Olho em direção a Fabrízio, que parece uma criança diante de um parque de diversões, e percebo a tensão aumentar no ar. Volto meu olhar para o traidor, que rapidamente muda sua fisionomia.— O que você planeja, Don Matteo? — o caporegime indaga, num tom desafiador. Enquanto apago o cigarro no cinzeiro, a atmosfera carregada preenche o ambiente.— Vamos descobrir juntos, Angelo. Mas não se preocupe, você terá bastante tempo para refletir sobre suas escolhas. Se for resistente, claro.— Você sabe que não pode fazer isso, Don Matteo. Conhece a influência inabalável do meu clã dentro da La Tempesta, e a família não aceitaria sua decisão! — ele exclama, apelando para o prestígio que seu sobrenome carrega há anos no submundo.— Estou pouco me fodendo por sua influência, porque ela acaba aqui. Seu envolvimento com a Cuore Nero e o tráfico humano já estão comprovados, Angelo, ou você não estaria aqui. Foi justamente por precisar dessas porras de provas que não te matei junto a Marco. Pare com
“Por Giovanna Villani”Graças ao medicamento recomendado pelo Dr. Colombo para amenizar os enjoos constantes, que ele sugeriu até o início do pré-natal - marcado para daqui a alguns dias -, consegui ter alguns dias de paz.No entanto, após o almoço, começaram a surgir algumas cólicas leves. Na tentativa de evitar preocupações desnecessárias, recordei as palavras do médico sobre esses sintomas serem comuns em gestações de aproximadamente oito semanas.Depois de passar o dia inteiro com esse desconforto, ao terminar o jantar, decido tomar um banho antes de me deitar e esperar Matteo chegar. Contudo, ao retirar minha roupa e deparar-me com uma mancha de sangue na calcinha, meu coração começa a bater acelerado."Sem pânico, Giovanna," murmuro enquanto me enrosco no roupão, após um banho rápido. "O Dr. Colombo certamente terá uma explicação plausível para me acalmar."No entanto, após várias tentativas de ligar tanto para o médico quanto para Matteo, sem resposta de ambos, a apreensão tomo
Quando a médica sai, Matteo solta um longo suspiro e retira seu terno. As marcas de sangue nas mangas da sua camisa branca evidenciam por que tive tanta dificuldade em conseguir falar com ele. Embora eu imagine o que ele estava fazendo, não consigo esconder minha preocupação.— Não. — ele diz ao sentar-se ao meu lado na cama, sem me dar a chance de fazer perguntas. — Nenhuma gota pertence a mim. O que aconteceu para ameaçar os olhos do meu soldado e vir parar aqui, Ragazza?— Se eu soubesse que para conseguir falar com Don Matteo só precisava ameaçar um dos teus soldados, teria poupado a quebra das regras da família. — afirmo, tentando trazer um pouco de leveza à situação, o que arranca uma risada dele.— Tudo bem deixar seu instinto materno falar mais alto, Principessa. Está tudo bem com você e o nosso bambino?— A Dra. Giulia disse que, aparentemente, está tudo bem, mas faremos uma ultrassonografia para confirmar. Me desculpe pelo exagero, mas quando vi o sangue e não consegui falar
O som dos meus passos ecoa pelos corredores do hospital enquanto eu procuro desesperadamente por um lugar seguro. Os minutos se arrastam, e minha respiração é interrompida pela ansiedade.Ao encontrar um armário entreaberto, sem hesitar, entro e fecho a porta, encontrando um refúgio temporário. A cólica que sinto parece ser apenas um grão no turbilhão de emoções que me aflige.O ar parece pesado, e respirar torna-se quase impossível não apenas devido ao espaço claustrofóbico, mas também pelos flashes da cena macabra que persistem, criando um loop incessante em minha mente.Há pouco mais de um ano, aquele homem entrou na minha vida, apresentando-me ao inferno. Quem poderia imaginar que o encontrar novamente, quando tudo já estava esquecido, me levaria a reviver o pesadelo mais uma vez?Os minutos se esticam, dando a impressão de já terem passado dias, e o som abafado do tumulto lá fora é uma cruel trilha sonora para minha agonia. No escuro do armário, me vejo rezando baixinho, pedindo
