Parte 1...Infelizmente ele teria que chegar atrasado na clínica, mas pelo menos dessa vez eles não tinham recebido nenhum animal com problemas sérios e seu irmão e os outros funcionários poderiam resolver.Antes ele tinha que acertar as coisas com Camila.Parou o carro em frente da casa dela. Era uma casinha pequena e antiga. Tinha um pequeno portão na frente de madeira, já precisando de uma pintura. Ele abriu e entrou, atravessando o curto espaço até a porta. Alguns vasinhos com flores coloridas estavam espalhados pela varanda, cercada com uma proteção de madeira, também precisando de pintura. Estava desgastada pelo tempo.Sua mãe tinha dito que a casa era alugada. Como os valores andavam muito altos em imóveis, com certeza ali era o que ela podia pagar com sua baixa pensão por invalidez.Era até estranho pensar que uma pessoa tão jovem fosse aposentada por invalidez. Camila não tinha a aparência que se espera de uma pessoa classificada como inválida. E ela não era isso. Era um modo
Parte 2...Ela deu um risinho tímido e olhou para baixo. De certo tinha vergonha de sua condição. Mas ele não era uma pessoa que olhava esse lado. Quando se interessava por uma garota, era pelo que ela lhe passava, lhe mostrava de bom em seu caráter. Aparência engana e muito.Claro, se fosse um flerte comum essas coisas entrariam na lista do que gostava ou não, dependendo do que buscava em um relacionamento. Se seria passageiro ou mais duradouro.— Acho que eu devo ter algo de errado, só pode - fez uma careta — Minha mãe vive fazendo isso comigo. É vergonhoso.Do nada ela deu uma gargalhada.— Você não tem nada de errado, Mike - mexeu o ombro — É só coisa de mãe. Ela quer te ver feliz.Ele tão pouco via algo de errado nela. Camila era muito bonita e tinha um sorriso encantador. Seu problema de afasia era algo muito sério mesmo, mas isso não era motivo para um homem não ter interesse nela. Tinha outras qualidades acima disso.— Eu sou feliz com o meu trabalho.— É, mas ela deve t-ter a
Parte 1...Na manhã seguinte Camila chegou para o trabalho. Enquanto ia caminhando em direção à entrada, ia repassando suas ideias.Depois que Mike saiu de sua casa ela ficou um tempo ainda encantada com sua presença ali. Mas sabia que de nada adiantava ficar encantada pelo seu novo chefe. Ela não era uma garota comum e tinha noção disso.Apesar de ser sempre positiva, uma coisa que tinha certeza é de que um relacionamento para ela, seria algo quase impossível. Para que tal coisa acontecesse ela teria que encontrar alguém que visse seu lado ruim, seus problemas e dificuldades e fosse capaz de não se importar com isso.Nem todo mundo era capaz de conviver com uma pessoa que tinha certas limitações. Por um tempo isso a incomodou e entristeceu, mas depois compreendeu que a vida dava lições a cada acontecimento. Ela tinha sido forçada a aprender novas coisas após seu acidente e uma boa coisa disso foi que ficou mais serena. Ainda que fosse um tanto ansiosa, ela sabia se controlar para nã
Parte 2...A mulher franziu a testa, pegou a pasta e leu o documento preso nela. Depois voltou a olhar para ela e seu rosto mudou de expressão.— Oh, meu Deus - levou a mão à boca — Me desculpe, fiquei preocupada que pudesse ser mordida. Você é a sobrinha da Henrieta, não é? - ela fez que sim com a cabeça e sorriu de leve — Meu Deus, eu me lembro do acidente - segurou seu braço — Menina, você é um milagre. Desculpe ter sido rude, mas já tivemos pessoas mordidas aqui e não quero que se repita.— Não tem problema. E-eu entendo.— Olha, o serviço aqui é chato, não vou mentir. Muita gente desiste porque não gosta ou não tem estômago para lidar com porcarias de animais doentes - ergueu a mão — Sou honesta com você. Tem certeza de que quer e pode fazer esse serviço? Alguns dias é leve, mas em outros é um inferno, acontece muita coisa.— Bem, penso que pos-so fazer e creio que os di-dias de teste irão me mostr... Mostrar, se sou a pessoa cer-cer-certa pra isso.Ela não entendeu bem a express
