Dez anos se passaram sem os laços de amizade que os mantinham juntos se afrouxarem. Na verdade, com o terrível acidente, eles se apertaram mais e qualquer um daquele grupo diria que tinha os sete melhores amigos do mundo inteiro.
O medo os acompanhou. E a loucura beirou cada um deles, mas foram Raquel e Arthur os que mais sofreram. Arthur, aos poucos, se curou da culpa de ter levado a todos para aquele lugar e ter tido a ideia daquela brincadeira idiota. Raquel, por outro lado, sofreu muito mais que os outros por ter sido o seu irmão e porque ele só estivera com eles àquele dia porque tinha que cuidar dela. A garota ainda tinha medo de qualquer coisa e passara por momentos complicados na adolescência, mas eles nunca a haviam abandonado. Ela era fazia acompanhamento com profissionais e Luís começara a cursar a psicologia para poder ajudá-la.
Fato que os oito eram quatro casais. Toda e qualquer pessoa podia enxergar isso — menos eles próprios, era claro. Enrolando desde que aprenderam o que era um namoro de verdade, covardes demais para falar um para o outro, beijando-se quando bebiam e fazendo com que o dia seguinte fosse o mais constrangedor possível... E, no fim, tudo voltava ao inicial.
Mas, naquela viagem, Léa estava determinada a mudar isso com Arthur. Estava suando nervosamente, enquanto via o carro prateado fazer uma curva fechada, dando a ela a visão dos outros três carros atrás deles, aonde seus amigos estavam.
Aquela viagem à casa de campo de Arthur foi uma ideia da mãe de Raquel. A garota estivera tendo mais problemas que o normal com a aproximação do aniversário de dez anos da morte do irmão, então eles acharam que ia ser bom para ela, e para todos eles, estarem juntos naquele momento.
A garota olhou para trás e encarou o carro abarrotado de malas. Por que ela levava tudo aquilo mesmo?
— O que foi? — Arthur perguntou, olhando para ela com um sorriso.
Era agora. Ela tinha que usas esse momento para serpentear a conversa para o rumo que ela queria. Mas, contrariando tudo que as amigas lhe falaram, apenas negou com a cabeça, fazendo o sorriso do garoto aumentar. Ela não entendeu o porquê.
Você tem que deixar ele com ciúmes. A voz de Catarina soou em sua cabeça.
Por que eu deveria ouvir você? Você está tão mal quanto eu! E riu ao se lembrar que a garota havia colocado a língua para fora para provocá-la.
Por via das dúvidas, resolveu tentar.
— Estou pensando se eu vou conhecer alguém legal nessa viagem — murmurou. Olhou para ele de rabo de olho esperando alguma reação, mas, se ele a teve, escondeu.
— ... Alguém legal? — Repetiu em tom de pergunta.
A garota respirou fundo. Agora ela já tinha começado, certo?
— É... Sabe? — Ela se embolou. — Um garoto...
Ela mordeu o lábio inferior, esperando conseguir o que queria. Arthur franziu uma das sobrancelhas e olhou para ela, deixando de encarar a estrada por alguns milésimos de segundo.
— Um garoto? — A voz dele soou uma oitava mais alta.
Ela sorriu internamente, tentando conter a felicidade e não transpassar para o rosto.
— É... Eu ando cansando de ficar sozinha — Deu de ombros para enfatizar o que dizia. Suspirou e encostou a cabeça no vidro da janela do carro.
— Eu achei que você já conhecesse todos os garotos que deveria conhecer... — murmurou, meio exasperado.
Ela riu. Desencostou a cabeça da janela e olhou para ele. Arthur tinha as mãos apertando o volante e a cara amarrada de quem não estava gostando nem um pouco da conversa, mas que tinha que continuá-la para impedir algum erro fatal.
— Quem, por exemplo? — Ela disse.
A resposta veio com mais rapidez que o necessário.
— E...Eu! — Quase gritou.
E não era que a Catarina estava certa?
— Não é exatamente a mesma coisa... — Ela sorriu de lado, sem se conter.
O garoto parecia prestes a soltar fogo pelo nariz.
— Por quê? — Foi o que ele conseguiu dizer.
