EvelynAinda não acreditava que estava indo para Berlim assim, do nada, simplesmente porque Alexander decidiu. Algo dentro de mim gostava desse jeito mandão e possessivo dele. Mas havia outro lado que me dizia para não ceder, para não permitir que ele me dominasse dessa maneira.Entramos no avião como ele ordenou, e fiquei sem ar. Era enorme, dividido em cinco seções. Havia nele um quarto, salas de jantar e de reunião. Os banheiros eram espaçosos, como era possível um avião assim? Deve custar uma fortuna!Emily nos mostrava o lugar e apresentava a tripulação. A comissária Scarlett era uma mulher bonita, com um olhar afiado. O piloto, Arthur, e o copiloto, Vince, pareciam bem simpáticos.Assim que as apresentações terminaram, Alexander e os outros se juntaram a nós. Benjamin seguiu para a cabine, enquanto Jackson, carregando uma maleta preta, foi até o bagageiro. Já Alexander foi interceptado por Scarlett.— Querido, quando soube do seu acidente, fiquei tão preocupada.A voz dela era s
AlexanderEm vinte e nove anos de existência, nunca me apaixonei, nem desejei ter alguém ao meu lado. Não sei lidar com esse tipo de relação. Gosto de coisas práticas. Talvez por isso sempre tenha sido bem-sucedido no ramo da segurança. Mas, desde o dia em que meu caminho cruzou com o da Evelyn, tudo isso mudou.— Já passaram dois minutos, Alex. — Evie disse, ainda com os lábios nos meus.— Aproveite a viagem. Assim que terminar a reunião... — Dei um beijo rápido nela.— Volto para você.Vi algo brilhar em seus olhos, como se minhas palavras tivessem despertado algo em sua mente. Ela assentiu e, dessa vez, me olhou com mais suavidade.— Estarei aqui.Sorriu para mim. Deus, como eu queria puxá-la para o quarto e ignorar todo o resto. Mas essa não era uma viagem a passeio, e havia algo grande me esperando em Berlim.Segui até a sala onde Benjamin e Jackson me aguardavam. Ao entrar, vi que Chen já estava em uma videoconferência com eles.— Chen, sem enrolação. — Meu tom era firme, autori
EvelynEu já tinha visto Alexander em seu modo implacável, mas vê-lo agredir Benjamin, seu amigo de infância, daquela maneira... Despertou coisas em mim que eu não queria sentir. Emily chorava compulsivamente. Eu sabia dos riscos envolvidos no trabalho dos meninos, um erro podia ser fatal. De certa forma, foi assim com Brandon. A morte dele nunca foi solucionada ou, se foi, ninguém nunca me contou.Nesse ramo, as pessoas simplesmente somem. Olhei para Emily, ainda em prantos. E quando isso acontece, às esposas, namoradas, noivas... Só resta chorar e aprender a dar adeus. Não foi o caso de Benjamin e Emily, graças a Deus, ele ainda está vivo. Mas Brandon sempre me dizia como a traição era vista por aqui: quem vacila paga um preço. E esse preço é a vida.Então, um pensamento me atingiu... A bronca que Alexander tem de Brandon... As indiretas que, muitas vezes, os meninos, Emily, e até mesmo Amélia soltam sobre ele... Será que Brandon... meu Brady... era um traidor?Não.Não posso.E não
AlexanderQuando Scarlett veio até mim, informando que Evelyn tinha desmaiado, um buraco se abriu em meu peito. Era uma mistura de preocupação e medo.Quando cheguei à sala, ela estava caída no chão, com Emily e Abigail sobre ela. Jackson quis pegá-la do chão, já que eu não conseguiria por causa do gesso. Mas eu jamais permitiria que outro homem carregasse a minha mulher.Exatamente.Minha mulher.Arranquei aquela porcaria num rompante de fúria. Peguei-a no colo e segui para o meu quarto. Não permiti que ninguém entrasse. Apenas a deitei na cama e fiquei ali, velando seu sono. Desde que a conheci, esse tem sido meu passatempo preferido: velar seu sono.Quando ela acordou, o alívio me atingiu, mas eu precisava ter certeza de que ela estava bem. Informei que pousaríamos para levá-la ao hospital. Mas ela... Nunca concorda comigo de imediato. E, claro, ela faria caso por causa do gesso. O pouco que conheço de Evelyn já me fazia imaginar isso.Mas foi o toque dela no meu braço, suas unhas
