Agradeço o fato de não ter nenhum outro paciente marcado e no momento em que ela sai da minha sala, eu arrumo minhas coisas e vou embora.
Preciso de ar, é muito para assimilar e não consigo respirar com tudo isso na minha mente.
Tiro o jaleco e enfio dentro da mochila enquanto caminho até a saída do hospital. Os funcionários passam por mim e se despedem, me deixando um boa noite e um até amanhã, mas a única coisa que eu consigo fazer é acenar de volta.
Vou sufocar, estou sentindo que vou morrer asfixiada.Preciso de ar.Preciso sair daqui.Olho ao redor, as paredes brancas do hospital me sufocam e acho que a enfermeira vê meu completo estado de pânico, pois ela olha para mim sem parar e se não estivesse retirando sangue do Murilo nesse exato momento, sei que já teria vindo até mim. Agarro seus cabelos medianos e os puxos, ele solta um pequeno gemido, que é engolido pelos meus lábios. Ele desliza as mãos pela bainha da minha camisa e a puxa do cós da calça, deslizando seus dedos pelas minhas costas. Sinto meu corpo retesar e minha consciência voltar, rompo nosso beijo e balanço a cabeça, veemente. — Eu não posso... — Respiro fundo, tentando recuperar o ar. — Nós não podemos. Sinto novamente as lagrimas embaçarem minha visão. — Me desculpa. — Coloco as mãos no rosto, tentando esconder a bagunça em que eu estou. Sorte que ele não pode ver a bagunça que está meu coração. — Você ainda o ama, não é? — por mais calma que sua voz esteja, eu vejo a dor entre cada palavra que ele diz. Não respondo, prefiro não dizer nada, apenas me levanto do seu colo e passo para o meu banco, calada. É o bastante para ele, não preciso dizer nada. Noah sabe que o Theo sempre permaneceu entre nós, como um terceiro elemento em nosso relacionamento. Ele aperta os punhos e bCapítulo Sessenta e Cinco — Cecília Prado
— Não é justo. — falo contra o celular. Ele respira fundo e fica em silêncio por alguns segundos. — O que não é justo, moranguinho? — ele sussurra. Deus! Ouvi-lo sussurrar meu apelido acaba com o resto de controle que eu tenho. Ele ainda tem poder sobre mim e sabe bem disso. — Você me ligar e se declarar nove anos depois, como se nada tivesse acontecido entre nós. — choramingo, erguendo o braço, frustrada. — Como se não tivesse seguido sua vida, casado com outra pessoa e me esquecido. — a última parte da frase quase não sai. E torço para que ele não tenha escutado. — Eu nunca te esqueci. — ele fala, confirmando que ouviu cada palavra que eu disse. — E olha que tentei para caralho! — Ele solta uma risada ríspida. — Você não faz a maldita ideia de como eu quis te esquecer. Ouvir isso me machuca, da pior forma possível. Ele não queria pensar em mim. Enquanto eu me prendia nas nossas lembranças, ele tentava a todo custo esquecê-las. Um soluço escapa de meus lábios e eu t
Puta que pariu! Cecília está a poucos metros a minha frente. — O que ela está fazendo aqui? — sussurro para o meu padrinho, sem desviar os olhos dela. Meu padrinho olha confuso para mim e depois segui meu olhar, até ela. — Ela é a gerente da editora. — ele responde como se fosse algo muito óbvio. Pelo jeito não é tão obvio para mim. — Ela trabalha com você? — pergunto, me virando para ele. — Desde quando? Paro de andar, me virando para ele, não quero que ela escute nossa conversa. — A pouco mais de 9 anos. — ele responde, dando de ombros. — Por que você está tão estranho assim? — ele questiona, preocupado. — Ela entrou um pouco depois que você decidiu sair e seguir a medicina. Por mais que meu padrinho tenha ficado feliz com todas as decisões que tomei, essa o magoou um pouco. Consigo sentir a mágoa escondida em sua voz. Ele queria que eu permanecesse na emissora e ocupasse seu lugar quando ele se aposentasse. — Por nada. — respondo, me virando para frente e voltand
