CAPÍTULO 2

Maju

- Eu não quero saber o seu nome e muito menos o seu apelido, a única coisa que eu quero é que você cuide desse garoto e faça com que ele fale o mais baixo possível... Eu estou uma enxaqueca péssima, a última coisa que eu quero é ouvir discursinho de babá.- Aquele homem me respondeu de forma rude e grosseira e o sorriso que havia em meu rosto foi se desfazendo aos poucos enquanto ele falava.

A governanta e as outras funcionárias já haviam me avisado que o Senhor Henrique Smith era um pouco estressado, mas eu não fazia ideia que era tanto... Agora entendo o porque da Senhora Smith estar tão afobada atrás de uma babá, as outras devem ter fugido desse homem sem nem olhar para trás.

Eu não tive coragem de dizer mais nada, apenas acenei com a cabeça me sentindo totalmente nervosa... Eu nunca passei por nada assim antes, esse é o meu primeiro trabalho como babá, achei que as coisas seriam mais fáceis.

O Senhor Henrique não falou mais uma palavra se quer, ele apenas passou por mim rapidamente e saiu sem ao menos dar um "boa noite".

É, pelo visto as coisas não serão como eu imaginei, mas não vou desistir... Eu não vou e não posso desistir.

Até mais ou menos um mês atrás eu morava no interior de Minas Gerais, eu

tive que deixar minha cidade e estado do coração as pressas para tentar uma vida melhor aqui em São Paulo... O meu pai, meu paizinho que sempre cuidou tão bem de mim e da nossa família está com uma doença, ele tem Alzheimer e infelizmente nós não temos condições de cuidar bem dele lá da roça. Minha mãe faz o que pode trabalhando na lavoura, mas ela já é uma senhora, não pode fazer muito, foi por isso que eu decidi largar tudo para trás e vim tentar a vida aqui em São Paulo... Graças a Deus eu encontrei esse trabalho que já irá ajudar muito a pagar os medicamentos do meu pai e com algumas despesas de casa. É por isso que eu não posso e nem penso em desistir desse trabalho.

- O seu pai deve ter tido um dia difícil no trabalho, mas está tudo bem, amanhã ele já deve está melhor.- Falei ao me virar para o Miguel sorrindo.

- O meu pai é um chato, igual você! Sua boba!- O Miguel gritou alto e em seguida acertou a minha canela em cheio com um chute forte e bem certeiro.

Eu fui na lua e voltei com a dor forte do pontapé que aquela criança abençoada me deu... Eu não fazia idea que uma criança tão pequena poderia chutar tão forte.

- Aí Miguel, não faça isso... É muito feio e o papai do céu não gosta.- Tentei corrig-lo enquanto massageava a área que ele havia chutado.

- Feio igual você! Chata!- Ele me xingou mais uma vez e em seguida saiu correndo.

Não tive outra opção, saí correndo meio que mancando atrás do Miguel enquanto ele pintava o sete... Se ele continuar o pai dele vai me colocar no olho da rua hoje mesmo. Aí eu tô literalmente lascada!

- Miguel, você tem que tomar seu banho para jantar... Vamos subir, por favor?- Pedi com toda calma e paciência do mundo.

- Eu não vou!- Ele gritou enquanto pulava sem parar pela sala de estar.

Ele pulava feito um coelhinho em meio aqueles itens de decoração caríssimos... Se esse menino quebrar algo, tenho certeza que o pai dele vai me fazer pagar e cada item desse deve valer mais que a minha casa lá do interior.

- Vamos Miguel, por favor... A Maju vai te dar um banho bem gostoso e depois você vai comer um papa muito gostoso.- Tentei convence-lo.

Ele nem se deu ao trabalho de me responder dessa vez, apenas subiu em cima do sofá e começou a pular no móvel branco com sem se importar com absolutamente nada.

- Miguel, desça daí, por favor, se não seu pai vai ficar bravo comigo e com você.

- Problema seu! Eu não tô nem aí!- Ele respondeu enquanto mostrava língua e balançava os ombros.

Enquanto Miguel pulava, pude ouvir barulhos de passos descendo a escadas e uma voz imponente soou fazendo com que o Miguel descesse do sofá imediatamente.

- Miguel, desça já desse sofá... Eu não vou falar duas vezes!- O Senhor Henrique pediu uma vez só e ele prontamente obedeceu.

Ahhh, então pelo visto ele obedece a alguém... Mas não sei se isso é bom, ele parece temer ao pai e pelo visto, eles não tem uma ligação de pai e filho. Esse homem mal falou com o menino, mesmo ele tendo estado mais de dois meses fora, está visível o motivo da revolta desse pequeno.