“Por Giovanna Villani”A luz fraca que me rodeia revela um ambiente desconhecido, e a dor latejante em minha cabeça compete com a confusão que domina meus sentidos. A primeira coisa que percebo é a ausência de movimento, o silêncio que se estende ao meu redor, e uma sensação de frieza que penetra meus ossos.Ao me mexer, noto que estou deitada em uma cama desconfortável, com lençóis encardidos. Observo a sala mal iluminada, com paredes descascadas e uma única porta de metal, sem janelas para o mundo exterior.Ao sentir a cólica novamente, instintivamente, me ergo e inclino o corpo para frente. O alívio surge ao perceber a ausência de uma nova mancha de sangue entre as minhas pernas, mesmo em meio à situação desesperadora.“Piccolo, juro que sairemos daqui.” Murmuro, explorando o ambiente ao redor. “Você precisa ser forte, por favor! Em breve, estaremos com seu papà.”Sinto minha voz embargar e um nó se formar em minha garganta. Não faço ideia de como escapar daqui, nem se Matteo está
Abro os olhos lentamente, ainda sentindo o toque asqueroso de Luigi sobre minha pele. A repugnância permanece pelo que parece uma eternidade, mas um alívio momentâneo toma conta de mim ao perceber que ele foi interrompido.Com um novo ruído metálico vindo da porta, a mão indecente que me agarrava é repentinamente retirada e ele se afasta. Um sorriso falso brota em seu rosto, como se estivesse aqui inocentemente.Levanto meu rosto enquanto enxugo as lágrimas e vejo um senhor de cabelos grisalhos e semblante severo, trajando um terno escuro que exala respeito. Seus olhos frios analisam a cena e a atmosfera muda instantaneamente.— Don Gattuso, que prazer inesperado vê-lo aqui. — Luigi diz, colocando as mãos nos bolsos da calça para disfarçar sua ereção nojenta.— Sabe que nós, da Cuore Nero, somos acolhedores e, como um bom anfitrião, vim dar as Boas-vindas à nossa hóspede. — O homem afirma, se aproximando de mim. Ele segura a minha mão para beijá-la, espetando minha pele com sua barba.
“Por Fabrízio Villani”Após uma semana desde o atentado ao hospital, Matteo demonstrou, enfim, algum sinal de melhora em seu quadro médico. No início da tarde, após ter resolvido todas as pendências, visto que todas as obrigações lícitas e ilícitas sobraram para mim, chego ao hospital.Enquanto aguardo a preparação para a transferência de Matteo para o quarto, pego um café e me sento na sala de espera. Não demora para que Luca surja, com uma péssima fisionomia.— Precisamos tirar Don Matteo daqui. — Ele murmura, olhando ao redor enquanto se senta ao meu lado antes de voltar a falar. — Os informantes dentro da Cuore Nero deixaram claro que Luigi tem algo planejado para a transferência de Matteo, Fabrízio.— Eu duvido muito que alguém tente fazer algo aqui dentro, Luca. Esse hospital pertence à La Tempesta; todos aqui são nossos associados.— Sabemos que mesmo nas melhores famílias sempre há alguém disposto a se vender facilmente, consigliere. — o soldado afirma, num tom autoritário. —
Num movimento rápido, levanto-me da cama, ignorando a fraqueza que me consome. Ao deparar com a faca tremula na mão de Isabella, meus instintos de sobrevivência prevalecem sobre a dor e a tristeza. A necessidade de agir torna-se evidente. Ignoro seu olhar assustado e rancoroso, encarando-a para ocultar meu medo. — Mais um passo e eu corto a sua garganta, Giovanna! — ela vocifera, sua voz trêmula. — Isabella, eu não sei por que você está assim, mas, por favor, abaixe essa faca! — Não me diga o que fazer! — a Ragazza grita. Fazendo um esforço enorme para conter as lágrimas, Isabella inclina a cabeça para trás e respira profundamente, proporcionando-me a oportunidade perfeita para agir. Contudo, em vez da reação negativa que eu antecipava, enquanto seguro seu pulso, forçando-a a soltar a faca, ela usa o outro braço para cobrir os olhos. — Por que você tinha que aparecer em nossas vidas? — ela questiona, com a voz embargada. Ao baixar a cabeça, fixando seu olhar no meu, vejo lágrimas