Parte 5...
— Amanhã quando vier, quero que traga seus documentos - ele pegou um bloco atrás de si e uma caneta — Vou escrever para você em letra de forma porque minha letra é péssima.
— Isso é normal em um médico - ela brincou.
— É verdade - ele sorriu apontado para ela — Eu acho que você vai poder ficar com a gente. Gostei de seu jeito honesto e de seu modo de expôr seu problema tão natural.
— É que depois de tanto tempo, aca...bei compreendendo que não, não... - ela fez um som de impotência e ele esperou — Que minha vida é assim agora e, e... Pronto - gesticulou.
Ele puxou a folha e entregou a ela com um sorriso. Ela estava lutando e isso era muito bonito. E quanto ela vinha tentando ter sucesso durante esses anos todos? Era uma pessoa de valor e ainda mantinha o pensamento positivo. Gostava disso.
— Faremos assim - levantou e foi até a mesa — Vou deixar esse formulário para ser preenchido amanhã com calma - mostrou um papel a ela e prendeu com uma pirâmide de cristal ao lado do notebook — A que horas pode vir amanhã?
— Prefiro que seja pela manhã - levantou ajeitando a bolsa no ombro direito — Eu tenho alguns trabalhos a fazer na parte da tar...de e prefiro manter assim até que, que ...
— Que chegue ao final de seu período de teste - ela assentiu.
— Não posso mesmo parar com eles antes de sa-saber como vai ser, porque eu pre... Tenho que pagar as contas - reformulou a frase.
— Eu entendo e acho certo - deu a volta na mesa e sua barriga roncou. Ele segurou o estômago e fez uma careta — Desculpe, tenho um pouco de fome, passei da hora e comi só uma fruta.
— Isso não é bom - disse suave.
— Verdade. Minha mãe sempre reclama - riu.
— Ima-imagino. Gosto muito de conversar com a sua mãe.
— Ela é uma peça rara mesmo, como diz o meu pai.
Ela sorriu e assentiu com a cabeça. Olhou para a porta.
— Eu posso ir agora ou, ou... O senhor precisa de algo mais?
— Não, mas gostaria muito que me chamasse de Mike - fez uma careta engraçada — Eu não sou velho. Tenho trinta e um anos.
— Ok. Se eu esquecer, você me lembra - ela riu.
— Quantos anos tem, Camila?
— Hum... - pensou um pouco — Vinte... Não...Vinte e cinco.
Eles riram. Mike observou seu jeito e sua postura. Ela não parecia ter nenhum problema. Seu rosto era lindo, era mais baixa do que ele e sua postura era normal, nem parecia de alguém que puxava da perna.
— Peço mil desculpas pelo atraso, mas é que fico muito concentrado no trabalho e esqueço até de comer.
— Percebi - ela riu e rodou os olhos — Mas isso é bom, porque ama o que faz.
— Realmente, é uma paixão - sua barriga roncou de novo — O que acha de começar amanhã às sete, é muito cedo?
— Não, posso che-gar nesse horário - mexeu no cabelo parecendo séria — Agradeço que me dei...xe tentar, mas não prometo que não, não... Vou cometer algum erro - mexeu o ombro e suspirou — Mas prometo que, que vou tentar não fazer na-nada de errado e fazer o melhor que eu puder.
— Isso é ótimo - sorriu — Espero que seja uma boa oportunidade para você e que tudo corra bem. Se fizer o seu melhor tenho certeza de que vai dar tudo certo.
— Muito obrigada - estendeu a mão para ele — Só preciso de uma coisa sua.
— E o que é? - segurou a mão dela.
— Que nun...ca minta para mim... Por causa de pena ou pa-para não me aborrecer. Eu quero ser, ser... Ser tratada como uma pessoa comum.
Ele sentiu um nó na garganta. De certa forma, mesmo sabendo pouco sobre ela, sentiu um certo orgulho de sua postura decidida, ainda que perdida em sua mente confusa pela doença.
— Vou deixar tudo acertado com a moça que abre a clínica pela manhã - apertou sua mão — E eu prometo que nunca irei mentir para você e será tratada como uma pessoa comum, como qualquer outro funcionário.
Ela sorriu e assentiu com a cabeça. Lhe deu boa noite e saiu andando devagar. Ele reparou em sua perna direita que parecia pesada para ela e pouco levantava o pé para andar, mas até que conseguia se mover mais rápido do que ele pensara.