Parte 1...Mike viu que Eliza queria mais um tempo ao lado dele e com certeza Rosaly também percebeu. De tanto ela insistir em tentar levá-lo para seus braços, alguns funcionários mais ligados já estavam observando que ela tinha um interesse a mais além do profissional.Ele até queria fazer um lanche, sentia mesmo que seu corpo estava precisando de combustível. Sentia até um pequeno tremor nas mãos e seu estômago já tinha reclamado duas vezes, mas iria esperar um pouco até que Eliza saísse da cantina.Ele entrou na sala onde estava a cadelinha e fez o exame para ver como estava saindo o acompanhamento e ficou contente em ver que em breve ela poderia voltar para sua casa. Fez umas anotações para quando a dona dela viesse buscá-la.Ao sair da sala encontrou com Clóvis, que estava cuidando do gatil nesse mês. Aproveitou e perguntou sobre Camila e ele lhe falou bem sobre ela e até disse que se saiu muito bem ajudando-o com dois filhotes que estavam recusando alimento.— Eu gostei dela, ac
Parte 2...— Você é a Camila, não é isso? - sorriu e esticou a mão para ela — Bem-vinda à clínica. Meu irmão já me avisou sobre você - se inclinou para ela — E minha mãe também me falou um pouco e só disse coisas boas.Ela ficou corada. Seria bom que Charlotte parasse de falar coisas sobre ela para seus filhos. Ficava nervosa quando as pessoas criavam expectativas sobre ela. Não tinha como prometer que iria cumprir o que esperavam dela.Suas limitações a deixavam com o julgamento mais cru sobre o que poderia ou não fazer, por isso mesmo preferia ser direta para ninguém lhe cobrar nada depois. Mesmo que quisesse fazer um trabalho bem feito, algum erro poderia ocorrer.Sabia que Derek iria ficar de olho nela e isso era o normal. Afinal, ninguém vai empregar outra pessoa que não sabe o que está fazendo. É o que acontece no geral e ela entendia isso. Só que ficava um pouco estressada e isso aumentava seu nível de ansiedade, o que a obrigava a ficar ainda mais atenta ao que faria ali para
Parte 3...Pedira para uma das ajudantes para lhe marcar no alarme seus quinze minutos de folga e depois também seu horário de saída. Antes de ir embora, falaria com a atendente da recepção para que marcasse também a hora de entrar no dia seguinte.Não tinha vergonha de pedir ajuda para as pessoas. Era muito melhor do que pedir desculpas por ter feito algo errado. Depois de um tempo em casa com a tia, logo que saiu do hospital, ela entendeu que precisava aceitar sua nova condição e que pedir ajuda não era vergonhoso.Só evitava incomodar aos outros. Não queria abusar da boa vontade em sempre pedir algo, mas nesse caso seria bom que pedisse para evitar que chegasse atrasada ou passasse da hora de fazer algo dentro da clínica.********************Camila estava separando as bandagens e os envelopes de algodão, colocando cada coisa em sua gaveta respectiva. Estava prestando atenção para não perder a contagem.Como Rosaly a indicou e foi um boa dica, ela fazia um pequeno traço dentro da f
Parte 1...À noite ela estava separando a roupa para deixar pronta e não se atrasar para o dia seguinte, quando a tia Henrieta ligou a convidando para ir jantar em sua casa.— Tia, eu não vou hoje, está bem? Deixa p-para amanhã.— Você ainda está chateada comigo, querida?— Não, tia - e era verdade — É só que, que eu não quero fi-ficar na rua com toda e-essa chuva né.— Verdade mesmo? - perguntou com voz melosa.— Verdade mesmo - Camila sorriu — S-sabe que pra mim é complicado, por causa de minha perna.Por duas vezes ela ficou em uma situação ruim devido sua perna lenta, em dias de chuva. Na primeira vez foi durante a tarde quando ela retornava para casa à pé mesmo, pois tinha feito um serviço de passar roupas para uma amiga que mora apenas a uma quadra de distância e quis voltar caminhando para fazer exercício.Começou a chover do nada e já chegando na esquia de casa, ela desceu da calçada para atravessar a rua e acabou pisando em falso em uma pequena poça e escorregou. Por pouco n