“Por Giovanna Villani”A luz fraca que me rodeia revela um ambiente desconhecido, e a dor latejante em minha cabeça compete com a confusão que domina meus sentidos. A primeira coisa que percebo é a ausência de movimento, o silêncio que se estende ao meu redor, e uma sensação de frieza que penetra meus ossos.Ao me mexer, noto que estou deitada em uma cama desconfortável, com lençóis encardidos. Observo a sala mal iluminada, com paredes descascadas e uma única porta de metal, sem janelas para o mundo exterior.Ao sentir a cólica novamente, instintivamente, me ergo e inclino o corpo para frente. O alívio surge ao perceber a ausência de uma nova mancha de sangue entre as minhas pernas, mesmo em meio à situação desesperadora.“Piccolo, juro que sairemos daqui.” Murmuro, explorando o ambiente ao redor. “Você precisa ser forte, por favor! Em breve, estaremos com seu papà.”Sinto minha voz embargar e um nó se formar em minha garganta. Não faço ideia de como escapar daqui, nem se Matteo está
Abro os olhos lentamente, ainda sentindo o toque asqueroso de Luigi sobre minha pele. A repugnância permanece pelo que parece uma eternidade, mas um alívio momentâneo toma conta de mim ao perceber que ele foi interrompido.Com um novo ruído metálico vindo da porta, a mão indecente que me agarrava é repentinamente retirada e ele se afasta. Um sorriso falso brota em seu rosto, como se estivesse aqui inocentemente.Levanto meu rosto enquanto enxugo as lágrimas e vejo um senhor de cabelos grisalhos e semblante severo, trajando um terno escuro que exala respeito. Seus olhos frios analisam a cena e a atmosfera muda instantaneamente.— Don Gattuso, que prazer inesperado vê-lo aqui. — Luigi diz, colocando as mãos nos bolsos da calça para disfarçar sua ereção nojenta.— Sabe que nós, da Cuore Nero, somos acolhedores e, como um bom anfitrião, vim dar as Boas-vindas à nossa hóspede. — O homem afirma, se aproximando de mim. Ele segura a minha mão para beijá-la, espetando minha pele com sua barba.
“Por Fabrízio Villani”Após uma semana desde o atentado ao hospital, Matteo demonstrou, enfim, algum sinal de melhora em seu quadro médico. No início da tarde, após ter resolvido todas as pendências, visto que todas as obrigações lícitas e ilícitas sobraram para mim, chego ao hospital.Enquanto aguardo a preparação para a transferência de Matteo para o quarto, pego um café e me sento na sala de espera. Não demora para que Luca surja, com uma péssima fisionomia.— Precisamos tirar Don Matteo daqui. — Ele murmura, olhando ao redor enquanto se senta ao meu lado antes de voltar a falar. — Os informantes dentro da Cuore Nero deixaram claro que Luigi tem algo planejado para a transferência de Matteo, Fabrízio.— Eu duvido muito que alguém tente fazer algo aqui dentro, Luca. Esse hospital pertence à La Tempesta; todos aqui são nossos associados.— Sabemos que mesmo nas melhores famílias sempre há alguém disposto a se vender facilmente, consigliere. — o soldado afirma, num tom autoritário. —
Num movimento rápido, levanto-me da cama, ignorando a fraqueza que me consome. Ao deparar com a faca tremula na mão de Isabella, meus instintos de sobrevivência prevalecem sobre a dor e a tristeza. A necessidade de agir torna-se evidente. Ignoro seu olhar assustado e rancoroso, encarando-a para ocultar meu medo. — Mais um passo e eu corto a sua garganta, Giovanna! — ela vocifera, sua voz trêmula. — Isabella, eu não sei por que você está assim, mas, por favor, abaixe essa faca! — Não me diga o que fazer! — a Ragazza grita. Fazendo um esforço enorme para conter as lágrimas, Isabella inclina a cabeça para trás e respira profundamente, proporcionando-me a oportunidade perfeita para agir. Contudo, em vez da reação negativa que eu antecipava, enquanto seguro seu pulso, forçando-a a soltar a faca, ela usa o outro braço para cobrir os olhos. — Por que você tinha que aparecer em nossas vidas? — ela questiona, com a voz embargada. Ao baixar a cabeça, fixando seu olhar no meu, vejo lágrimas
