CAPÍTULO 4

Maju

Sinto o meu rosto queimar como se estivesse pegando fogo de tanta vergonha.

O que é que deu em mim? Eu simplesmente não sei!

Os meus pais me deram uma ótima educação, eu nunca havia entrado em um cômodo na casa dos outros é até mesmo na minha casa sem a permissão dessa pessoa, mas pelo visto de uma hora para outra eu me esqueci totalmente de um gesto tão básico de educação.

- Que vergonha... Que vergonha!- Repeti pela milésima vez enquanto bebia um copo de água fria na tentativa de me acalmar.

Eu preciso confessar algo, eu nunca havia visto um homem nu em toda a minha vida, então ver aquele homem totalmente pelado me causou uma grande síncope... Eu não soube o que fazer, o que falar e nem para onde ir. Apenas fiquei parada alí com uma cara de boba!

- Sua tonta!- Falei para mim mesmo sem conseguir esquecer toda aquela situação totalmente vexatória.

O Senhor Smith já não gostava de mim, agora ele vai ter uma ótima desculpa para me colocar bem no olho da rua... Esse com toda certeza não era o emprego dos meus sonhos, mas era com ele que eu iria pagar os remédios do meu pai.

- Então você está aí!- Uma voz forte e imponente soou fazendo com que o meu corpo ficasse totalmente paralisado.

É agora... É agora que eu vou perder o meu emprego e eu não vou poder nem reclamar. O Senhor Smith está totalmente certo em me colocar no olho da rua, então eu nem vou tentar reaver toda a situação.

- Eu vou pegar as minhas coisas...- Falei já me levantando daquela bancada antes que ele dissesse.

- Pra onde você vai?- Ele me questionou enquanto eu saia da cozinha.

Como assim? Eu vou fazer as minhas malas para ir embora... É óbvio que eu não tenho nem pata onde ir, mas eu vou dá um jeito, eu sempre dou um jeito.

- Arrumar minhas malas, eu sei que o Senhor vai me demitir.

- E em qual momento eu disse que iria te demitir? Eu obviamente eu tenho todos os motivos do mundo para fazer, mas vou te dar uma segunda chance.- O Senhor Smith respondeu me surpreendendo totalmente.

Fiquei totalmente surpresa ao ouvir a resposta do Henrique... Eu jurava que ele só estava esperando por um vacilo meu para me colocar na rua, não entendo porque ele está sendo tão tolerante comigo, mas não vou discutir, vou apenas aceitar calada.

- Da próxima vez preste mais atenção, babá. Eu estou sendo muito tolerante com você agora, mas não serei da próxima vez. Eu definitivamente não tolero o mesmo erro duas vezes.- Henrique falou com os seus olhos marcantes sobre os meus e eu apenas acenei com a cabeça como resposta.

Eu não vou nem tentar falar nada, vai que eu fale algo que piore ainda mais a minha situação... O Henrique já está sendo bom demais comigo, eu que não vou abusar da situação.

- E o Miguel?- Henrique me questionou ao me dar as costas e abrir sua geladeira.

- Ele está dormindo... Ahh, eu esqueci de

te falar, o Miguel teve uma briga na escola hoje, ele empurrou um amiguinho e esse menino se machucou um pouco.- Avisei já com receio.

O Miguel parece ser um menino bom, eu acho que lá no fundo ele só é carente... Pelo que soube que nunca teve contato com a mãe e o pai mal lhe dá atenção, acho que ele acaba agindo assim para externar tudo que ele sente.

- Ele se machucou?- Henrique me questionou com seu olhar firme sobre mim.

- Não, ele está bem! Ele jantou mais cedo e agora está dormindo. Eu só te avisei porque achei a situação preocupante, achei que você deveria saber.- Avisei.

Henrique deu os ombros sem ao menos

se importar com a situação, ele voltou a mexer em algo na geladeira e aquilo me deixou tão preocupada... Eu cresci em uma família simples, muito simples, mas sempre tive meus pais ao meu lado em todas as situações, então para mim não é normal ver algo assim.

- O Senhor vai na escola conversar sobre a situação?- Insisti naquele assunto.