E o sorriso dela se alargou.
— Bom, primeiro, você não... Hum... Me beija! — Ela soltou sem pensar, realmente, no que estava dizendo.
— Eu poderia te beijar, se você quisesse! — E os dedos dele se apertaram com mais força no volante.
— Então por que não beija? — Ela disse, em reflexo.
E o fervor da vergonha a fez corar e ela arregalou os olhos, voltando a olhar pela janela. Ele apenas deu uma risadinha baixa e freou o carro em frente a uma casa imponente, um pouco afastada da cidade, saindo do carro, batendo a porta com força. A garota balançou a cabeça para sair do transe e pegou sua mochila de coisas essenciais e o seguiu até o hall, olhando para trás e não encontrando nenhum sinal dos carros dos amigos. Deu de ombros, apenas. Arthur havia acelerado demais quando ela o provocara.
Entrou na casa, encarando a escada a sua frente. As pequenas malas que Arthur havia carregado para dentro estavam no pé dela. Deu de ombros, não tendo o garoto a vista e resolveu subir para escolher o melhor quarto para si primeiro, antes que o pessoal chegasse e começasse a guerra.
Ela mal chegou ao segundo degrau.
— Espera! — A voz de Arthur surgiu do além e então ele apareceu, vindo da esquerda e parou decidido, os dois degraus abaixo dela.
— O que foi? — Ela perguntou, rabugenta apenas por ter falado mais do que devia minutos antes.
O sorriso dele quase a derrubou no chão. Foi um sorriso que ele nunca havia dado a ela... Era irresistível, charmoso, tentador e conquistador. Ela apenas esperou o que viria a seguir, com o estômago revirando de sensações que não saberia descrever.
— Seu quarto é o segundo a direita — sussurrou, subindo um degrau, o rosto dele ficando da altura do dela. — É em frente ao meu — aproximou o rosto do dela e capturou os seus lábios por milésimos de segundos. — Não quero você saindo à noite para se encontrar com garotos legais que te beijam.
Os lábios vieram mais fortes aos dela e ela quase caiu para trás, então resolveu passar os dedos pelo cabelo do rapaz e arranhou sua nuca levemente. Ele sorriu, entre beijos, e aprofundou mais ainda o que já era intenso, apertando a cintura da garota e trazendo-a mais para a perto dele. Ela arfou mais forte e ele encerrou o beijo, mordiscando o lábio inferior. E ficou apenas encarando a face abobalhada dela com um sorriso que era dividido entre se gabar e se admirar.
— Eu acho... — sussurrou, abrindo os olhos devagar e encarando o sorriso duvidoso e idiota dele, e este se refletiu em sua face. Ela dedilhou a mão da nuca até a bochecha dele, fazendo-o se demorar mais no piscar, deliciado. — Eu acho que eu não preciso mais encontrar garotos legais que me beijam — quase soprou, entorpecida com a volta do ar aos pulmões. — Eu já achei um.
O sorriso dele se alargou.
— É — concordou. — Segundo a direita — repetiu.
Ela riu e ele desfez o abraço dela e apontou para a escada. E ela subiu, ouvindo a porta de entrada se abrir e a zoeira dos seus amigos entrando na casa. Estava feliz, havia conseguido sua meta para essas férias.
— Que cara é essa, Arthur? — Fabrício perguntou.
O garoto só riu e deu de ombros, pegando as malas que ele tinha abandonado ao pé da escada e subiu, deixando os outros sem entender.
— Eu hein, que maluco — Catarina soltou. — Alguém viu o Pedro e a Belinda?
Os outros deram de ombros, sem saber o que responder.
— Devem ter se perdido — Fabrício murmurou.
Luís riu abafado, mas negou rapidamente.
— Eles estavam bem atrás da gente, devem estar chegando — disse.
Fabrício abanou o ar.
— Que seja. Vamos subir? — Perguntou.
Catarina, prontamente, foi até suas malas e estava a recolhê-las.
— Nós vamos dar uma passada na cozinha — Luís disse, o braço displicentemente por cima dos ombros de Raquel, mais como proteção que qualquer outra coisa. — Vamos aproveitar e ligar para os dois retardados desaparecidos e saber o que aconteceu.
