Eram quase duas da manhã quando acordei, eu estava com muita sede, desci as escadas sonolenta para beber um pouco de água, fazia meses que eu não tinha um sono tão pesado como o daquela noite. Talvez fosse a similaridade da casa, da cama, do travesseiro, o cheiro da casa de classe média gravado na minha mente sem que eu tivesse percebido.
Tudo isso me deu trouxe uma tranquilidade que não experimentava por muito tempo. Eu não precisei acender as luzes ou abrir os olhos para encontrar um copo ou o filtro de barro que armazenava uma água fresca e limpa.
Fui capaz de beber três copos cheios de água antes de fazer o caminho de volta para meu quarto e cama. Eu já estava no segundo degrau quando por algum motivo não consegui me segurar. Molhei minha roupa e a escada. Eu estava zangada comigo mesma e desperta, quem não despertaria depois de fazer xixi nas calças? O pior é eu não estava tão apertada, ou estava?
Voltei a cozinha, pe
Quinze dias após o nascimento de Bea...Meus dias tem sido resumidos a Beatriz. Mal consigo comer e dormir. Ela acorda de três em três horas, chora muito... Eu fico perdida, a maioria das vezes não sei o que fazer. Choro o tempo todo junto com ela, tenho a sensação de que sou muito incompetente. Uma péssima mãe.Meu pai fica com ela no colo para que eu tome banho, na maioria das vezes não consigo tomar banho direito. Houve vezes em que eu nem banho tomei. Não lavo meus cabelos a mais de uma semana. Estou fedendo a leite azedo o tempo todo.Parece que esse cheiro está impregnado em mim. Me sinto suja, me sinto feia, me sinto horrível na maior parte do tempo. Minha vida se resume a Ana mãe da Beatriz. Porque é tudo que eu sou. Perdi minha identidade, perdi minha vida...Estou tão sozinha nisso tudo! Mesmo tia Lilian me ajudando por uma parte da manhã, ou meu pai a noite. Eu estou sozinha e n
Nove meses depois do nascimento de Bea...Bea estava com nove meses quando entrei na faculdade. As primeiras semanas foram uma maravilha, conseguia chegar em casa e dormir, tinha tempo para tudo. Mas depois...Eu vivia correndo pela casa aproveitava cada minuto de sono da minha filha para estudar, minhas olheiras quase sempre davam o ar da graça me fazendo parecer uma bruxa das histórias que contava a Bea.Histórias que eu acredito que ela não entendia nada. Mesmo assim insistia em contar. Eu gostava, era um dos momentos só nosso. Me fazia muito bem, no fundo acho que as histórias eram mais para mim mesma do que pra ela.Meu primeiro semestre foi muito, muito difícil, parecia que todo o universo se movia em prol da minha desistência. Perdi a conta de quantas noites eu chorei porque não conseguia desenvolver
Enquanto todos foram embora, inclusive meu pai e meus tios com minha filha, eu fiquei para me despedir dos convidados que ainda ficaram. Estou cansada, porém, me divertindo muito, muito, muito mesmo!Tessa me conta histórias sobre seu filho do meio, "o muleque" como ela mesma diz. Está sempre aprontando. Theo me olha com um pouco de constrangimento e eu acho ainda mais divertido._ Você acredita que uma vez ele colocou água num balde, estava frio aquele dia! - Tessa explica - O piso era de madeira, morávamos em Washington, o pai dele estava prestando serviços a uma construtora, ele queria fazer algum tipo de brincadeira estúpida, como sempre - a mulher da ombros - eu ouvi ele chamando o irmão, e depois um barulho alto. Pensei que tivesse caído mas, não. - ela faz um não longo e quase cantarolando - Theo colocou o balde de água em cima da porta entreaberta e gritou o irmão e quando Thi
