Amanda Almeida
A velocidade que essa moto arranca em tão pouco tempo é surreal. Gabriel corre e sai cortando em meio aos poucos carros que existe na pista, como se não tivesse fazendo nada demais. Eu só tenho 16 anos, sou jovem demais para morrer. Firmo o aperto ao redor do seu quadril. Como se isso fosse me salvar se ele batesse... Céus! Porque diabos estou pensando nisso?! O fato de ser sábado já ajuda com o trânsito meio livre, o que torna tudo menos "perigoso" Aperto cada vez mais seu quadril fechando os olhos com força, não ouço nada além do barulho do vento contra a viseira. Abro os olhos ao sentir a moto parar, ele parou na sinaleira. Ele me observa de relance e um único movimento me afasto rapidamente de suas costas. -Posso te pedir um favor?- lá vêm. Concordei desconfiada, mas eu tinha que o ajudar já que ele me livrou aquela situação constrangedora. -Amanhã é aniversário da Júlia.- e o meu também, mas quase nunca ninguém lembra. -Pode me ajudar a escolher um presente? Aquela garota tem tudo que eu imagino.... é complicado escolher coisa pra mulher. -Agora? -Sim! Amanhã não tenho tempo, vou ajudar no luau. Céus! Eu havia esquecido disso, mas não sabia que o luau seria para comemorar o aniversário de Júlia. Ninguém nunca me conta nada. Droga. -Amanda?- Gabriel me tira dos devaneios. -claro!...eu ajudo sim mas depois você vai me deixar na casa da Marcela. Vi um sorrisinho surgir no canto dos seus lábios, ele fechou a viseira e mandou eu segurar novamente antes de arrancar com a moto. Eu acho cômico o fato de fazer aniversário no mesmo dia do da Júlia e quase ninguém lembra a não ser o meu tio. Acho que porque estamos ocupadas demais todos os anos organizando alguma coisa para Júlia que nunca teve seu aniversário passado em branco. Ao contrário do meu. Suspiro fechando os olhos. *** -O que acha disso?- ele põe uma macacão rosa pink em frente ao seu corpo o exibindo melhor. Eu nem preciso dizer muita coisa, Júlia odeia a idéia de usar algo que cubra demais o seu corpo. Neguei com a cabeça enquanto segurava o riso. Gabriel fez uma careta de reprovação devolvendo a peça para o cabide. Dou mais uma volta pela loja, que por sinal, é a favorita de Júlia. Uma loja de grife, tudo aqui é caríssimo e certamente eu teria que guardar anos de mesada para comprar uma peça de roupa aqui. Analiso algumas roupas, sinto o tecido de outras e outras observo somente o valor exuberante. São quase duas horas da tarde e eu estou pra cacete da casa da minha amiga. Marcela vai me matar. Retiro um vestido chamando a atenção de Gabriel que imediatamente nega. -Muito curto.- fecho o cenho. -O que foi? Olha o tamanho disso, Amanda. Ponho o vestido em frente meu corpo o observando melhor. -Acho a cara a dela. -Tem certeza?- duvidosamente ele toca o vestido sentindo o tecido ainda intrigado. -Uhum. -Vai ver esse. *** Essa sensação é estranha, sinto que o conheço há anos. Gabriel me traz paz, uma sensação inexplicável de segurança e gratidão. Acho que depois de hoje me sinto mais fragilizada, talvez seja isso. Não vou ceder aos meus pensamentos egoísta. Sinto o cheiro do seu perfume suave em sua camisa enquanto pilota em direção a casa de Marcela. Eu só queria continuar aqui. Em paz. No shopping tomamos sorvete, fomos ao bk e claro que vemos alguns livros. O tempo todo ele estava entretido, contando piadas e falando sobre a vida da escola e como ele era um garoto problemático. Foi uma tarde agradável. Já era mais de 17:40hrs da noite quando ele me deixou em frente ao condomínio de Marcela. Gabriel se despediu deixando um beijo suave em minha bochecha, acenei um breve tchau para ele que saiu arrancando. Virei-me para o prédio erguendo a cabeça para visualizar a cobertura onde Marcela fica. -Tão alto.... *** -Eu tô tão ansiosa para ver ele.- Marcela diz entusiasmada enquanto pinta minhas unhas das mãos. Fico em silêncio, tenho medo do que ela pense ou diga se eu falavar que estava com ele algumas horas atrás. Ela para de pintar minhas unhas, suas íris azuis me encaram intrigada intercalando seu olhar entre meu rosto. -Você tá bem? Não comentou nada do tipo "ele não presta" ou "seus pais nunca irão aprovar" - ela sorrir exibindo seus belos dentes brancos e alinhados. As vezes eu queria ser de uma família rica. Vantagens. -Eu tô bem, só cansada.