Henrique
Na medida que corria sob aquela esteira, sentia meus batimentos acelerarem, o suor descer pelo meu rosto e a cada segundo a minha respiração ficava mais cansada.
Me exercitar é um dos poucos momentos livres que eu tenho e é uma das coisas que mais me trás paz... Eu me sinto bem quando estou aqui, sinto-me como se liberasse todo um peso das minhas costas, e é exatamente por isso que isso é a primeira coisa que faço todo santo dia, religiosamente.
Desci daquela esteira ao completar dez quilômetros... A minha camiseta já estava toda molhada, meu corpo estava exausto e eu estava sedento por um copo de água.
Saí da minha academia e me encaminhei direto para a cozinha... Tudo que preciso é uma garrafa de água, um banho gelado e em seguida um café da manhã reforçado.
- Bom dia, Senhor Henrique!- Uma voz calorosa e animada soou atrás de mim me assustando.
Virei-me para trás e me deparei com a babá... Qual é mesmo o nome dela? Marta, Manuela? Não me lembro, e também não faço questão de me lembrar.
Encarei aquela garota por alguns instantes e senti um certo incômodo ao vê-la com um sorriso de orelha a orelha... Agora não são nem sete horas da manhã, não entendo o porque desse sorriso... Eu simplesmente não consigo entender pessoas que tem bom humor logo de manhã, isso é inaceitável!
- Se anuncie quando for entrar em um cômodo, não é educado chegar de supetão.- A adverti sem paciência.
- Me desculpe... Irei me lembrar disso da próxima vez. Eu só vim preparar o café da manhã do Miguel, ele está de mal humor, mas não há nada que uma refeição bem reforçada não resolva, não é?!- Aquela garota desandou a falar animada.
Eu realmente não entendo o motivo de tanta animação... Nem eu que sou dono de uma das maiores empresas farmacêuticas do país estou animado, então também não há motivos para uma babá estar animada assim.
- Garota, você fala demais... Meu Deus! Já estou com dor de cabeça. Prepare o café do Miguel em silêncio ou a minha cabeça vai explodir.- Pedi sem paciência.
Aquela garota insolente não disse mais nada, apenas acenou com a cabeça em um silêncio absoluto e começou a preparar o café do Miguel... Graças a Deus!
Não demorou muito e o Miguel adentrou pela cozinha já vestido com seu uniforme e com uma cara de poucos amigos... Talvez, apenas talvez, ele tenha puxado todo esse mal humor de mim.
- Bom dia, Miguel! A babá preparou um café da manhã bem gostoso pra você... Tem ovos mexidos, torradas e frutinhas, e tem também esse suco bem gostoso de maçã que fui eu mesmo que fiz.- Ela falou tudo de uma vez em um tom eufórico e pude sentir as minhas veias saltarem com tamanha animação.
Ninguém, ninguém deveria ter bom humor antes das dez da manhã... Isso deveria ser crime sob pena de prisão perpétua.
Rapidamente me retirei daquela cozinha antes que eu xingasse aquela mulher mais uma vez... Subi diretamente até meu quarto e me aprontei para o meu dia de trabalho, até porque, tenho um dia longo de trabalho pela frente.
- Por que vocês ainda estão aqui?- Questionei a babá ao descer as escadas e me deparar com eles ainda na sala de estar.
A aula do Miguel se inicia as sete e meia em ponto e já são seis e cinquenta nesse exato momento, então eles já deveriam estar a caminho da escola.
- O motorista está a caminho, ele se atrasou.- Tania, a governanta avisou.
Pelo visto eu vivo cercado por pessoas incompetentes... Esse motorista sabe muito bem que ele deve chegar aqui todos os dias as seis da manhã em ponto, ele já está há mais de cinquenta minutos atrasado.
- Bando de incompetente! Coloque esse homen no olho da rua, Tania. Eu não quero mais vê-lo aqui.- Falei irritado.
- Tudo bem, tudo bem...- Tania me respondeu sem tentar limpar a barra do irresponsável.
Tania já trabalha pra mim há mais de sete anos, e ela me conhece o bastante pra saber que eu não tolero erros, e é exatamente por isso que ela não tenta falar a favor de um irresponsável como esse.
- O Senhor está indo trabalhar?- Aquela garota me questionou com os seus olhos negros sobre mim.
Lá vem!
- Não, estou indo para o circo... É óbvio que estou indo trabalhar.- Falei sem paciência.
- Me desculpe, é que talvez o senhor poça nós dar uma carona... Assim o Miguel não se atrasa para a escola.- Aquela garota disse como se tudo fosse fácil assim.
Eu não vou dar carona pra ninguém, é exatamente por isso que eu pago aquele irresponsável do motorista, e pago muito bem... Fora que eu nunca levei o Miguel na escola antes, nunca.
