A luz suave da manhã filtrava-se pelas janelas da mansão, dançando sobre os lençóis e acariciando minha pele ainda sensível. O quarto estava em silêncio, exceto pelo som das respirações suaves dos meus filhos. Um em cada braço. Dois corações pequenos, batendo em uníssono com o meu, como se sempre tivessem feito parte de mim.O príncipe e a princesa do Clã Eclipse.Ainda me parecia um sonho.Me acomodei melhor na poltrona próxima à lareira, com almofadas apoiando minhas costas doloridas, e puxei meu robe de algodão branco para amamentar minha filha. Seus olhos dourados — tão estranhamente conscientes — se fecharam devagar quando ela encontrou o seio e começou a sugar com determinação. Ao meu lado, o pequeno dormia, a expressão serena como a de Caelum quando repousa em paz.A maternidade era muito mais do que eu imaginara. Era visceral. Selvagem. Mágica.E transformadora.Estava há dias em resguardo, respeitando os ritos do clã para as mães recém-paridas. Não sair, não tocar em terra fr
A noite caiu com uma suavidade que parecia escolhida pelos próprios deuses. A Lua Cheia pairava sobre o céu do Clã como uma joia líquida, iluminando a clareira com um brilho prateado. Era como se o mundo inteiro tivesse silenciado para aquele momento. A cerimônia de nomeação dos meus filhos. Meu coração batia acelerado, quase fora de ritmo, enquanto segurava os dois em meus braços, envoltos em mantos de linho branco com pequenos bordados em fios de prata. Caelum caminhava ao meu lado, imponente e solene, com os olhos voltados para o centro da clareira onde os Anciões já aguardavam, cercados por um círculo de pedras e runas acesas com chamas azuis. O ar cheirava a alecrim queimado e flores noturnas. Cada membro do clã formava um semicírculo ao redor da clareira, todos com as testas pintadas com o símbolo da Lua. Silêncio absoluto. Respeito. Expectativa. Quando cheguei ao centro, respirei fundo. Sentia o peso de cada olhar sobre nós, mas acima de tudo, sentia o calor dos dois coraç
Meses se passaram desde a cerimônia de nomeação, e embora a paz tenha se mantido na superfície, em meu coração crescia uma inquietação constante. Era como uma brisa gelada que soprava entre os ossos mesmo sob o sol, sussurrando que a calmaria era apenas a respiração funda antes da tempestade. Naquela noite, a tempestade finalmente veio. Acordei com os uivos da vigília de guerra e o som grave dos sinos de alerta ecoando pela floresta. As crianças, que dormiam tranquilas ao meu lado, se remexeram com um leve choramingo, e meu coração se apertou. Caelum já não estava ao meu lado. Havia sentido o perigo antes mesmo de mim, como sempre. Seu instinto de Rei e de pai era afiado. Ele deixara apenas um bilhete breve em cima da cadeira: *“Proteja nossos filhos. Confie em Lis. Estarei na linha de frente.”* Levantei-me de um salto, o corpo reagindo como se a guerra fizesse parte de sua essência. Auren e Lira ainda dormiam, inocentes demais para entender o que se aproximava. Peguei os dois no
A mansão surgiu entre as árvores como um farol depois da tempestade. Cada pedra de suas paredes parecia familiar e acolhedora. Meu corpo doía, minha alma latejava, e meu coração clamava por um único nome. Caelum. Respirei fundo, forçando as pernas a continuarem. A batalha havia terminado — por ora — mas a adrenalina ainda corria sob minha pele como um rio bravo. As roupas rasgadas, as mãos manchadas de sangue, os cabelos colados na testa... tudo em mim exalava desgaste e exaustão. Mas dentro da mansão, havia algo que me mantinha de pé. Algo que era mais forte do que qualquer feitiço ou lâmina: ele. As portas se abriram antes que eu as tocasse. Dois guerreiros me olharam com alívio e reverência, abrindo passagem. O calor do interior me envolveu, o cheiro de madeira, ervas e terra me arrancando um suspiro. E então, ali, no pé da escadaria principal, ele estava. Caelum. Nossos olhos se encontraram. O tempo congelou. Eu o vi, inteiro. Os cabelos presos no alto da nuca, a camisa man