Fabrício levantou o polegar, indicando que estava tudo bem.
— Okay — respondeu. Pegou as malas que Catarina carregava (enquanto ela tentava resmungar com ele que podia fazer isso sozinha) e empurrou-a para subir as escadas na frente dele, para ampará-la se ela tropeçasse nos próprios pés.
E então, os dois pararam ao topo, admirados com a cena que viam. Era fato que eles já tinham visto cenas parecidas, mas devido às circunstancias de sobriedade, era quase impossível. Começaram a achar que estavam bêbados e não estavam vendo direito. Não era exatamente todo dia que se via dois de seus amigos se beijando no corredor de casa. E sóbrios, só para reforçar.
— Ei, Arthur! — Fabrício gritou, tampando os olhos de Catarina. — Tem criança aqui, sabia?
O barulho de uma tapa fora ouvido enquanto Catarina tentava se desvencilhar dos braços de Fabrício, que impediam a sua visão. Arthur não fez menção de encerrar o beijo, mas tirou o braço da cintura da garota e esticou em direção ao amigo, levantando apenas o dedo do meio, arrancando risadas quando Fabrício finalmente soltara Catarina e ela vira.
Envergonhada com as risadas, Léa encerrou o beijo e escondeu o rosto no peito de Arthur, que riu, abaixando o braço e a abraçou-a mais apertado, o que ela correspondeu com vigor.
— Porra, cara — Arthur reclamou. — Meio século pra acontecer isso e você ainda me interrompe? — Disse. Léa resmungou e tentou esconder mais ainda o rosto, com vergonha.
— Desculpa, eu só me assustei — Fabrício riu. — Mas, nossa, hein?
Arthur gargalhou com a expressão que Léa soltou. Ela parecia querer cavar um buraco para se esconder, o que não seria tecnicamente possível visto que eles estavam no segundo andar, mas era realmente o que ela queria.
— Viado — Arthur reclamou, mais pela timidez que havia provocado na garota que pelas declarações do amigo. — Desculpa, Catarina, mas quando for a sua vez, vou me vingar.
A pequena garota corou, ficando mais vermelha que os cabelos ruivos em dia de sol, mas, como sempre, preferia se fazer de desentendida quando o assunto era Fabrício.
— Minha vez que quê, Arthur? — Ela perguntou. — Você está louco?
O garoto riu com gosto e o rumo da conversa deu segurança suficiente para Léa parar de se esconder e falar.
— Sua vez de testar sua teoria, é claro — Léa falou.
Catarina arregalou os olhos.
— Deu certo? — Ela perguntou.
Léa confirmou com a cabeça. Arthur e Fabrício encaravam-nas, sem entender nada.
— Do que vocês estão falando? — Arthur perguntou.
Léa negou com a cabeça.
— Depois eu te explico, tá bom? — Sussurrou para ele.
Ele deu um sorriso e lhe deu um selinho rápido, arrancando risadinhas inconvenientes de Catarina e Fabrício que fizeram Léa corar e se esconder de novo. Arthur apenas riu e levantou a cabeça, vendo mais um casal surgir por detrás dos amigos.
— Aí está mais um que já passou do ponto! — Arthur disse.
Léa levantou o rosto para olhar e cutucou Arthur, repreendendo-o.
— Passamos do ponto pra quê? — Luís perguntou.
Ele estava com o braço em volta da cintura de Raquel, mas não era bem uma demonstração de carinho, era mais uma proteção para a garota. Como se ela precisasse constantemente que ele interviesse por ela.
— O Arthur acha que só porque ele e a Léa estão juntos, todo mundo tem que ficar — Fabrício revirou os olhos.
Arthur gargalhou.
— Mas os dois parecem tão mais um casal, olhe pra eles — Arthur apontou, Léa lhe deu um soco. — Ai, que foi, garota? Eles deviam ficar juntos, sério.
— Ah — Raquel disse. Ela olhou para cima, encarando Luís como se a resposta dele valesse mais que a dela própria.
Luís apertou o abraço da garota e sorriu.
