RICK
Às vezes, fico chocado com a minha própria capacidade de transformar totais idiotas em pessoas competentes. Eu deveria investir nessa área profissionalmente. Amanda finalmente entendeu como deve trabalhar para mim e está começando a me trazer bons resultados. Hoje tive uma pequena conquista. Enfim vou saber onde Mel está escondida. Minhas mãos estão tremendo até agora e eu precisei virar uns dois copos de vodka para clarear as ideias antes do café da manhã.
Jonas, o detetive que mandei Amanda contratar, é um verdadeiro 007, também pelo que me custou, era bom que fosse mesmo. De alguma maneira ele conseguiu acesso à documentação de Melissa no consulado, mesmo sendo informações confidenciais. No dossiê não tinha um ender
RICKUma mala pequena, jaqueta nos ombros, óculos escuros. Na carteira a identidade meio amassada para não parecer muito nova. O novo nome não me agrada em nada, Wellington da Silva Junior. Nome de pobre. Queria ter mantido pelo menos o meu sobrenome de verdade, Borges, mas o falsificador me aconselhou a usar um nome completamente diferente. Isso me revolta um pouco, mas deixo passar. Passaporte e passagem só de ida em mãos. As lentes incomodam um pouco minha retina e tenho vontade de coçar os olhos todo o tempo, deixando-os vermelhos. Não ter cortado o cabelo desde que saí da cadeia foi a melhor coisa que eu podia ter feito. Tive apenas que tingir de negro, como meus novos olhos.Nem parece verdade, mas finalmente está tudo pronto para reencontrar a minha Mel. Não pensava que seria t&
MELISSASim, era ele. Não sei como é possível, como ele conseguiu sair do país e fugir da polícia, como ele soube exatamente o bairro de Paris em que eu estou. Como? Como? São tantas perguntas que ecoam na minha mente. E por quê? Por que, em algum momento, eu acreditei que estaria segura aqui?- Mel, o que foi? O que está acontecendo? Mel, pelo amor de Deus, me responde.- É ele, é ele. Ele me achou. É ele. Ele me achou. – Eu repetia sem parar, sem fôlego, agachada no carro.- Melissa, levanta. Você está espremida aí embaixo. Olha pra mim.Eu olho para ele, as lágrimas queimando minhas bochecha
RICKUma cerquinha branca separa a casa grande de 5 andares da rua. O caminho para a porta de entrada é cercado por um jardim florido e arbustos vistosos. Parece até uma casinha de boneca, dessas que você não vê no Brasil. Paro em frente à porta de madeira escura e respiro fundo. Bato três vezes e aguardo. Ninguém atende. Bato mais três vezes, com mais força dessa vez. Aguardo. A porta se abre e uma garota alta e bem magrinha olha para mim com interesse.- Olá, bom dia. Em que posso ajudar? – Ela pergunta de um jeito simpático.- Oi, bom dia. Estou procurando uma pessoa.- Hum... E quem seria?- O nome dela é Melissa.
MELISSAQuando os braços de Rick me envolveram, um frio repentino correu pela minha coluna e me deixou estática. Foi como um filme de terror, como na cena em que a mocinha entra no porão escuro e começa aquela música pavorosa e o pior acontece. Tanto tempo fugindo, brincando de gato e rato, e ele aparece na minha porta e me abraça como se nada tivesse acontecido. Como se fôssemos um jovem casal apaixonado que foi separado pelo destino. Ele me mantém presa por alguns minutos, beijando meu pescoço, minhas bochechas, passando as mãos pelos meus braços, dizendo coisas no meu ouvido. Eu não mexo um músculo sequer.- Melzinha, nem acredito que é você em carne e osso. Bem, mais carne do que eu me lembrava, na verdade. – Ele ri e meu corpo estremece junto
OLIVERQuando eu cruzei aquela porta e vi aquele homem segurando Melissa possessivamente pelo braço, senti a cor fugir do meu rosto. Vários pensamentos assassinos passaram pela minha cabeça, mas eu tinha que tomar cuidado. Melissa sempre nos alertou sobre a maneira doentia como o cérebro dele funciona. Se eu partisse para cima dele, ele poderia machucá-la ainda mais. Eu não poderia dar nenhuma pista do nosso envolvimento. Além disso, se chegássemos a uma briga, eu com certeza acabaria no chão. O cara é forte. Intimidador. E eu perdi boa parte da minha musculatura depois do acidente. Se ele me derrubasse, seria ainda pior, pois Melissa estaria novamente vulnerável.E o medo no seu rosto me desconsertava toda vez que eu a olhava. Ela tentava desesperadamente me dizer para nã
MELISSAAbro os olhos de repente, como se estivesse me afogando há várias horas e finalmente tivesse conseguido alcançar a superfície. Alcancei a praia, mas as ondas continuam arrebentando sobre o meu corpo inerte na areia. A sensação de sufocamento continua presente e meu corpo dói como se eu realmente tivesse nadado por horas.Não reconheço o quarto ao meu redor. Aos poucos vou tomando consciência do meu corpo. Minhas mãos estão amarradas na cabeceira da cama e meus pulsos doem quando tento puxar as restrições. Uma corda grossa e apertada une meus dois pés. A mordaça na minha boca tem um gosto horrível de sabão em pó, mas o pior de tudo é o espaço atrás da minha cabeça em que está o n&oac
OLIVERAlgo me dizia que isso iria acontecer. Não foi à toa que eu estava tão resistente de sair do lado de Melissa ontem à noite. Mesmo sabendo que Sophie estaria com ela, eu senti que precisava estar ali para protegê-la. Mas eu não fiquei. Eu não segui meus instintos. De novo. E agora é tarde demais, ele está com ela.Eu me culpo por tê-la deixado. Como fui ingênuo. Não queria acreditar que ela estaria desprotegida aqui na república, sob os nossos olhos, mas estava. E ele a raptou bem debaixo do meu nariz.Quando ouvi os gritos de Sophie ecoarem pela casa, levantei de súbito, batendo com força a cabeça na cama de cima do beliche. Porém, isso não me impediu de correr até o quarto
OLIVERQuando dou por mim está tudo negro a minha volta, uma escuridão sufocante e aquele cheiro... Aquele cheiro de gasolina e fumaça de escapamento. Pisco algumas vezes e o cenário fica mais claro para mim. Eu novamente de pé sobre a Pont du Carrousel. Tudo ao meu redor é caótico. A polícia chegou e a sirene dos bombeiros soa estridente em meus ouvidos. Uma fita amarela isola o local dos curiosos. No começo a minha visão estava bastante turva, embaçada, mas agora ela está se adaptando e consigo enxergar por entre a fumaça branca que sai do carro capotado. O meu carro.Chego mais perto do meu Mercedes e ao lado da porta traseira vejo minha mãe deitada no chão com os braços abertos e as pernas dobradas, caídas de lado. Me agacho ao seu lado e