EvelynDepois que Alexander saiu do quarto, me deitei e dormi. Só percebi o quanto precisava disso depois de passar o que pareceram horas adormecida.Quando acordei, vi Alexander sentado na poltrona ao lado da cama. Ele me encarava com aquela máscara de sempre, impassível, difícil de ler. E isso me incomodava.Sentei-me na cama e vi uma bandeja com comida. Olhei para ela e depois para Alexander, que permanecia calado.— Agradeço, mas estou sem fome — apontei para a comida.— Abigail disse que você já está há horas sem comer.A voz dele era seca, sem emoção. A mesma que ele usava quando nos conhecemos.— Agradeço sua preocupação. E a de Abby. Mas não tenho fome...Joguei as pernas para fora da cama e o encarei.— O que significa que não irei comer.Me levantei, mas sua voz fria chamou minha atenção.— Onde pensa que vai?Olhei para ele com a mesma expressão que ele usava comigo.— Banheiro. Alguma objeção? — levantei as sobrancelhas em desafio.— Seja rápida. Pousaremos em minutos.Ele
AlexanderQuando fui informado de que pousaríamos, fui até o quarto avisar Evelyn. Ela estava largada na minha cama, a respiração tranquila e os lábios… aqueles lábios… levemente entreabertos. Minha vontade era acordá-la e tomá-la pra mim. Mas, se antes eu achava que ainda era cedo, Brandon ainda quente em sua memória, em seu corpo, agora, eu já nem sabia mais o que pensar.Grávida?Fiquei sentado, apenas a encarando, até que ela acordou e sentiu meus olhos fixos nela.Nossa interação não foi das melhores. Eu, como sempre, prático demais, frio demais… difícil demonstrar emoções. Enquanto Evelyn... ela era o oposto. Era sentimento puro. Luz. Carinho. Amor.Dei a ordem e saí.Quando ela veio até mim para irmos ao hospital, esses sentimentos novos e conflitantes dentro de mim me impediram de dizer qualquer coisa. Na verdade, eu não disse nada.Chegando lá, é claro que ela não deixaria barato.— Doutor, esse senhor não é nada meu. Está aqui apenas como intérprete.Ela teve essa audácia. E
EvelynAs palavras de Alexander ecoavam em minha mente:— Você é minha, Evelyn. E nada do que foi dito naquele consultório vai mudar isso.O tom de posse não me incomodou, o que me incomodou foi o fato de esse homem irritante, idiota e... lindo, achar que eu estava grávida.Me afastei dele com certa relutância, porque meu corpo inteiro gritava por sua presença. Mas ainda não era a hora. Por mais fácil, por mais natural que fosse ceder aos seus beijos, ao seu toque... à sua voz grave dizendo "Minha", havia algo dentro de mim sussurrando: ainda não.E esse algo trazia Brandon à tona a cada passo.— Precisamos voltar ao hospital. Você precisa colocar o gesso de volta. Ainda não entendi... o que passou pela sua cabeça ao tirar ele?Ele me puxou para mais perto, passando o nariz pelo meu pescoço, me causando arrepios da nuca até os pés.— Você... — disse com a voz rouca. Deus... só a voz dele me derretia.Me afastei o suficiente para encará-lo.— Eu? — perguntei, confusa.Ele riu.— Sim. T
AlexanderForam segundos. Exatos segundos entre ela, frustrada por eu ter tirado o gesso, e depois, quebrada em meu colo por algo que eu disse. Não sou especialista, mas nem preciso ser para ver o trauma estampado nela. Uma simples palavra pode se tornar um gatilho.Evelyn oscila muito entre estar bem, estar mal... e indiferente a tudo. E, de verdade, isso está começando a me preocupar.Quando ela disse que não estava grávida, meu coração se alegrou. Era egoísta da minha parte, eu sei. Mas, se fosse para ela ter filhos... que fossem os meus. E não os dele.Mas foi quando começou a desabafar... A menção de Rachel e de como realmente se sentia... Eu não achei que aguentaria ouvi-la até o fim. Mesmo sabendo que ela precisava, eu queria correr dali. Não sou bom com essas coisas. Por um instante, tive medo de dizer alguma besteira e, no final, quebrá-la ainda mais do que já estava.Permaneci calado o tempo todo, até que...— Hoje faz um mês que Brandon morreu. E... um mês que te conheci...