— Nós dois não estamos prontos pra isso, certo? — Ele murmurou. A garota, meio decepcionada, concordou com a cabeça. — Bom, nós vamos escolher um quarto.
Fabrício e Catarina se entreolharam e saíram correndo na frente (e se batendo) para pegar o melhor quarto antes dos outros. Luís e Raquel nem se abalaram, continuaram seguindo tranquilamente pelo corredor.
— E você, mocinha? — Arthur riu, beijando a pontinha do nariz da garota. — Tem que parar de ficar envergonhada quando eu beijar você — ela sorriu, as bochechas ganhando cor novamente. — É sério — ele riu do tom de rosa que ela estava.
— Eu só tenho que me acostumar com isso — disse.
Ele deu um lindo sorriso de canto de lábio que a fez suspirar levemente.
— Você vai ter um bom tempo pra se acostumar — Foi o que ele disse antes de grudar os lábios nos dela, urgentes, enquanto suas mãos avançavam perigosamente pelo corpo da garota.
— Eita! Arrumem um quarto! — A voz de Pedro encheu a casa, forte como um trovão, enquanto Belinda, ao seu lado, só fazia rir.
— Arrumem um vocês — Arthur disse. — Todos já têm um quarto, só vocês retardados que não. O que estavam fazendo que demoraram tanto, hein?
A suspeita estava nítida na voz do garoto e isso fez Belinda ficar rosada e Pedro sorrir, safado.
— Nada do que eu gostaria — Ele disse.
Belinda ficou mais vermelha ainda.
— Ahn... Er... — Ela deu dois passos incertos — Vou ver que quarto sobrou para mim.
Ela saiu de fininho e Pedro apenas ajeitou o cabelo antes de segui-la com as malas.
Arthur acompanhou os dois com o olhar, até que eles entrassem em seus respectivos quartos. E quando aconteceu, ele abriu um sorriso imenso.
— Enfim sós — disse.
Léa cerrou os olhos para ele e o empurrou levemente com as mãos.
— Acho melhor a gente ir assistir TV, senhor-eu-quero-tirar-o-atraso-de-dezoito-anos-com-você.
Ela o ouviu bufar impacientemente atrás dela e isso a fez rir.
Meia hora depois, estavam todos na sala, assistindo TV. Fabrício estava inquieto e foi ele que quebrou o silencio sepulcral entre os amigos. Mas o que ele disse foi tão absurdo que todos eles o olharam abismados com a atrocidade.
— Vamos jogar uma rodada de verdade ou consequência? — Ele perguntou.
Pouco faltou para alguém pegar o telefone e ligar para o manicômio.
— Uma rodada, Fabrício? — Catarina perguntou, colocando a mão na testa do garoto para ver se ele estava com febre. — Ele parece bem, gente.
Fabrício empurrou a mão dela rindo.
— Ah, gente, a gente pega um azarado e depois sai, que tal? — Ele disse, e olhou ameaçadoramente pra Arthur e Léa, então o resto dos amigos entendeu.
Arthur revirou os olhos.
— Ta, né? — Belinda disse, se aproximando e sentando no chão.
Os oito formaram uma roda torta e Fabrício roubou o chinelo de Arthur (Depois de uma briga de tapas entre os dois) para girar no meio. Fabrício, então, se posicionou pronto para fazer com que o chinelo pouco girasse e entregasse o casal nas mãos dele.
— Espera — Belinda pediu — A frente pergunta e atrás responde? — Fabrício concordou — Eu giro, você é muito lerdo!
Belinda deu um tapa nas mãos do garoto e, antes que ele pudesse pegar de volta, ela girou. Fabrício tentou disfarçar a cara de desesperado, mas o chinelo quase parou na posição que ele queria.
Na verdade, mais meia volta e seria perfeito. Deu que Léa perguntaria para Catarina.
Arthur riu e sussurrou algo no ouvido de Léa que também riu e concordou. A garota olhou pra Catarina e depois olhou de rabo-de-olho pra Fabrício, fazendo-a ficar assustada.
— Verdade ou consequência? — Léa perguntou, a ameaça entoando na voz.
