Clarice, ouvindo essas palavras que tocaram seu coração de uma forma a lhe dar um pouco mais de esperança, sentiu sua alma se fortalecer. Ela sabia que o reencontro com seu irmão não seria imediato, mas a esperança de que ele um dia pudesse aceitar o amor e a família que lhe ofereciam era o que a mantinha firme. Com lágrimas secando lentamente em seu rosto, ela respirou fundo, decidida a seguir cada pista, a cada passo, mesmo que o caminho fosse repleto de obstáculos.Enquanto o grupo se dispersava, cada um seguindo seu próprio rumo para vasculhar a imensidão da floresta, o sol subia majestosamente, marcando o início de um novo dia. E, apesar de todas as cicatrizes e da dor que o homem carregava, o brilho do amanhecer carregava em si a promessa de recomeço – uma chance de, um dia, encontrar a redenção que parecia tão distante.Aquela manhã, carregada de melancolia e esperança, deixava no ar a sensação de que nada estava realmente perdido. Cada raio de sol, cada sombra que se movia, pa
Em meio aos poucos focos de luz que ainda resistiam à escuridão da noite, Eidan caminhava de volta ao assentamento. Seus passos eram silenciosos e pesados, carregando consigo o peso esmagador da dor e da humilhação. Cada movimento parecia relembrá-lo do quão cruel era a sua existência diária. Enquanto avançava pela trilha lamacenta, sua mente se voltava para a memória da floresta, um refúgio onde a chuva incessante, o sussurro das folhas e o cheiro terroso ofereciam, por instantes, uma liberdade que ele nunca conseguira experimentar por muito tempo. Naquelas lembranças, ele era livre, longe das correntes que o prendiam a um destino cruel.Ao alcançar o portão de madeira desgastado, o olhar desconfiado dos habitantes do assentamento se fixou nele como se sua presença fosse um erro imperdoável. Os rostos marcados pelas cicatrizes de tempos difíceis se contorciam em expressões de receio e hostilidade. Vozes ásperas romperam o silêncio da entrada, exigindo respostas que Eidan tentava – em
Clarck, observando cada detalhe, murmurava baixinho: — Há algo de trágico nisso. Cada rosto, cada lágrima, conta uma história de angústia que precisa ter fim. Não podemos mais ficar de braços cruzados.Mesmo que, até então, nenhum deles tivesse se aproximado de Eidan, naquele instante, o sentimento de responsabilidade e de compaixão era palpável. Eles não sabiam exatamente como intervir, mas sabiam que algo precisava ser feito. A esperança de mudar o destino do homem marcado pulsava silenciosamente em seus corações.Enquanto isso, dentro da casa sombria onde Eidan estava confinado, a dor das runas continuava a queimar. Cada símbolo que se contorcia em sua pele parecia zombar de sua tentativa de liberdade, como se a própria magia estivesse rindo de seu desespero. O trovão lá fora parecia ser o grito primordial do universo, anunciando que a situação estava prestes a mudar.E, justamente quando tudo parecia perdido, Eidan tentou se erguer novamente. Num ímpeto de pura revolta, ele lançou
A noite estava densa e o ar parecia pesado com a tensão que se acumulava no assentamento. Gael, com o semblante sério e os olhos fixos na muralha, observava cada movimento dos inimigos que vigiavam o lugar. Ele sabia que aquele era o momento decisivo e, ao seu lado, Clarck ajustava os detalhes do plano com a mesma determinação. Ambos haviam planejado a missão de resgatar Eidan por muito tempo e, finalmente, a hora da ação tinha chegado.Gael aproximou-se de Clarck, com a voz baixa, mas firme: — Temos que agir rápido. Eidan não pode ficar preso ali mais um minuto. Ele já sofreu demais com as runas e a opressão desse lugar.Clarck assentiu, olhando ao redor para ter certeza de que ninguém os observava de perto. — Concordo. O feiticeiro está alerta, mas a nossa força é maior quando trabalhamos juntos. Assim que a distração acontecer, eu entro sorrateiramente para libertá-lo.Enquanto os dois homens traçavam os últimos detalhes da operação, a atenção se voltava para outro ponto crucial da