- murmurei. -Eu preciso de uma boa noite de sono para aguentar a barra até meia noite. Me jogo na cama fechando os olhos tomando cuidado para não borrar minhas unhas. Ouvir sua risada sínica. -E... chegou tarde por quê? -Transporte ruim dos fins de semana. Demorou um pouco para ouvir a voz de Marcela na novamente. O silêncio pairou sobre o imenso quarto rosa com detalhes brancos sofisticados. Marcela é filha única, não sabe o que é um "não"ou algo do tipo. Sempre tem o que quer e na hora que quer, foi assim que ela foi criada. Porém é uma menina doce e alegre, a conheci através de Júlia que a conheceu em uma festa usando identidade falsa já que era de menor. Sorrir ao lembrar da história contada por Júlia. -Acho melhor a gente ir dormir, amanhã é um grande dia.- ouço sua voz sonolenta, sinto o colchão afundar ao meu lado. -Boa noite, Amanda. -Boa noite. Gabriel Santos -Achou? Diego concorda rapidamente enquanto digita ao celular. -Deu um pouco de trabalho mas achamos, o que eu faço com carro? Penso por instante ao lembrar do Civic preto. -Pode botar fogo. O que é uma pena. Andamos pelos corredores da minha favela, o ruim de certos pontos é que o carro não passa e precisamos subir a pé. Por um outro lado estou feliz. Se aquele filho da puta achou mesmo que ia sair impune, se enganou. Eu só não ia fazer nada na frente daquela garota. Eu vou matar esse cara e fazer um favor pra sociedade. -O que ele fez?- Diego para diante a porta colando a chave na fechadura. -Nunca o vi por aqui. -Não queira saber irmão, mas irei lidar com isso. Ele deu de ombros liberando minha passagem. O cativeiro era um barraco pequeno muito bem escondido em uma parte restrita do morro. Ao entrar vejo o homem de mais cedo amordaçado e vendado. -Isso vai ser divertido. Vai pagar muito caro pelo o que fez com aquela garota.Amanda Almeida Já se passava das 20:00hrs quando finalmente chegamos á praia. O caminho foi um total silêncio entre Marcela e eu, ela parecia estar estranha ou perdida em seus pensamentos. O que é estranho, nunca a vi de mal humor antes de um luau na praia, um dos seus lazeres favorito. Resolvi ignorar ignorar esse questionamento, depois conversaria a sós com ela de qualquer jeito. Não quer esconder nada dela. Vai ser pior se ela descobri por outra pessoa. Não que eu esteja devendo algo Somos no total de quinze pessoas em volta da fogueira que nos aquece e sendo bem sincera, as únicas pessoas que eu conheço é Diego, Marcela, Júlia e claro... Gabriel. Gabriel usa uma camisa regata branca que exibe perfeitamente os seus bíceps definidos e uma simples bermuda jeans. Bem simples. Todos estão conversamos em seus grupos separadamente, Júlia como aniversariante sempre está dando um pulinho aqui ou outro ali mas sempre conversando com todos. Alguns com certeza era colegas de facul
Amanda Almeida Pelo vidro fumê do veículo, observo a vista da praia escura sobre o céu estrelado passar rapidamente como um raio que corta o céu.Céus! A lua estava linda e redonda.Mas uma coisa ainda não sai da minha cabeça...O aniversário da Júlia foi estragado por besteira e um certo capricho.O meu aniversário.Gabriel se mantém em alerta enquanto dirige atento e a todo momento estava checando os retrovisores e laterais como se estivesse preocupado com algo.Não tem ninguém essa hora da noite na rua para nossa sorte e segurança.Já faz uns minutos que estamos na estrada, na verdade nem sei onde estamos.Eu tô magoada, confusa e desnorteada. Não acredito que mal tive tempo de me explicar e simplesmente sair de cena como se realmente tivesse feito algo de errado contra Marcela.Suspiro pesadamente descansando a cabeça sobre o vidro escuro.Droga Amanda.-Tá legal?Concordei sem olhar, já sabia que seus olhos estariam sobre mim.Eu tô chateada, isso não dá pra disfarçar. Não via n
Amanda AlmeidaO tempo foi passando e de lá pra cá nos aproximamos cada vez mais, não só como casal mas também como amigos.Uma coisa que me impedia de ficar com Gabriel, sou menor de idade e ele é três anos mais velho que eu.Meu tio notou mudança no rapaz que fez de tudo para agrada-ló e o aceitar futuramente assim que eu fizesse dezoito anos.Ordens do meu tio.Enquanto isso, Gabriel e eu eram ótimos amigos e como eu imaginava, isso provocou fúria em Marcela que não estava nada feliz e se afastou até dele.Júlia não falava mais comigo como antigamente, era só o básico quando eu estava presente na casa dos irmãos.Gabriel já conversou com ela, mas a mesma não quis saber, decidiu que seria melhor assim para nós duas.Eu não relutei, na verdade até tentei conversar com ela algumas vezes quando estávamos a sós mas ela fingia que eu não estava ali.Quando eu a vejo nem parece que tínhamos aquele grau de intimidade há alguns meses atrás.Gabriel me disse que Júlia e Marcela continua tend
