Mas Eidan, com os olhos semicerrados e a postura rígida, recuou um pouco, como se uma barreira invisível o protegesse de algo que ele não podia, ou não queria, aceitar. Seus lábios se comprimiram e ele murmurou:— Eu lembro… Mas não sei se posso acreditar. Você diz que… que somos irmãos? Isso não é possível… Sempre fui dos renegados, fui criado longe de… de qualquer outra coisa que não fosse aquele assentamento.A voz de Eidan carregava a dúvida e a amargura de um passado regado a dor e maus tratos. Clarice, percebendo a hesitação e a dor no rosto do irmão, respirou fundo e se preparou para revelar a verdade que carregava há tanto tempo. Com delicadeza, mas com firmeza, ela se ajoelhou diante de Eidan, fazendo com que seus olhos se encontrassem em um diálogo silencioso de cumplicidade e pesar.— Sei que parece impossível, mas nós somos irmãos, fomos separados ainda muito pequenos, eu tinha apenas dois anos e você era só um bebê. Sempre soube, lá no fundo do meu coração, que havia uma
Quando Eidan despertou, o primeiro raio de luz já começava a espreitar pelo acampamento. Seus olhos se abriram lentamente, e ele sentiu um peso se levantar do coração. Ao notar a presença de Clarice, Gael e Clarck, ele se sentou com dificuldade, ainda tentando reunir os pensamentos dispersos do sonho. Com a voz rouca, mas com uma convicção que parecia nova, ele falou:— Eu... vi uma pessoa em meu sonho. Ela me falou que você está dizendo a verdade, que vocês realmente têm boas intenções. Seu nome é Sidonia, ela garantiu que você saberia quem ela é.O silêncio pairou por alguns instantes, enquanto Clarice sentia o coração acelerar. Lágrimas de alívio e de felicidade silenciosamente escorriam por seu rosto e ela, sem conseguir conter o impulso, se lançou num abraço apertado em seu irmão. O calor daquele abraço parecia aquecer não só os corpos, mas também a alma ferida daquele homem.Gael e Clarck trocaram olhares de satisfação, embora ainda cientes de que o perigo não estava completamen
A jornada de cinco dias começou com o grupo reunido numa clareira silenciosa, enquanto o sol ainda despontava timidamente no horizonte. Clarice, com o olhar firme mas marcado pela preocupação de ser a loba mãe de um bebê amaldiçoado, liderava o grupo. Ao seu lado, Clarck caminhava com passos largos e atentos, sempre pronto para proteger a todos. Gael seguia em silêncio, relembrando os dias difíceis que vivera. No primeiro dia, o grupo avançou por uma trilha tranquila na floresta. A luz suave da manhã misturava-se às sombras das árvores, e os passos, embora compassados, carregavam a tensão de um destino incerto. Clarice caminhava à frente, mas num dos intervalos, afastou-se um pouco para conversar com Eidan, longe do burburinho do grupo.— Sabe… Comecei tudo isso para encontrar uma solução para a maldição do meu filho. Ele é só um bebe, fez um ano há alguns dias – confidenciou Clarice para seu irmão, com a voz baixa e carregada de angústia.Eidan, olhando nos olhos dela com seriedade,
— Estamos perto — Clarck anunciou, quando pararam um pouco para respirar. — Vamos descansar um pouco aqui, A caminhada seguia com o grupo em ritmo acelerado, mas o clima começou a mudar quando o sol se despedia e a floresta se enchia de sombras alongadas. Foi quando, de repente, um som diferente se fez ouvir, passos apressados e uivos distantes que alertaram todos de um perigo iminente.Nesse exato momento, Eidan sentiu a dor retornar com força total. As marcas em sua pele, que até então haviam diminuído, explodiram em brilho intenso e ele começou a lutar contra a transformação. Seu rosto assumia traços tanto humanos quanto de lobo enquanto fhenrir tentava tomar o controle de seu corpo e fazer a unica cooisa que sabia, matar.— Não podemos parar! — Clarck gritou, agarrando Eidan com firmeza enquanto corria. Gael rapidamente se juntou a ele, e juntos, os dois carregavam o irmão de Clarice, que oscilava entre a dor e a fúria contida, enquanto a ameaça dos renegados se aproximava a cad
