Todos os marinheiros que eu tinha visto estavam ali, e mais alguns. Provavelmente os que não estavam bebendo na festa anterior que eu interrompi acordaram. Pela posição do sol eu poderia estimar a hora, se ao menos eu soubesse onde estávamos.
- Apareceram albatrozes hoje... Comentou o velho que era capitão saindo de perto de uma mulher muito bela e bem ornamentada, como no século XVIII eu acredito, e então se aproximou de mim.
Pergunto-me o que albatrozes têm a ver com o fato de que eles estavam dispondo uma prancha para que alguém pulasse, e eu tinha o suave palpite de que era eu. A mulher disse algo, muito baixo, mas eu pude ouvir. Era como se somente eu tivesse ouvido, porque não parecia que alguém tivesse se voltado para ela quando eu ouvi isso.
- O albatroz é um sinal de bom presságio para os marinheiros... Ah
Eu acordei, em um quarto, em uma cama macia e limpa, depois de passar uma soma incontável de dias e noites em um lugar estranho. Ela estava ali, a minha mãe, bonita, mesmo que tivesse olheiras e parecesse cansada, e eles estavam ali, os meus amigos.- Ele acordou? Perguntou Mari parecendo preocupada do outro lado do quarto.- Sim, mas não façam escândalo... Disse Rick do meu lado direito.- Bebê da mamãe, como está se sentindo? Ela disse de um modo tão bonito que eu não pude deixar de pensar que estava no céu. Talvez eu estivesse mesmo. Depois de tanto tempo, me parecia, como que distante da realidade da existência, ver a imagem da minha mãe era tão reconfortante. Era a imagem suave da pessoa mais bela do mundo.Sentir a presença dos meus amigos era reconfortante, era a memó
Eu mastigava pensativo, tinham muitas coisas que eu não tinha entendido nisso tudo. A minha mãe encontraria alguma explicação mística transcendental pra qualquer coisa que eu comentasse, então eu nunca falava dessas coisas pra ela, porque eu não queria que ela criasse algum ritual mágico estranho pra grudar em mim mais algum “símbolo de magia do mau” como disseram aqueles marinheiros, o Jamal provavelmente viria com alguma teoria de alguma religião misticista moçambicana e me encheria de amuletos coloridos ou faria algum ritual de dança, e eu iria me sentir mais estranho que já sou, a Mari iria dizer que isso é um delírio... Bom, ela já disse sem eu nem mesmo ter contado nada. O Luís iria provavelmente criar alguma teoria relacionada a Ufos, e o Rick, bom, ele era basicamente um cientista, iria dizer que isso é baseado em algum c&aa
Ele parecia um tanto decidido a querer saber daquilo. Então eu contei, do capitão Focalor, da mulher, sobre o navio parecer que tinha se erguido do fundo do mar, das pessoas mortas lá embaixo, da escuridão e da comida ruim, do rombo no casco do navio que mesmo assim não o afundava, da luta, e de quando me atiraram no mar no meio da tempestade.- Tu devia contar isso pra tua mãe... Fala ele pensativo por um momento.- Por quê? Eu disse que não faz sentido...- Faz sentido, tu não presta atenção nas coisas? Fala ele exasperado.- Como que faz sentido, Rick?- Dullius, não é a primeira vez que acontece isso. Tem avisos por todo lugar dizendo que duas pessoas desapareceram no mar naquela região num intervalo de quinze anos, os pescadores resmungam pelos cantos que aquele lugar é amaldiçoado porque um navio pirata naufragou perto dos rochedos h
E como eu tinha imaginado, o Jamal realmente fez um ritual de purificação estranho do país dele, com alguns incensos, oferendas, palavras tribais e alguma dancinha que eu nunca tinha visto na vida, mas pelo menos, considerando meu estado de saúde, ele não me fez dançar aquilo com ele. Pra ele, o que aconteceu era obra de um espírito atormentado que vivia no mar, algum tipo de maldição ou coisa do tipo, mas eu não entendi direito, e achei melhor nem perguntar.A Mari simplesmente disse que o meu delírio era contagioso e que não falaria mais nesse assunto. E o Luís, incrivelmente, concordou com ela... Justo ele que eu pensei que teria uma teoria da conspiração para isso também...Agora, eu via que eu não iria pra casa tão cedo, porque a minha espantosa melhora estagnou-se. Bom, pelo menos o médic