Catarina respirou fundo. Se pedisse verdade, Léa perguntaria se ela era apaixonada por Fabrício e ela teria que dizer a verdade. Se pedisse consequência, ela mandaria beija-lo, mas não se comprometeria com nada.
— Consequência — a garota disse, certa de que era a melhor escolha.
Arthur sorriu e sussurrou mais alguma coisa no ouvido de Léa, que o olhou, revoltada.
— Quem o seu chinelo escolheu, eu ou você? — Ela soltou. Os outros amigos fizeram coro de ‘uuuuhhh’. — Então, Catarina... — Catarina fechou os olhos, fazendo a garota rir — Ah, uma bem fácil pra você, tá bom? Que tal você de declarar para o... — Léa olhou em volta como se fosse escolher alguém aleatório. — Fabrício — apontou para o garoto.
Foi fácil ler nos lábios de Catarina a frase vou matar você.
Arthur gargalhou e se recostou nas pernas do sofá, recolhendo o chinelo com o pé. Fabrício e Catarina estavam corados.
— Bom... — Catarina começou olhando pra baixo.
— Nã-nã — Léa interrompeu-a. — Melhor olhar pra ele. — Catarina lançou-a um olhar mortal. — Ah, vamos, será fácil. Você tem as palavras dentro de você.
Arthur riu e segurou Léa, tampando sua boca.
— Você não quer morrer, certo? — Ele perguntou para ela.
Raquel deu um pulo, quase que como não estivesse prestando atenção antes e sorriu no abraço de Luís, olhando para a vergonha de Catarina.
Catarina virou o corpo pra Fabrício e levantou os olhos, envergonhada. Fabrício sorriu e pegou as mãos dela, entrelaçando nas dele.
— Tá tudo bem — sussurrou.
Ela concordou com a cabeça.
— Eu não sei quando me apaixonei por você. Eu não sei se foram seus olhos ou se foi o modo que seu cabelo fica quando o vento bate ou suas bochechas quando você sai no frio... Eu só sei que foi uma coisa que aconteceu e que eu não tive como negar — suspirou fundo e fechou os olhos pra não ver o sorriso deliciado dele. — Então a gente foi crescendo e... Eu fui ficando com ciúmes das outras garotas com quem você ficava e... Bom, é isso — corou e sussurrou. — Eu amo você.
O garoto olhava completamente admirado para ela. Eles não viam mais ninguém a volta deles — e realmente não tinha, porque os amigos foram saindo de fininho e se esconderam próximos ao hall, onde podiam ouvir e ver sem serem vistos.
— Se... Eu te fizer uma pergunta, você não mente pra mim? — O garoto perguntou, pausadamente. Catarina concordou com a cabeça, vermelha demais para fazer qualquer outra coisa. — Isso que você disse... É verdade?
A garota olhou para longe dos olhos dele, vendo que a sala estava vazia, as bochechas corando mais do que já estavam.
— É — sussurrou.
O garoto mordeu o lábio, tentando conter a explosão que estava tendo dentro dele.
— Catarina? — Chamou.
— Que é? — A garota estava de mau-humor agora. Ele iria magoá-la e era tudo culpa de Léa. Maldita, ela iria se vingar.
— Você pode olhar pra mim, por favor? — Pediu. Ela suspirou fundo e olhou para ele e, então, o garoto sorriu — A recíproca é verdadeira. — Foi o que ele disse antes de grudar os lábios no dela, assustando-a.
Mas antes que eles pudessem aproveitar, um cheiro horrível invadiu o ambiente.
— Minha forra nunca foi tão rápida — Arthur disse, sacudindo a meia de Pedro entre os dois.
— Eca! — Os dois pularam para longe da meia (e um para longe do outro), enojados, arrancando risadas dos amigos.
Arthur rolou no chão de rir e Fabrício quase foi matá-lo, mas Léa, rindo um pouco menos, arrastou-o para longe deles.
— Então! — Luís pediu atenção, por cima das risadas — Vocês vão à cidade ou não?
— Eu não vou — Arthur disse, passando o braço pelo ombro de Léa. — E a Léa vai ficar comigo, né?
A garota revirou os olhos, mas concordou.