Finalmente, com um clique suave, a porta se abriu. Eidan levantou-se com dificuldade, seus olhos se enchendo de uma mistura de surpresa e gratidão ao ver os rostos determinados de seus salvadores.— Eu… eu pensei que não sairia daqui – disse Eidan, a voz embargada pela emoção e pela dor que carregava em cada cicatriz.— Agora você está livre – respondeu Gael, apertando o ombro de Eidan com firmeza. — Mas precisamos sair daqui antes que eles se apercebam da nossa presença.Enquanto isso, do lado de fora, Luna continuava sua fuga desesperada. Em alguns momentos, ela trocava olhares de ódio com os lobos que a perseguiam, em outros, ouvia o som distante de feitiços sendo lançados. Em uma breve pausa entre as corridas e os pulos, Luna conseguiu recuperar o fôlego e pensar em suas próximas ações. Seus pensamentos, sempre divididos entre a voz humana e a voz lupina, se misturavam em um turbilhão:— Estou machucada, Clarice, mas não posso deixar que eles me capturem. Cada gota de dor é uma pr
Enquanto o tempo passava, os se organizavam para os próximos passos. Gael levantou-se e olhou para o grupo reunido em volta da fogueira. — Precisaremos traçar um novo plano. O feiticeiro não vai descansar, e os Rogues estarão à espreita. Mas hoje, nós nos recuperamos. Descansamos para poder enfrentar o que vier, estamos próximos do local que montamos para aguardar o amanhecer. Clarck concordou com um aceno silencioso e, olhando para Eidan, disse: — Você foi muito corajoso. Mas sei que ainda há muito a ser feito. A noite avançava e, lentamente, os primeiros sinais de cansaço começaram a dominar o grupo. Eidan, mesmo com a dor, conseguia sorrir ao ver a união dos seus novos companheiros.Enquanto isso, em meio à escuridão da floresta e com a chuva ainda caindo, Luna continuava a lutar contra seus perseguidores. Em um trecho da corrida, ela se viu obrigada a enfrentar dois dos lobos que vinham lado a lado. O confronto foi breve, mas intenso: dentes, garras e uivos se misturaram num tur
Mas Eidan, com os olhos semicerrados e a postura rígida, recuou um pouco, como se uma barreira invisível o protegesse de algo que ele não podia, ou não queria, aceitar. Seus lábios se comprimiram e ele murmurou:— Eu lembro… Mas não sei se posso acreditar. Você diz que… que somos irmãos? Isso não é possível… Sempre fui dos renegados, fui criado longe de… de qualquer outra coisa que não fosse aquele assentamento.A voz de Eidan carregava a dúvida e a amargura de um passado regado a dor e maus tratos. Clarice, percebendo a hesitação e a dor no rosto do irmão, respirou fundo e se preparou para revelar a verdade que carregava há tanto tempo. Com delicadeza, mas com firmeza, ela se ajoelhou diante de Eidan, fazendo com que seus olhos se encontrassem em um diálogo silencioso de cumplicidade e pesar.— Sei que parece impossível, mas nós somos irmãos, fomos separados ainda muito pequenos, eu tinha apenas dois anos e você era só um bebê. Sempre soube, lá no fundo do meu coração, que havia uma
Quando Eidan despertou, o primeiro raio de luz já começava a espreitar pelo acampamento. Seus olhos se abriram lentamente, e ele sentiu um peso se levantar do coração. Ao notar a presença de Clarice, Gael e Clarck, ele se sentou com dificuldade, ainda tentando reunir os pensamentos dispersos do sonho. Com a voz rouca, mas com uma convicção que parecia nova, ele falou:— Eu... vi uma pessoa em meu sonho. Ela me falou que você está dizendo a verdade, que vocês realmente têm boas intenções. Seu nome é Sidonia, ela garantiu que você saberia quem ela é.O silêncio pairou por alguns instantes, enquanto Clarice sentia o coração acelerar. Lágrimas de alívio e de felicidade silenciosamente escorriam por seu rosto e ela, sem conseguir conter o impulso, se lançou num abraço apertado em seu irmão. O calor daquele abraço parecia aquecer não só os corpos, mas também a alma ferida daquele homem.Gael e Clarck trocaram olhares de satisfação, embora ainda cientes de que o perigo não estava completamen