- Pra que? O Miguel ainda é uma criança, ele vai aprender aos poucos, não há nada que eu possa fazer.- Foi tudo que ele disse.

Me dei por vencida ao ouvir aquilo, é visível que ele não se importa, e não vai ser que eu vou conseguir faze-lo se importar, até porque eu sou apenas uma babá.

- Eu já vou me deitar, Senhor Smith. Boa noite! Deus proteja e abençoe o seu sono.- Me despedi dele forçando um sorriso e logo saí dali.

Henrique nem se deu ao trabalho de me responder e ao menos olhou para mim, ele apenas ficou encostado naquela bancada com uma cara de poucos amigos enquanto comia um pedaço de melancia... Eu acho tão engraçado vê-lo sempre com essa cara e com seu mal humor visível, esse tem tudo, mas pra ele não parece o bastante... Lá no interior a gente vive com tão pouco, mas ainda assim somos tão gratos a Deus por cada grão de alimento que ele nos concede.

- Que homem mais estranho!- Falei sozinha ao adentrar pelo meu quarto.

Os meus pais sempre me diziam que eu jamais deveria julgar alguém sem saber das dores daquela pessoa, mas quando se trata do Henrique Smith é difícil não julgar... Ele é um homem riquíssimo. Nasceu, foi criado e cresceu em um berço de ouro, então qual é o motivo de toda sua amargura? Juro que gostaria de entender.

De qualquer forma, vou rezar por ele, sempre que olho para ele sinto que há algo dentro do seu peito que o machuca muito.

.

.

.

Me olhava no espelho e não conseguia parar de encarar aquele uniforme branco, sem forma e sem graça... Eu só acho que ele deveria ser um pouquinho colorido, ter um pouquinho mais de vida, afinal, eu estou lidando com uma criança.

- Gostou do uniforme?- Tania me questionou ao passar por mim no corredor.

- Ahh... Acho que poderia ser um pouquinho mais colorido, mas está ótimo!- Falei dando um sorriso sincero.

- Você é muito alegre, Maju! Você deve ter tido uma vida muito boa lá no interior.- Ela falou ao entrarmos no cozinha.

Eu sinceramente não tenho motivos para ser triste... Meus pais sempre me disseram que tristeza e mal humor só trazem mais tristezas e mal humor e que o sentimento de gratidão nos trás mais e mais bençãos. Eu não estou no melhor momento da minha vida e penso no meu pai e na sua doença a todo segundo, mas quero me lembrar dos ensinamentos que ele passou para mim todos os dias e ter fé que ele vai ficar bem, porque foi isso que ele me ensinou desde muito menina.

- A vida lá no interior era realmente boa! Sinto tanta falta da minha família... Do meu pai, minha mãe, minha irmã, mas também estou feliz em estar aqui.- A respondi.

- Babá! Aonde está o Miguel?- A voz do Henrique soou atrás de mim me fazendo ficar imediatamente ereta.

- Bom dia! Ele está na piscina com a professora de natação... Eu já estava indo pra lá.- Falei prontamente.

Virei-me para trás ficando frente a frente com o meu chefe e ao olhar para ele senti o ar fugir de mim... Henrique está vestindo apenas uma bermuda de academia, o seu corpo está todo suado e os seus cabelos estão molhados.

O meu chefe é um homen muito bonito e atraente, não posso negar... Ele é alto, o seu corpo é torneado, sua pele é clara feita a neve, seu rosto parece uma escultura da Grécia antiga e os seus cabelos são loiros e lisos como os de um anjo... Se ele não fosse um ranzinza, diria que ele é um homem perfeito.

- Então vá agora! Não quero o Miguel sozinho com uma estranha.- Henrique me advertiu com sua dose matinal de grosseria.

- Sim senhor!- Respondi imediatamente e me dirigi a área externa da casa.

Fiquei de longe olhando o Miguel praticando com sua professora e não pude deixar de rir ao vê-lo bater os seus braços e perninhas gordinhas... Ele é um menino tão lindo, queria o pai dele desse ao menos um pouquinho mais de atenção a ele.

