Mais de uma semana depois, quando Kalie e Rani regressaram, receberam a devastadora notícia de que Aruna estava no hospital em estado grave. Sem perder tempo, elas seguiram imediatamente para lá. Raji estava ao lado dela no quarto quando as amigas chegaram, e a atmosfera era carregada de tristeza e preocupação. Quando Kalie entrou no quarto, aproximou-se do pai com angústia evidente em seu rosto. — Como ela está? Perguntou, buscando alguma esperança nos olhos de seu pai. Raji olhou para a filha com ternura, mas sua expressão refletia a dor que estava sentindo. — Mal. Nem sei se passará desta noite. Sua voz estava embargada, carregada de emoção. Foi um momento extremamente triste para aquela família, enquanto Kalie segurava a mão do pai em um gesto de solidariedade. Nesse instante, um enfermeiro entrou na sala, interrompendo o momento de intimidade. — Senhor Rochetti, o doutor Miguel quer vê-lo. Me acompanhe, por favor. O profissional fez a sua solicitação com seriedade, indicando
Com passos deliberadamente calmos, Kalie subiu as escadas do prédio, sentindo o vento frio da noite acariciar seu rosto. Ao atravessar a porta de vidro e entrar no elevador, ela deixou escapar um suspiro, sentindo-se grata pela amizade de Rani e pelo conforto que sua presença sempre trazia. Enquanto o elevador subia lentamente até o terceiro andar, Kalie ponderava sobre como iniciar a conversa tão necessária com seu pai. Cada dia que passava parecia afastá-los ainda mais, transformando-o em um estranho aos seus olhos. Determinada a mudar essa situação, ela planejava cuidadosamente suas palavras. Assim que a porta do elevador se abriu no terceiro andar, Kalie respirou fundo e entrou em casa. Ela observou os cantos familiares da casa, mas seu pai não estava à vista. Sentindo uma mistura de frustração e determinação, dirigiu-se à cozinha e colocou o jantar na mesa. Foi então que seus olhos captaram um bilhete pregado na porta da geladeira, contendo as palavras escritas a mão: "Me espere
Naquela manhã, Kalie acordou e percebeu que seu pai já havia saído. Ela se preparou rapidamente e logo estava pronta para pegar carona com sua amiga, Rani. Enquanto seguiam para a universidade, aproveitaram o tempo juntas para conversar.— Minha avó marcou um jantar para sábado à noite e convidou os amigos dela, sabe, toda a família estará lá. E ela nem imagina que vou levar o Jacob. Rani compartilhou animadamente com Kalie.— Rani, você deveria avisar sua avó antes. Kalie respondeu, expressando um pouco de preocupação.— Ah, não se preocupe. Ela conhece a família do Jacob. Só está preocupada porque já passei dos 22 anos e acha que estou ficando velha para se casar. Rani explicou, com um tom de diversão.— Você tem razão. Meu pai também falou sobre isso ontem. Parece que quer me ver casada logo. — Kalie riu com a amiga.Entre risadas e trocas de histórias, Kalie e Rani aproveitaram o trajeto até a universidade. Para elas, esses momentos compartilhados eram um alívio bem-vindo da ro
Desanimado e perplexo diante do que acabara de descobrir, Raji deixou a cafeteria e partiu para sua antiga casa, imerso em pensamentos. Sentindo-se preocupado e desesperado, ele fez alguns telefonemas, tentando conseguir um empréstimo com alguns conhecidos. Ao anoitecer, Raji saiu ao encontro de um amigo indiano para conseguir o dinheiro, porém, sentiu um frio na espinha quando os dois homens bloquearam seu caminho, interrompendo sua tentativa de chegar à estação. As palavras deles ecoaram em seus ouvidos, desencadeando um turbilhão de medo e ansiedade.— Fugindo do nosso encontro, senhor Rochetti? A acusação era pesada, e Raji sentiu-se encurralado.Ele tentou explicar-se, suas palavras tropeçando em sua boca trêmula.— Não, não, eu estava indo falar com um amigo, conseguir o dinheiro para pagar a dívida.Os homens pareciam zombar de suas tentativas de escapar.— Que amigo? O Manu do mercado? Aquele velho trambiqueiro? É desse amigo que você está falando? A incredulidade em suas voze
Raji engoliu em seco, sua mente turva enquanto tentava formular uma resposta. Antes que pudesse articular uma palavra, Mattia prosseguiu, interrompendo-o com um gesto firme. — Ainda não terminei. Disse ele, assumindo uma posição relaxada em uma cadeira próxima. — Qualquer pessoa que se atreva a me prejudicar não costuma sobreviver para contar a história. Mas você, meu caro, está tendo a sorte de uma segunda chance. Estou disposto a propor um acordo. Raji olhou com incredulidade para os dois homens que guardavam a porta, sentindo um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir as palavras de Mattia. — Pietro, traga os papéis. Ordenou Mattia, e o jovem obedeceu, entregando o documento para Raji. Ao analisar o conteúdo do papel, Raji sentiu uma mistura de medo e confusão, incapaz de compreender totalmente a situação em que se encontrava. Mattia prosseguiu, seu tom de voz frio e calculista. — Você tem algo que eu quero, senhor Rochetti, e sua dívida será perdoada se assinar esse contrato.
