A nova vida de Kalie
Na cidade de Nova Jersey, a vida era um verdadeiro paraíso para a família Rochetti. Era um lugar onde viver, trabalhar e se divertir se fundiam em uma experiência harmoniosa. Eles amavam a cidade com seus parques arborizados, locais históricos e centros artísticos vibrantes. Realmente, Nova Jersey tinha de tudo. No entanto, tudo mudou após o diagnóstico de Aruna. Diante dessa reviravolta na vida da família, eles decidiram se mudar para Nova Iorque, mais especificamente para Manhattan. Raji, o patriarca da família, era um esposo esforçado e atencioso. Trabalhava no hospital geral Mount Sinai e no pronto-socorro Lenox Hill. A mudança para Manhattan facilitaria muito as coisas para eles.
A filha de 17 anos, Kalie Rochetti, havia acabado de concluir o ensino médio e, após se inscrever em algumas universidades, aguardava ansiosamente por respostas. Quando a família chegou em Manhattan, o apartamento que encontraram não era muito grande, mas era um lugar lindo e aconchegante. Dois dias após organizarem a mudança, Kalie se jogou no sofá suspirando, quando seu telefone tocou. Ela pegou o aparelho reclamando baixinho, mas logo deu gritinhos de alegria ao ver o nome na tela.
— Rani! Onde você se escondeu? Por que sumiu? Do outro lado da linha, a voz de Rani parecia cheia de alegria.
— Kalie, menina! É tão bom ouvir sua voz! Acabei de chegar, continuo no aeroporto internacional de O’Hare. Meus avós têm casa em Chicago, então ficarei alguns dias, até finalizar a reforma do meu apartamento em Manhattan.
Enquanto falava, Rani pôde ouvir a amiga suspirar.
— Eu moro agora em Nova Iorque. Faz dois dias que chegamos.
— Isso é maravilhoso! Depois conversaremos. Eu preciso ir agora. Quando chegar em casa, te ligo.
Assim que Rani Devis desligou, Kalie olhou as horas no relógio que carregava no pulso e pulou do sofá. Já passava das 17 horas e ela ainda precisava ir até o mercado. Pegando sua bolsa, saiu de casa.
Rani era mais que uma amiga para Kalie, ela era uma irmã de coração. Desde a infância, compartilhavam uma ligação profunda, marcada pela criatividade e lealdade mútuas. No entanto, a doença de Aruna e a mudança da família de Kalie para os Estados Unidos as separaram. Essa separação deixou Kalie profundamente triste, mas a nova vida em solo americano trouxe consigo uma oportunidade de esperança. Ao longo dos anos, Kalie aguardou com ansiedade o momento em que poderia reencontrar sua melhor amiga, e agora essa oportunidade estava se concretizando de uma forma maravilhosa.
Enquanto caminhava pelas movimentadas ruas de Nova Iorque, Kalie mal podia conter sua empolgação ao pensar no reencontro com Rani. Saber que sua amiga estava de volta em sua vida era motivo de grande alegria para ela. Ela se aproximou do mercado com suas paredes espelhadas e o nome em letras grandes na fachada: 'Fifth Avenue'. Foi então que um garoto se aproximou dela e fez uma pergunta:
— Com licença, você é a filha do Raji? Kalie parou imediatamente e olhou para ele. Era um garoto de cerca de 12 anos, com traços e roupas indianas.
— Quem é você? O garoto apontou para uma loja de especiarias do outro lado da rua e explicou:
— Aquela loja é da minha família. Meu pai mandou eu vir até você. Ele disse que trouxe as correspondências.
Kalie concordou em acompanhá-lo e enquanto caminhavam, ela perguntou:
— Qual é o seu nome? O garoto sorriu para ela e respondeu:
— Hari. E você é a Kalie. Kalie retribuiu o sorriso e perguntou:
— E seu pai, qual é o nome dele?
— Radesh. Respondeu o garoto gentilmente. — Somos todos hindus. Você também é? Kalie não respondeu, mas quando chegaram em frente à loja, ela cumprimentou um senhor de meia-idade que sorriu para ela. Em seguida, entraram na loja, onde o garoto anunciou:
— Pita, aqui está a filha do Raji. Um homem jovem apareceu no balcão, sorrindo.
— Sim. Ele mexeu em algo debaixo do balcão e logo se aproximou de Kalie com um pacote de envelopes. — Eu trouxe isso ontem de Nova Jersey. Seu pai pediu para lhe entregar.
