Passei tempo demais correndo com a papelada e esqueci que depois do turno eu precisaria voltar para a faculdade, talvez Mike estivesse certo, diminuir um pouco das horas que eu estendia do plantão poderia me ajudar.
Corri pelo campus tendo certeza de que eu perdi algumas das minhas canetas durante a maratona, perderia o início da aula e isso seria péssimo para o meu currículo estudantil.Esqueci dos elevadores e corri pelas escadas na expectativa de encontrar a sala em seu estopim de conversas fiadas e falta de um professor dentro da classe.— Não diagnostiquem imediatamente. O maior erro do médico é achar que ele entende mais do que os estudos feitos durante décadas, você não é especial e não deve se achar o maioral quando estiver com as maiores cartas na manga para dar a sentença para seu paciente. — Eu abri a porta no meio da explicação, Não olhei para o rosto do Sr. Clark que pausou drasticamente suas palavras até que minha bunda estivesse presa a cadeira. — Vocês precisam de limites, seu diagnóstico deve ir além das vozes da sua cabeça. Você pode acabar com a vida de uma pessoa com um diagnóstico errado.Tentei manter silêncio, o que eu menos queria era chamar ainda mais atenção depois do fiasco do meu atraso. Tirei os cadernos da bolsa e minhas suspeitas estavam certas, eu havia perdido as minhas canetas no caminho para a sala. Fechei os olhos e respirei algumas vezes antes de pesar minhas opções.Pedir a Jess ou suas amigas, usar meu telefone para fazer as anotações — o que foi expressamente proibido pelo Sr. Clark —, ou apenas deixar passar a aula e tentar me lembrar dela mais tarde.— Suponhamos que vocês estejam com problemas mentais, e, convenientemente, precisem passar com um psiquiatra. — A aula continuou e o Sr. Clark caminhou despreocupadamente pelos corredores das carteiras até que se posicionou ao meu lado. — Confiarão em seu diagnóstico precoce, ou pedirão exames para que seja mesmo que minimamente comprovado o que vocês supostamente tenham? — Lentamente, ele mexeu no bolso de seu paletó acinzentado escuro e posicionou uma caneta ao lado do meu caderno enquanto parte da classe respondia sua pergunta. — Exatamente, o profissionalismo vem muito antes do seu achismo.Pisquei algumas vezes para entender a situação, eu não havia demonstrado nada, sequer informado que não havia nada para que eu pudesse anotar de sua aula. Assim que cheguei, apenas retirei meus cadernos e os coloquei em cima da carteira.Recebi um leve aperto em meu ombro e um olhar fuzilante de Jess e o bando da morte.— Terminamos por hoje, nos vemos amanhã. Lembrando o que os informei no começo da aula, também darei a vocês filosofia nesse semestre e as regras durante a minha aula não mudarão.Os alunos se arrumaram e lentamente foram saindo da sala, eu precisava enfrentar o olhar acinzentado e irrefutável do Sr. Clark, além de suas tietes que me comiam viva com os olhos, me levantei já sabendo que o restante da minha semana seria um doce tortura.— Obrigada pela caneta, desculpe interromper a aula no meio, não irá mais acontecer.Ele me entregou a folha de chamada e eu a devolvi após assiná-la.— Trabalho, casa, faculdade. Me lembro como isso era na minha época, senhorita Taylor, já informei a você que relevo apenas os alunos que eu vejo potencial e que tenho certeza que finalizaram a pós. Mas deveria diminuir a quantidade de horas em seu turno, ou acabará perdendo não só as minhas aulas e sairá muito mais prejudicada do que imagina.