Sabe aquele momento em que o silêncio está tão pesado que você quase pode ouvi-lo gritar? Pois é, era exatamente assim que eu me sentia naquele instante. Bryan estava na minha frente, completamente mudo, enquanto eu o encarava esperando por qualquer reação. Qualquer coisa mesmo! Um sorriso, um grito, um questionamento. Mas ele parecia preso, talvez processando tudo que eu tinha acabado de dizer.— Bryan, sério, você precisa falar alguma coisa! — Cruzei os braços, tentando esconder o nervosismo.Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Antes que eu pudesse insistir, o som de batidas rápidas na porta quebrou o clima tenso.— Papai, mamãe, posso dormir com vocês? — A voz de Stacie soou do outro lado da porta, manhosa como sempre.Troquei um olhar com Bryan, que deu de ombros, ainda parecendo meio fora do ar. Me levantei para abrir a porta e lá estava ela, com seu pijama de unicórnios e um travesseiro quase maior do que ela.— Por que você quer dormir com a gente, princesa? — Perguntei
Duas semanas se passaram, e nossa casa havia se transformado em um verdadeiro cenário natalino. O cheiro doce de canela e pinho pairava no ar. Luzes cintilantes envolviam o corrimão da escada, piscando em harmonia com a melodia de músicas natalinas que ecoavam nos alto-falantes. A árvore de Natal na sala de estar parecia saída de um filme, com enfeites dourados e vermelhos que refletiam a luz de forma mágica. Pequenos detalhes, como as meias penduradas na lareira e o boneco de neve na entrada, davam um toque especial. Até o jardim estava decorado com renas iluminadas e uma faixa gigante desejando "Feliz Natal".Às sete da noite, estávamos todos na sala de cinema. Bryan fazia mistério sobre os presentes enquanto as meninas e eu trocávamos olhares curiosos. O ar estava cheio de expectativa.— Pai, só uma dica. Por favor! — implorou Stacie, com as mãos juntas como se estivesse orando.— Nem pensar. Vocês vão ter que esperar até amanhã de manhã. — Bryan cruzou os braços, tentando manter u
Eu ainda não sabia como processar a palavra "bebês" no plural. A doutora falou isso como se fosse a coisa mais normal do mundo, enquanto minha cabeça girava mais rápido que uma roda gigante. Era como se ela tivesse soltado uma bomba de confete no consultório, mas eu ainda estava decidindo se queria rir ou chorar.— Bebês? Como assim, bebês? — perguntei, a voz saindo mais fina que o normal.— É, no plural. Tem dois aqui. — A médica apontou para a tela da ultrassom como se fosse a cena final de um filme de suspense.— Dois?! — Bryan exclamou ao meu lado, arregalando os olhos. Pela primeira vez, ele parecia mais perdido do que eu.Olhei para o monitor e vi aqueles dois pequenos feijõezinhos se mexendo. Era surreal. Minha doce barriguinha chapada, que antes só servia para selfies no espelho, agora tinha se tornado a suíte presidencial de dois novos hóspedes. Dois!Enquanto Bryan me ajudava a limpar o gel, eu estava congelada, encarando minha barriga. A doutora continuava falando algo sobr
Bryan e eu havíamos ido ao pré-natal três dias atrás e descoberto algo que mudaria nossas vidas para sempre: estávamos esperando gêmeas. Mas como no ultrassom não deu para ter certeza do sexo dos bebês, a doutora sugeriu o exame de sexagem fetal. Hoje finalmente recebemos os resultados, e Samantha, com toda sua empolgação, insistiu em organizar um chá revelação.— Vai ser pequeno, só para os íntimos — ela garantiu.Eu deveria ter desconfiado quando Samantha disse “pequeno”. Ela e Stacie, juntas, tinham a capacidade de transformar até uma simples reunião em um show pirotécnico.O maior dilema, no entanto, não era o chá em si, mas quem convidar. Mais especificamente: o pai de Bryan.Aquele homem era um desafio constante. Além de ser o responsável pela existência da ridícula cláusula familiar que dava preferência a herdeiros homens, ele tinha o hábito desagradável de aparecer de surpresa e, com frequência, trazer tensão ao ambiente.Apesar de tudo, uma parte de mim queria que ele estives