Longas horas depois, a barca atraca em um pequeno cais de Nápoles, fazendo com que meu coração acelere novamente. O sol do meio-dia ilumina o cais, lançando sombras nítidas sobre as embarcações. Empunho a faca, preparando-me para um possível flagrante, e observo o ambiente ao meu redor.Ouço o murmúrio de três homens que planejam a retirada da carga sem chamar a atenção ao redor. Sem a opção de sair por onde entrei, vislumbro uma pequena embarcação atracada próxima de onde estou e decido sair antes que eles comecem a se aproximar.— Seu pai, certamente, me daria uns tapas na bunda por isso, bambino. — murmuro, com um sorriso tímido, após pular no barco ao lado e quase cair no mar.Aguardando por poucos minutos, finalmente, os homens começam a se ocupar com as cargas. Aproveito o momento e saio rapidamente do barco, misturando-me entre os transeuntes próximos.Passada a tensão, sem a possibilidade de permanecer em um local público e ser encontrada por Luigi, observo um pequeno hotel a
Sentada em um dos bancos no Central Park, a brisa fresca da primavera acaricia meu rosto, enquanto reflito sobre tudo o que aconteceu desde que cheguei aqui. Quase sete meses se passaram desde que tomei a decisão de deixar a Itália e recomeçar em Nova York, traçando um novo caminho longe do caos que Luigi trouxe para minha vida. No início, mesmo convicta de que isso era o melhor a ser feito, quando me vi sozinha em um ambiente desconhecido, a realidade me atingiu como uma bomba. Precisei ser forte para trilhar esse novo rumo, tentando manter a promessa feita a Matteo.Ao decorrer da minha gestação, não tive um minuto sequer em que não imaginasse como seria viver isso com Matteo ao meu lado. O primeiro movimento, primeiro desejo estranho, a descoberta do sexo... Todos os momentos foram um misto de felicidade e saudade. Contudo, me orgulho de ter chegado até aqui.E assim, entre dias leves e dias pesados, onde é impossível conter as lágrimas, aguardo ansiosamente pelo momento que se ap
Aléssio pega o celular e sai apressadamente, enquanto permaneço imóvel, segurando o pingente do meu cordão entre os dedos - uma prática que adotei sempre que necessito manter a calma. Sinto como se, de alguma forma, isso me conectasse a Matteo.Lorenzo parece perceber minha inquietação e começa a se movimentar intensamente, levando-me a dar alguns passos até a janela para me distrair. Minha mãe, notando meu desconforto, se aproxima, colocando uma mão reconfortante em meu ombro.— Figlia, confie em Aléssio. — Ela pede, acariciando meu braço. — Ele prometeu te proteger e está cumprindo isso com dedicação. Você não imagina o quão difícil foi convencê-lo a me trazer até aqui, e olha que sou sua mãe.— Eu sei, mamma. Mas é que… Só de pensar na ideia de ser descoberta aqui, depois desses meses de paz e tranquilidade, sinto arrepios.— Eu te entendo perfeitamente, mas tente não se preocupar desnecessariamente. Não vai acontecer nada com você nem com o Lorenzo. — Ela afirma, segurando minha m
No início da madrugada, enquanto organizo os últimos detalhes para me preparar para ir ao hospital, sinto a ansiedade crescer dentro de mim. Por várias vezes, tentei imaginar como seria quando esse momento chegasse, o dia em que conheceria o amor da minha vida.No entanto, agora que ele chegou, o medo, a apreensão e a insegurança que eu sentia antes rapidamente se dissiparam. Sei que, de onde quer que esteja, Matteo está junto a nós.— Como você consegue ficar tão calma? — Aléssio indaga ao aparecer no meu quarto e me encontrar organizando os itens de higiene na minha necessaire. — Não tem medo de Lorenzo nascer enquanto está aí, separando algodões?— Eu não estou tão calma quanto aparento, Aléssio, você que está muito nervoso. Mas, para a sua tranquilidade, estou sendo monitorada pela médica. — Afirmo, balançando o celular em direção a ele.— Em quanto tempo o Lorenzo nasce? — Eu não sei, nunca tive filhos. — respondo ao me levantar, dando de ombros. — Só sei que pode ser daqui a al