O grito agudo e cheio de temor preencheu a casa instantaneamente, provocando reações atribuladas nos cômodos ocupados.
A chuva batia na casa, corroborando ao clima sinistro e suspeito da casa. No meio do nada, em uma vila tranqüila onde os vizinhos mais próximos podiam estar até à um quilômetro de distância.
O que estava se fazendo parou. O primeiro casal a reagir, talvez porque estavam mais controlados pela conversa que tiveram mais cedo sobre “não atropelar os passos”, dói Arthur e Léa. Os dois pararam, instantaneamente, de se beijar e se entreolharam, à meia luz do abajur da escrivaninha do garoto.
Arthur arqueou a sobrancelha, Léa, em seu colo, levantou-se, curiosa.
— O que foi isso? – Ela perguntou.
Arthur balançou a cabeça, informando que não saberia dizer. Ele alcançou a porta e acenou para ela.
— Vem, vamos ver.
Ele foi o primeiro a alcançar o corredor foi Arthur, seguido de uma Léa meio desesperada. Eles olharam em volta, tentando decidir de onde viera o grito, decididos em checar o andar inferior primeiro.
A reação do casal do andar abaixo, foi muito parecida, ainda que um pouco mais lenta.
Pedro e Belinda, envoltos pelo clima que a conversa sobre beijos havia proporcionados, continuavam simplesmente aproveitando a companhia. No sofá onde Arthur e Léa haviam passado a tarde, Pedro estava deitado sobre Belinda, o beijo realmente intenso, embora as mãos de ambos estivesse devidamente comportada.
O grito os pegou no momento em que Pedro desviou os lábios para o pescoço da garota.
Ele levantou-se, olhando em volta, confuso. Belinda arregalou os olhos, as mãos sobre o peito de Pedro.
— Acho que foi a Raquel – Ela confessou.
Pedro levantou-se do sofá em um pulo, reação de todos os sete amigos quando se tratava de resolver algo para Raquel, e ofereceu a mão a Belinda, que aceitou prontamente.
Pedro subiu dois degraus de cada vez, vendo Arthur já ameaçando descer a escada, parando quando o viu.
— O que aconteceu? Quem gritou? – Pedro perguntou aos dois.
Belinda vinha logo atrás dele, um pouco perdida. Os quatro se encararam sem entender nada. Léa agarrou o braço de Arthur.
— Foi a Raquel ou a Catarina, talvez a gente devesse checar os quartos. – Disse.
O outro casal levara um susto maior. Os dois eram os mais extremáticos do grupo e, é claro, estavam tentando pular todos os passos que Léa se recusava.
Catarina e Fabrício já estavam apenas de roupas íntimas quando ouviram o grito. Ele já estava se preparando para pegar a camisinha e, em meio ao susto, deixou a mão sem querer desabotoar o sutiã de Catarina.
Eles não reagiram, a principio. Ficaram se encarando, por um momento, tentando processar a informação.
— Tem algo errado – Catarina disse.
— É. – Fabrício concordou.
Mas nenhum dois dois se mexeu até ouvirem a porta de um quarto abrir e se fechar em um estrondo.
Finalmente percebendo que algo estranho estava acontecendo, Fabrício saiu de cima da garota, vestindo a calça com pressa enquanto Catarina vestia a camisa dele, sobre os seios desnudos. Ele abriu a porta a tempo de ver Arthur concordando com a cabeça, antes de se virar para a porta onde ele estava e arregalar os olhos em susto
Fabrício saiu, meio abalado por causa do grito, tentando abotoar o botão da calça.
Os quatro que já estavam no corredor olharam para ele e, esquecendo que estavam nervosos, caíram na gargalhada.
Mesmo com a dignidade perdida, Catarina marchou pra fora do quarto, vestindo apenas a camisa de Fabrício.
— Quem gritou? – Perguntou.
Ao tocar, novamente, no assunto, as risadas se perderam. Todos olharam pro final do corredor, o quarto que Luís dividiria com Raquel. O grito só podia ter vindo dali.
Eles se entreolharam e, por um segundo de extrema tensão, o pior passou pela cabeça de cada um deles, de formas diferentes. Um relâmpago clareou o corredor escuro por alguns segundos e, vislumbrando seu destino, Arthur e Pedro saíram na frente, apressados em saber o que estava acontecendo. Mesmo que só fosse uma barata, ao se tratar de Raquel, era um problema que eles tinham que resolver, ou ajudar a.
Fabrício, ainda meio perdido, foi atrás, com uma orgulhosa Catarina, tentando ignorar as risadinhas que Belinda e Léa, andando pouca atrás dela, davam apenas para irritá-la.