Amanda AlmeidaEsse ano letivo tá acabando comigo.Estou exausta, com sono e sobrecarregada.Uma tática que adotei foi sempre me esforçar no primeiro e segundo bimestre, assim poderia relaxar no terceiro e último.Só que agora eu tenho que ajudar Sofia a estudar matemática ou ela pode reprovar na matéria e consequentemente no ano.Explico a ele milhões e milhões de vezes a fórmula simples para resolver a equação de segundo grau.Olho para seu rosto e ela me encara de volta com uma cara imensa de interrogação.-Abre a mente, boba.- dou um tapa de leve em sua nuca, Sofia rir massageando o local.Já estamos horas e mais horas estudando sem nenhum avanço da parte dela.Não irei desistir.-Nossa, imagino perder o ano por conta de uma matéria só.- ela choraminga. -Odeio ser burra com todas as minhas forças.Não pude evitar a gargalhada que escapou e por fim das contas acabamos rindo da sua própria desgraça.-Não fique assim...- respiro fundo recuperando o fôlego. -Vamos estudar mais, ainda
Amanda AlmeidaSuspirei pesadamente ao ver o meu estado em frente ao espelho. Minha maquiagem é borrada pelas lágrimas que escorrem formando caminhos escuros por minha face.Apoio minhas duas mãos sobre a piá do banheiro encarando meus olhos através do reflexo do espelho.-Amanda?- ouvi a doce e receosa voz de Sofia do outro lado da porta. -Posso entrar.Rir sem humor.-É o seu banheiro, claro que pode.Sofia mora com o pai que é usuário de drogas e cliente fiel do Gabriel. Sofia me contou que eles vieram para o Rio na tentativa de dar uma vida melhor para o seu pai e que talvez ele pudesse larga o vício.Nem tudo sai como planejamos, infelizmente.Ouvi a maçaneta virar e passos em seguida, não demorou para Sofia aparecer em meu campo de visão, ela parou ao meu lado repousando sua cabeça sobre meu ombro.Ela não falou nada, apenas me abraçou de lado, permanecendo em silêncio encarando nossos reflexos.É reconforte saber que alguém estaria ali para mim, sem me julgar, independente de q
Amanda Almeida Observo as nuvens carregadas entre alguns morros altos da comunidade detalhadamente. A minha hora favorita aqui é a noite, onde todas as luzes das casas são acessas, o que me lembra bastante o natal e vagalumes em meio ao anunciado da noite.Eu amo aqui, o único defeito foi me envolver com uma pessoa errada.Não adianta me lamentar, a merda foi feita, eu aguento às consequências.Ouço o ranger dá porta do quarto ao se abrir vagarosamente.Suspiro pesado encolhendo meu corpo abraçando com os braços as minhas pernas.-Você não vem comer?- seu tom de voz é aparentemente preocupado, ecoa pelo cômodo . -Já tem dias que não come, Amanda.Só aparentemente preocupado.Eu odeio todo esse fingimento, eu odeio o seu tom de voz, o jeito que me toca é tudo tão... superficial.Se esse homem algum dia foi apaixonado por mim, morreu.Já faz dez dias que Gabriel me mantém presa no meu quarto, privada de tudo e de todos."Para sua segurança" O olho de relance notando sua aproximação si
Amanda AlmeidaMeu coração não bate forte, não sinto a ansiedade e nem a adrenalina correr por minha veias. Eu devia está ansiosa? Claro, é o meu aniversário de 18 anos anos.Eu sonhei com esse dia, mas não pensaria que fosse ocorrer dessa maneira.Tudo tão rápido e de maneira fria e cruel.Não tenho notícias do meu tio, meu primo mau fala comigo e Julia só está conversando comigo por conta da nossa festa.Tento prestar atenção na aula de encerramento, mas meus pensamentos me incomodam.-Amanda?- ouço Sofia me chamar baixinho sentada ao meu lado. -Me empresta o corretivo?- rir baixo, Sofia sempre esquece algum material seu em casa.Abro o estojo entregando o objeto em seguida para ela.A sala está mais cheia que o normal, todo fim de semestre é isso, alunos que mau frequentam as aulas aparecendo como se nada tivesse acontecido.Ouço meu nome ser pronunciado me trazendo de volta para minha realidade.-Amanda? Por gentileza poderia me acompanhar até a diretoria, agradeço.- a diretora so
Heros Caccini Observo o pequeno corpo feminino de semblante apavorado adentrar pela porta completamente tremula e pálida como se o sangue tivesse congelado em seu corpo. Provavelmente deve ser por conta do revólver apontando diretamente contra sua cabeça. Não pude evitar que escapasse um singelo sorriso de canto ao ver sua face antes apavorada em agora desespero. Agonia. Seu namoradinho está machucado, e isso dói? Faça me o favor. É uma garota bonita, apesar do seu corpo parecer está bem mais magro que nas fotos. Seus fios escuros estão presos em um rabo de cavalo mal feito e suas roupas me lembram fardamento escolar. Seu estado é quase deplorável. -Pode soltar.- Não demora muito para meu pedido ser acatado, seu corpo é empurrado para o chão em direção ao meus pés. A garota cai de joelhos mantendo sua cabeça baixa e sem pronunciar uma palavra. Ouço sua respiração descompassada à medida que me aproximo, posso sentir seu medo mesmo se estivesse a quilômetros de distâ