Seis anos depois do nascimento da Bea Bruno: Faz duas semanas que Ana leva a Bea e eu busco ela escola. Ela tem trabalhado muito e quando passa aqui em casa para pegar nossa filha ela sempre está com aquele semblante cansado. Ela parece estar mais magra esses dias. Não quero parecer desesperado mas depois de saber que ela e Samuel terminaram uma luz de esperança brilhou no meu peito. Meu celular vibra sobre a mesa da cozinha, uma mensagem da mulher que eu amo avisando que ela está no saguão do prédio. Permito sua entrada e logo depois ela está na minha porta. _Boa noite. - Ana diz com seu agora costumeiro tom de cansada. _Boa noite, quer jantar? A lasanha ainda está quente. - É claro que está quente eu fiz questão de aquece-la para que Ana pudesse comer a comida ainda quente. _Onde está
_Ana!? - Levanto minha cabeça que agora dói muito. Meu pescoço está todo duro e para piorar meu braço está todo babado. - Você tem um sono pesado gatinha. - Theo diz sorrindo.Em algum momento da noite quando terminamos a arrumação eu me sentei na cadeira e acabei dormindo, é ridículo, eu sei.Eu estava sonhando que ia transar com ele!? Pior que isso, eu estava gostando muito. Minha pele arrepia com a lembrança do sonho. Passo as mãos sobre meu braço para tentar afastar a sensação, Theo sorri e me entrega sua jaqueta jeans._Não é muito quente..._Está ótimo, obrigada. - Agradeço da forma mais educada que consigo, se ele soubesse que estou assim porque estava sonhando com ele..._Quer uma carona? - dona Tessa pergunta._Você teria coragem de deixar uma jovem a essa hora da noite, sozinha, depois de ela ter te ajudado? - Theo faz uma careta de espanto e eu sorrio.
_Onde você está querendo ir Ana? - meu pai pergunta assim que desligo o telefone._No cinema com Theo e a Bea. - respondo como se não significasse nada._Theo? Esse não é o rapaz de ontem? Filho da Tessa? - meu pergunta e eu começo a ficar envergonhada.Meu pai sempre me diz que preciso de um namorado, que ainda sou jovem... Mas, estou com vergonha agora não sei porque._É... Ele é um amigo da faculdade também... Ontem ele me chamou para sair e... Você sabe, tem a Bea e... E... Então, vamos assistir algum filme infantil._Por que você não sai com seu amigo, não se diverte um pouco, Bea pode ficar conosco. Estaremos todos aqui quando voltar. - meu pai diz._Onde você vai? - minha mãe pergunta assim que chega.
Não acredito que já tem dois meses que estamos namorando. O tempo passou rápido. Estamos tão bem, acho que tinha muito tempo que não me sentia tão feliz. Theo é a colinha que eu precisava para colar cada pedacinho quebrado do meu coração.Ele não é bom só comigo, é outra criança ao lado da Bea. Ele não se importa em fazer planos para nós três, não se importa em passar a noite comigo no hospital porque minha princesa está doente. Theo não se importa, ele entende que eu sou a Ana mulher, mas sou também Ana a mãe da Beatriz._O que acha de parque de diversões? - pergunta enquanto dirige nos levando para minha casa depois de mais um dia de aula._Não sei... - suspiro - acho que só dá se formos no domingo. - pego no celular para olhar minha agenda - meu pai vai levar a Bea em uma festinha, de algum filho, de algum sócio... - dou de ombros enquanto meu namorado ri._Algum filho, de algum sócio? Já pens
Tenho ido visitar meu não namorado cada dia menos, ele me trata como uma amiga e eu acabei percebendo que sinto mais falta dos seus beijos e do contato físico do imaginei. Eu corro o risco de que ele se apaixone por outra pessoa, sei disso, o mais estranho é que pensar sobre isso me machuca de uma forma que não consigo explicar.Talvez eu estivesse me apaixonando por ele. Theo ainda me diverte, faz piada com o fato de ter se esquecido de mim. Descobrimos que ele não se esqueceu só de mim, o que não alivia a dor do meu coração, seis meses foram apagados de sua memória. De acordo com o médico essas memórias voltarão cedo ou tarde.Eu quero te-lo de volta, beijar sua boca mais uma vez, dizer que eu estava apaixonada por ele. Tínhamos uma chance que foi levada de mim, minha mente insiste em me dizer que ele não tem culpa, eu sei que não, meu coração é que não sabe e insisti em culpa-lo.