Os dois caminhavam pela terra seca, sem falar uma palavra sequer. Ele tinha o braço engessado e a mão do outro estava enfaixada, os pontos cuidando dos buracos que substituíram seus dedos. Ela não se importava, mas ele estava irritado em não poder entrelaçar os dedos nos dela. Tinha que se contentar em abraçá-la sempre de muito perto, o que acabava com tropeços.
Léa ainda estava muito assustada e quase não parava de chorar quando ficava sozinha com ele. Ao público, ela parecia fria e calculista, parecia esperar quem seria a próxima a atacá-la. Ele tentava fazer um contraponto, ainda muito abalado, mas normalmente, o carinho que ambos sentiam pelo outro quebrava essas coisas.
Poucos duvidaram da história contada. Infelizmente, a polícia fora um desses poucos. Eles vinham passando por inquéritos e intermináveis depoimentos sobre aquela noite nos &
Uma noite, sua filha entrou escondida na casa para fazer-lhes uma surpresa. Deveria saber que era uma má ideia, ela conhecia os próprios pais. Sabia pelo que eles haviam passado, embora não gostassem de falar sobre isso.Mesmo assim, ela queria lhes fazer uma surpresa. Que mal poderia fazer?Foi surpreendida por um tiro assim que alcançou as escadas. Com a mão sobre o peito, desfaleceu sob o olhar incrédulo do pai.Ela morreu quase instantaneamente.Arthur, ao ver sua filha morrer em seus braços por um tiro que partiu do comando do seu dedo, fez o impensável: matou a mulher para poupá-la da dor. E, em seguida, suicidou-se.
PrefácioA inocência perdida— Tem certeza que a sua mãe não vai brigar com a gente, Fabrício? – Uma garota de olhos verdes brilhantes e cabelos ruivos presos cuidadosamente em uma trança perguntou, enquanto ela e o grupo com mais oito amigos caminhava pateticamente em direção ao canto mais escuro do grande quintal.Atrás deles, o crepúsculo encerrava o dia do aniversário do menino que guiava os amigos, Fabrício, com seus pequenos olhos azuis atentos e temerosos, enquanto fingia ser corajoso o suficiente para continuar com o ligeiro desafio. Os cabelos dourados do menino eram constantemente levados pelo vento, assim como seu companheiro, logo atrás dele, que tinha os cabelos num dourado um pouco mais claro. Esse era Luís. E ele, sim, demonstrava o medo que Fabrício fingia não ter.— Não, ela não liga, Catarina
Capítulo UmUm arranjo do destinoDez anos se passaram sem os laços de amizade que os mantinham juntos se afrouxarem. Na verdade, com o terrível acidente, eles se apertaram mais e qualquer um daquele grupo diria que tinha os sete melhores amigos do mundo inteiro.O medo os acompanhou. E a loucura beirou cada um deles, mas foram Raquel e Arthur os que mais sofreram. Arthur, aos poucos, se curou da culpa de ter levado a todos para aquele lugar e ter tido a ideia daquela brincadeira idiota. Raquel, por outro lado, sofreu muito mais que os outros por ter sido o seu irmão e porque ele só estivera com eles àquele dia porque tinha que cuidar dela. A garota ainda tinha medo de qualquer coisa e passara por momentos complicados na adolescência, mas eles nunca a haviam abandonado. Ela era fazia acompanhamento com profissionais e Luís começara a cursar a psicologia para poder ajudá-la.Fato que