Quando eu falo que o iate é enorme, chega quase a ser um eufemismo. Esse troço deve ser maior que minha casa. — Isso é quase um titanic — brinco, me aproximando dele. — Dá para morar aqui numa boa. Marcos está servindo champanhe em duas taças e passa uma para mim, me permito beber hoje, até porque eu realmente preciso de álcool para suportar esse final de semana ao lado dela. Desde que entrei no barco, me forço a não olhar para ela e até agora estou conseguindo. Mesmo ouvindo sua voz, não me virei nenhuma vez para procurá-la. Mas é torturante demais isso. Preciso de toda a força de vontade de cada átomo do meu corpo para evitar essa mulher. Que desgraça viu! Tomo o champanhe numa golada só e isso assusta meu padrinho, que me encara confuso. — Dia difícil? — ele sussurra e pelo seu olhar já sei do que está falando. Nego com a cabeça, me servindo de mais uma taça. — Ainda não chegou a biopsia. — respondo à pergunta implícita que ele fez. — Betina está tentando se faze
Cecília está distraída conversando com o pessoal da emissora, então nem percebe que estamos observando-a. — Tive certeza quando ela levou o filho num dia desses para a emissora. — Ele volta o olhar para mim e vejo a constatação em seus olhos. — O Murilo tem o seu sorriso. A mesma covinha que você tem na bochecha. — Ele ri, balançando a cabeça ao se lembrar de alguma coisa. — E o mesmo humor acido que você tinha na idade dele. Ele não precisa perguntar nada. Já conseguiu juntar as peças sem ninguém lhe avisar. Como eu não consegui fazer isso? Como não desconfiei quando ela engravidou que o filho poderia ser meu? Eu a conheço. Bem para caralho! O bastante para saber que ela nunca se deitaria com alguém depois de mim. Cecília é do tipo que deixa o luto a consumir. Ela deixa a dor lhe quebrar ao meio. Ela é do tipo que precisa sentir isso, para conseguir seguir adiante. Mas como segue a vida olhando todos os dias para alguém que tem uma parte do DNA e das características da pe
Mal consigo raciocinar enquanto o Theo despeja tudo no meu colo. Ele conta sobre os nove anos e como se senti em relação a muitas coisas. Mas a principal delas é; sobre o seu casamento. E depois que ele termina de falar sobre tudo, só tem uma coisa que martela na minha mente. Ele vai mesmo pedir o divórcio? Conheço muito bem o Theo para saber que mesmo separado dela, ele nunca vai desampará-la, principalmente se o resultado da biopsia der positivo. Ele vai permanecer ao seu lado até o fim, como o belo ser humano que ele é. E isso causa um imenso misto de sentimentos dentro de mim. Não consigo negar que eu ainda o amo e muito. Os anos longe dele só fizeram esse amor crescer mais e mais. E ver que ele ainda sente o mesmo por mim, faz meu coração quase dobrar de tamanho. Mas minha cabeça borbulha com o resto que está fora da nossa bolha de amor. As consequências que tudo isso vai nos causar. Quem vamos magoar no caminho. E pensar nisso faz meu senso de responsabilidade g
— Meu Deus! — Vitor exclamou, se endireitando na espreguiçadeira. — É possível um homem ter toda aquela quantidade de músculos na barriga? — Ele se abanava, enquanto seus olhos estavam pregados no Theo. Um Theo deliciosamente gostoso. Tentei conter a vontade de arregalar a boca enquanto o observava na piscina, tendo a sorte de ter os óculos escondendo meus olhos pregados em sua barriga. Ele realmente está bem mais forte. Misericórdia. Meu corpo inteiro pega fogo e nem pelo calor escaldante que está fazendo. Theo está relaxado na piscina, conversando com alguns convidados e seus braços descansam preguiçosamente na borda da piscina. Ele está virado para nós — o que eu acho que foi proposital, mas não vou reclamar — o que nos dá uma bela visão do seu magnífico peitoral. Ele fez uma tatuagem? Tombo a cabeça de lado, forçando os olhos a tentar enxergar o desenho e quando meus olhos conseguem, levo um choque ao perceber o que é. Ele tatuou a porra de um anjo segurando um m