A tensão que enfrentaram quando Pedro pôs a maçaneta na porta não poderia ter sido descrita com nenhuma clareza por nenhum deles depois. O medo do desconhecido, o começo do pesadelo. Embora ainda não soubessem o terror que viriam a enfrentar àquela noite, cada um deles sentia que algo bom não estava para começar.
Pedro parou, a mão na maçaneta, sentindo um vento passando por seus cabelos, mesmo com todas as janelas da casa lacradas. Fuja, ele ouviu em sua cabeça. Sacudiu-a e abriu a porta.
Arthur, antes de segui-lo, sentiu uma dor infernal em três de seus dedos na mão esquerda. Olhou para eles e viu, na ponta de cada um deles, uma gota de sangue pingar para o chão. Sacudiu a mão, não viu nenhum sinal de sangue na mão ou no chão. Ignorando aquilo, achando que estava assustado por nada, seguiu Pedro.
Fabrício, atrás deles, foi logo atrás, apertando a garganta. Algo parecia estar sufocando-o, mas ele não vestia camisas. Talvez fosse só um mal estar. Ofereceu a mão a Catarina, para ver se isso o acalmava. A garota foi, piscando longamente. Sua cabeça havia doído muito, do nada. Seus olhos estavam tendo dificuldades em se manter aberto e encarar a claridade da luz do quarto acesa. Da mesma maneira estranha em que a dor se veio, ela logo foi-se.
Belinda entrou atrás, algo estranho movimentando-se em sua barriga. Nervoso ou cólica. Ela pensou, ignorando. Léa, atrás dela, sentiu os pelos de todo seu corpo se levantarem quando uma onda de frio a atingiu. Abraçou os próprios braços e friccionou-os, tentando se aquecer.
Não havia nada de diferente no quarto, nada que pudesse ter causado o grito de terror que ouviram. Nada de estranho, exceto que o quarto estava vazio, com as cortinas abertas, fazendo a chuva e os raios lançarem uma iluminação estranha sobre as sombras dos móveis.
Léa correu até a janela, apenas pra checar.
— Nada – Disse.
Eles se entreolharam e com silêncio, apenas quebrado pela chuva lá fora, foi possível identificar lamúrias.
— Raquel? – Pedro chamou.
Ela não respondeu, mas eles continuaram a ouvir as lamúrias da porta fechada do banheiro. Com cuidado, Pedro entrou no banheiro, seguido por Arthur e Belinda.
— Ai meu Deus! – Belinda soltou, saindo do banheiro ao mesmo tempo que Arthur e Pedro pareceram desaparecer por ele.
As lágrimas vieram aos olhos da garota, que sentou-se ao chão, meio encolhida e assustada. Catarina e Léa se entreolharam, com medo. Nenhuma das duas se atreveu a seguir o caminho para o banheiro, com os outros.
— O que houve? – Perguntou Léa, assustada.
Belinda negou com a cabeça. Fabrício sumiu pelo banheiro, curioso. Ouviram sua expressão de horror e alguma movimentação lá dentro.
— NÃO! – Raquel berrou.
Belinda fechou os olhos com força, as lágrimas caindo descontroladamente. Tremeu o corpo com a dor que estava sentindo e encostou a cabeça nos joelhos, se encolhendo, choramingando um pouco mais alto. Seu coração se partira no meio, sem amigo...
— Luís... – Ela murmurou, demonstrando tudo que sentia na voz.
Arregalando os olhos, Léa entrou no banheiro, se deparando com uma cena que fez o coração dela saltar a frente com a força da adrenalina bombeada pelo medo que ela sentia e, em seguida, murchar, estilhaçado.
O chuveiro ainda estava ligado, a água escorria para o ralo, ligeiramente mais avermelhada que o normal. Luís estava tomando banho e, por algum motivo, ele caíra sobre a porta de correr de vidro do Box, estilhaçando-a. A pele, em contato com os cacos de vidro, foi cortada em diversos pontos, alguns mais profundos e outros mais leves, mas nada que o fizesse estar deitado ao chão, sem esboçar alguma reação ou sequer estar respirando.
Ele estava nu, mas a preocupação da garota, em examinar os ferimentos ou vigiar qualquer reação adversa que ele pudesse ter não a permitiu corar por estar vendo o amigo dessa maneira. Nenhum, naquele aposento, parecia sequer notar a falta de vestimenta do rapaz. Todos estavam ocupados em afastar Raquel dele ou checar sua respiração ou tentar estancar o sangue que ainda escorria para fora do corpo dele.