— Você disse nada de sexo – Léa reclamou. Ela estava tentando fazê-lo parar de beijá-la há algum tempo, se sentindo desconfortável com o rumo das mãos e dos lábios do garoto, deitado sobre ela no sofá. Ok, a espera tinha sido realmente enlouquecedora, mas ela não ia ceder a ele tão fácil a ponto deixar que ele passasse do limite. Ela ainda era uma garota respeitável e ele tinha que ter um pouco mais de calma com ela, se quisesse. — Eu não disse nada de sexo – murmurou, o rosto afundado no pescoço dela, enquanto dava mordidinhas que faziam os calafrios subirem pela sua coluna. Inconscientemente, Léa apertou um pouco mais o pedaço de camisa que ela segurava, na altura da cintura do garoto – Eu disse “quem está falando de sexo?” Eu não estava, mas agora tô pensando melhor. Com isso, ele mordeu sua a orelha e movimentou o corpo, insinuando-se sobre ela, fazendo-a gemer baixinho e acabou por acompanhá-la. — Arthur... – sussurrou. – Eu rea
Capítulo TrêsO grito agudo e cheio de temor preencheu a casa instantaneamente, provocando reações atribuladas nos cômodos ocupados.A chuva batia na casa, corroborando ao clima sinistro e suspeito da casa. No meio do nada, em uma vila tranqüila onde os vizinhos mais próximos podiam estar até à um quilômetro de distância.O que estava se fazendo parou. O primeiro casal a reagir, talvez porque estavam mais controlados pela conversa que tiveram mais cedo sobre “não atropelar os passos”, dói Arthur e Léa. Os dois pararam, instantaneamente, de se beijar e se entreolharam, à meia luz do abajur da escrivaninha do garoto.Arthur arqueou a sobrancelha, Léa, em seu colo, levantou-se, curiosa.— O que foi isso? – Ela perguntou.Arthur balançou a cabeça, informando que não saberia dizer. Ele alcan&cced
Pedro e Belinda foram encarregados de olhar quarto por quarto, no andar superior. Pedro estava muito tranqüilo sobre a escuridão e parecia ter decorado a casa, caminhando em passos decididos, com Belinda grudada em seu braço.Eles quase não tinham iluminação no corredor. Não haviam janelas fora dos quartos, no andar superior, então a pouca luz que chegava para eles era mais reflexo dos relâmpagos das janelas do térreo.— Qualquer coisa, gritem – Arthur passou por ele, falando. – Estaremos lá embaixo.Léa e Arthur olhariam o andar inferior enquanto Fabrício e Catarina ficariam no quarto, esperando caso Raquel voltasse. O casal sumiu logo, descendo as escadas e Pedro procurou as duas bolinhas brilhantes que eram os olhos de Belinda. Sorriu.— Então... Vamos?Belinda concordou com a cabeça antes de se lembrar que Pe
Pânico. Medo. Desespero.Catarina encarava o vazio a sua frente, sem saber o que poderia esperá-la caso desse um passo em qualquer direção.— Fabrício? – Ela tentou novamente.Ao fundo, ouviu uma risadinha baixa, mas achou que era fruto da sua imaginação assustada.Seu coração estava batendo assustadoramente forte e ela achava que qualquer um, em uma distância razoável, poderia ouvi-lo. Sua respiração estava pra lá de alterada e suas mãos, completamente soadas, tremiam.Ele não respondeu. Fabrício não respondeu.E, no segundo seguinte, ela pensou que algo estava muito estranho naquela casa e que Luís não havia sido um acidente e Fabrício...Não. Não o Fabrício.Ela pensou em chamar alguém, mas todos estariam ocupados, no momento. Raquel est
Arthur não sabia pra onde ir. Léa estava grudada nele, com medo demais para que eles se separassem e pudessem ver, ao mesmo tempo, o porquê dos dois gritos em lugares diferentes da casa.Decidiu entrar no quarto mais próximo, o que era de Belinda, que Pedro aparentemente estaria ocupando também. Quem iria julgá-los? Ele e Léa estavam ocupando o mesmo quarto, embora fingissem que não.Entraram no quarto, mas, mesmo a luz de velas, não viram muita coisa. Léa apertou o braço de Arthur com força, escondendo o rosto no pescoço dele.— De novo não – Ela murmurou.Ele não entendeu o ataque de pânico dela, a principio. Mas, ao olhar para a entrada do banheiro da suíte, viu que havia sangue empoçado próximo a porta. Apurando os ouvidos, Arthur ouviu o lamento de Pedro.Ele agarrou Léa pelos ombros, os olhos de