RICK
Duas noites nesse lugar e eu já quero me matar por ter cantado aquela enfermeira filha da puta. Ela parecia tão inofensiva, com problemas demais na cabeça para se lembrar de mim. Como eu me odeio por ter deixado esse pequeno fio desencapado. Explodiu a porra toda!
Eu finalmente tinha alguma esperança de encontrá-la. Eu chegaria lá em Paris e compraria um belo buquê de rosas, sairia à procura de Melissa por toda aquela maldita cidade se fosse preciso, cada beco, cada viela, mas eu a acharia. E aí eu a surpreenderia. Eu sei que ela está sentindo a minha falta tanto quanto eu sinto a dela. Ela jogaria seus braços em volta do meu pescoço e eu sentiria o perfume dos seus cabelos. Meu Deus, como eu preciso desse perfume e do seu corpo sob o meu toque.
DOIS MESES DEPOISMELISSACada vez que caminho por esses corredores enormes e amplos tenho uma surpresa deliciosa. Acho que nem estudando aqui por dez anos eu seria capaz de ver todos os detalhes desse lugar. Paro em frente a uma parede acinzentada com texturas e pinturas rupestres do chão até o teto, fazendo uma curva acima da minha cabeça. Coloco as mãos na parede e sinto as suas ranhuras e imperfeições, como se realmente fossem pedra gasta pelo tempo. Os desenhos são como aqueles que vemos nos nossos livros de história nos primeiros anos de colégio, geralmente acompanhando uma explicação sobre o surgimento dos primeiros seres humanos na Terra.É fascinante como tal obra foi reproduzida com tamanha perfeição. A sensaç&a
MELISSASem coragem de me soltar dos braços de Oliver, continuo com meu rosto escondido no seu peito. Todos à minha volta demandam uma explicação, mas nesse momento não consigo processar nada além da informação de que agora o Rick está livre para vir atrás de mim. Minha paz durou mais do que eu esperava, é bem verdade, mas no meu íntimo eu ansiava que ele não fosse solto nunca mais. Oliver se curva levemente e fala no meu ouvido.- Shhhhh, fica calma. Vai ficar tudo bem. Eu não vou deixar nada acontecer com você, eu prometo. – Ele passa as mãos nas minhas costas tentando me tranquilizar.- Não é simples assim. Ele vai passar por cima de qualquer um para chegar até mim. Ele faria
MELISSAO telefone de Lívia chama sem parar até cair na caixa postal. Após quinze tentativas, paro para refletir sobre o que fazer. Ligar para a minha mãe não é uma opção, já que ela sofreria um infarto se soubesse que a pessoa responsável por cuidar de mim nesse país é um pervertido nojento e que, por esse motivo, eu não quero que Lívia encontre com ele sozinha. Penso em ligar para Anthony, mas ele também iria surtar.Respiro fundo e decido esperar uma hora e ligar de novo. Aqui são oito da noite, então no Brasil ainda são três da tarde. Certamente ela está em algum almoço na casa dos pais de Anthony, ele tem uma família enorme e todos costumam se reunir aos domingos. Eu sento na cama, aflita. Sophie saiu com
RICKÀs vezes, fico chocado com a minha própria capacidade de transformar totais idiotas em pessoas competentes. Eu deveria investir nessa área profissionalmente. Amanda finalmente entendeu como deve trabalhar para mim e está começando a me trazer bons resultados. Hoje tive uma pequena conquista. Enfim vou saber onde Mel está escondida. Minhas mãos estão tremendo até agora e eu precisei virar uns dois copos de vodka para clarear as ideias antes do café da manhã.Jonas, o detetive que mandei Amanda contratar, é um verdadeiro 007, também pelo que me custou, era bom que fosse mesmo. De alguma maneira ele conseguiu acesso à documentação de Melissa no consulado, mesmo sendo informações confidenciais. No dossiê não tinha um ender
RICKUma mala pequena, jaqueta nos ombros, óculos escuros. Na carteira a identidade meio amassada para não parecer muito nova. O novo nome não me agrada em nada, Wellington da Silva Junior. Nome de pobre. Queria ter mantido pelo menos o meu sobrenome de verdade, Borges, mas o falsificador me aconselhou a usar um nome completamente diferente. Isso me revolta um pouco, mas deixo passar. Passaporte e passagem só de ida em mãos. As lentes incomodam um pouco minha retina e tenho vontade de coçar os olhos todo o tempo, deixando-os vermelhos. Não ter cortado o cabelo desde que saí da cadeia foi a melhor coisa que eu podia ter feito. Tive apenas que tingir de negro, como meus novos olhos.Nem parece verdade, mas finalmente está tudo pronto para reencontrar a minha Mel. Não pensava que seria t&
MELISSASim, era ele. Não sei como é possível, como ele conseguiu sair do país e fugir da polícia, como ele soube exatamente o bairro de Paris em que eu estou. Como? Como? São tantas perguntas que ecoam na minha mente. E por quê? Por que, em algum momento, eu acreditei que estaria segura aqui?- Mel, o que foi? O que está acontecendo? Mel, pelo amor de Deus, me responde.- É ele, é ele. Ele me achou. É ele. Ele me achou. – Eu repetia sem parar, sem fôlego, agachada no carro.- Melissa, levanta. Você está espremida aí embaixo. Olha pra mim.Eu olho para ele, as lágrimas queimando minhas bochecha
RICKUma cerquinha branca separa a casa grande de 5 andares da rua. O caminho para a porta de entrada é cercado por um jardim florido e arbustos vistosos. Parece até uma casinha de boneca, dessas que você não vê no Brasil. Paro em frente à porta de madeira escura e respiro fundo. Bato três vezes e aguardo. Ninguém atende. Bato mais três vezes, com mais força dessa vez. Aguardo. A porta se abre e uma garota alta e bem magrinha olha para mim com interesse.- Olá, bom dia. Em que posso ajudar? – Ela pergunta de um jeito simpático.- Oi, bom dia. Estou procurando uma pessoa.- Hum... E quem seria?- O nome dela é Melissa.
MELISSAQuando os braços de Rick me envolveram, um frio repentino correu pela minha coluna e me deixou estática. Foi como um filme de terror, como na cena em que a mocinha entra no porão escuro e começa aquela música pavorosa e o pior acontece. Tanto tempo fugindo, brincando de gato e rato, e ele aparece na minha porta e me abraça como se nada tivesse acontecido. Como se fôssemos um jovem casal apaixonado que foi separado pelo destino. Ele me mantém presa por alguns minutos, beijando meu pescoço, minhas bochechas, passando as mãos pelos meus braços, dizendo coisas no meu ouvido. Eu não mexo um músculo sequer.- Melzinha, nem acredito que é você em carne e osso. Bem, mais carne do que eu me lembrava, na verdade. – Ele ri e meu corpo estremece junto