Capítulo 5

Amanda Almeida

A velocidade que essa moto arranca em tão pouco tempo é surreal. Gabriel corre e sai cortando em meio aos poucos carros que existe na pista, como se não tivesse fazendo nada demais.

Eu só tenho 16 anos, sou jovem demais para morrer.

Firmo o aperto ao redor do seu quadril.

Como se isso fosse me salvar se ele batesse...

Céus! Porque diabos estou pensando nisso?!

O fato de ser sábado já ajuda com o trânsito meio livre, o que torna tudo menos "perigoso"

Aperto cada vez mais seu quadril fechando os olhos com força, não ouço nada além do barulho do vento contra a viseira.

Abro os olhos ao sentir a moto parar, ele parou na sinaleira. Ele me observa de relance e um único movimento me afasto rapidamente de suas costas.

-Posso te pedir um favor?- lá vêm.

Concordei desconfiada, mas eu tinha que o ajudar já que ele me livrou aquela situação constrangedora.

-Amanhã é aniversário da Júlia.- e o meu também, mas quase nunca ninguém lembra. -Pode me ajudar a escolher um presente? Aquela garota tem tudo que eu imagino.... é complicado escolher coisa pra mulher.

-Agora?

-Sim! Amanhã não tenho tempo, vou ajudar no luau.

Céus! Eu havia esquecido disso, mas não sabia que o luau seria para comemorar o aniversário de Júlia.

Ninguém nunca me conta nada.

Droga.

-Amanda?- Gabriel me tira dos devaneios.

-claro!...eu ajudo sim mas depois você vai me deixar na casa da Marcela.

Vi um sorrisinho surgir no canto dos seus lábios, ele fechou a viseira e mandou eu segurar novamente antes de arrancar com a moto.

Eu acho cômico o fato de fazer aniversário no mesmo dia do da Júlia e quase ninguém lembra a não ser o meu tio. Acho que porque estamos ocupadas demais todos os anos organizando alguma coisa para Júlia que nunca teve seu aniversário passado em branco.

Ao contrário do meu.

Suspiro fechando os olhos.

***

-O que acha disso?- ele põe uma macacão rosa pink em frente ao seu corpo o exibindo melhor.

Eu nem preciso dizer muita coisa, Júlia odeia a idéia de usar algo que cubra demais o seu corpo.

Neguei com a cabeça enquanto segurava o riso.

Gabriel fez uma careta de reprovação devolvendo a peça para o cabide.

Dou mais uma volta pela loja, que por sinal, é a favorita de Júlia.

Uma loja de grife, tudo aqui é caríssimo e certamente eu teria que guardar anos de mesada para comprar uma peça de roupa aqui.

Analiso algumas roupas, sinto o tecido de outras e outras observo somente o valor exuberante.

São quase duas horas da tarde e eu estou pra cacete da casa da minha amiga.

Marcela vai me matar.

Retiro um vestido chamando a atenção de Gabriel que imediatamente nega.

-Muito curto.- fecho o cenho. -O que foi? Olha o tamanho disso, Amanda.

Ponho o vestido em frente meu corpo o observando melhor.

-Acho a cara a dela.

-Tem certeza?- duvidosamente ele toca o vestido sentindo o tecido ainda intrigado.

-Uhum.

-Vai ver esse.

***

Essa sensação é estranha, sinto que o conheço há anos. Gabriel me traz paz, uma sensação inexplicável de segurança e gratidão. Acho que depois de hoje me sinto mais fragilizada, talvez seja isso.

Não vou ceder aos meus pensamentos egoísta.

Sinto o cheiro do seu perfume suave em sua camisa enquanto pilota em direção a casa de Marcela.

Eu só queria continuar aqui.

Em paz.

No shopping tomamos sorvete, fomos ao bk e claro que vemos alguns livros. O tempo todo ele estava entretido, contando piadas e falando sobre a vida da escola e como ele era um garoto problemático.

Foi uma tarde agradável.

Já era mais de 17:40hrs da noite quando ele me deixou em frente ao condomínio de Marcela. Gabriel se despediu deixando um beijo suave em minha bochecha, acenei um breve tchau para ele que saiu arrancando.

Virei-me para o prédio erguendo a cabeça para visualizar a cobertura onde Marcela fica.

-Tão alto....

***

-Eu tô tão ansiosa para ver ele.- Marcela diz entusiasmada enquanto pinta minhas unhas das mãos.

Fico em silêncio, tenho medo do que ela pense ou diga se eu falavar que estava com ele algumas horas atrás.

Ela para de pintar minhas unhas, suas íris azuis me encaram intrigada intercalando seu olhar entre meu rosto.

-Você tá bem? Não comentou nada do tipo "ele não presta" ou "seus pais nunca irão aprovar" - ela sorrir exibindo seus belos dentes brancos e alinhados.

As vezes eu queria ser de uma família rica.

Vantagens.

-Eu tô bem, só cansada.- murmurei. -Eu preciso de uma boa noite de sono para aguentar a barra até meia noite.

Me jogo na cama fechando os olhos tomando cuidado para não borrar minhas unhas.

Ouvir sua risada sínica.

-E... chegou tarde por quê?

-Transporte ruim dos fins de semana.

Demorou um pouco para ouvir a voz de Marcela na novamente. O silêncio pairou sobre o imenso quarto rosa com detalhes brancos sofisticados.

Marcela é filha única, não sabe o que é um "não"ou algo do tipo. Sempre tem o que quer e na hora que quer, foi assim que ela foi criada.

Porém é uma menina doce e alegre, a conheci através de Júlia que a conheceu em uma festa usando identidade falsa já que era de menor.

Sorrir ao lembrar da história contada por Júlia.

-Acho melhor a gente ir dormir, amanhã é um grande dia.- ouço sua voz sonolenta, sinto o colchão afundar ao meu lado. -Boa noite, Amanda.

-Boa noite.

Gabriel Santos

-Achou?

Diego concorda rapidamente enquanto digita ao celular.

-Deu um pouco de trabalho mas achamos, o que eu faço com carro?

Penso por instante ao lembrar do Civic preto.

-Pode botar fogo.

O que é uma pena.

Andamos pelos corredores da minha favela, o ruim de certos pontos é que o carro não passa e precisamos subir a pé.

Por um outro lado estou feliz.

Se aquele filho da puta achou mesmo que ia sair impune, se enganou.

Eu só não ia fazer nada na frente daquela garota.

Eu vou matar esse cara e fazer um favor pra sociedade.

-O que ele fez?- Diego para diante a porta colando a chave na fechadura. -Nunca o vi por aqui.

-Não queira saber irmão, mas irei lidar com isso.

Ele deu de ombros liberando minha passagem.

O cativeiro era um barraco pequeno muito bem escondido em uma parte restrita do morro.

Ao entrar vejo o homem de mais cedo amordaçado e vendado.

-Isso vai ser divertido.

Vai pagar muito caro pelo o que fez com aquela garota.

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