Fazia pouco tempo que eu tinha visto meus amigos, e muito que eu não via a escola. Nós começamos o ano sem muitas novidades, não havia colegas novos, só alguns que não estavam na nossa turma ano passado. Com sorte, ficamos todos na mesma turma, o que me surpreendeu, porque eu pensei que as professoras fossem separar nosso grupo considerando o tanto de encrencas em que nos metemos no ano anterior. E dessa vez, sim era nossa culpa, sim nós começamos brigas.Nesse ano nós ressuscitamos a banda de garagem, um tanto nada convencional, e começamos a tocar eventualmente em um ou outro barzinho nos fins de semana. Isso não era muito lucrativo, porém, mesmo assim, divertido, porque podíamos ter um pequeno minuto de fama entre pessoas que não nos conheciam tão especificamente, e poucos dos nossos colegas de escola frequentavam esses lugares diferentes.
Eu estava pensando no que aconteceu na última encrenca generalizada no bar, no sábado anterior, enquanto caminhava lentamente para a escola. Eu sabia que não tinha sido algo normal, mas esperava também que as pessoas não tivessem notado nada em meio à confusão.Naquele fim de noite, depois do show, estávamos na nossa mesa, e eu vi alguns dos amigos de esporte do Luís, cumprimentamos, e o Jamal chegou com as nossas bebidas, era a rodada de ele pagar. Não me lembro do motivo da encrenca, mas só sei que a briga começou, entre eles e mais algumas pessoas que estavam em uma mesa atrás de nós cuidando o Luís de modo suspeito, e então eu já não sabia mais quem era ou não era aliado, e o Rick se meteu na encrenca, o que raramente ele faz, geralmente eu tenho a suspeita de que ele calcula tudo que vai acontecer, e que algum
- E porque só contou isso pro Jamal? Perguntou a Mari ofendida.- Bom, porque pra ele isso é mais relevante que pra vocês, aparentemente, é mais fácil fazer piadas com ele se tivermos um acordo de tolerância política.- Tolerância política? Perguntou a Mari ironizando as imagens gritantes de motivação na segunda guerra mundial que o Luís escondia agora colocando a camisa limpa que tinha trazido para depois do show.- Ei, funcionou durante muito tempo e vocês nem perceberam... Falou ele de volta para ela.- Realmente, eu demorei pra calcular isso com base nos comentários deles. Disse o Rick impressionado.- Certo, alguém me explica como isso de “tolerância política” está funcionando depois de me informarem desse tipo de coisa... Eu disse incrédulo.- Simples, - começou o Jamal – se estamos em
Menos de duas semanas depois eu me deparo com uma ideia insana da Mari. As coisas pareciam mais tranquilas, a partir do momento que eu admiti que realmente tinha alguma coisa com o que a minha mãe fez de magicamente estranho naquela tatuagem, e que, por sorte, aparentemente impedia que eu morresse.Eu tentei controlar isso, e aparentemente, sem sucesso, era algo completamente aleatório, o que pra mim queria dizer que aquela coisa era basicamente algo que decidiria a hora em que eu iria morrer. Mas uma vez que eu tinha percebido isso, comecei a prestar mais atenção em quando aquela luz azul aparecia, ou quando as coisas eram repelidas por mim, e pelo visto, se eu estivesse com medo, as coisas iriam me acertar, e eu iria morrer. Era como se aquilo fosse um medidor de coragem. Considerando que eu realmente era muito mais imprudente quando não tinha medo de morrer, parece que aquilo funcionava na hora certa.Mas a Mari, no intervalo de ma