- Você não estava vendo ele praticamente destruindo o sofá? Não seja incompetente, garota!- Henrique falou com soberba ao passar por mim.

- Me desculpe, eu pedi para ele descer, mas ele estava irredutível.- Tentei explicar.

- É Marta, você definitivamente não vai durar muito tempo aqui.- Henrique falou.

- Desculpe, mas meu nome é Maria Júlia.- Fiz questão de corrigi-lo.

Henrique que andava em direção a sala

de estar, parou bruscamente, ele virou em minha direção e veio até mim enquanto sorria de forma debochada e irônica.

- Garota, eu nem vou fazer o esforço de tentar lembrar o seu nome... Pelo que estou vendo aqui, você não passa desse mês.- Ele me respondeu com ironia e em seguida me deu as costas novamente sem me dar uma chance de resposta.

Esse Henrique definitivamente não me conhece, ele não faz ideia do quão decidida eu sou, irei passar sim desse mês e digo mais, farei com que esse menino me ame, ou eu não me chamo Maria Júlia.

- Eu esqueci de mencionar algumas coisas pra você, antes, mas você precisará seguir algumas regras para trabalhar nessa casa.- Henrique me avisou assim que adentrei pela porta da casa de estar.

- Sim senhor!- Respondi enquanto acomodava o Miguel em uma das cadeiras.

- A primeira regra de todas, eu odeio ser incomodado durante o meu trabalho, então nunca, em hipótese alguma permita que o Miguel me interrompa enquanto eu estiver focado no meu trabalho, caso contrário, isso lhe custará o seu trabalho.- Ele falou em alto e bom tom.

Apenas acenei com a cabeça em forma de resposta, pois percebi que ele passaria um bom tempo falando.

- Eu não quero que o Miguel se apegue a você, funcionários são descartáveis, e não quero vê-lo sofrendo caso você tenha que ir embora, então nem precisa dizer seu nome pra ele... Pra ele você será apenas a babá, é assim que ele vai te chamar, não ouse falar seu nome ou apelidinhos pra ele.- Ele falou e naquele momento percebi que aquele homem era desumano.

Pessoas não são descartáveis, sendo funcionários ou, eu acredito que cada um tem o seu valor, mas pelo visto para ele nada disso importa... É triste ver alguém assim, tenho certeza que ele é uma pessoa muito triste.

- Sim Senhor!- Falei ao engolir seco.

- E por último, mas não menos importante...Cuide do Miguel como se ele fosse a sua vida, eu não vou permitir que esse menino chegue em casa com um arranhado se quer. Você não pode deixa-lo sozinho por um segundo se quer r jamais, jamais fale ou resposta perguntas sobre a mãe dele... Essa mulher esta morta e se você menciona-la, você também estará!- Ele falou por fim.

Ouvi tudo calada e no fim desse apenas uma frase, "sim senhor", as exigências do Henrique são pesadas e algumas até mesmo absurdas, mas vou levando com a barriga até onde der... Esse com certeza não é o trabalho dos meus sonhos, mas eu com toda a certeza do mundo rnfrentatia o inferno só pra ver o meu pai um pouquinho melhor.

- Eu vou me retirar! Se precisar de algo, chame a Tânia, ela irá te auxiliar... O Miguel tem que estar na cama as nove, amanhã ele tem aula cedo e a tarde tem as atividades extra curriculares... Você já conheceu o seu quarto?- Ele me questionou sem ao menos me olhar.

- Sim senhor! É tudo muito lindo e confortável, muito obrigada.- Falei sorrindo.

O meu quarto é realmente muito lindo e aconchegante... Eu morava em uma casinha tão simples lá em Minas, estar dentro desse palacete e ter um quartinho só pra mim é um sonho.

- É, tem gente que se contenta com pouco.- Henrique falou com desdém e em seguida saiu sem ao menos se despedir.

É, agora vejo de onde o Miguel tirou sua ótima educação... O pai dele é um exemplo e tanto.

- A comida está boa?- Questionei ao Miguel.

Aquele menino me olhou com uma carinha de bravo, mostrou a sua língua toda suja de comida e deu os ombros... Aquilo me fez rir.

Miguel é um bom menino, eu sei que ele é. Ele está apenas perdido por não ter carinho e isso é perfeitamente normal... Eu sei que com o tempo e com muito jeitinho eu vou conseguir conquistar o coraçãozinho desse anjinho.

É, parando pra pensar... Talvez eu tenha uma missão nessa casa, além de ajudar os meus pais, eu também tenha que ajudar essa criança de alguma forma. Eu acredito muito que Deus direciona os passos de cada ser humano e creio que foi Ele quem me guiou para essa casa e para essa família. Talvez seja esse o meu propósito, cuidar e dar amor para uma criança com o coração ferido.

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