Arqueando as sobrancelhas, a filha do Sr. Moretti me encara de cima a baixo e logo abre um sorriso de desdém, como se a minha presença aqui fosse algo irrelevante. Sem esperar minha permissão, Bianca entra no apartamento e caminha até a sala de estar, com uma familiaridade que me assusta.— Ciao, Giovanna. — ela diz, com sua voz carregada de ironia. — Matteo não me disse que estava acompanhado. — Bem, como esposa dele, é natural que eu esteja presente em nossa casa, não acha? — Claro! Eu sempre esqueço que o casamento de vocês foi uma união tão... tradicional. — a loira provoca com sarcasmo. Ela permanece em silêncio por breves minutos, até voltar a destilar seu veneno. — E por falar nisso, já teve a oportunidade de usufruir de outras coisas, além do sobrenome de Matteo?— Você não faz ideia… E o melhor é que nem precisei das suas dicas. Ele mesmo faz questão de me ensinar seus gostos, noite após noite. — comento no mesmo tom irônico. — Pelo visto, seu conhecimento quanto aos gostos
Após outra de nossas esclarecedoras conversas, encerramos a noite da melhor forma possível. Matteo, ao contrário do homem impaciente que dizia ser, parece dedicado a me moldar conforme sua vontade. Desta vez, estou adorando isso.Quando os primeiros raios de sol surgiram entre as cortinas, levantamo-nos e nos preparamos para ir até Milazzo. Embora minha vontade fosse dormir até me recuperar dos ensinamentos do meu marido, a ansiedade de ver aqueles que fizeram parte da minha vida nos últimos meses me impediu disso.Após concluir nosso desjejum, vamos em direção à mansão à beira-mar para onde Don Pietro foi levado quando as verdadeiras intenções de Luigi foram reveladas.Durante todo o trajeto, tento manter uma conversa com Matteo, mas meus pensamentos parecem não querer colaborar com isso. Afinal, é o primeiro aniversário dele que passamos juntos, e eu não faço ideia de qual presente dar a ele.Ao cruzarmos o majestoso portão da mansão à beira-mar, minha atenção é capturada instantane
“Por Matteo Villani”Após aproveitar alguns dias de paz ao lado de Giovanna, infelizmente me vejo obrigado a reassumir meu papel na liderança da La Tempesta. Os murmúrios ecoam na sala de reuniões na ala sul da mansão, enquanto observo atentamente cada rosto presente.Apesar da confiança depositada em Fabrízio, que assumiu a liderança durante minha ausência, me mantive informado sobre todos os acontecimentos ocorridos nesses dias. Ao perceber alguns olhares durante a reunião, como se eu estivesse alheio aos acontecimentos, não posso deixar de sorrir.— É inadmissível que essa investigação se estenda a todos os clãs, Don Matteo! — Angelo, caporegime da família Esposito, vocifera.Observo seu comportamento, claramente incomodado com a atenção que seus negócios estão recebendo. O que ele sequer imagina é que essa investigação se destina especialmente aos caporegimes, incluindo-o, devido ao provável envolvimento com a Cuore Nero.— Com o seu retorno, espero que ensine aos seus soldados a
Por longos minutos, percorro os principais locais onde ela poderia estar, mas, mais uma vez, ela não está em lugar nenhum.— Viu a Giovanna? — pergunto a Fabrízio ao voltar para a sala de estar.— A última vez que a vi, estava com Chiara no jardim. Você sabe o quanto Giovanna ama aquele lugar; talvez ainda estejam por lá. Por que esse estresse, caro?— Porque acredito que elas não tenham se transformado em orquídeas. Não está no jardim, Fabrízio. Também não está em nenhum outro canto. — afirmo, passando a mão no rosto. Os olhos de Fabrízio se estreitam rapidamente. — Giovanna não sairia assim, sem avisar a ninguém.— Impossível que alguém tenha entrado aqui, Matteo.— Exatamente, é impossível. Mas ela pode ter acompanhado alguém que não despertasse suspeitas, não acha? — questiono, observando a fisionomia dele se transformar.— Está insinuando que Chiara pode ter sequestrado a Giovanna? — questiona, soltando uma risada enquanto nega com a cabeça. — Impossível, caro. A família Rossi col