- Me desculpe intrometer, Senhor Smith, mas é realmente uma boa ideia... A escola do Miguel fica a duas quadras da empresa, já é caminho.- Tania se meteu.
Pelo visto a Tânia está do lado dessa insolente, mas pensando bem, pelo visto essa é a única opção... Ahh, esse motorista vai me pegar muito caro por isso.
- Andem logo, eu não tenho todo o tempo do mundo.- Falei irritado.
Miguel e a babá logo vieram caminhando atrás de mim e um silêncio absurdo formou -se quando entramos no carro.
- O carro do senhor é muito bonito... Eu nunca vi um carro assim, lá no interior os carros são bem mais simples.- Obviamente a maritaca da babá foi a primeira a falar.
- É, mas você não está mais no interior.- Falei sem paciência alguma.
Essa garota quer comparar o lugar que
ela morava, que é visivelmente onde Judas perdeu as botas, com a capital de São Paulo.- É, mas eu sinto muito a falta do interior, sabia? La é tudo tão tranquilo, a gente até consegue dormir e acordar com o canto dos pássaros.- Ela falou e ao olhar de relance pelo retrovisor, vi que ela sorria.
Encarei aquela garota por alguns segundos e tentei desvendar de onde ela tirava tanta felicidade... Ela é uma garota simples, não tem um trabalho tão bom e pelo seu rosto da pra ver que a sua vida até agora não foi fácil, por que ela é tão feliz, tão sorridente? Eu tenho tudo, tudo, e ainda assim sinto falta de algo.
- E por que você não volta pra lá?- A questionei sem paciência desviando os meus olhos dela.
- Eu bem que queria, mas não posso... São Paulo será o meu lar nos próximos meses.- Ela me respondeu sem deixar de sorrir.
Eu sou um cara cético, mas agradeci imensamente a Deus no momento em que estacionei em frente a aquela escola e o Miguel e ela desceram do carro... Eu já não aguentava mais ouvir aquela mulher falar e ver aquele sorriso bobo em seu rosto... Eu sinto que não vou aguentar nem mais uma semana com toda essa alegria dessa garota.
- O que é isso?- A questionei enquanto caminhava em direção a minha sala.
Hoje eu terei um dia bem cheio, terei algumas reuniões com a equipe de logística e marketing, irei receber alguns acionistas e terei também que visitar uma das nossas fábricas... Governar toda essa companhia sozinho é cansativo, mas ser o CEO dessa empresa é a coisa que faço de melhor na minha vida.
- É o relatório atualizado dos últimos seis meses... Diminuímos os custos em trinta por cento e aumentos o lucro em trinta e três por cento.- Cíntia falou e pela primeira vez no dia me senti animado.
Saber que a empresa está progredindo durante a minha gestão me trás muita, mas muita satisfação... Me lembro bem que na época que meu pai faleceu algumas pessoas disseram que eu iria afundar a empresa em menos de um ano, é gratificante ver todas essas assistindo o processo da companhia.
- Isso sim é uma boa notícia!
- Uma ótima notícia! Acho que temos um grande motivo para comemorar.- Cíntia diz com um sorriso totalmente malicioso em seus lábios.
Eu sei muito bem de que forma a Cíntia deseja comemorar... Vejo em seus olhos o que ela quer e pelo visto, ela quer agora.
- E o que você me sugere?- A questionei enquanto olhava para os seus seios fartos através do seu decote.
Cíntia deu meia volta ao ouvir a minha pergunta, ela trancou a porta da minha sala e veio até mim com seus olhos presos aos meus.
- Eu quero te chupar... Bem aqui e agora!- Ela respondeu descendo com sua mão até o meu membro, e naquele momento fiquei totalmente animado.
Cíntia não precisou dizer mais nada, eu puxei seu corpo para mim, tomei os seus lábios bem no meio da minha sala e nós transamos em cada canto daquele lugar.
Adentrei pelos portões da minha casa as nove horas da noite em ponto... Eu tive um dia literalmente cheio, então só penso em descansar nesse momento.
- Bom noite, Senhor Smith! O seu jantar
está servido na sala de jantar... O Senhor vai precisar de mais alguma coisa?- Tania me recebeu na sala de estar.- Não, Tania! Pode descansar.-Avisei prontamente enquanto subia as escadas.
Me livrei daquele terno assim que entrei pela porta do meu quarto, tirei toda minha roupa e entrei de baixo da água gelada do chuveiro sentindo um grande alívio... Era exatamente disso que eu precisava.
Saí do banho ainda totalmente nu e adentrei pelo meu closet em busca de algo confortável... Eu facilmente dormiria assim, mas preciso descer para jantar, então irei vestir ao menos uma calça de moletom.
