Capítulo 3

MELISSA

A entrada para a Beaux-Arts era imponente. Arcos em mármore e abóbadas espelhadas. Dentro era tudo ainda mais exuberante, em qualquer lugar que meus olhos pousassem havia um detalhe único que merecia total atenção. No centro, uma claridade vinda do céu banhava a recepção. O telhado neste ponto era de vitral colorido, dando a sensação de estar dentro de um arco-íris.

Andrew fala com a recepcionista enquanto eu consigo apenas admirar tudo ao redor, encantada, em estado de êxtase. “Só pode ser um sonho”. Ele pega minha mão e tenho a sensação de estar flutuando. É quase como se eu tivesse morrido e um anjo estivesse me levando em um tour pelo céu.

Os quadros, as esculturas, os afrescos, as colunas em pedras sobrepostas, os móveis em madeira talhada, tudo nesse lugar é fascinante. Paramos em frente a uma porta enorme e me impressiono por tudo aqui ser tão grande e cheio de detalhes. Andrew bate uma vez e gira a maçaneta. Ele praticamente me carrega para dentro da sala do diretor e me põe sentada na cadeira em frente a sua mesa. A sala é muito branca, com a decoração em azul e dourado. Tudo aqui dentro me lembra a Grécia antiga. Também, como eu poderia esperar que a sala do diretor da faculdade de artes mais renomada do mundo se parecesse com um escritório comum?

- Melissa? – Ouço Andrew me chamar próximo ao meu ouvido e agitar as mãos à minha frente.

- Sim, me desculpe. Eu só estou... estou...

- Anestesiada por tamanha beleza? – O diretor completa, percebendo minha falta de palavras.

- Exatamente.

- Melissa, esse é o diretor Davis Laurent. Ele lhe escolheu pessoalmente para preencher essa vaga.

- Isso mesmo. E suas notas altas não foram o que mais chamou minha atenção, mas sim suas telas impecáveis. Querida, você tem um talento nato e eu sei muito bem reconhecer um artista promissor quando vejo um. Sei que irá desenvolver muito estudando aqui conosco e gostaria de observar de perto seu desempenho.

Seus elogios me pegam desprevenida e o nervosismo toma conta de mim. Começo a remexer as mãos no colo e bater com o saltinho no chão repetidas vezes. Se pudesse me ver no espelho agora, com certeza iria encarar um tomate rechonchudo prestes a explodir. Como irei corresponder à tamanha expectativa? Não, eu não sou capaz. Eu serei expulsa na primeira aula. Na primeira tela...

- Er... Obrigada.

- Não, não fique apreensiva, querida. Sem pressão. – Ele me tranquiliza, como se lesse meus pensamentos. – Como disse, eu acredito no seu talento nato, nada que vi me pareceu fruto de algum esforço. Suas obras têm leveza e profundidade. São belíssimas, sem nenhum exagero. Você é naturalmente talentosa e seu futuro como artista é brilhante, eu tenho certeza. E eu não costumo me enganar a respeito dos meus alunos.

- Muito obrigada, Sr. Laurent. Eu prometo que farei de tudo para não decepcioná-lo.

- Não irá, querida, e pode me chamar de Davis. – Ele abre um sorriso tão acolhedor que uma onda de tranquilidade corre por todo o meu corpo. – Andrew, por favor, leve a senhorita Melissa para conhecer as dependências da Escola.

- Claro, diretor. Vamos, Melissa?

O diretor se levanta junto comigo e me estende a mão. Eu a pego e ele segura a minha com firmeza. A apresentação foi rápida, mas ele é o tipo de pessoa que lhe passa uma sensação boa. De alguém confiável. Se com Andrew assumi uma posição alerta, com o diretor Davis me sinto totalmente relaxada.

Quando olho para Andrew, sua expressão é indecifrável. Assim que o diretor solta minha mão, ele segura meu braço e me conduz até a porta. Ao sair da sala, deixo escapar um suspiro pesado de alívio e ele me olha interrogativamente.

- Eu estava preocupada de não o agradar.

- Isso seria impossível. Você é totalmente agradável, Melissa.

Ele me dá o braço, e eu, sem opções, o seguro. Ele vai me levando por corredores infinitos e salas gigantes. Algumas parecem salas de aula comuns, claro que extremamente bem decoradas, mas apenas com a finalidade de aulas teóricas. Outras são espaços amplos com cavaletes dispostos em vários pontos, com o centro livre. Posso apostar que nestas os armários estão cheios de tintas, telas e pincéis.

A cada passo, uma beleza requintada a ser explorada. Algumas vezes meus olhos se enchem de lágrimas, não sei se por pura sensibilidade de grávida, ou se a emoção é realmente tão difícil de conter para qualquer um diante de tanta perfeição.