A noite já caíra sobre a floresta, envolvendo tudo em um manto de sombras e mistério. O vento sussurrava entre as árvores e o frio cortante fazia cada respiração parecer um lembrete de que o perigo estava sempre à espreita. Foi nesse cenário que os lobos renegados, vindos do assentamento, finalmente surgiram na fronteira da matilha de Garra Sangrenta. Liderados por Ravier, seus passos eram firmes e o olhar carregava a determinação de quem já havia enfrentado muitas batalhas.Ravier conduzia seu grupo com uma postura que misturava respeito e autoridade. Seus olhos, de um tom penetrante, fitavam o horizonte como se já vislumbrasse o que os aguardava. Ele sabia que aquele encontro podia mudar o destino de muitos, e cada movimento seu era medido, cada gesto, uma promessa de que a verdade seria revelada.À beira do território, Guillaume e Sarah, sentiram a presença dos visitantes se aproximando, ultrapassando a barreira protetora que mantinha o local seguro. Guillaume, sempre desconfiado,
A situação atingiu seu clímax quando, após alguns minutos de embate verbal, com palavras ríspidas e sussurros que se misturavam à brisa noturna, Ravier se adiantou, interrompendo o confronto com uma autoridade que só ele possuía. Ele ergueu, com as patas firmes no solo, um pergaminho envelhecido, envolto por um laço simples, mas carregado de significado. Era a carta de Clarck, o documento que selava a missão que os havia trazido até ali.Com voz grave e cheia de convicção, Ravier anunciou:— Companheiros de Garra Sangrenta, viemos com notícias do Alfa. Estivemos com ele e, sob sua orientação, fui enviado para entregar esta mensagem. – Suas palavras ecoaram pela clareira, enquanto ele desenrolava cuidadosamente o pergaminho para que todos pudessem ver o conteúdo.Os olhos de cada membro da matilha se fixaram naquele documento. Nele constava a confirmação de que os renegados haviam ajudado Clarck e Clarice na busca pelo irmão perdido, um fato que, para muitos, representava esperança de
Em meio a tanta emoção, o grupo se acomodou em um amplo salão improvisado, onde mesas de madeira e cestas simples aguardavam o banquete que seria preparado para celebrar a união dos novos membros. A luz suave das tochas penduradas nas paredes criava sombras que dançavam e brincavam, como se estivessem contando histórias ancestrais de coragem e superação.John, agora diante de todos, ergueu a voz para pronunciar as palavras que selariam aquele momento histórico:— Hoje, não celebramos apenas a chegada de novos irmãos e irmãs à nossa matilha. Celebramos a continuidade de nossa história, a união de corações que, mesmo feridos pelo passado, se recusam a se dividir. Cada um de vocês carrega em si a essência de Garra Sangrenta, e é com imenso orgulho que os acolhemos de braços abertos.Houve uma breve pausa enquanto suas palavras se espalhavam pelo salão, fazendo com que os olhares se encontrassem e os corações se aquecessem com a sensação de pertencimento. Entre os rostos, era possível ver
Uma chuva fina começou a cair lá fora quando Clarice finalmente chegou à casa de Loren. O caminho de terra parecia interminável, e cada passo carregava o peso de uma noite longa e de um coração inquieto. Estava exausta mas conseguiu despistar os renegados depois de algum tempo de corrida, então o esforço havia valido a pena. Ao avistar a silhueta da casa, uma construção simples de madeira com janelas que brilhavam sob a luz amarelada de uma lareira que vinha de dentro, Clarice sentiu um alivio tão grande que a fez suspirar.Logo na entrada, Loren a aguardava, seus olhos, grandes e cheios de preocupação, se iluminaram ao ver a luna que, naquele momento, já considerava sua amiga, mas logo se fecharam em traços de cansaço e inquietude.— Que bom que chegou bem! — disse Loren, abraçando-a com um afeto que misturava alívio e ansiedade.— Os rogues são muito insistentes, precisei correr muito para despistar todos antes de vir pra ca. Não se preocupe, não vão achar sua casa, ao menos não hoj