Na manhã seguinte, Clarice começou o dia cedo na floricultura. A rotina era a mesma: organizar flores, atender clientes, preparar arranjos. A repetição ajudava a afastar os pensamentos sobre Lycans, lobos e vínculos. Clarck não havia dado notícias desde o dia anterior e, por um lado, aquilo era bom, afinal, ela precisava de um tempo. Tinha muito no que pensar, muito para decidir, e ficar tão perto de Clarck nublava seus pensamentos, principalmente depois da noite que tiveram.Quando o relógio marcava meio-dia, Sarah apareceu, carregando uma bolsa de couro surrada. Seus olhos brilhavam com uma mistura de excitação e nervosismo.– Preciso te mostrar uma coisa – disse Sarah, depois de olhar ao redor e se certificar de que estavam sozinhas na loja.Curiosa, Clarice se aproximou, Sarah abriu a bolsa e tirou um pequeno vaso com uma flor ainda fechada.– É só algo simples, mas... – Sarah fechou os olhos e sussurrou palavras que Clarice não conseguiu entender. Lentamente, a flor desabrochou,
Clarice sentia o ar rarefeito se tornando um fardo pesado nos pulmões enquanto Lucian a segurava pelo pescoço, seus dedos apertando com uma força monstruosa. Ela tentava se libertar, mas era como se estivesse lutando contra uma parede de concreto. Os olhos dele, amarelados e selvagens, não mostravam nada além de ódio e uma determinação cruel.– Pare com isso! – gritou ela, ou pelo menos tentou, já que o som saiu abafado.Lucian inclinou a cabeça para o lado, como um predador estudando a presa antes de devorá-la.– Você não entende, Clarice. – Sua voz era profunda, quase um rosnado, o que a fez estremecer. – Eu tentei fazer disso algo bom para nós dois… Mas você é a salvação da minha raça, eu não vou deixar aquele lobinho com síndrome de alfa tirar você de mim.– Isso é ridículo! – rebateu ela, ainda tentando afastar as mãos dele. – Eu sou humana! Não tenho nada a ver com sua raça!Ele riu. Era um som seco, sem qualquer traço de humor, e carregado de algo muito mais sombrio.– Sua mãe
Quando Clarice recobrou a consciência, o primeiro sinal de alerta foi o cheiro. O ambiente cheirava a mofo, poeira e madeira podre, e o ar estava frio e pesado. Seus olhos se abriram lentamente, a visão embaçada até que ela conseguiu distinguir o teto deteriorado acima de si.Tentou se mover, mas seus pulsos estavam presos. Olhou para os lados e viu que estava deitada em uma cama velha, as mãos amarradas à cabeceira de ferro enferrujado. As cordas apertavam tanto que a pele estava vermelha e machucada.– Socorro! – gritou, a voz rouca e desesperada.O eco de seus próprios gritos foi a única resposta. O lugar parecia completamente deserto, era um tipo de quarto, mas a estrutura mal estava de pé e havia buracos nas paredes, tudo estava chamuscado, como se, em algum momento no passado, tivesse sido alvo de um incêndio. Foi então que ela ouviu passos. Lentos, pesados, cada um reverberando como um lembrete de que ela estava à mercê de seus captores.A porta rangeu ao se abrir, revelando T
A casa da avó de Sarah exalava um aroma suave de ervas e flores secas, Sarah mantinha tudo como Elaina gostava, se sentia mais perto da avó desse jeito. As prateleiras estavam abarrotadas de frascos de vidro com etiquetas escritas à mão, contendo de tudo, desde folhas de sálvia a pedaços de cristais. Um relógio de parede marcava o tempo com um tique-taque suave, contrastando com a inquietação crescente que Sarah sentia. A luz do fim de tarde entrava pelas janelas, iluminando o ambiente de forma acolhedora, mas, naquela tarde, havia algo no ar que não era tão reconfortante quanto de costume.Sentada à mesa de madeira desgastada, Sarah tentou ignorar a tensão crescente em seu peito. Mas, conforme os minutos passavam, o sentimento se tornava insuportável. Um aperto profundo e inexplicável a fez se curvar ligeiramente, pressionando a mão contra o coração. Sentia todo seu corpo vibrar, era como se estivesse recebendo um aviso, como se alguém estivesse tentando falar algo e ela não consegui
