Andando na ponta dos pés como um ladão de desenho animado, Lenna foi até a porta, pegou a arma no aparador e a escondeu no cós da calça do pijama."Quem é?" Perguntou, encostada a parede, caso um atirador estivesse pensando em pega-la através da madeira."Bernard." Respondeu seu único amigo dentro do departamento policial, haviam frequentado a mesma escola preparatória e por coincidência designados ao mesmo departamento. Bernard também esteve presente no caso que ela havia trocado com Walt, o do posto de gasolina com o banheiro vandalizado.
Um clima sombrio empestava o ar do quinto departamento de polícia.Lenna que havia acordado horas depois do seu despertador tocar, estava vinte minutos atrasada. Era a primeira vez que isso acontecia, bem como a primeira vez desde que se tornaram investigadora de que ela dormira bem sem as preocupações dos seus casos corroendo a mente. Ao acordar, ela procurou Max no sofá da sala, onde ele deveria ter dormido, já que Lenna desistira de expulsá-lo. O sofá estava vazio, mas ela achou um bilhete nele: A encontrarei mais tarde. Uma única frase que a deixara com uma estranha sensação de ansiedade.Lenna passou pela recepção cumprimentando os atendentes e entrou no escritorio geral, notando assim que passou pelas portas de vidro uma comoção envolta da sua mesa. Travis, Walt e outros investigadores estavam discutindo sobre o que deveriam fazer."O que está acontecendo?" Perguntou Lenna, atraindo a atenção dos homens que não haviam a visto até então."Milton, está atrasada." Disse Travis, a
Lenna nunca gostara de suspense. Fugia dos filmes do gênero, lia as duas últimas páginas de um livro antes de iniciá-lo e nunca reclamava de receber spoilers. O suspense era como uma unha encravada, incomodava e sempre machucava mais segundos antes de ser retirada, o alívio vinha depois, é claro. Enquanto segurava o telefone esperando a voz misteriosa do outro lado da linha expor seus motivos, ela controlava a respiração, sabendo que se demonstrasse que estava interessada demais, podia ficar muito exposta e suscetível aos caprichos do criminoso.O departamento que nunca parava estava tão silencioso quanto, apenas ela e um técnico enviado para conectar o celular em um aparelho feito para rastrear o sinal estavam no prédio."Quero ajudar você." Disse a voz, finalmente."Pode me ajudar começando pelo seu nome e o motivo de estar fazendo isso." Disse Lenna."Não tenho um nome.""Como seus pais o chamam?""Não tive pais.""E amigos?""Nenhum verdadeiro.""Certo, do que quer ser chamado? D
"Você tá escondendo alguma coisa." Falou Oliver, jogando uma garrafa de água para Max. Ele a pegou no ar com uma das mãos, enquanto colocava a barra no descanso com a outra mão.Max se sentou, rompeu o lacre da garrafa e bebeu. Tinha feito mais séries de exercício com a barra do que costumava fazer, perdeu a contagem várias vezes pensando em Lenna, então reiniciou.Oliver continuou esperando por uma resposta. Como Max, ele havia sido amaldiçoado na antiguidade, transformando-se em lobo durante dez horas seguidas do dia, paciência era uma virtude que havia sido obrigado a exercitar, mas que por sua escolha continuava sem praticar."Desembucha." Exigiu Oliver, tirando a bandana da cabeça para amarrá-la novamente no lugar. - Me contou sobre os caçadores militares secretos que voltaram a dar as caras, mas tem alguma coisa além disso."Sabe porque chamei você e não o seu irmão?" Questionou Max, amassando a garrafa para acerta-la no cesto do lixo."Por que sou mais charmoso que Louis?" Brin
A ideia de continuar sozinha com Max, quando ele era tão descarado, para não dizer sedutor, foi o que fez Lenna convidá-lo para tomar um café em uma lanchonete. Ela esperava que estar fora de um ambiente privado fosse reduzir as tentativas dele.Lenna tinha visto o lugar enquanto dirigia até a casa dele, um prédio antigo, mas bem cuidado em seu interior, com tintura rosada nas paredes e toalhas de mesa vermelhas.O cheiro de pães, tortas e bebidas quentas flutuavam pelo ar quando eles entraram. Lenna sentou na cadeira em frente a de Max. O assunto era sério demais para que ela se deixasse distrair novamente por ele, o que recorrentemente era o que vinha acontecendo sempre que se encontravam.Seja profissional, falou mentalmente, cruzando as pernas em baixo da mesa quando se sentou, ela aguardou Max fazer o mesmo."Precisamos conversar." Falou de modo duro."Você quer respostas." Disse Max, olhando para ela com interesse.Lenna assentiu suavemente com a cabeça."Estou com um grande pro
Lenna não desejava fugir de Max, mas o costume era convidativo e seguro. Era mais simples se afastar e pensar com cuidado sobre o que haviam conversado do que continuar a encará-lo.Max não pensava assim, por isso correu até Lenna e segurou um de seus braços. Lenna pensou que ele insistiria em dizer para ela ficar, que ele se aproximaria e a beijaria ou tomaria qualquer outra atitude que fosse surpreendê-la e bombardeara com emoções, mas tudo que Max fez foi segurar firme seu braço, seu rosto assumindo a mesma expressão séria de minutos atrás, ele falou em um tom baixo, quase inaudível, deixando claro o perigo que poderia estar os rondando."Estamos sendo seguidos."Lenna sentiu os sentidos do corpo entrarem em alerta, ela começou a virar o rosto em busca de suspeitos, mas Max se aproximou com um passo, cobrindo seu campo de visão.As pessoas que transitavam pela calçada, continuavam a passar por eles, os ignorando enquanto tinham suas próprias pendências para resolver. Quem estivesse
Vincent Carter já havia esquecido quantas vezes disseram que ele não era um herói.Mas em especifico, lembrava-se de três vezes, a primeira quando tinha onze anos e morava antes da zona rural de uma pequena cidade do interior, se bem, que não há muitas diferenças entre zonas rurais e cidades pequenas do interior, como Vincent aprendeu na escola da cidade ao lado, era tudo uma questão de onde começam as cercas e de quando os alunos nativos param de lhe chamar de caipira.Vincent morava em uma casinha de tinta amarela com goteiras no alpendre que formavam cascatas nas paredes sempre que chovia forte no inverno, deixando madeira podre p
A segunda vez que Vincent se lembrava de ouvir que não era um herói, foi cinco anos depois, quando ele tinha dezesseis. Estava no ensino médio, na época em quer ser um bom garoto significava não cheirar pó, roubar o carro do pai ou comprar bebidas com uma identidade falsa.O telhado do alpendre havia sido consertado quando o pai colocou a casa a venda e eles se mudaram para a cidade ao lado, onde Vincent estudava durante o primário e passou a fazer o ensino médio. Ele já não tinha mais sua bicicleta vermelha ou os potes com moedas em baixo da cama. Invés disso trabalhava meio período como balconista em uma lanchonete e juntava o dinheiro do salário na esperança de ir embora, talvez começar uma faculdade. O trabalho não se resumia a apenas receber o dinheiro, ele também limpava mesas, recolhia pratos e acalmava as coisas quando os rapazes do time de basquete se excediam, indo sem convite para a mesa das garotas.Seu pai tentou o convencer a entrar no time, Vincent tinha o porte atlétic