RICK
Uma cerquinha branca separa a casa grande de 5 andares da rua. O caminho para a porta de entrada é cercado por um jardim florido e arbustos vistosos. Parece até uma casinha de boneca, dessas que você não vê no Brasil. Paro em frente à porta de madeira escura e respiro fundo. Bato três vezes e aguardo. Ninguém atende. Bato mais três vezes, com mais força dessa vez. Aguardo. A porta se abre e uma garota alta e bem magrinha olha para mim com interesse.
- Olá, bom dia. Em que posso ajudar? – Ela pergunta de um jeito simpático.
- Oi, bom dia. Estou procurando uma pessoa.
- Hum... E quem seria?
- O nome dela é Melissa.
MELISSAQuando os braços de Rick me envolveram, um frio repentino correu pela minha coluna e me deixou estática. Foi como um filme de terror, como na cena em que a mocinha entra no porão escuro e começa aquela música pavorosa e o pior acontece. Tanto tempo fugindo, brincando de gato e rato, e ele aparece na minha porta e me abraça como se nada tivesse acontecido. Como se fôssemos um jovem casal apaixonado que foi separado pelo destino. Ele me mantém presa por alguns minutos, beijando meu pescoço, minhas bochechas, passando as mãos pelos meus braços, dizendo coisas no meu ouvido. Eu não mexo um músculo sequer.- Melzinha, nem acredito que é você em carne e osso. Bem, mais carne do que eu me lembrava, na verdade. – Ele ri e meu corpo estremece junto
OLIVERQuando eu cruzei aquela porta e vi aquele homem segurando Melissa possessivamente pelo braço, senti a cor fugir do meu rosto. Vários pensamentos assassinos passaram pela minha cabeça, mas eu tinha que tomar cuidado. Melissa sempre nos alertou sobre a maneira doentia como o cérebro dele funciona. Se eu partisse para cima dele, ele poderia machucá-la ainda mais. Eu não poderia dar nenhuma pista do nosso envolvimento. Além disso, se chegássemos a uma briga, eu com certeza acabaria no chão. O cara é forte. Intimidador. E eu perdi boa parte da minha musculatura depois do acidente. Se ele me derrubasse, seria ainda pior, pois Melissa estaria novamente vulnerável.E o medo no seu rosto me desconsertava toda vez que eu a olhava. Ela tentava desesperadamente me dizer para nã
MELISSAAbro os olhos de repente, como se estivesse me afogando há várias horas e finalmente tivesse conseguido alcançar a superfície. Alcancei a praia, mas as ondas continuam arrebentando sobre o meu corpo inerte na areia. A sensação de sufocamento continua presente e meu corpo dói como se eu realmente tivesse nadado por horas.Não reconheço o quarto ao meu redor. Aos poucos vou tomando consciência do meu corpo. Minhas mãos estão amarradas na cabeceira da cama e meus pulsos doem quando tento puxar as restrições. Uma corda grossa e apertada une meus dois pés. A mordaça na minha boca tem um gosto horrível de sabão em pó, mas o pior de tudo é o espaço atrás da minha cabeça em que está o n&oac
OLIVERAlgo me dizia que isso iria acontecer. Não foi à toa que eu estava tão resistente de sair do lado de Melissa ontem à noite. Mesmo sabendo que Sophie estaria com ela, eu senti que precisava estar ali para protegê-la. Mas eu não fiquei. Eu não segui meus instintos. De novo. E agora é tarde demais, ele está com ela.Eu me culpo por tê-la deixado. Como fui ingênuo. Não queria acreditar que ela estaria desprotegida aqui na república, sob os nossos olhos, mas estava. E ele a raptou bem debaixo do meu nariz.Quando ouvi os gritos de Sophie ecoarem pela casa, levantei de súbito, batendo com força a cabeça na cama de cima do beliche. Porém, isso não me impediu de correr até o quarto
OLIVERQuando dou por mim está tudo negro a minha volta, uma escuridão sufocante e aquele cheiro... Aquele cheiro de gasolina e fumaça de escapamento. Pisco algumas vezes e o cenário fica mais claro para mim. Eu novamente de pé sobre a Pont du Carrousel. Tudo ao meu redor é caótico. A polícia chegou e a sirene dos bombeiros soa estridente em meus ouvidos. Uma fita amarela isola o local dos curiosos. No começo a minha visão estava bastante turva, embaçada, mas agora ela está se adaptando e consigo enxergar por entre a fumaça branca que sai do carro capotado. O meu carro.Chego mais perto do meu Mercedes e ao lado da porta traseira vejo minha mãe deitada no chão com os braços abertos e as pernas dobradas, caídas de lado. Me agacho ao seu lado e
RICKNunca pensei que seria tão fácil fugir daquela perseguição policial. Quando as patrulhas de reforços chegaram, eu já estava longe. Bastaram algumas voltas pela cidade cheia de becos que é Paris e logo pude assumir a direção do taxi, empurrando o motorista para fora do carro em uma curva escura. Ganhei velocidade, costurando entre os carros e ultrapassando vários sinais. Logo aqueles policiais lerdos me perderam de vista e eu larguei o carro, estacionando-o em uma rua principal movimentada.Andei a passos largos por alguns metros, olhando algumas vezes para trás, me certificando de que não estava sendo seguido. Entrei em uma transversal e segui pela calçada, andando agora mais calmamente. Poucos passos à frente vejo uma barbearia. Um senhor baixinh
MELISSAAchei que após o nascimento de Charlotte, esse medo enorme e constante fosse passar ou pelo menos diminuir. A gravidez de risco, minha saúde frágil, meses repletos de preocupações em relação ao meu futuro e de minha filha. Além de todas as internações e o perigo de a perder. Toda aquela apreensão se dissipou ao ter minha pequena em meus braços, mas ainda que sendo mãe por tão poucas horas, já me vejo envolta por tantas novas preocupações. Rick ainda está lá fora, solto e esperando eu dar um passo em falso. Será que algum dia eu vou sentir que eu e minha menina estamos verdadeiramente seguras?Ela é tão pequena e indefesa. Assusta-me pensar que todas as decisões que eu tomar daqui para fre
MELISSA- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH.Um som gutural escapa da minha garganta. Saber que Rick está com a minha filha dói como uma flecha atravessando o meu peito. Ou não, pior. Dói como se alguém arrancasse uma flecha do meu peito trazendo o meu coração junto. A raiva arde nas minhas veias. O medo desesperador me sufoca e eu fico ofegante. O quarto de repente fica pequeno demais para o tamanho do meu ódio. Me livro das cobertas, o calor subindo pelo meu peito, meu pescoço e chegando em minhas bochechas. Juntaram pessoas na porta do quarto para ver o que estava acontecendo e uma das enfermeiras corre para fechá-la.- Como? – Eu pergunto com os olhos vidrados da enfermeira ao meu lado.Último capítulo