— Bom, a gente tem que ir à farmácia — Luís disse, apontando para si e Raquel — então decidam se vão ou não.
Pedro deu de ombros e empurrou Belinda porta afora, atrás de Luís e Raquel. Fabrício, sem jeito, entrelaçou sua mão na de Catarina e acabaram por seguir os quatro.
Arthur sorriu malicioso pra Léa quando a porta se fechou, deixando-os sozinhos. Ela o ignorou e mudou os canais da TV.
— Larga isso — pediu, tentando beijar o pescoço da garota pra fazê-la se render.
Ela estremeceu e o braço que segurava o controle afrouxou um pouco, mas ela estava tentando resistir.
— Arthur, eu não quero transar com você, ok? — Ela foi direta. Ele parou o que estava fazendo e se afastou, arqueando a sobrancelha.
— E quem falou em sexo? — Ele perguntou, rindo, antes de grudar os lábios nos dela.
— Você disse nada de sexo – Léa reclamou. Ela estava tentando fazê-lo parar de beijá-la há algum tempo, se sentindo desconfortável com o rumo das mãos e dos lábios do garoto, deitado sobre ela no sofá. Ok, a espera tinha sido realmente enlouquecedora, mas ela não ia ceder a ele tão fácil a ponto deixar que ele passasse do limite. Ela ainda era uma garota respeitável e ele tinha que ter um pouco mais de calma com ela, se quisesse. — Eu não disse nada de sexo – murmurou, o rosto afundado no pescoço dela, enquanto dava mordidinhas que faziam os calafrios subirem pela sua coluna. Inconscientemente, Léa apertou um pouco mais o pedaço de camisa que ela segurava, na altura da cintura do garoto – Eu disse “quem está falando de sexo?” Eu não estava, mas agora tô pensando melhor. Com isso, ele mordeu sua a orelha e movimentou o corpo, insinuando-se sobre ela, fazendo-a gemer baixinho e acabou por acompanhá-la. — Arthur... – sussurrou. – Eu rea
Capítulo TrêsO grito agudo e cheio de temor preencheu a casa instantaneamente, provocando reações atribuladas nos cômodos ocupados.A chuva batia na casa, corroborando ao clima sinistro e suspeito da casa. No meio do nada, em uma vila tranqüila onde os vizinhos mais próximos podiam estar até à um quilômetro de distância.O que estava se fazendo parou. O primeiro casal a reagir, talvez porque estavam mais controlados pela conversa que tiveram mais cedo sobre “não atropelar os passos”, dói Arthur e Léa. Os dois pararam, instantaneamente, de se beijar e se entreolharam, à meia luz do abajur da escrivaninha do garoto.Arthur arqueou a sobrancelha, Léa, em seu colo, levantou-se, curiosa.— O que foi isso? – Ela perguntou.Arthur balançou a cabeça, informando que não saberia dizer. Ele alcan&cced
Pedro e Belinda foram encarregados de olhar quarto por quarto, no andar superior. Pedro estava muito tranqüilo sobre a escuridão e parecia ter decorado a casa, caminhando em passos decididos, com Belinda grudada em seu braço.Eles quase não tinham iluminação no corredor. Não haviam janelas fora dos quartos, no andar superior, então a pouca luz que chegava para eles era mais reflexo dos relâmpagos das janelas do térreo.— Qualquer coisa, gritem – Arthur passou por ele, falando. – Estaremos lá embaixo.Léa e Arthur olhariam o andar inferior enquanto Fabrício e Catarina ficariam no quarto, esperando caso Raquel voltasse. O casal sumiu logo, descendo as escadas e Pedro procurou as duas bolinhas brilhantes que eram os olhos de Belinda. Sorriu.— Então... Vamos?Belinda concordou com a cabeça antes de se lembrar que Pe