— Sim, eu sei. — Engoli o pequeno nó que se instalou na minha garganta. — Como eu disse, obrigada pela caneta, isso não irá se repetir.Eu me sentia um tanto quanto histérica, e precisei respirar algumas vezes para manter meus batimentos cardíacos em sintonia com a minha respiração. Ele me fitou ligeiramente e sorriu criando poucas e finas marcas de expressão debaixo de seus olhos, estendi a caneta apenas esperando que ele pegasse para que eu pudesse sair o mais rápido possível dali, mas ele apenas tirou os óculos e passou a mão nos cabelos escuros.— Leve-a, talvez assim se lembre de não chegar atrasada na próxima aula.Eu tossi um obrigada e furei a fila de tietes que estavam logo atrás de mim travando a passagem para fora da sala de aula....Me peguei mordendo a tampa daquela caneta, simplesmente pensando em absolutamente nada. Fiquei assim por algum tempo, pelo o que eu me lembre. Foi logo após assinar o prontuário de um dos meus pacientes, fiquei presa entre um limbo inconsciente e a visão fixa de um ponto negro na parede do quarto.O cansaço estava agora tirando a minha atenção, se eu continuasse assim, talvez não poderia lidar com nenhum paciente. Mike tinha razão e eu odiava admitir isso.Mas eu precisava do dinheiro que aquelas horas extras me pagavam, não era só pelo amor da minha profissão, claro que não. Estudar não era barato, principalmente na minha área e com um aluguel nas costas.Mordisquei mais algumas vezes a caneta que ainda estava presa entre meus dentes. Eu precisava de um emprego que me pagasse melhor, mesmo amando meus pacientes eu tinha que pensar em como sobreviver antes que o dinheiro não desse mais para pagar nada além da faculdade. Era um jeito de conseguir me manter, mas, era ainda mais difícil conseguir uma vaga na área em que eu trabalhava.— Os prontuários estão prontos? — Mordisquei um pouco mais ferozmente a tampa da caneta.O som de suspiro pesado invadiu meus tímpanos e minha mente ignorou, aquele ponto negro na parede não deveria estar ali.— Sarah? — O gosto do plástico era de algum modo, viciante, talvez fosse por isso que todos tinham essa mania irritante. — Sarah!Pisquei mais vezes do que seria considerado normal, a Sra. Jones me encarava com uma carranca de fazer inveja aos amantes de filmes de terror. Os olhos fundos debaixo das pálpebras caídas eram apenas o charme do seu visual aterrorizante, a chefe das enfermeiras era um pouco mais alta do que eu e não admitia erros em sua supervisão.— Estão aqui. — Entreguei os papéis e ela expirou com os lábios abertos. — Estão prontos desde cedo.Ela me mediu com desdém como fazia todo santo dia e voltou para a sua sala, mau humorada, suspirei e fiquei apenas com a caneta na mão sentada na cama vazia do quarto. Hoje seria a última aula da semana com o Sr. Clark e eu me vi pensando em como eu devolveria para ele uma caneta com sua tampa completamente mordida.Merda.Tenho estado em um transe frequente nos últimos dias, e por vezes esses transes me traziam os olhos acinzentados quase beirando os azuis atrás daqueles óculos Ray-ban. Trauma, poderia ser claramente isso. Medo de não me dar bem o suficiente nas aulas dele por causa da pressão que ele tinha colocado em mim, inconscientemente.Estava sendo obrigada a ser o exemplo da turma, e só agora, longe do olhar incisivo eu conseguia ver isso. Seria rude da minha parte se eu buscasse outro professor de Filosofia e Psicologia? Certamente que sim.Cheguei antes que a aula começasse e o arrependimento foi a primeira coisa que senti quando Jess e suas lacaias entraram na classe. Respirei fundo tantas vezes que meu cérebro não suportou a maior quantidade de oxigênio e me fez ter uma leve tontura, agora eu tinha certeza de que o Sr. Clark havia dado para mim uma pequena — e loura — sentença de morte.Mas ela deveria me encarar dessa maneira ligeiramente matadora? Não. Jess era claramente mais nova do que eu e parecia que seu dinheiro não tinha sido usado apenas com a faculdade, na verdade, eu duvidava que ela sequer trabalhasse — ainda mais com as unhas daquele tamanho. Eu não tinha tempo para me arrumar, mal conseguia tempo para hidratar meu cabelo — o que eu definitivamente precisava. Ela, no entanto, parecia passar horas no salão e eu queria apenas uma hora para poder ir à academia e eliminar os quilos que adquiri comendo comida processada e pré-pronta.Ela sorriu com escárnio para mim e eu só conseguia pensar que em alguma vid