Luís jogado ao chão, nu, com Raquel ainda agarrada a ele enquanto Pedro fazê-la soltá-lo, era examinado incansavelmente por Arthur, sentado do outro lado do corpo do amigo, parecendo estar medindo o pulso dele desesperadamente. Ele levantou o olhar, vendo Léa e negou com a cabeça.
A garota tapou a boca com as mãos e, com lágrimas nos olhos virou-se de costas para a cena chocante, dando de cara com Catarina tendo uma reação parecida com a dela. Saiu do banheiro em passadas largas e sentou-se a cama, com o olhar perdido. Com os gemidos do choro de Belinda, ela se rendeu aos soluços também.
Ainda no banheiro, Arthur continuava a procurar qualquer vestígio de vida em Luís. Por vezes, ele achou ter sentido que o amigo respirava fracamente, mas pôs-se a acreditar que era sua mente desejosa por ele de volta, visto que não conseguia sentir ou ouvir seus batimentos cardíacos. Ele e Pedro, enquanto Fabrício segurava uma ensangüentada Raquel longe de Luís e Catarina tentava acalmá-la, tentaram forçar uma massagem cardíaca, mas não houve reação alguma do rapaz.
— Raquel, Raquel, olha pra mim – Catarina pediu. O olhar perdido e choroso da garota problemática encontrou com os dela e, sob espanto, mostrou-se menos dolorido que seus lamentos ou lágrimas – Vamos só sair daqui enquanto Arthur e Pedro cuidam disso, ok?
Raquel concordou com a cabeça, sendo arrastada para fora do quarto. Se alguém não tivesse visto a cena do banheiro, claramente se assustaria com a visão da garota. Ensangüentada, ela caminhou até a cama com a ajuda de Catarina, sujando o carpete do quarto. Poucos saberiam dizer a quantidade de sangue, nela, pertencia a Luís e a quantidade de sangue que era realmente dela, dos próprios cortes em sua pele, ao se ajoelhar ao lado de seu amado inconsciente.
Léa acolheu a garota em seus braços, com Catarina friccionando os braços de Raquel, ao seu lado, uma tentativa quase inútil de passar energia para a garota, para que ela superasse isso. Belinda se juntou as três, logo em seguida, ajoelhando ao lado de Léa, tão perdida quanto as outras.
Fabrício saiu do banheiro, caminhou até o armário, escolhendo uma colcha avermelhada para cobrir Luís. Léa, Catarina e Belinda acompanharam o garoto, sentindo mais lágrimas escorrendo por saberem que nada mais poderia ser feito por Luís.
E Raquel? O que eles fariam com ela? Tão calejada pela morte do irmão, como ela lidaria com a morte de Luís?
No fundo, eles sabiam que a morte de Luís não era somente a perda dele, mas a perda, também, de Raquel, mas nenhum deles pareceu demonstrar qualquer menção de desistir da garota.
— Ele vai acordar, não vai? – Raquel perguntou para as amigas, quebrando o coração delas em mil pedaços – Façam ele acordar! Ele precisa me dar os remédios, ele prometeu que não ia demorar, eu estava aqui esperando...
As meninas se entreolharam, sem saber o que dizer. Então, Léa respirou fundo e resolveu começar a prepará-la pra lidar com aquilo.
— Raquel, não acho que o Luís vá poder voltar... – Ela sussurrou.
Raquel arregalou os olhos e se afastou do abraço dela para olhá-la com seus olhos arregalados e molhados pelas lágrimas, ardendo em ódio.
— Não! – Ela exclamou. – Luís vai voltar, ele nunca ia me deixar sozinha.
Léa engoliu a seco e olhou para as outras duas, sem saber o que falar. Da porta, Pedro acompanhava a conversa e se aproximou, Fabrício e Arthur, bastante arrasados, saíram do banheiro logo atrás.
Pedro ajoelhou na frente de Raquel e segurou as mãos dela.
— Raquel... – Sussurrou, com lágrimas nos olhos. – Ele se machucou muito quando caiu. Foi pro Céu, agora.
Os meninos conversaram e nenhum deles achava que os cortes teriam provocado aquilo, mas não eram peritos e nem tinham encontrado qualquer outra circunstância que pudesse ter causado a morte de Luís.
— NÃO! – Raquel berrou.
E, com um monte de lágrimas, e um chute, ela correu para fora do quarto, sem que nenhum deles pudesse sequer pensar em segurá-la.
Léa precipitou-se pela cama, tentando correr atrás dela, mas Catarina a segurou. Fabrício e Arthur também tentaram reagir, mas Catarina pediu que eles esperassem.
— Vocês não acham que talvez ela precise de um tempo pra processar a informação? – Perguntou, tentando ser forte e não chorar.