Me aproximei da piscina ao notar que a aula do Miguel havia chegado ao fim e o espetei alí na borda com um sorriso no rosto.

- Como foi a natação?- O questionei enquanto enrolava a toalha pelo seu corpo.

- Eu odeio natação!- Ele gritou com as suas bochechinhas vermelhas enquanto tremia.

Pelo visto o Miguel é exatamente igual ao pai dele, ele não gosta de absolutamente nada... É um tiquinho de gente tão pequeno pra caber tanto mal humor.

- Mas natação é muito importante, você sabia? Eu mesmo não sei nadar, se eu cair nessa piscina não sei nem o que fazer.- Contei a ele.

- Não tô nem aí!- Ele me respondeu enquanto balançava os ombros e me mostrava língua.

- Vamos entrar? Você tem que tomar um banho quentinho e se vestir, o seu pai está te esperando.- Falei com ele calmamente.

Miguel simplesmente pisou no meu pé com toda sua força no segundo em que terminei de falar enquanto fazia uma careta... É, tô começando a entender o motivo das babás desistirem desse emprego.

- Eu não quero andar, me pega no colo!- Ele exigiu batendo os pés.

- Mas Miguel, você já é grandinho... Tem que andar.- Argumentei.

- Então eu não vou!- Ele bateu o pé.

Que Deus e todos os santos me dê bastante paciência.

- Ele é só uma criança...- Repeti pra mim mesmo.

Me abaixei ficando do tamanho dele e o peguei no colo com uma certa dificuldade.

Miguel já é um rapazinho, ele já tem cinco anos e é bem fofinho, então não é nada fácil carrega-lo, mas nesse momento não tenho outra opção e não vou medir forças com uma criança... Com o tempo sei que vou conquistar o coração dele, tenho fé que sim.

Miguel se agarrou no meu pescoço, deitou sua cabecinha no meu ombro, me apertou com força e eu não pude deixar de sorrir com aquilo... Mesmo ele tendo me molhado toda com sua roupa de nadar.

- Eu vou te dá um banho bem quentinho e depois você vai fazer um lanchinho... O que você gosta de comer?- Perguntei enquanto afagava os seus cabelos com carinho.

- Babá, você não acha que o Miguel está grande demais para ser carregado? Coloca ele no chão, ele vai andar.- Fui parada no meio da sala pelo Henrique.

- Tadinho! Ele tá tão quietinho assim, deixa ele.- Falei com pena do menino.

Ele estava tão quietinho no meu colo, parecia estar tão bem e confortável... É assim que eu quero que ele se sinta comigo.

- De qualquer forma ele vai ter que descer, eu preciso conversar com você.- Henrique insistiu.

Apenas assenti com a cabeça sem insistir naquilo, coloquei o Miguel no chão e Tania o acompanhou até o quarto.

Henrique me fitou por alguns segundos assim que Miguel se foi, mas rapidamente seu olhar desceu para o meu peitoral e alí permaneceu.

Resolvi seguir o seu olhar e só naquele momento percebi que a roupa molhada do Miguel havia deixado a minha úmida, o que deixou o meu sutiã totalmente exposto.

Droga!

Henrique não desviou os olhos do meu peitoral e seus olhos ficaram tão escuros que me deixou assustada... O que deu nele?

Cruzei os braços sobre o meu peitoral enquanto dava um sorriso sem graça para amenizar toda a situação... Tem coisas que só acontecem comigo.

Seus olhos subiram para o meu rosto novamente, Henrique deu um passo para trás e balançou a cabeça em um ato de nervosismo.

- Vá trocar essa blusa, garota!- Henrique pediu me dando as costas.

- Eu achei que o Senhor iria me dizer algo...- Falei confusa.

- Vá trocar a porra dessa blusa agora!- Ele praticamente ordenou com uma rouquidão em sua voz.

- Sim senhor...- Respondi baixinho.

Dei as coisas saíndo daquele cômodo, mas aquela imagem dos olhos do Henrique me encarando ficaram grudadas na minha mente e aquilo me perturbou... Aquilo me trouxe sentimentos estranhos, me trouxe medo, mas também me fez sentir algo que nunca havia sentido na vida.

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