Na floresta, Clarck caminhava nervosamente pelo pátio principal da alcatéia. O vento uivava entre as árvores e a noite começava a cair, trazendo consigo uma sensação de urgência. Sua mente estava em tumulto, mas sua decisão já havia sido tomada. Ele precisava agir. Não havia tempo para reunir um grupo ou formular um plano detalhado. Ele tinha que ir até Clarice, agora.“Não podemos esperar”, a voz de Dorian ecoou a mente dele, tão urgente quanto a sua própria. “Ela está em perigo, precisamos ir agora!”— Vamos agora... Aguente, Clarice, aguente… — Clarck fechou os punhos, sentindo o calor da transformação ameaçando romper sua pele. — Se algo acontecer a ela porque eu hesitei...Dorian permaneceu em silêncio por um momento antes de finalmente responder:“Vou matar qualquer um que entre em nosso caminho… Não vai sobrar nada dos desgraçados que ousaram tocar na minha companheira!”, o lobo rugiu, alimentando a raiva de Clarck com a sua própria, estava igualmente determinado, não restaria
O ar estava carregado de tensão, como se a própria natureza segurasse a respiração em antecipação ao confronto. Dorian e Lucian estavam frente a frente, suas formas lupinas irradiando poder bruto e uma hostilidade palpável. O som de seus rosnados reverberava pela clareira, misturando-se ao uivo do vento que cortava o silêncio, o sol já havia se posto, e a grande lua começava a surgir no céu, imensa, banhando tudo com sua luz prateada.As duas criaturas se encaravam rondando um ao outro, havia rolado para fora da mansão em pedaços e agora, ali, encarando-se odiosamente, estavam prontos para lutar, cada um por seus próprios motivos. O vento soprou forte, levantando folhas e fazendo as sombras das árvores dançarem como espectros. A tensão era quase insuportável. Lucian flexionou os músculos, preparando-se para atacar, seu corpo imenso salpicado por pelos deixando claro que não iria parar até matá-lo. O Lycan era muito maior que o lobo, mas Dorian não tinha medo, ele respondeu da mesma f
Do lado de fora, a batalha continuava, Lucian estava com o pescoço de Dorian entre seus dentes, prestes a dar o golpe final. O corpo do alfa estava ensanguentado e inerte, mas Lunna sabia que ele ainda estava vivo. Sentia as batidas do coração de seu companheiro vibrando sob sua pele, avisando-a que estava sem tempo. A primeira transformação era sempre as mãos dolorosa, mas ela não tinha tempo para pensar na dor, seu grito ecoou por toda floresta e o som de seus ossos se quebrando chamou a atenção dos dois lobos, os olhos vermelhos de Dorian se abriram, encarando o que acontecia ha apenas alguns metros dele. O corpo pequeno e frágil de Clarice deu lugar a uma imensa loba, era maior do que qualquer outro de sua espécie, chegando a altura do Lycan, talvez até um pouco maior que ele. Seus olhos prateados estavam fixos em Lucian e seu rosnado pareceu fazer a floresta virar.Lucian largou Dorian no chão, surpreso com a aparição repentina da loba branca. Ele rosnou, mas a única coisa que
O retorno à alcateia Garra Sangrenta foi um misto de alívio e tensão. As árvores altas lançavam sombras alongadas sob a luz do sol que estava nascendo, e o vento carregava o aroma úmido da terra e folhas secas. Cada membro da alcateia parecia sentir o peso do momento, com olhares furtivos e passos hesitantes. Clarice não conseguia afastar a imagem de Clarck ferido, ele sempre foi tão forte para ela, as duas únicas vezes que o viu vulnerável foram culpa da mesma pessoa, Lucian… Ninguém sabia do paradeiro de Lycan. Ao longe, o uivo solitário de um lobo cortou o silêncio, um lembrete de que eles estavam de volta ao território ancestral, onde o sangue e a lealdade eram as regras que governavam tudo, território dos renegados. Clarice sentia certa familiaridade com aquelas terras,por algum motivo, era como se conhecesse aquela floresta como a palma de sua mão, mas não pensou sobre isso naquele momento, tinha outras preocupações. O grupo atravessou a floresta em silêncio, exceto pelo som a