Arthur alcançou Léa, abraçando-a. A garota começou a chorar copiosamente, agora que Raquel havia se afastado e ela tinha apoio. Arthur deixou algumas lágrimas escorrerem, no abraço, mas fez de tudo para dar suporte à namorada.
— É da Raquel que estamos falando, Catarina – Pedro ponderou. – A gente não sabe o que ela pode fazer sozinha.
— Eu ainda acho que ela vai precisar de um tempo. – Catarina insistiu.
Léa saiu do abraço de Arthur e, sob o olhar protetor dele, secou as lágrimas, achando que deveria se intrometer na conversa.
— Ela pode precisar de um tempo, sim – Disse. – Mas com alguém olhando. – E, com o coração na mão, continuou – Luís não nos perdoaria se a deixássemos sozinha agora. Vocês sabem como ele nunca deixava ela ficar sozinha...
Com um murmuro de concordância, ela começou a caminhar em direção à porta, para procurar Raquel. Mas, assim que alcançou a maçaneta, todas as luzes da casa se apagaram com um estrondo e um clarão.
As meninas se assustaram, cada um procurando agarrar o braço de seu companheiro.
— Celulares? – Arthur perguntou.
Ouvindo a voz dele, Léa caminhou até ele e agarrou-o com força. Ele riu, sem humor, passando o braço ao redor dela.
Mas ninguém acendeu luz alguma.
— Não consigo achar meu celular – Catarina disse.
Um coro de “nem eu” foi-se ouvido. O que estava acontecendo?
— Precisamos achar a Raquel. – Pedro disse.
Todos concordavam, mas o terror que todos sentiram em suas peles, momentos antes de entrarem ao quarto, voltou-se contra eles. Cada um sentiu seu medo, sua vontade de simplesmente deixar pra lá. Mas a dedicação que tinham com a amiga e a dívida que tinham com Luís não iria permiti-los abandoná-la por causa de uma queda de luz.
— Vamos precisar nos separar – Léa murmurou, dando voz ao pensamento de todos eles.
E, com isso, tateando no escuro, Léa e Arthur desceram as escadas para o desconhecido, deixando Pedro e Belinda procurarem nos quartos e Catarina e Fabrício no quarto de Luís, esperando caso Raquel voltasse.
Pedro e Belinda foram encarregados de olhar quarto por quarto, no andar superior. Pedro estava muito tranqüilo sobre a escuridão e parecia ter decorado a casa, caminhando em passos decididos, com Belinda grudada em seu braço.Eles quase não tinham iluminação no corredor. Não haviam janelas fora dos quartos, no andar superior, então a pouca luz que chegava para eles era mais reflexo dos relâmpagos das janelas do térreo.— Qualquer coisa, gritem – Arthur passou por ele, falando. – Estaremos lá embaixo.Léa e Arthur olhariam o andar inferior enquanto Fabrício e Catarina ficariam no quarto, esperando caso Raquel voltasse. O casal sumiu logo, descendo as escadas e Pedro procurou as duas bolinhas brilhantes que eram os olhos de Belinda. Sorriu.— Então... Vamos?Belinda concordou com a cabeça antes de se lembrar que Pe
Pânico. Medo. Desespero.Catarina encarava o vazio a sua frente, sem saber o que poderia esperá-la caso desse um passo em qualquer direção.— Fabrício? – Ela tentou novamente.Ao fundo, ouviu uma risadinha baixa, mas achou que era fruto da sua imaginação assustada.Seu coração estava batendo assustadoramente forte e ela achava que qualquer um, em uma distância razoável, poderia ouvi-lo. Sua respiração estava pra lá de alterada e suas mãos, completamente soadas, tremiam.Ele não respondeu. Fabrício não respondeu.E, no segundo seguinte, ela pensou que algo estava muito estranho naquela casa e que Luís não havia sido um acidente e Fabrício...Não. Não o Fabrício.Ela pensou em chamar alguém, mas todos estariam ocupados, no momento. Raquel est
Arthur não sabia pra onde ir. Léa estava grudada nele, com medo demais para que eles se separassem e pudessem ver, ao mesmo tempo, o porquê dos dois gritos em lugares diferentes da casa.Decidiu entrar no quarto mais próximo, o que era de Belinda, que Pedro aparentemente estaria ocupando também. Quem iria julgá-los? Ele e Léa estavam ocupando o mesmo quarto, embora fingissem que não.Entraram no quarto, mas, mesmo a luz de velas, não viram muita coisa. Léa apertou o braço de Arthur com força, escondendo o rosto no pescoço dele.— De novo não – Ela murmurou.Ele não entendeu o ataque de pânico dela, a principio. Mas, ao olhar para a entrada do banheiro da suíte, viu que havia sangue empoçado próximo a porta. Apurando os ouvidos, Arthur ouviu o lamento de Pedro.Ele agarrou Léa pelos ombros, os olhos de