Ficou olhando para a porta, imaginando se poderia cumprir essa promessa. Camila era uma pessoa tão diferente que o havia tocado de uma forma como nunca havia sido antes.
Queria muito que ela passasse em seu período de teste. Sentia que ficaria triste se tivesse que mandá-la embora.
Ninha Cardoso
Autora de histórias românticas.
Peço que deixe seu comentário para que eu saiba o que está achando do romance até o momento.
Parte 1...O dia prometia mais chuva. Quando Camila entrou no táxi em direção à clínica, ansiosa e um pouco nervosa pelo começo de seu emprego fixo, o primeiro depois de anos, ela ia forçando a mente a não esquecer de falar sobre sua dificuldade para a moça que iria fiscalizar seu trabalho.Não queria pena, mas tinha que deixar claro o que poderia ou não fazer, para evitar problemas de ambos os lados.Desceu do carro e agradeceu. Era o mesmo motorista de outras vezes. Até já sabia que ela tinha esse problema e falava com ela devagar, para que compreendesse sua fala. Olhou para o céu. Estava cinza e vinha uma nuvem mais escura ainda pouco adiante. O vento soprava frio. Puxou a gola do casaco marrom para cima, enfiou as mãos nos bolsos e foi andando devagar até a entrada da clínica. Já estava para abrir a grande porta de vidro quando seu celular tocou e ela parou, ficando de lado para ver quem era.— Bom dia, querida.— Bom dia, tia. Ligou cedo.Ela viu que uma senhora toda de uniforme
Parte 2...A vergonha se abateu sobre ela. Não era orgulhosa, mas ser feita de burra aí já era demais. Não aceitaria.— Tia, tenho que des-desligar agora. Beijo.Ela desligou e respirou fundo. Se aproximou da mesa e explicou para a moça que não poderia ficar para o início do teste. Gaguejando tensa e nervosamente, ela se desculpou muito e disse que iria embora. Pediu que avisasse a Mike e agradecesse a oportunidade, mas ela tinha mudado de ideia. É claro que a atendente ficou sem saber o que houve, já que estava presente ali, mas não entrou em detalhes, apenas perguntou se precisava de algo. Ela disse que não e saiu por onde entrou, de cabeça baixa.*************************Mike estava separando um arquivo que levaria para imprimir quando chegasse na clínica, quando seu celular tocou. Ficou preocupado por ver que era a atendente do dia.— Bom dia, Mara. Está tudo bem?— Sim e não.— Explique, por favor - largou o pendrive na mesa.— Aqui está tudo bem na clínica, mas aquela garota
Parte 1...Infelizmente ele teria que chegar atrasado na clínica, mas pelo menos dessa vez eles não tinham recebido nenhum animal com problemas sérios e seu irmão e os outros funcionários poderiam resolver.Antes ele tinha que acertar as coisas com Camila.Parou o carro em frente da casa dela. Era uma casinha pequena e antiga. Tinha um pequeno portão na frente de madeira, já precisando de uma pintura. Ele abriu e entrou, atravessando o curto espaço até a porta. Alguns vasinhos com flores coloridas estavam espalhados pela varanda, cercada com uma proteção de madeira, também precisando de pintura. Estava desgastada pelo tempo.Sua mãe tinha dito que a casa era alugada. Como os valores andavam muito altos em imóveis, com certeza ali era o que ela podia pagar com sua baixa pensão por invalidez.Era até estranho pensar que uma pessoa tão jovem fosse aposentada por invalidez. Camila não tinha a aparência que se espera de uma pessoa classificada como inválida. E ela não era isso. Era um modo
Parte 2...Ela deu um risinho tímido e olhou para baixo. De certo tinha vergonha de sua condição. Mas ele não era uma pessoa que olhava esse lado. Quando se interessava por uma garota, era pelo que ela lhe passava, lhe mostrava de bom em seu caráter. Aparência engana e muito.Claro, se fosse um flerte comum essas coisas entrariam na lista do que gostava ou não, dependendo do que buscava em um relacionamento. Se seria passageiro ou mais duradouro.— Acho que eu devo ter algo de errado, só pode - fez uma careta — Minha mãe vive fazendo isso comigo. É vergonhoso.Do nada ela deu uma gargalhada.— Você não tem nada de errado, Mike - mexeu o ombro — É só coisa de mãe. Ela quer te ver feliz.Ele tão pouco via algo de errado nela. Camila era muito bonita e tinha um sorriso encantador. Seu problema de afasia era algo muito sério mesmo, mas isso não era motivo para um homem não ter interesse nela. Tinha outras qualidades acima disso.— Eu sou feliz com o meu trabalho.— É, mas ela deve t-ter a