Ele riu e caminhamos até o outro lado da rua, onde haviam alguns bares. Eu não era exigente e podendo esquecer o meu dia conturbado mergulhando minha cabeça num barril de cerveja, já estava de bom tamanho.O bar era tão simples quanto um boteco, mas a cerveja era boa e Mike não era uma companhia ruim, pelo menos fora do hospital. Já bebi com ele outras vezes e me diverti mais do que eu achei possível acontecer, pelo menos era fácil com ele.— Ivy estará no seu lugar amanhã, estou te pondo oficialmente de castigo. — Uni as sobrancelhas ouvindo aquela besteira enquanto sentávamos na banqueta do bar. — Podemos ser notificados, Sarah, você anda trabalhando demais e já ultrapassou as horas permitidas de trabalho do mês.O barman encheu minha caneca e eu quase virei de uma vez só.— Não faria isso comigo. — Suspirei chateada, ficar sem trabalhar seria trágico para a minha mente conturbada.Mike deu de ombros, não era brincadeira.— Eu preciso de um emprego de verdade. — Eu disse finalmente
— Tenho. — Ele sorriu e eu me entreguei à língua quente e cheia de expectativas que voltou a invadir minha boca.E droga, ele me fazia querer ainda mais disso.Eu não tenho o costume de largar a minha decência dessa forma, mas eu tive um dia de merda e não tinha nada que pudesse tirar o estresse de mim como um bom sexo sem compromisso com um estranho qualquer.— Não quero que... — Eu o calei, não queria pensar no que poderia acontecer depois, não queria perder o tesão que estava irradiando do meu interior e tomando todo o meu corpo. Então eu pressionei ainda mais meu quadril contra ele e arranquei meu sutiã. — Esquece...Meu jeans foi desabotoado e me levantei para que ele conseguisse retirá-lo de mim, a calça foi jogada no chão do carro junto com meus sapatos e a calcinha. Eu tinha pressa e ele parecia sentir a mesma necessidade que eu, puxei o zíper da calça dele e me posicionei antes de pensar melhor sobre a burrada que eu estava prestes a fazer.Sem proteção, sem culpa, deixei meu
Os olhos de Jess estavam quase pulando para fora das órbitas e seu esquadrão da morte estavam todos com as mãos na boca, eu não era a única que não estava acreditando na situação.Eu fiquei travada dentro do elevador junto com elas, olhando da sacola para a cara levemente sorridente do Sr. Clark fora do elevador.Isso realmente poderia estar acontecendo?— Estarei esperando para quando estiver pronta para falar sobre o estágio. — Ele disse voltando a caminhar como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse quase implorado para que ele me fodesse na noite anterior.Eu pisquei ainda sem acreditar, as cobras também não se moveram e eu jurava que se as portas do elevador fechassem seria meu fim.— Espera! Está brincando comigo, não é? — Eu pulei para fora antes que as portas se fechassem outra vez. — Me fale, quanto Mike te pagou para me dar isso?O pátio do campus era calmo e com tudo o que aconteceu todos já tinham tomado o próprio rumo e tudo estava vazio outra vez. Ninguém sab
