A jovem questionava-se até quando resistiria antes de sucumbir à escuridão.— Pare com isso — ela ouviu-se suplicar num sussurro quase inaudível. — Pare...As sombras contorciam e retorciam-se dentro dela, dançando, sinuosas e insidiosas, como serpentes de pura escuridão, cada movimento despertando ondas de sensações que percorriam seu corpo, concentrando-se nas terminações nervosas do clitóris, onde o prazer e a dor se enleavam num frenesi indistinguível. Sobre o altar de pedra negra, a amazona arqueava-se, sua silhueta iluminada apenas pelo brilho fraco e pulsante dos símbolos arcanos que cobriam sua pele.Tupã saltara pelas sombras, atingindo destinos que sua memória podia alcançar. Quando não podia contar com a memória, ele usava o próprio raio de visão a seu favor, agilmente rompendo distâncias, de novo e de novo, até chegar numa trilha que o levara até uma colina rochosa, que descia abruptamente em direção ao Vale Negro.Tupã havia parado à beira do precipício, os olhos fixos no
Repentinamente, tentáculos de sombra irromperam do nada, arremessando-se contra Tupã com a ferocidade de negras serpentes. Eles cortavam o ar, sibilando como infernais cascavéis. Tupã desapareceu num salto evasivo, evitando por pouco que a escuridão pulsante o atingisse pelas costas. Quando reapareceu, fragmentos de pedra e poeira voavam a seu redor, conforme desferia um vigoroso chute na nuca do agressor.O sujeito era alto e robusto, envolto num anorak preto e amplo, o capuz obscurecendo inteiramente seu rosto.Um escudo de escuridão se materializara para sustar o choque.Numa fração de segundos. Mesmo assim, o impacto do chute arremessou-o para frente, e ele guinchou de dor ao ralar-se de barriga contra o chão rochoso. Uma rocha o interceptou a alguns metros dali, arrancando-lhe um grunhido abafado. Gemendo, o encapuzado levantou-se, xingando numa gutural língua desconhecida. Seus olhos, penetrantes, fixaram-se em Tupã como se buscassem algo além da superfície — algo que só a noite
A tenda de Donaldo seguia impregnada pelo aroma quente de vinho, suor e luxúria. A penumbra, cortada apenas pela luz tremulante das lamparinas, dançava sobre corpos enleados, pele contra pele, respirações sussurradas preenchendo o silêncio da madrugada.E por um momento, Donaldo se permitiu acreditar que ainda era um homem comum.Que ainda era apenas um explorador ambicioso, um senhor de guerra saboreando os frutos da vitória.Uma concubina, de cabelos dourados como o sol e olhos verdes faiscantes, deslizou sobre ele, os dedos traçando caminhos preguiçosos em seu peito desnudo.— Meu senhor está inquieto esta noite... — murmurou ela, a voz melíflua e sedutora.Donaldo forçou um sorriso, um vestígio de charme ainda preso às sombras que agora o habitavam.— Muita coisa em minha mente, minha querida.A mulher sorriu, os macios lábios roçando em sua mandíbula, manchando-a de rubro.— Então deixe-me aliviar seu fardo.Donaldo cerrou os olhos, entregando-se à sensação. Havia algo anestesian
O som das gotas de chuva tamborilando contra as telhas desgastadas era o único ruído que quebrava a quietude do aposento. A fraca iluminação das lamparinas oscilava, projetando sombras alongadas sobre as paredes de madeira enegrecidas pelo tempo. A sala estava vazia, exceto por uma única figura sentada sobre um trono de ébano, esculpido com inscrições antigas que sussurravam segredos de eras esquecidas.Arikhan, o Espectro do Eclipse, não se movia. Seus olhos, duas fendas gélidas sob o capuz negro, estavam fixos na lâmina curta em sua mão — uma adaga de prata escura, o fio imaculado refletindo a pouca luz da sala.Foi quando a porta deslizou silenciosamente, sem um único rangido.Uma figura encapuzada entrou, ajoelhando-se diante do trono.
