado.

Ah, não está sabendo? — Meu primo deu um sorriso de lado. Abri a porta do banco de trás para Surya e balancei a cabeça que não. — Foi bombástico.

Eles se beijaram. — Surya entrou no carro sentando-se com a bolsa marrom de franjas sobre o colo e fechou sua porta.

O quê?! — Exasperei. Olhei para Enrico que apontou para dentro e eu rapidamente entrei no carro. Fechei a porta e puxei o cinto. — Foi na boate?

Gianna estava bêbada. — Enrico falou sentando-se. A risada que ele soltou foi larga. — Ela agarrou Benito. Nunca faria isso sóbria.

Agarrou?! — Coloquei as mãos na boca e soltei um riso nervoso.

Eles estavam dançando muito sensualmente juntos e as coisas foram esquentando. Ela ameaçou dançar na bancada do bar e claro Benito deu um chilique enciumado… Aí ela o beijou. Foi quente. — Surya disse. — Um beijão mesmo, mão em tudo que é lugar, os dois suados, olha! Quem diria!

Enrico começou a manobrar, olhei pela janela e Benito estava esbravejando com Gianna que o encarava séria e impassível. Nunca vi meu primo tão alterado, ele costuma ser contido. Outros carros começaram a nos seguir, os milhares de seguranças que estavam com a gente.

Estou surpresa. — Comentei com as mãos no coração, ele estava batendo muito alterado, como se eu estivesse recebendo uma má notícia. Por que Gianna não me disse nada? — Ela não comentou nada durante o café.

Gianna se arrependeu e saiu correndo do bar. — Enrico continou com aquele sorriso, ele passou a mão no queixo e me encarou. — Ela teve a grande ideia de pegar um tuk-tuk local e voltar para o hotel, sem a menor proteção!

Estamos falando da mesma garota? — Baixei as mãos e deslizei pela calça. Consegui imaginar a cena, mas não achei que Gianna fosse fazer algo tão louco. Ela sempre respeitou as regras da Giostra como um maldito mandamento de Deus.

Oh, se estamos! — Surya no banco de trás interferiu. Olhei para ela, que estava séria com os cabelos balançando com o vento que entrava pela pequena fresta na janela.

E os guardas? — Inquiri.

Cesare a perdeu de vista. Inclusive, ele está de licença hoje, com um olho roxo. — Surya contou. Imagino que Benito escorraçou Cesare, sem se importar que era um dos homens de confiança de Maestro. — Gianna não me deu detalhes, mas garantiu que passou a noite toda no hotel.

Conhecendo-a, sei que não dará. Nem Benito vai dizer alguma coisa. — Eu disse dando de ombros.

Conheço bem meus dois primos e sei exatamente o que passa na cabeça de cada um. Benito deve estar frustrado por finalmente conseguir avançar em suas investidas e perceber que foi apenas porque ela estava bêbada. Gianna nunca repetirá o feito, ela tem um autocontrole incrível e segue as regras normalmente. Acho que posso considerar que esse acontecimento foi único.

Eles formam um lindo casal. Deviam se casar. — Surya comentou a opinião de todos nós.

Tia Vittoria não se importaria, mas Eliseo Catellani não é muito fã dos Lambertini. — Enrico mencionou. Ele podia falar por experiência, foi quem cresceu mais próximo à Gianna.

É mesmo? Por que razão? — Surya franziu as sobrancelhas castanhas escuras.

Eles discordam muito no Carosello. — Enrico explicou.

Acho que discordar é o máximo que uma família chega em rivalidade. Não era boa coisa. Fiquei quieta e deixei os dois conversarem durante o caminho.

Bem, é uma pena. — Surya bateu a mão no ombro de Enrico. — E a ruiva?

Foi divertido, mas ela é de fora. — Ele riu, expelindo aquelas palavras com um ventar de nariz que dizia o quanto ele estava inconformado em ter que deixar a garota ir. — Nunca daria certo.

Ê, ma che! Tome curso, Enrico! — Dei um soquinho em seu braço. — Mulheres de fora são quase maioria atualmente na família!

Não por isso, Firenze, não por isso! Meus pais já começaram a loteria, entende? — Enrico suspirou e concentrou-se no percurso, estávamos nos aproximando do local, eu podia ver pelo aparelho GPS.

Loteria de quê? — Surya perguntou, mas depois, ela mesma chegou na resposta. Na máfia, apenas uma coisa era leiloada com mais interesse que os anéis do Carosello. — Casamento? Seus pais vão casar você?

Sí, sí! — Enrico abanou a mão como se quisesse espantar um mosquito. — Já tem uma lista e eu terei que escolher um nome em breve, depois do casamento de Firenze é o meu prazo!

Uau, isso é chocante! — Surya abriu a boca surpresa.

Pelo menos você poderá escolher e pensando bem, os casamentos são acordados aos doze anos, então seus pais até que deixaram você escolher bem! — Eu disse tentando animá-lo,. Enrico me lançou um olhar impaciente. Eu sabia que ter que se casar para manter a famiglia era algo imposto e uma tradição, você não tinha escapatória! — Bem e quais os nomes das fortunati? Eu talvez conheça alguma!

É, Enrico, fale logo e procuraremos por elas no casamento de Firenze! É um evento grande e muitas famílias foram convidadas. — Surya lembrou, esperta como sempre. O dia que ela aprendesse toda a sistemática da Giostra ela seria perigosa, os rivais de Andrea que se cuidassem!

São umas dez, eu não sei, não dei muita atenção. — Coçou a cabeça tentando não entrar em detalhes daquele assunto.

Certamente se os nomes são restritos, as famílias serão convidadas e quem sabe você poderá conhecê-las? — Eu dei a ideia. Enrico franziu a testa. — Escolha umas cinco, quem sabe você pode fazer igual naquele livro que o príncipe escolhe sua princesa entre várias candidatas?!

Perfecto Firenze, perfecto! — Meu primo se animou, sorridente. — Vou pegar os nomes e escolhemos as cinco mais bonitas, aí no casamento, conhecerei todas elas e me decidirei pela menos pior.

Cuidado, Enrico, cuidado! Pode acabar se surpreendendo! — Surya disse com um sorriso.

Joalherias Murino? — Enrico estava se aproximando do destino e assustou-se com o nome. Rangi os dentes e cruzei os braços. — Quer mesmo fazer isso Firenze? Passei poucos dias com Maestro mas ele não é do tipo que aprecia quando seus sistemas são quebrados. — Alertou.

Respirei fundo. Coloquei a mão na garganta sentindo apertar de pavor. Eu tinha medo de entrar na loja e ver Maestro se agarrando com outra mulher… Mas se quisesse impedir de uma vez por todas que isso acontecesse, precisava enfrentar aquele primeiro desafio. Segurei a bolsa e a maçaneta da porta do carro, olhei para Enrico fingindo um sorriso:

Vá buscar Liam no posto e nos veremos no restaurante. Tenho tudo sob controle. — Abri a porta e senti a lufada quente de ar, desci do carro e bati a porta.

Piersanti começou a buzinar e a reclamar no carro detrás, pois não avisei que ia descer e ele certamente tinha medo da reprimenda que minha atitudes poderiam gerar. Inspirei fundo como se a maresia fosse coragem e apressei os passos sobre os saltos para dentro da loja.

Nesse momento eu tinha que ser sincera comigo mesma: aquela jogada não tinha nada a ver com a politicagem da Giostra, mas sim com uma mulher disposta a proteger seu casamento.

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