— Mas isso não vai se repetir. — Talvez eu tenha dito isso em voz alta apenas para que eu gravasse na minha mente.Ele ficou em silêncio por um tempo, me observando. Precisei de um certo controle para não surtar com o olhar incisivo dele, profundo e cheio de sombras que eu me recusei a querer descobrir o que eram.— Você tem certeza de que é isso mesmo o que quer? — Ele uniu as sobrancelhas aguardando uma resposta que eu inexplicavelmente não consegui dar, o que havia de errado comigo? Ele sorriu passando para o banco ao meu lado e eu me senti mole. — Não precisa responder agora, tem todo o tempo que precisar. Mas digamos que eu não me responsabilizaria, entre esse meio tempo, das possíveis coisas que poderiam acontecer.— Sr... — Ele olhou o relógio de pulso e sorriu voltando os olhos para mim.— Nesse exato momento, eu sou apenas David. O mesmo cara com que você saiu do bar e que está louco para te beijar uma outra vez.Jess estava visivelmente incomodada com a minha presença dentro
Ele sorriu e puxou a bolsa do meu ombro antes de me prender contra a parede. Minha boca foi devorada assim como eu devorei a dele, ansiosa para ter mais do que ele me deu da primeira vez e esperando que fosse ainda melhor do que quando eu estava embriagada.— Não se preocupe, não vou deixar que nos interrompam, senhorita Taylor. — Eu ofeguei, sentindo os lábios dele percorrerem meu pescoço e os dedos afundarem na minha cintura.Eu estava definitivamente deserdada, minha mãe me condenaria apenas por desejar um professor, não consigo imaginar se ela descobrisse o que estávamos fazendo. Mas eu não me importava, o desejo que ele causava em mim e a excitação eram quase descontrolados.— Isso é tão errado... — Eu suspirei antes dos lábios dele tomarem os meus outra vez.Minha cintura nunca foi tão explorada como ele estava fazendo, encontrando todos os cantos possíveis por dentro da minha blusa. Meu corpo sentia falta desse tipo de estímulo e não era pouco, eu estava quase me rendendo ao ch
Eu ri, Mike tentou segurar o sorriso mais eu o flagrei pelo reflexo dos espelhos que tínhamos nos corredores. — E você deveria na verdade esquecer essa ideia de que quer sair comigo, eu não tenho tempo nem mesmo para lavar o cabelo. Não sou uma boa opção.Ele agora riu alto e rasgou o pacote de balas.— Não provoque a minha imaginação, eu não quero ser processado por assédio em local de trabalho. — Eu contive a risada, eu já sabia que Mike não tinha limites e nem papas na língua. — Mas aceito "só um encontro" como suas desculpas, mas quero que você deixe a merda do clima rolar.— Você precisa se tratar, Mike, é sério. — Eu suspirei pegando a pilha de prontuários que estava me esperando em cima do balcão. — É a primeira vez que vejo pessoalmente alguém sentir tesão na rejeição.Mike me olhou incrédulo desistindo de mastigar a bala.— Desculpas recusadas, ruiva. Terá que me mimar ainda mais para obter esse privilégio que é ter a minha amizade.— Nada além de um encontro. — Afirmei, não
"Sou eu, Sarah, David. Se não sabe, o número de todos os alunos estão gravados em seus currículos. Não é um trabalho muito difícil encontrá-los."Eu suspirei, realmente, todos os meus contatos estavam ali para o caso de alguma oportunidade de estágio pela faculdade. Sorri enquanto Mike continuava falando e respondi rapidamente virando o celular para baixo."Sinto muito, David, estou com um amigo agora. Podemos marcar outro dia. Tenha uma boa noite!"Meu telefone não voltou a vibrar, o que me deixou aliviada ao contrário de Mike que estava mais perto do que eu me lembrava e não parava com os olhos quietos no meu rosto.— Agora posso me gabar para os seguranças, sabe quanto tempo passei tentando ter um encontro com você? — Mike já estava sentado ao meu lado e imaginei que ele deveria ter feito isso quando eu respondia as mensagens no meu telefone.— Desde que a Kassie te deu um fora. — Cantarolei recebendo um suspiro dele de volta, quebrei o clima que ele estava tentando criar e isso me