- Senhor Smith?- Pude ouvir batidas na porta do meu quarto e em seguida a mesma foi aberta bruscamente.
Eu até pensei em tentar me cobrir com algo, mas não deu tempo nem de pensar... A insolente da babá abriu a porta antes que eu pudesse fazer algo.
- AHHH!- Ela gritou histericamente ao ver que eu estava totalmente nu.
- SAIA JÁ DAQUI!- Gritei tentando me tampar com uma almofada qualquer.
Aquela garota que estava com uma feição indescritível em seu rosto bateu a porta do meu quarto bruscamente saindo do meu campo de visão.
- Me desculpe, Senhor Smith... Me perdoa, nem sei o que dizer.- Ela pediu gaguejando e pelo tom da sua voz deu pra perceber seu nervosismo.
Eu deveria estar totalmente fora de mim com essa garota insolente, mas quando me lembro da feição de desespero, vergonha no rosto daquela garota e do seu rosto todo corado, só consegui dar risada de toda a situação.
Essa garota definitivamente não b**e bem da cabeça!
- Maju...- Falei sozinho ainda rindo de toda a situação enquanto me lembrava do seu rostinho de garota corado perante toda a situação.
MajuSinto o meu rosto queimar como se estivesse pegando fogo de tanta vergonha.O que é que deu em mim? Eu simplesmente não sei!Os meus pais me deram uma ótima educação, eu nunca havia entrado em um cômodo na casa dos outros é até mesmo na minha casa sem a permissão dessa pessoa, mas pelo visto de uma hora para outra eu me esqueci totalmente de um gesto tão básico de educação.- Que vergonha... Que vergonha!- Repeti pela milésima vez enquanto bebia um copo de água fria na tentativa de me acalmar.Eu preciso confessar algo, eu nunca havia visto um homem nu em toda a minha vida, então ver aquele homem totalmente pelado me causou uma grande síncope... Eu não soube o que fazer, o que falar e nem para onde ir. Apenas fiquei parada alí com uma cara de boba!- Sua tonta!- Falei para mim mesmo sem conseguir esquecer toda aquela situação totalmente vexatória.O Senhor Smith já não gostava de mim, agora ele vai ter uma ótima desculpa para me colocar bem no olho da rua... Esse com toda certeza
HenriqueA sala de reuniões está abarrotada nesse momento. Pela primeira vez no semestre reunimos todo o time de lideres para que possamos discutir sobre os lucros do último semestre e também discutir estratégias para o semestre que está por vir... Eu sei que eu deveria ser a pessoa mais focada nesse momento, mas a minha cabeça está bem distante daqui.A minha mente está uma verdadeira confusão nesse momento e mil assuntos rodam dentro dela sem parar... Eu penso no Miguel, nos meus pais, nós negócios e até mesmo na destrambelhada da babá do Miguel. Aquela garota definitivamente não nasceu para ser babá, acho até que ela está durando tempo demais lá em casa, mas sinto que dessa semana ela não passa... Pelo que fiquei sabendo, Miguel aprontou uma boa com ela esse fim de semana, sinto que até o fim de semana ela pede as contas.Estava com meu pensamento distante, mas ao ouvir o Mattew falar de forma tão sínica, minha mente despertou automaticamente.- Os gráficos estão apresentando uma m
MajuNesse exato momento são quatro e meia da da manhã, hoje é domingo e não preguei os olhos por um segundo se quer durante toda a madrugada.O Miguel não está nada bem desde as quatro da tarde de ontem. Ele vomitou algumas vezes, não conseguiu comer nada e está quentinho de febre... Eu chamei o médico dele durante a madrugada e ele já foi medicado, mas eu não vou conseguir dormir até ver que ele está totalmente bem.- Ele vai ficar bem, okay? Continue administrando as medicações e quando ele acordar vê se consegue fazer com que ele coma algo... Ah, e se a febre aumentar me liga, talvez a gente tenha que leva-lo para o hospital.- O doutor me avisou enquanto eu o acompanhava até a saída.- Tudo bem! Eu vou ficar de olho nele. Muito obrigada por ter vindo esse horário, doutor. Eu estava muito preocupada.- Fiz questão de agradece-lo.O Miguel estava queimando de febre quando eu liguei para o médico. Eu estava desesperada e não sabia o que fazer, estou realmente grata por ele ter vindo a