Dezoito semanas de gestação. Eu já me sentia uma baleia encalhada, e meu humor estava mais embaralhado do que um baralho em um cassino de Las Vegas. Nem eu mesma conseguia me tolerar.— Isso é culpa dele! — gritei, jogando um travesseiro no chão, como se aquele ato fosse resolver algo.Eu queria mesmo era jogar o Bryan, mas o homem tinha o dom de desaparecer na hora em que seria útil para levar a culpa. Pena, porque seria terapêutico.Três batidas na porta interromperam meu turbilhão de pensamentos.— Quem é?— Bandeira branca! Venho em paz! — Samantha respondeu do outro lado, tentando soar engraçada.— Entra, Sam.A porta abriu-se lentamente, revelando minha filha mais velha, com uma expressão hesitante. Seu rosto denunciava que precisava de um favor, mas estava tentando medir se o momento era adequado. (Dica: não era).— Vai, desembucha logo.— Como você sabe que eu quero pedir algo?— Intuição maternal — respondi, arqueando uma sobrancelha.Ela sorriu, mas ainda parecia nervosa. Se
Vinte semanas de gravidez e, surpreendentemente, eu me sentia revigorada. Minha energia estava de volta, quase como nos velhos tempos, antes dos enjoos matinais e das noites mal dormidas. Claro, meu corpo ainda carregava os sinais da gestação — a barriga crescente, as pernas inchadas após um dia longo — mas, de alguma forma, eu tinha encontrado um novo equilíbrio.Naquela manhã, resolvi aproveitar o bom humor para dar uma volta no centro da cidade. Stacie precisava de tênis novos, Bryan tinha reclamado que o aparador de pelos dele estava quebrado, e uma das funcionárias da casa havia mencionado casualmente que tinha comprado sua primeira casa. Lembrei-me de que um presente seria uma boa forma de parabenizá-la.Enquanto andava pelas lojas, sentia uma estranha satisfação em dar atenção a esses pequenos detalhes. Coisas que talvez ninguém notasse ou lembrasse, mas que agora, com mais tempo livre, eu conseguia me dedicar. Era um prazer simples, mas gratificante.Voltei para casa carregada
Os planos para o dia eram simples e animadores: levar as meninas para passear no zoológico. Eu tinha planejado tudo com antecedência — lanches prontos, roupas confortáveis separadas e até um itinerário para garantir que aproveitássemos ao máximo. Mas logo pela manhã, a situação mudou completamente.Sophie e Stacie não estavam bem. Ambas acordaram com rostos abatidos, tosses fracas e um pouco de febre. A ideia de sair para passear foi substituída por uma corrida ao consultório do pediatra.O diagnóstico veio rápido: uma gripe simples. Apesar de serem sintomas leves, o suficiente para deixá-las indispostas, era um alívio saber que não era nada grave. Voltamos para casa com orientações claras e remédios para ajudar a reduzir a febre e aliviar o desconforto.Quando Bryan chegou em casa no final do dia, o que parecia ser apenas um problema isolado havia se espalhado como fogo. Não só eu e as meninas estávamos febris, mas também as funcionárias estavam de atestado, e até os seguranças tossi
O gel frio sobre minha barriga de seis meses já não estava tão gelado, pois já tinha atingido a temperatura ambiente. Estava empolgada para saber como as gêmeas estavam e, ao mesmo tempo, super ansiosa para vê-las pela primeira vez de frente. Em todos os outros ultrassons, elas estavam sempre viradas, nunca dando uma chance para vermos os rostinhos delas, e a doutora sempre me dizia que o importante era que tudo parecia bem. Mas, por mais que ela me garantisse isso, eu não deixava de ficar com aquela pontinha de curiosidade.— Não estamos desconfiando da sua capacidade, doutora, mas minha esposa... — Bryan olhou para mim com aquele tom que sempre usava quando estava tentando ser cauteloso. — Amor, com todo respeito, também... — Ele olhou novamente para a doutora. — Minha esposa, com seis meses, parece até que já vai parir! As crianças estão tão grandes assim?Eu só olhei para ele e soltei um riso nervoso. Ele estava surtando mais que eu, e isso já era um feito. Ele fazia pesquisas obs