A escuridão era viva.Ondulava.Pulsava.Sussurrava seu nome.Yara via-se presa dentro de um oceano negro e sem fim, como se tragada por uma amplitude onde tempo e espaço não significavam mais nada.Não havia chão sob seus pés.Nem teto sobre sua cabeça.Apenas sombras, retorcidas como raízes de uma árvore doentia, sussurrando palavras inefáveis.No início, ela tentou lutar. Tentou se mover, gritar, arrancar-se daquilo. Mas não havia nada a que pudesse se agarrar.Então, as sombras começaram a mostrar-lhe imagens.Primeiro, flashes distantes.Uma fogueira numa noite de lua cheia.O brilho do olhar de Tupã conforme sussurrava promessas em seu ouvido.O calor das mãos dele deslizando por sua pele.O coração de Yara cavalgando.Era uma lembrança?Ou estava acontecendo agora mesmo?A cena mudou.Ela estava numa clareira banhada pela luz prateada da lua.O ar cheirava a folhas molhadas e... terra recém-revolvida.À sua frente, Tupã se erguia, olhando-a com a intensidade de sempre.Mas algo
A noite no acampamento de Donaldo nunca era plenamente silenciosa.O vento arrastava indistintos murmúrios.Os passos pesados dos mercenários ressoavam ao longe.E o ocasional riso dissoluto de um homem embriagado cortava a escuridão como uma lâmina enferrujada.Mas naquela noite... para Eliza, a quietude parecia asfixiante.Depois da grotesca cena em que uma mulher tentara matar Donaldo e fora arrastada, esperneando, pelos soldados, Eliza sentiu uma inquietação crescer em seu peito.Ela nunca questionara a natureza cruel de Donaldo, nem as histórias sobre sua aliança com Naaldlooyee. Não era tola; sabia, sabia que os rumores escondiam verdades sombrias.Mas o que testemunhara naquela noite era diferente.A mulher gritara "monstro" repetidamente.E o olhar de Donaldo... aquele olhar... não era humano.Ela tremeu ao recordar o momento em que ele desaparecera nas sombras e ressurgira para imobilizar a agressora. As sombras não se moveram ao acaso. Elas responderam a ele.Agora, deitada
A escuridão se estendia como um oceano sem fim.Silenciosa.Abissal.Viva.Donaldo flutuava nesse vazio, sua consciência oscilando entre o mundo desperto e algo além da compreensão. Ele não estava dormindo, mas também não estava desperto. Estava em algum lugar entre os dois, onde as sombras sussurravam segredos esquecidos e o tempo se curvava sob uma vontade maior.Então, ele o viu.Naaldlooyee.O Lorde das Sombras Abissais emergiu do negrume como uma figura esculpida na própria noite, seu manto um borrão indistinto entre o real e o irreal, sua presença uma ondulação no tecido do próprio universo.— Está pronto para aprender, Donaldo? — A voz do bruxo não foi ouvida, mas sentida, como um sussurro rastejando pela mente do explorador.Donaldo sentiu um arrepio subir por sua espinha. Já aprendera a manipular sombras, já se tornara algo mais do que um mero homem. Mas agora… agora Naaldlooyee falava de algo diferente.— O que mais há para aprender? — Donaldo perguntou, tentando soar inabal
Vendo uma brecha, Tupã desapareceu em pleno ar, sua silhueta dissolvendo-se no escuro como fumaça ao vento. Ele reapareceu em outro ponto, ainda no ar, e com um movimento sutil, lançou um frasco de vidro em direção ao altar. Tentáculos de trevas emergiram do abismo, tentando interceptar o projétil, mas tarde demais. O vidro se estilhaçou, respingos do líquido sagrado voando em todas as direções. Os tentáculos contorceram-se e retorceram-se violentamente, como se queimados por um invisível fogo, e gordas gotas caíram sobre o altar negro, sibilando como água em metal incandescente.Um lampejo de escuridão tremeluzente inundou o vale por um instante, seguido por um chiado agudo, como se as próprias sombras gritassem de dor. Mas Tupã não parou para observar. Ele já emergia de outro ponto, seus movimentos fluidos e certeiros. Num gesto veloz, arremessou mais dois frascos, as trajetórias cruzando-se no ar como lâminas ocultas, descrevendo um X perfeito. Novamente, tentáculos de trevas surgi