“Por Giovanna Villani”Mesmo ocupada com a busca pelo presente de Matteo, percebi uma sutil mudança no comportamento de Chiara desde o momento em que a encontrei no jardim. Apesar de suas tentativas de disfarçar, demonstrando interesse em me ajudar, seus pensamentos dispersos e inquietude revelaram que algo a incomodava.Como se antecipasse a possibilidade de questionamentos, Chiara sugeriu que aproveitássemos a reunião para procurar pessoalmente o presente do meu marido. Desejando um momento de normalidade em meio ao caos, aceitei a proposta sem hesitação. Assim, viemos ao shopping.Enquanto a ruiva e eu conversamos amenidades, me perco nas vitrines das lojas, decidindo o que dar para Matteo. Roupas, sapatos, cuecas... No entanto, nada parece estar à altura do Don da La Tempesta. Foi ao passar em frente à joalheria que finalmente vejo algo que chama minha atenção imediatamente.— Acho que encontrei! — exclamo para Chiara, apontando para um relógio dourado com diamantes cravejados em
Sem dar chance a questionamentos, Matteo segura minha mão e me conduz até o estacionamento. Em silêncio, entramos no carro, e ele logo começa a dirigir. Com uma expressão irritada e os dedos sem cor de tanto apertar o volante, por alguns minutos, seu olhar permanece fixo na estrada.— Eu não queria te deixar assim... — tento argumentar, mas seu olhar me cala antes que eu possa completar a frase.— Você tem noção do medo que senti quando te procurei e não encontrei? Tem ideia do caos que aconteceu até conseguir localizar você?— Não imaginei que tudo isso se tornaria um problema, Matteo!— Mas se tornou, Giovanna. Você deveria ter me comunicado ou, no mínimo, levado algum soldado com você.— Só queria te fazer uma surpresa. Isso não vai mais se repetir. — afirmo, baixando o olhar. Por breves minutos, mantenho os olhos fixos na paisagem lá fora, suspirando como uma criança que cometeu um erro imperdoável.— Me desculpe, principessa. — ele pede, acariciando minha perna. — Prometi para mi
“Por Giovanna Villani”Após minha busca pelo presente ideal, que causou um estresse desnecessário e a morte de dois coelhinhos inocentes, a consequência foi estar sempre acompanhada pelos melhores soldados da La Tempesta, não importa para onde vou.Algumas semanas se passaram desde então. Em meio à realidade que nos cerca, os dias estão razoavelmente tranquilos. Don Matteo, visivelmente mais estressado e preocupado desde o seu aniversário, esforça-se para manter sua rotina como sempre.Como não poderia diferir, a fim de cumprir seus compromissos à frente da empresa dos Villani, meu marido terá que viajar a trabalho para Nova York. Seu instinto protetor não permitiu que ele me deixasse sozinha em Messina. Para alguém como eu, que transformou nosso apartamento em um refúgio solitário na maior parte do dia, a perspectiva de ver outras pessoas sem o medo iminente foi encantadora.Após algumas horas de voo, chegamos à Cidade que Nunca Dorme com os primeiros raios de sol tingindo o horizonte
Três dias se passaram desde que chegamos a Nova York. Após a desastrosa experiência com o café da manhã, escolhi minhas refeições com mais cuidado, optando por pratos familiares. Com isso, os terríveis enjoos diminuíram e eu espero que parem de vez.Mesmo sabendo que essa viagem seria de negócios, confesso que senti falta de ter Matteo ao meu lado, mas tentei não demonstrar. Para conseguir vencer o tédio que me acompanhou durante esses dias, tentei me manter distraída ao explorar as dependências do hotel, sempre na companhia quase imperceptível de Luca e outros soldados.Na manhã do terceiro dia, sou surpreendida ao despertar com Matteo deitado ao meu lado. Suas costas descansam no colchão, um braço estendido na minha direção e o outro repousando sobre o peito. Aparentemente, num sono tranquilo.Sorrio enquanto me viro devagar para apreciar o momento, mas a vigilância inerente ao sono leve do meu marido interfere na minha tentativa, breves minutos depois.— Buongiorno, mia ragazza. —