Kalie agradeceu sinceramente:
— Muito obrigada, senhor Radesh. Preciso ir agora, ainda tenho que ir ao mercado.
Ao se despedir da família que a ajudou com as correspondências, Kalie seguiu em passos largos, determinada a chegar em casa antes de seu pai. No entanto, o céu começou a despejar uma chuva repentina, obrigando-a a acelerar o passo para evitar se molhar. Após comprar tudo o que precisava, ela saiu apressada do mercado e seguiu diretamente para casa. Ao entrar, depositou as correspondências na mesa e dirigiu-se à cozinha, sabendo que seus pais logo chegariam. Ainda estava na cozinha quando os ouviu entrando. Aruna foi direto para o quarto, enquanto Raji dirigiu-se à cozinha, onde encontrou Kalie. — O cheiro parece bom. Ele beijou a filha na testa e ela perguntou preocupada: — Como está minha mãe? Raji pareceu suspirar, mas sorriu para acalmar sua preocupação. — Hoje foi um pouco difícil, mas ela ficará bem. Kalie, então, compartilhou sua experiência do dia: — Conheci o senhor Radesh hoje. Ele mandou umas correspondências para o senhor. Raji agradeceu: — Obrigado, querida. Eu vou to
Naquela primeira semana de junho, Kalie estava radiante. Sua mãe havia melhorado bastante desde o último diagnóstico médico, que apontava uma doença cerebrovascular. Essa condição afetava os vasos sanguíneos do cérebro, podendo causar danos em sua estrutura e funcionamento. Kalie e seu pai dedicavam-se a marcar cada momento bom da vida de sua mãe e a relembrá-la quando ela começava a esquecer. Após passarem o sábado juntos no parque em família, Kalie sentia-se realizada. No domingo de manhã, ela partiu para o apartamento de sua amiga em Manhattan. O dia de primavera prometia ser proveitoso. Após um passeio de barco pelo sul da ilha, elas retornaram à noite e aproveitaram o tempo no terraço do apartamento, desfrutando de petiscos e conversando sobre o futuro. Enquanto Rani capturava momentos com sua câmera, Kalie caminhava de um lado para o outro, sorrindo. O vento suave balançava seus cabelos, criando uma atmosfera tranquila e serena. Naquele momento aparentemente comum entre amigas,
Algumas semanas após seu retorno, enquanto Mattia relaxava em seu ambiente familiar, foi interrompido por Antony, seu tio, que o informou sobre a chegada das mercadorias que ele tanto aguardava. Imediatamente, ele se dirigiu ao pátio para verificar pessoalmente as mercadorias, acompanhado por Antony. A presença de seguranças ao redor de sua casa evidenciava a importância e o valor das transações que estavam prestes a ocorrer. Após a verificação das mercadorias, elas foram levadas para um galpão adjacente à casa, onde passariam por uma avaliação detalhada antes de serem preparadas para um leilão programado para a semana seguinte. Consciente do valor significativo desses negócios, Mattia optou por manter em sigilo cinco peças raras, alimentando assim a curiosidade e o interesse dos potenciais compradores. No entanto, a proximidade do leilão foi marcada por uma reviravolta inesperada. Pietro, seu primo, recebeu uma ligação que o deixou indignado, levando-o a comunicar o problema direta
No dia seguinte, Pietro enviou alguém para espionar a família Rochetti. Enquanto isso, Kalie passou o resto da noite no hospital com o pai. Quando ele finalmente recebeu alta, todos seguiram para casa, pois sua mãe estava aos cuidados da vizinha. Aruna, apesar de jovem, tinha uma aparência envelhecida devido à sua saúde debilitada, e Kalie sabia que a mãe não duraria muito. Dois dias depois, enquanto preparava o café da manhã, Kalie olhou para o pai e perguntou com curiosidade: — Não vai me dizer o que realmente aconteceu? Eu estava esperando que o senhor me contasse por vontade própria. Raji olhou para ela incrédulo, como se não entendesse a pergunta, mas Kalie persistiu: — Desculpa, pai, mas eu ouvi a sua conversa com os policiais. Há quanto tempo anda envolvido nesse tipo de coisa? Raji, envergonhado, baixou a cabeça enquanto Kalie continuava: — Por que está mentindo? Se fosse dentro da lei, o Radesh não teria sido sequestrado. Você sabe que esses homens podem vir atrás de nós.