Parte 1...Na manhã seguinte Camila chegou para o trabalho. Enquanto ia caminhando em direção à entrada, ia repassando suas ideias.Depois que Mike saiu de sua casa ela ficou um tempo ainda encantada com sua presença ali. Mas sabia que de nada adiantava ficar encantada pelo seu novo chefe. Ela não era uma garota comum e tinha noção disso.Apesar de ser sempre positiva, uma coisa que tinha certeza é de que um relacionamento para ela, seria algo quase impossível. Para que tal coisa acontecesse ela teria que encontrar alguém que visse seu lado ruim, seus problemas e dificuldades e fosse capaz de não se importar com isso.Nem todo mundo era capaz de conviver com uma pessoa que tinha certas limitações. Por um tempo isso a incomodou e entristeceu, mas depois compreendeu que a vida dava lições a cada acontecimento. Ela tinha sido forçada a aprender novas coisas após seu acidente e uma boa coisa disso foi que ficou mais serena. Ainda que fosse um tanto ansiosa, ela sabia se controlar para nã
Parte 2...A mulher franziu a testa, pegou a pasta e leu o documento preso nela. Depois voltou a olhar para ela e seu rosto mudou de expressão.— Oh, meu Deus - levou a mão à boca — Me desculpe, fiquei preocupada que pudesse ser mordida. Você é a sobrinha da Henrieta, não é? - ela fez que sim com a cabeça e sorriu de leve — Meu Deus, eu me lembro do acidente - segurou seu braço — Menina, você é um milagre. Desculpe ter sido rude, mas já tivemos pessoas mordidas aqui e não quero que se repita.— Não tem problema. E-eu entendo.— Olha, o serviço aqui é chato, não vou mentir. Muita gente desiste porque não gosta ou não tem estômago para lidar com porcarias de animais doentes - ergueu a mão — Sou honesta com você. Tem certeza de que quer e pode fazer esse serviço? Alguns dias é leve, mas em outros é um inferno, acontece muita coisa.— Bem, penso que pos-so fazer e creio que os di-dias de teste irão me mostr... Mostrar, se sou a pessoa cer-cer-certa pra isso.Ela não entendeu bem a express
Parte 1...Mike viu que Eliza queria mais um tempo ao lado dele e com certeza Rosaly também percebeu. De tanto ela insistir em tentar levá-lo para seus braços, alguns funcionários mais ligados já estavam observando que ela tinha um interesse a mais além do profissional.Ele até queria fazer um lanche, sentia mesmo que seu corpo estava precisando de combustível. Sentia até um pequeno tremor nas mãos e seu estômago já tinha reclamado duas vezes, mas iria esperar um pouco até que Eliza saísse da cantina.Ele entrou na sala onde estava a cadelinha e fez o exame para ver como estava saindo o acompanhamento e ficou contente em ver que em breve ela poderia voltar para sua casa. Fez umas anotações para quando a dona dela viesse buscá-la.Ao sair da sala encontrou com Clóvis, que estava cuidando do gatil nesse mês. Aproveitou e perguntou sobre Camila e ele lhe falou bem sobre ela e até disse que se saiu muito bem ajudando-o com dois filhotes que estavam recusando alimento.— Eu gostei dela, ac
Parte 2...— Você é a Camila, não é isso? - sorriu e esticou a mão para ela — Bem-vinda à clínica. Meu irmão já me avisou sobre você - se inclinou para ela — E minha mãe também me falou um pouco e só disse coisas boas.Ela ficou corada. Seria bom que Charlotte parasse de falar coisas sobre ela para seus filhos. Ficava nervosa quando as pessoas criavam expectativas sobre ela. Não tinha como prometer que iria cumprir o que esperavam dela.Suas limitações a deixavam com o julgamento mais cru sobre o que poderia ou não fazer, por isso mesmo preferia ser direta para ninguém lhe cobrar nada depois. Mesmo que quisesse fazer um trabalho bem feito, algum erro poderia ocorrer.Sabia que Derek iria ficar de olho nela e isso era o normal. Afinal, ninguém vai empregar outra pessoa que não sabe o que está fazendo. É o que acontece no geral e ela entendia isso. Só que ficava um pouco estressada e isso aumentava seu nível de ansiedade, o que a obrigava a ficar ainda mais atenta ao que faria ali para