Pânico. Medo. Desespero.Catarina encarava o vazio a sua frente, sem saber o que poderia esperá-la caso desse um passo em qualquer direção.— Fabrício? – Ela tentou novamente.Ao fundo, ouviu uma risadinha baixa, mas achou que era fruto da sua imaginação assustada.Seu coração estava batendo assustadoramente forte e ela achava que qualquer um, em uma distância razoável, poderia ouvi-lo. Sua respiração estava pra lá de alterada e suas mãos, completamente soadas, tremiam.Ele não respondeu. Fabrício não respondeu.E, no segundo seguinte, ela pensou que algo estava muito estranho naquela casa e que Luís não havia sido um acidente e Fabrício...Não. Não o Fabrício.Ela pensou em chamar alguém, mas todos estariam ocupados, no momento. Raquel est
Arthur não sabia pra onde ir. Léa estava grudada nele, com medo demais para que eles se separassem e pudessem ver, ao mesmo tempo, o porquê dos dois gritos em lugares diferentes da casa.Decidiu entrar no quarto mais próximo, o que era de Belinda, que Pedro aparentemente estaria ocupando também. Quem iria julgá-los? Ele e Léa estavam ocupando o mesmo quarto, embora fingissem que não.Entraram no quarto, mas, mesmo a luz de velas, não viram muita coisa. Léa apertou o braço de Arthur com força, escondendo o rosto no pescoço dele.— De novo não – Ela murmurou.Ele não entendeu o ataque de pânico dela, a principio. Mas, ao olhar para a entrada do banheiro da suíte, viu que havia sangue empoçado próximo a porta. Apurando os ouvidos, Arthur ouviu o lamento de Pedro.Ele agarrou Léa pelos ombros, os olhos de
A visão, embora horripilante, acalmou os dois que viram a garota adentrar a sala, tremendo e ensangüentada. Ela cambaleou, tonta, até Arthur, mais próximo, e desabou nos braços dele, chorando desesperadamente, fazendo com que o sangue seco em sua face desmanchasse e se misturasse as lágrimas.Parecia que Raquel chorava sangue.— Me... Me... Ata... Atacaram – Ela choramingou, entre soluços.Extremamente aliviado, Arthur abraçou a garota, sem ligar para o quão repulsiva ela parecia no momento. Léa parecia um pouco menos disposta a isso, mas cedeu quando a garota virou-se para ela, abraçando-a também.Raquel logo sentou-se ao sofá, do lado de Catarina, encolhida e assustada, ganhando um olhar respeitoso de Arthur. Seja lá o que for que atacara a garota, estava matando seus amigos. Pedro, Fabrício, Luís e Belinda pereceram nas mãos
Léa sentia sua cabeça explodir. Algo estranho estava em sua testa, ela tinha certeza. O que estava acontecendo? Ela estava tentando escapar com Arthur e, então, Raquel...Oh, não.Finalmente, tomada pela consciência do que acontecia, ela entendeu o que havia com seus braços. Estavam, de alguma forma, presos, pendurados. Ela não conseguia sentir o chão, sob os pés.Estremeceu, tentando se soltar.— Olhe quem acordou – Ela ouviu Raquel dizer.No segundo seguinte, antes que pudesse abrir os olhos, sentiu toda a sua pele queimando em contato com água fervente. Ela berrou, tentou se soltar, sem conseguir. Quando achou que sua pele não podia arder mais, água gelada foi jogada em cima dela. Tremeu, por alguns segundos, deixou-se desmaiar.Quando acordou, novamente, abriu os olhos, ardendo em ódio. Não entendia mais como loucura, o que
Os dois caminhavam pela terra seca, sem falar uma palavra sequer. Ele tinha o braço engessado e a mão do outro estava enfaixada, os pontos cuidando dos buracos que substituíram seus dedos. Ela não se importava, mas ele estava irritado em não poder entrelaçar os dedos nos dela. Tinha que se contentar em abraçá-la sempre de muito perto, o que acabava com tropeços.Léa ainda estava muito assustada e quase não parava de chorar quando ficava sozinha com ele. Ao público, ela parecia fria e calculista, parecia esperar quem seria a próxima a atacá-la. Ele tentava fazer um contraponto, ainda muito abalado, mas normalmente, o carinho que ambos sentiam pelo outro quebrava essas coisas.Poucos duvidaram da história contada. Infelizmente, a polícia fora um desses poucos. Eles vinham passando por inquéritos e intermináveis depoimentos sobre aquela noite nos &