A luz da manhã filtrava-se pelas cortinas pesadas, dançando suave sobre os lençóis amassados e meu corpo ainda aquecido pelo sono. Pisquei lentamente, sentindo o peso da noite anterior desfazer-se como névoa. Meus braços se esticaram até o lado vazio da cama, encontrando apenas o calor remanescente do corpo de Caelum. Ele não estava ali. Sentei-me devagar, o lençol deslizando pela minha pele, deixando à mostra a curva dos meus ombros nus. O silêncio na mansão era tranquilo, mas meu coração apertou com uma súbita necessidade. Eu precisava vê-lo. Tocá-lo. Tê-lo por perto. Levantei, vestindo apenas uma das camisas largas de Caelum, que caía solta pelo meu corpo como um manto de lembranças. Caminhei pelos corredores com os pés descalços, guiada pelo instinto e pelo fio invisível que sempre me levava até ele. Encontrei-o na sacada, de costas para mim, observando os jardins cobertos pelo orvalho. A luz do sol acariciava seus ombros largos, e seu cabelo preso de forma desalinhada denunc
Os ventos haviam mudado. O ar carregava um presságio. Algo ancestral e selvagem corria pelos campos, sussurrando nos ouvidos dos sensíveis, despertando em cada coração o instinto de luta. A guerra já não era apenas uma ameaça distante — ela se erguia sobre o horizonte, iminente e implacável. No coração da Floresta Norte, as bandeiras do Clã Eclipse tremulavam sob o céu de chumbo. A notícia do novo ataque e da tentativa de sequestro dos gêmeos reais espalhara-se como fogo em palha seca. Os mensageiros tinham partido em todas as direções, carregando o chamado de Caelum aos clãs aliados. E eles responderam. Ao leste, as águias do Clã Stormwing desceram dos céus, suas montarias aladas cortando o ar com gritos que pareciam trovões. Seus guerreiros, liderados por Elan, um alfa de olhos dourados e armadura reluzente, firmaram acampamento nos arredores do território do Eclipse. Foram os primeiros a chegar — antigos aliados do tempo em que o pai de Caelum ainda reinava. Ao sul, os Guerre
O som dos cascos ecoava pela terra úmida como um tambor de guerra que se aproximava mais a cada batida. A névoa matinal ainda rastejava sobre o chão, envolvendo as árvores em véus de silêncio. Mas não havia mais paz. Não havia mais tempo. Eu caminhava com os outros, sentindo o peso da armadura sobre meus ombros, ajustada ao meu corpo pela forja de Freiren e encantada com runas traçadas por Lis. Era negra como obsidiana, com detalhes prateados que cintilavam à luz mortiça. Nas costas, as duas espadas cruzadas pulsavam com a minha magia — lâminas que respondiam à fúria que eu carregava no peito. Ao meu lado, Lis caminhava em silêncio, a capa azul prateada esvoaçando atrás dela. Seu diadema com os símbolos da Lua brilhava sobre a testa, e seus olhos estavam tão atentos quanto os de um predador. Ela carregava seu bastão rúnico em uma das mãos e algumas poções presas ao cinto. Sua magia vibrava no ar, tão viva quanto o fogo de uma estrela. Caelum liderava a linha, imponente em sua arma
O primeiro clarão no céu não veio de raios naturais — mas de magia. Um estrondo ressoou como se o próprio firmamento estivesse rachando. Um feixe de energia púrpura e escarlate desceu da colina onde os inimigos estavam agrupados, cortando o ar como uma lâmina dos deuses. Era o primeiro ataque. E um aviso. — Escudos agora! — gritou Lis. As bruxas ao nosso lado — as aliadas que atenderam ao chamado de Lis — levantaram as mãos em uníssono. Círculos rúnicos surgiram no ar, formando camadas de luz dourada e prateada. Uma cúpula mágica envolveu a linha de frente do nosso exército momentos antes da explosão atingir. O impacto fez a terra tremer. Eu senti a vibração subir pelas minhas botas, ecoar nos ossos, sacudir os galhos ao nosso redor. Mas a barreira resistiu. As bruxas aliadas, lideradas por uma mulher de olhos de âmbar e cabelos trançados com penas lunares, mantinham as mãos erguidas, os olhos brilhando. Cânticos antigos saíam de suas bocas em uníssono, enquanto uma delas sangra