Henrique Os dias estão passando vagarosamente ultimamente, mas as palavras da Maria Júlia não saem da minha cabeça... Eu não fazia ideia que o Miguel se sentia assim, e mesmo sendo totalmente frio com ele, eu não quero que ele se sinta preterido por mim, porque eu sei exatamente como é se sentir assim e como isso é prejudicial.Quando eu era menino, tudo que eu mais queria era um gesto de carinho do meu pai ou da minha mãe, ao menos um abraço ou um afago nos cabelos, mas eu nunca recebi e sinto que até hoje isso me afeta... Os meus pais me deram de tudo. Eu sempre tive as melhores roupas, os melhores brinquedos, estudei nas melhores escolas e viajei para lugares incríveis, mas na minha infância isso não fazia tanta diferença pra mim, eu só queria estar junto deles e isso eu nunca tive, e infelizmente esse tipo de coisa não dá pra comprar nem com todo o dinheiro do mundo.As vezes eu sinto que deveria fazer uma terapia para superar tudo isso, mas sei que isso é perca de tempo, já não
Maju Eu ainda estava totalmente surpresa e desacreditada com o gesto do Henrique. Quando ele me disse que iria ajudar meu pai, eu achei que ele estava brincando, mas ele realmente cumpriu com o que disse.Fazem menos de uma semana que ele me disse que buscaria por ajuda para meu pai, e nesse meio meu pai já foi transferido pra uma ótima clínica médica, os remédios que ele estava precisando foram comprados e ele ainda custeou os gastos com transporte para a minha mãe... Eu não poderia estar mais grata por tudo que ele fez por mim e pela minha família e munda vou esquecer desse seu gesto de bondade.- Ele pagou todas as despesas médicas do seu pai?- Tania me questionou pela décima vez me fazendo rir.Nenhum funcionário acredita quando descobrem que o Henrique ajudou minha família... Todos tem exatamente a mesma reação, ficam de boca aberta e totalmente incrédulos.- É verdade! Confesso que até algumas semanas atrás achava que ele era apenas mais um riquinho, metido a besta e egoísta,
Henrique Dias haviam se passado desde o incidente ridículo que houve entre a Maria Júlia e eu e ainda estava sem acreditar que aquela garota tinha dito NÃO para mim.Acho que ela realmente não tem noção de nada da vida, caso contrário ela com toda certeza teria se sentindo privilegiada de um cara como eu ter se interessado por ela. Não que a Maju seja uma mulher feia, ela não é, muito pelo contrário, mas eu sou Henrique Smith, um dos homens ricos do país... Quem diria não para mim? Ninguém!Mas quer saber? Foi realmente ótimo que ela tenha dito não... Ele com certeza iria se apaixonar por mim, isso não daria certo e eu teria que demiti-la, ela ter dito não foi ótimo para nós dois.- Senhor Smith?- Uma voz soou lá no fundo do meu subconsciente me fazendo acordar.Levantei a cabeça afastando aqueles pensamentos e me deparei com Cíntia parada de frente pra mim... O que essa mulher quer? Já estou com a cabeça cheia demais.- Fala, Cíntia.- A respondi sem paciência.- Nossa, Henrique! O S
Maju Hoje completam três meses exatos que venho trabalhando na mansão do Henrique Smith. Confesso que ao chegar naquela casa pensei que tudo seria mais fácil, pensei que eles gostariam de mim logo de cara e que teria a afeição do meu patrão e do seu filho, mas hoje vejo o quanto eu estava enganada com tudo isso... O carinho do Miguel eu até consegui conquistar e estou imediatamente feliz por isso, mas aquele troglodita idiota do Henrique realmente deve ter coração de pedra, e quer saber de uma coisa? Hoje em dia já não faço questão que ele se simpatize mais comigo, tudo que quero desse babaca é o meu pagamento no fim do mês, mais nada.Quando o Henrique me ajudou nas questões do meu pai, eu mudei toda a minha concepções sobre ele e pensei que ele realmente poderia ser um ser humano bom e empático, mas as palavras que ele me disse aquele dia no corredor mostraram que ele é apenas um ser desprezível, pobre de espírito e sem consciência... Foi naquele dia que eu decidi que não iria mais
Henrique Hoje é domingo, agora são nove horas da manhã e pela primeira vez em anos, estou passando o domingo ao lado do Miguel... Os meus domingos sempre foram nas baladas da vida, não consigo me lembrar qual foi o último fim de semana que passei em casa, mas como a Maju tirou folga durante esse fim de semana e eu não quis que o Miguel ficasse com alguém desconhecido, decidi ficar aqui e ficar dele.Bom, eu não sei muito bem como cuidar de uma criança, aliás, não sei absolutamente nada sobre como é cuidar de uma criança, mas não deve ser tão difícil, se a Maju faz, eu também consigo fazer.- O que você quer comer, Miguel?- O questionei enquanto procurava por algo dentro de armário.- Chocolate!- Ele exclamou animado.- São nove horas da manhã, Miguel. Acho que não é uma boa ideia comer chocolate agora.- O respondi.Confesso que não sei muito bem como funciona a dieta do Miguel, mas creio que nela não está incluso chocolate logo pela manhã.- Pizza?- Ele falou.Acho que não foi uma bo