Pedro Hernandez Observo em silêncio enquanto Adrielle vaga pela biblioteca. Imagino que esteja lidando com seus próprios demônios, talvez pensando sobre como começar o assunto que nós dois precisamos conversar. No momento, só quero deixar as coisas claras. Quero ter a chance de conhecer a minha filha, mas não vou ultrapassar os limites e desprezar a opinião da mãe dela. — Nos últimos anos, Abby tem me questionado bastante sobre o pai dela — Diz, em um tom suave enquanto caminha até as janelas, observando o quintal com a grama verde o enfeitando. — mas tenho evitado responder a isso. Em parte, por não saber onde você se meteu, outra, por não querer que ela sofra com isso. Observo Adrielle em silêncio, prestando atenção em suas palavras. Sei que evitou citar o meu nome para a nossa filha, caso contrário, ela me reconheceria. A única coisa que sabe é que sou filho da “abuelita”. Quero ser mais do que isso para ela. Respiro fundo e dou alguns passos. Há uma distância considerável e
Adrielle Hale — Essa é a única resposta que não posso te dar. — Pedro responde suavemente, olhando em meus olhos. — Max era egoísta. — Considerei que você era igual a ele. — Digo, tentando limpar as lágrimas. Pedro permanece em silêncio, como se as minhas palavras tivessem o acertado. — Não sou como ele. Eu nunca trataria a nossa filha, a minha filha, como ele me tratou nos últimos anos. — Afirma, em um tom sério que me faz arrepiar.Fico em silêncio. Max era verdadeiramente cruel. Como poderia tratar seu próprio filho assim? Não há algo que possa justificar, era de se esperar que ele fosse assim. Lembro-me muito bem como foi cruel comigo quando soube da gravidez e na noite em que minha filha nasceu. — Ele não parecia gostar dela. — Murmuro, com os olhos focados nos seus. — Mas, na noite em que Abby nasceu, ele foi o primeiro a vê-la. As enfermeiras disseram que o avô dela estava ansioso. Max era cheio de contradições. Pedro acena, em concordância. Sabe que tenho razão, Max era
Pedro HernandezAdrielle respira fundo e acena com a cabeça. Se mantém em silêncio por alguns instantes e parece precisar pensar sobre isso. Suas mãos se posicionam em sua cintura e, ali, sei que vai querer impor regras e avisos. — Preciso conversar sobre isso com Abby primeiro. Prepará-la. — Seu tom é calmo, mas sua voz carrega compreensão. — Me dê um tempo antes de contar sobre isso. Eu aceno levemente, concordando com seu pedido. Ela é uma criança, claro que precisará de tempo para assimilar tudo o que está acontecendo. — Está bem. — Aceno, freneticamente. Adrielle me encara e levanta o indicador direito. — Mas está avisado. Se alguma coisa acontecer com ela e vier chorando até mim, a culpa vai ser toda sua. — Acusa, com um tom firme. Seus olhos verdes me encaram com confiança. — Você ainda tem uma lista de regras para seguir com ela. Semicerro os olhos, com um sorriso de canto contido. Lembro-me de que ela era mandona, vejo que ficou ainda mais. E superprotetora também. Cruz
Adrielle Hale Acho que a teimosia de Abby vem de mim, mas estou notando que sua convicção vem de Pedro, ele sempre foi confiante nas coisas que queria. Abby herdou traços nossos. Mas a teimosia não vem apenas de mim, Pedro também é teimoso. Com dois pais teimosos, como ela não poderia ser teimosa também? Fecho os olhos e respiro fundo. Há momentos em que preciso ser paciente com ela. — Deixe que fique aqui hoje. — Sofia pede, com suavidade. — Deixe faltar apenas um dia na escola. Além disso, você não acha que seria bom eles se conhecerem? — Ela inclina o queixo na direção do filho.Sofia o olha com ternura. Imagino que esteja muito feliz por tê-lo de volta. Eu o encaro, Pedro está no canto, como se desejasse deixar que nós duas decidíssemos. Pedro não sabe cuidar de uma criança, mesmo sendo filha dele. Não acho que saiba sequer se cuidar. Mas não tenho o direito de privá-lo da vida da nossa filha. Posso tirá-lo da minha, mas nunca poderei ficar entre os dois. Solto um suspiro ao me