Naquela noite de sábado, cujo ar gélido se infiltrava pelas janelas entreabertas, Kalie e Rani se encontravam em meio aos preparativos para o jantar, mas suas mentes estavam imersas em reflexões sobre o rumo de suas vidas. Enquanto Kalie, com sua inclinação mais conservadora, buscava segurança e consolo em seguir algumas tradições que lhe foram incutidas desde a infância, Rani, por outro lado, abraçava sua liberdade com fervor, negando-se a ser enclausurada por padrões pré-estabelecidos.Para Kalie, a adesão a tradições era uma fonte de estabilidade e conforto. Ela encontrava segurança nas rotinas familiares e nos valores transmitidos ao longo das gerações. Desde pequena, aprendera a valorizar os costumes que moldaram sua identidade e guiaram suas escolhas. Assim, para ela, seguir as tradições não eram uma imposição, mas sim uma escolha consciente de permanecer conectada às raízes que a sustentavam emocionalmente.Por outro lado, Rani via as tradições como grilhões que aprisionavam a
Enquanto continuavam a conversar sobre seus cursos universitários e planos, as horas pareciam voar, e mal perceberam quando Badu se aproximou para interromper o momento.— Enzo, precisamos ir. Informou Badu, indicando que era hora de partir. Enzo se despediu e partiu com sua família, seguido por Jacob, enquanto Kalie e Rani retornaram para o quarto, onde finalmente puderam conversar a sós.Assim que Rani fechou a porta, suspirou e dirigiu-se à amiga.— O que achou do Enzo, amiga? Perguntou, demonstrando curiosidade.Kalie hesitou por um momento antes de responder.— Ele é bonitinho. Admitiu timidamente.Rani revirou os olhos com um sorriso travesso.— Ele é lindo! E está a fim de você. Precisa dar uns beijinhos nele. Provocou, encorajando Kalie.Kalie riu, mas não descartou a ideia.— Pode parar, Rani. Respondeu com um leve rubor nas bochechas.Rani, porém, estava determinada a encorajar a amiga.— Não estamos na Índia, Kalie. Você precisa beijar alguém. Insistiu Rani, incentivando-a
Naquela manhã de sexta-feira, Kalie seguiu para o escritório, com um misto de empolgação e curiosidade pelo que o dia reservava. Seu sonho de ser ao menos sócia de uma galeria de arte estava se tornando realidade a cada dia, e ela estava satisfeita com o rumo que sua vida tomava. Ao entrar na sala, foi surpreendida ao ver sua amiga Rani tão cedo no escritório. — Bom dia, querida! Que milagre é esse? Saudou Kalie, admirada. Rani, com um sorriso largo no rosto, respondeu animada: — Tenho uma surpresa maravilhosa para você. Rani, estendendo um envelope para a amiga, continuou: — Pegue e leia. Kalie pegou o envelope, um misto de expectativa e curiosidade se misturando em seus pensamentos. Ao abrir o envelope e retirar os papéis de dentro, seus olhos percorreram as palavras impressas, e aos poucos, seu sorriso se desfez, substituído por lágrimas que embaçavam sua visão. Ela parou de ler por um momento e olhou para a amiga, que ainda a observava com um sorriso no rosto. — Verdade? Kali