Depois de fazer um tour por todo o lugar, Andrew me faz uma proposta quase irrecusável. Ele me convida para conhecer o Louvre. Me vejo envolta novamente daquela névoa de êxtase, porém algo me puxa de volta para a realidade. Eu devo voltar para casa. Os policiais já devem estar procurando pistas que os levem a encontrar Oliver e eu quero ajudar. Se não puder ser com informação, que seja apenas dando o meu apoio à Sophie. Nem tivemos a oportunidade de nos conhecer direito, mas sou preenchida com o forte desejo de mostrar minha compaixão.

Peço então para que Andrew me leve de volta, e ele leva nitidamente a contragosto. Digo que estou me sentindo um pouco indisposta e que seria melhor descansar um pouco, já que desde que embarquei no avião para Paris até o prezado momento não consegui dormir de verdade. Mas, na verdade, até parece que eu serei capaz de pregar os olhos até que Oliver seja encontrado. Ou até que o pior seja revelado. Pelo menos essa incerteza precisa acabar.

Ao entrarmos, todos os olhos se voltam para nós. A sala está cheia, policiais, moradores, amigos de moradores, vizinhos, todos à espera de notícias de Oliver. Instantaneamente me sinto mal, pois nada mudou. Tinha uma pequena esperança de encontrá-lo aqui.

Sophie corre até mim e desaba a chorar. Fico preocupada, será que ela já soube de algo?

- O que houve, Sophie? Alguma notícia?

- Melissa, ele foi encontrado na Pont des Arts. Ele estava andando sobre a mureta. Andando de um lado para o outro. Apareceu até no noticiário, veja só.

A TV está ligada no canal de notícias e no canto da tela está em destaque: “Possível suicídio de jornalista. Oliver Delacroix, pulou ou não pulou? Acompanhe ao vivo”. Sinto um arrepio gelado na espinha e, de repente, parece que vou desmaiar. Sinto toda a cor esvair-se do meu rosto e meus joelhos amolecerem. Sento no sofá e Sophie se ajoelha na minha frente. Ela coloca a cabeça no meu colo e eu instintivamente afago seus cabelos.

Eu sei o porquê de sua aproximação tão sincera. Eu fui a última pessoa a estar com seu irmão e ela ainda espera que eu saiba de alguma coisa. Como se o simples fato de eu ter chegado nessa casa hoje e pegado Oliver de surpresa, antes que ele pudesse apenas deixar seu bilhete de despedida e ir embora sorrateiramente sem despertar ninguém, fizesse alguma diferença, ou fosse trazê-lo de volta.

- Sophie, por que ele sumiu das câmeras?

- Não se sabe. Por uma distração o perderam de vista e ninguém sabe se ele pulou ou não. – Ela responde em uma voz esganiçada, de quem já não tem forças para repetir essas palavras. – Os helicópteros estão fazendo uma busca, mas nem sinal dele.

- Sinto muito, Sophie. Vamos rezar para que tudo isso acabe logo. – E ela soluça ainda mais.

Andrew percebeu minha palidez e voltou da cozinha com um copo de água com açúcar para mim. Ele se senta ao meu lado e envolve os meus ombros. Ele encosta os lábios no meu ouvido e fala bem baixinho.

- Você não precisa passar por isso. Suba e descanse. Lembre-se: nada disso deve lhe afetar.

Eu apenas olho para Andrew, não acreditando em sua persistente insensibilidade diante dessa situação caótica.

De repente percebo a porta se abrindo no canto da sala, bem devagar, sem barulho algum. Apenas eu observo a porta se movimentando, enquanto todos estão com a atenção voltada para a TV, e quando ela finalmente se abre mal posso acreditar no que estou vendo. Seus olhos me atingem com uma intensidade insuportável e as lágrimas rompem pelos meus. “Graças a Deus, ele está vivo! Eu sabia”.

- Você está vivo!

Sophie imediatamente levanta a cabeça e olha para mim, depois segue na direção em que estou olhando. Em um segundo ela se põe de pé e corre para abraçar o irmão. Ele a abraça de volta, mas seus olhos não deixam os meus. Ao redor, todos suspiram aliviados e se movem para perto dele, mas eu mantenho minha respiração presa, hipnotizada.

- Oh meu Deus, Oliver, você está mesmo aqui! E vivo! Você ficou louco? Eu achei que tinha te perdido. Meu Deus, eu achei que tinha te perdido para sempre. – Sophie soluçava enquanto falava, os braços firmes ao redor do pescoço do irmão.

- Me desculpe, irmãzinha. Eu enlouqueci, é bem verdade. Eu tentei tanto segurar as pontas e esconder a dor de você, mas ficou tão insuportável que eu perdi a cabeça. Mas, felizmente, eu encontrei algo no meu caminho que fez tudo voltar a fazer algum sentido. Eu vi um anjo.

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