Pedro HernandezO carro anda lentamente para trás, antes que ela engate a marcha e dê a volta pela fonte, dirigindo em direção aos portões. Quando se abrem, vejo um carro preto estacionado do outro lado da rua. Coincidentemente, ele aciona a ignição segundos depois que Adrielle sai. Meu corpo está em alerta, com um arrepio que o percorre sob a pele. E eu não gosto disso. Parece que esse carro está parado ali há bastante tempo. Está virado na direção oposta a que ela segue e não consigo ver muito, já que os portões começam a se fechar, mas tudo o que noto é uma silhueta através das janelas do carro. Há apenas uma pessoa la dentro e não parece ser muito forte, talvez magra e alta. Isso me deixa um pouco intrigado, mas talvez seja a minha mente confusa pregando peças outra vez. Não sei dizer se é Leonard seguindo ou se Amanda enviou alguém para nos vigiar. Depois de hoje, acho que ela ficou com um pouquinho de raiva por não herdar mais bens do que esperava. ♙Abby tomou banho depois que
Pedro HernandezA porta se bate com força no batente e ainda permaneço ali, perturbado, tentando juntar as peças e compreender o que houve. Mas não há nada que faça sentido, nenhuma peça que se conecte. Prendo a respiração quando me dou conta de que ela ficou assim depois que ficou sozinha comigo. Abby.Sozinha.Com. Um. Homem. Que. Não. Conhece.Meu corpo congela, o estômago afunda como uma pedra em água profunda. O que pode ter deixado. Abby assim? Minha mente busca respostas, mas só encontra um nome. Leonard. Um gosto amargo sobe pela minha garganta. Não quero acreditar. Mas se ele foi capaz do que dizem… Não sei se ele seria ruim o suficiente para deixá-la assim ou se seria capaz de tocar em uma criança da mesma forma que machucou as namoradas na adolescência. Sequer sei se é capaz de tocar em Adrielle com atos violentos, mas não quero pensar nisso agora ou terei que encontrar uma maneira para controlar a minha raiva. Mas os fatos que sei sobre Leonard me levam a questionar
Pedro HernandezVejo que ela não veio sozinha. E não está dirigindo. O marido está no banco do motorista. Ele estaciona o carro próximo a Bruno e eu e os dois descem. Adrielle tem passos rápidos e firmes, sei que está assustada, sua expressão a entrega. Os passos de Adrielle são rápidos, quase desesperados. Ela mal me encara antes de soltar:— O que você fez?!Sua voz não é apenas acusação. É medo. Seus olhos buscam algo no meu rosto, talvez um traço de culpa, talvez uma explicação que eu não tenho.— Nada. Eu não fiz nada. Estou tão confuso quanto você, Abby começou a chorar do nada. — Encolho os ombros, tentando me defender, mas meus argumentos não são dos melhores para me justificar. — Se tiver feito algo com ela, não vou permitir que se aproxime. — Aponta o indicador em minha cara. Posso ver claramente a aliança brilhando em seu dedo anelar. Eu a observo, em silêncio. Não vou retrucar ou iremos brigar e a prioridade aqui é a nossa filha. Ela não espera que eu responda, apenas se
Adrielle HaleTento acalmar Abby durante a volta para casa. Ela se recusa a ficar na casa de Sofia e não sei bem o motivo. Ela tem chorado tanto que a única coisa que sai da sua boca são soluços insistentes. Eu a levo para seu quarto e a coloco na cama. Não sei por quanto tempo permanecemos ali, mas sua mão continuou a segurar meu braço firmemente, tanto que seus dedos estão brancos pela pressão que tem feito. Há uma marca vermelha em meu braço quando faço um esforço para afastar seus dedos. Os olhinhos estão fechados mas as bochechas permanecem marcas pelas lagrimas. Seu choro era como se algo estivesse sufocando ela e a impedisse de falar o que aconteceu. Pedro também não soube explicar. Depois de hoje, não sei se quero que ele se aproxime dela outra vez. Eu o conhecia há sete anos, algumas coisas não mudaram, mas isso não significa que tudo está como antes. Estou preocupada com Abby, e talvez seja melhor levá-la a um psicologo.Talvez eu deva ir também. Seu choro dolorido está ec