A visão, embora horripilante, acalmou os dois que viram a garota adentrar a sala, tremendo e ensangüentada. Ela cambaleou, tonta, até Arthur, mais próximo, e desabou nos braços dele, chorando desesperadamente, fazendo com que o sangue seco em sua face desmanchasse e se misturasse as lágrimas.Parecia que Raquel chorava sangue.— Me... Me... Ata... Atacaram – Ela choramingou, entre soluços.Extremamente aliviado, Arthur abraçou a garota, sem ligar para o quão repulsiva ela parecia no momento. Léa parecia um pouco menos disposta a isso, mas cedeu quando a garota virou-se para ela, abraçando-a também.Raquel logo sentou-se ao sofá, do lado de Catarina, encolhida e assustada, ganhando um olhar respeitoso de Arthur. Seja lá o que for que atacara a garota, estava matando seus amigos. Pedro, Fabrício, Luís e Belinda pereceram nas mãos
Léa sentia sua cabeça explodir. Algo estranho estava em sua testa, ela tinha certeza. O que estava acontecendo? Ela estava tentando escapar com Arthur e, então, Raquel...Oh, não.Finalmente, tomada pela consciência do que acontecia, ela entendeu o que havia com seus braços. Estavam, de alguma forma, presos, pendurados. Ela não conseguia sentir o chão, sob os pés.Estremeceu, tentando se soltar.— Olhe quem acordou – Ela ouviu Raquel dizer.No segundo seguinte, antes que pudesse abrir os olhos, sentiu toda a sua pele queimando em contato com água fervente. Ela berrou, tentou se soltar, sem conseguir. Quando achou que sua pele não podia arder mais, água gelada foi jogada em cima dela. Tremeu, por alguns segundos, deixou-se desmaiar.Quando acordou, novamente, abriu os olhos, ardendo em ódio. Não entendia mais como loucura, o que
Os dois caminhavam pela terra seca, sem falar uma palavra sequer. Ele tinha o braço engessado e a mão do outro estava enfaixada, os pontos cuidando dos buracos que substituíram seus dedos. Ela não se importava, mas ele estava irritado em não poder entrelaçar os dedos nos dela. Tinha que se contentar em abraçá-la sempre de muito perto, o que acabava com tropeços.Léa ainda estava muito assustada e quase não parava de chorar quando ficava sozinha com ele. Ao público, ela parecia fria e calculista, parecia esperar quem seria a próxima a atacá-la. Ele tentava fazer um contraponto, ainda muito abalado, mas normalmente, o carinho que ambos sentiam pelo outro quebrava essas coisas.Poucos duvidaram da história contada. Infelizmente, a polícia fora um desses poucos. Eles vinham passando por inquéritos e intermináveis depoimentos sobre aquela noite nos &
Uma noite, sua filha entrou escondida na casa para fazer-lhes uma surpresa. Deveria saber que era uma má ideia, ela conhecia os próprios pais. Sabia pelo que eles haviam passado, embora não gostassem de falar sobre isso.Mesmo assim, ela queria lhes fazer uma surpresa. Que mal poderia fazer?Foi surpreendida por um tiro assim que alcançou as escadas. Com a mão sobre o peito, desfaleceu sob o olhar incrédulo do pai.Ela morreu quase instantaneamente.Arthur, ao ver sua filha morrer em seus braços por um tiro que partiu do comando do seu dedo, fez o impensável: matou a mulher para poupá-la da dor. E, em seguida, suicidou-se.
PrefácioA inocência perdida— Tem certeza que a sua mãe não vai brigar com a gente, Fabrício? – Uma garota de olhos verdes brilhantes e cabelos ruivos presos cuidadosamente em uma trança perguntou, enquanto ela e o grupo com mais oito amigos caminhava pateticamente em direção ao canto mais escuro do grande quintal.Atrás deles, o crepúsculo encerrava o dia do aniversário do menino que guiava os amigos, Fabrício, com seus pequenos olhos azuis atentos e temerosos, enquanto fingia ser corajoso o suficiente para continuar com o ligeiro desafio. Os cabelos dourados do menino eram constantemente levados pelo vento, assim como seu companheiro, logo atrás dele, que tinha os cabelos num dourado um pouco mais claro. Esse era Luís. E ele, sim, demonstrava o medo que Fabrício fingia não ter.— Não, ela não liga, Catarina