Mais de uma semana depois, quando Kalie e Rani regressaram, receberam a devastadora notícia de que Aruna estava no hospital em estado grave. Sem perder tempo, elas seguiram imediatamente para lá. Raji estava ao lado dela no quarto quando as amigas chegaram, e a atmosfera era carregada de tristeza e preocupação. Quando Kalie entrou no quarto, aproximou-se do pai com angústia evidente em seu rosto. — Como ela está? Perguntou, buscando alguma esperança nos olhos de seu pai. Raji olhou para a filha com ternura, mas sua expressão refletia a dor que estava sentindo. — Mal. Nem sei se passará desta noite. Sua voz estava embargada, carregada de emoção. Foi um momento extremamente triste para aquela família, enquanto Kalie segurava a mão do pai em um gesto de solidariedade. Nesse instante, um enfermeiro entrou na sala, interrompendo o momento de intimidade. — Senhor Rochetti, o doutor Miguel quer vê-lo. Me acompanhe, por favor. O profissional fez a sua solicitação com seriedade, indicando
Com passos deliberadamente calmos, Kalie subiu as escadas do prédio, sentindo o vento frio da noite acariciar seu rosto. Ao atravessar a porta de vidro e entrar no elevador, ela deixou escapar um suspiro, sentindo-se grata pela amizade de Rani e pelo conforto que sua presença sempre trazia. Enquanto o elevador subia lentamente até o terceiro andar, Kalie ponderava sobre como iniciar a conversa tão necessária com seu pai. Cada dia que passava parecia afastá-los ainda mais, transformando-o em um estranho aos seus olhos. Determinada a mudar essa situação, ela planejava cuidadosamente suas palavras. Assim que a porta do elevador se abriu no terceiro andar, Kalie respirou fundo e entrou em casa. Ela observou os cantos familiares da casa, mas seu pai não estava à vista. Sentindo uma mistura de frustração e determinação, dirigiu-se à cozinha e colocou o jantar na mesa. Foi então que seus olhos captaram um bilhete pregado na porta da geladeira, contendo as palavras escritas a mão: "Me espere
Naquela manhã, Kalie acordou e percebeu que seu pai já havia saído. Ela se preparou rapidamente e logo estava pronta para pegar carona com sua amiga, Rani. Enquanto seguiam para a universidade, aproveitaram o tempo juntas para conversar.— Minha avó marcou um jantar para sábado à noite e convidou os amigos dela, sabe, toda a família estará lá. E ela nem imagina que vou levar o Jacob. Rani compartilhou animadamente com Kalie.— Rani, você deveria avisar sua avó antes. Kalie respondeu, expressando um pouco de preocupação.— Ah, não se preocupe. Ela conhece a família do Jacob. Só está preocupada porque já passei dos 22 anos e acha que estou ficando velha para se casar. Rani explicou, com um tom de diversão.— Você tem razão. Meu pai também falou sobre isso ontem. Parece que quer me ver casada logo. — Kalie riu com a amiga.Entre risadas e trocas de histórias, Kalie e Rani aproveitaram o trajeto até a universidade. Para elas, esses momentos compartilhados eram um alívio bem-vindo da ro
Desanimado e perplexo diante do que acabara de descobrir, Raji deixou a cafeteria e partiu para sua antiga casa, imerso em pensamentos. Sentindo-se preocupado e desesperado, ele fez alguns telefonemas, tentando conseguir um empréstimo com alguns conhecidos. Ao anoitecer, Raji saiu ao encontro de um amigo indiano para conseguir o dinheiro, porém, sentiu um frio na espinha quando os dois homens bloquearam seu caminho, interrompendo sua tentativa de chegar à estação. As palavras deles ecoaram em seus ouvidos, desencadeando um turbilhão de medo e ansiedade.— Fugindo do nosso encontro, senhor Rochetti? A acusação era pesada, e Raji sentiu-se encurralado.Ele tentou explicar-se, suas palavras tropeçando em sua boca trêmula.— Não, não, eu estava indo falar com um amigo, conseguir o dinheiro para pagar a dívida.Os homens pareciam zombar de suas tentativas de escapar.— Que amigo? O Manu do mercado? Aquele velho trambiqueiro? É desse amigo que você está falando? A incredulidade em suas voze