Pietra Santini Deitada na cama, com a cabeça apoiada no colo da Malena, senti uma tranquilidade que há tempos não experimentava. Ela passava os dedos pelos meus cabelos, um gesto delicado que me trazia um conforto difícil de explicar. Eu estava cansada. Não apenas fisicamente, mas emocionalmente exausta. Meu pai, com seu jeito autoritário e frio, parecia sugar todas as minhas forças.— Malena… — murmurei, quebrando o silêncio do quarto.— O que foi, minha menina? — Sua voz era suave, como sempre, mas carregava uma preocupação que eu reconhecia bem.— Meu pai… Ele sempre foi assim? Tão… ruim?Ela parou o movimento por um instante, como se ponderasse o que dizer. Seu silêncio foi mais eloquente do que qualquer resposta imediata.— Ele não era assim. — começou, com a voz distante, como se estivesse puxando memórias de tempos mais felizes. — O Conrado sempre foi ambicioso, isso é verdade. Sempre quis mais, sempre sonhou alto, mas ele não era grosso. Ele nunca tratou mal sua mãe… pelo con
Adônis Hart 🕐 Sábado A semana passou voando. Foi estranho evitar a Pietra ao máximo, mesmo com a vontade de almoçar com ela ou trocar uma conversa boba para desanuviar. As palavras do pai dela martelavam na minha cabeça e sempre me faziam recuar. Agora estou aqui, encostado no carro, esperando Pietra. Quando a vejo vindo, está mais arrumada do que o necessário para o compromisso que tem. O vestido rodado e os saltos já me deixam em alerta. — Bora pra festa, Doni! — ela diz, radiante. — Festa? Que festa? Isso não tá na sua lista de afazeres. — A encaro, cruzando os braços. — Claro que tá. — Pietra solta um sorriso travesso. — Agora seria a confraternização do balé, não uma festa. — Reviso mentalmente o cronograma. — Exatamente! Eu também sei como dobrar meu pai. — Ela pisca, vitoriosa. — Você sabe que eu vou ter que contar isso pra ele, né? — pergunto. — Por Deus, Doni, não seja o cachorrinho do meu pai, ok? — Pietra revira os olhos, impaciente. — Vamos lá, vai ser
Adônis Hart A festa estava animada, com música alta e pessoas espalhadas por todos os cantos. Apesar do burburinho ao meu redor, meus olhos não desgrudavam de Pietra. Mesmo enquanto conversava com uma menina que parecia conhecer Pietra, minha atenção estava dividida. A garota era inteligente e tinha um sorriso simpático, mas, sem perceber, eu comecei a compará-la com Pietra. Não era justo. Ela não tinha a mesma leveza, o mesmo cheiro doce, nem aquela forma única de falar. Por que diabos eu estava comparando? Eu tentava me concentrar na conversa sobre jogos de videogame — um assunto que sempre me distrai —, mas minha preocupação com Pietra crescia a cada minuto. Eventualmente, olhei ao redor para encontrá-la e senti meu estômago revirar. Pietra estava sem sua jaqueta, com as bochechas coradas pelo álcool, e virando mais um copo de algo que eu não conseguia identificar. Péssimo segurança, Adônis, pensei comigo mesmo. Pedi desculpas para a garota com quem conversava, largando-a ali
Adônis Hart A noite parecia ter se tornado um pesadelo para mim. Enquanto ajudava Pietra a descer do carro, eu sentia o peso de todas as decisões erradas que havia tomado até aquele momento. O beijo. O toque. Meu Deus, como eu pude ceder àquele impulso?Ela resmungava algo incompreensível, tropeçando em cada passo, e eu a segurava com firmeza, sem chance de deixá-la sozinha em casa. Aquela garota que me provocava a cada segundo não estava em condições de cuidar de si mesma.— Ei, eu quero ir pra casa — murmurou, a voz embargada pela bebida e pela exaustão.— Você não tem a mínima condição de ficar sozinha. — Minha voz saiu firme, mas minha mente estava em um caos. — Vou cuidar de você. Quando estiver melhor, levo você para casa.Ela bufou, teimosa, mas não resistiu quando a guiei até minha casa. Minha mãe provavelmente já estava dormindo; o relógio passava da meia-noite. Ao atravessar a porta com Pietra, senti uma pontada de preocupação. Não era apenas sobre o que ela faria ou diria,
Pietra Santini Acordo com a cabeça latejando, a dor pulsando em um ritmo lento e constante. Minha boca tem um gosto terrível, como se um gambá tivesse decidido fazer dela sua morada. Solto um gemido baixo, pressionando a mão contra a cabeça em busca de algum alívio.— Ai… — resmungo, minha voz rouca pelo cansaço.Uma risada familiar ecoa pelo quarto. Abro os olhos lentamente e vejo Adônis encostado na porta, segurando um copo e uma cartela de remédios. Ele parece incrivelmente disposto, o oposto de mim.— Bom dia — diz ele com um sorriso divertido. — Trouxe remédio e suco. Vai ajudar com a dor de cabeça.Ele se aproxima, estendendo o copo e o comprimido para mim.— Obrigada — murmuro, aceitando o remédio. Engulo o comprimido com um gole de suco, sentindo o líquido ácido passar pela garganta. Faço uma careta e devolvo o copo para ele. — Meu estômago tá esquisito…— É por causa da bebida. Ontem ficou bem claro que você não é de beber.Solto uma risada fraca, assentindo. — Realmente, on
Pietra Santini Acordo na segunda-feira, por incrível que pareça, animada e cheia de energia. Meu domingo havia sido tranquilo, um dia perfeito para recarregar as energias e organizar minha semana. Depois de um banho rápido, desço para a cozinha onde minha mãe já tinha deixado um café da manhã digno de hotel: frutas, suco, pães e até panquecas.— Você vai precisar disso, parece que sua segunda vai ser agitada — ela brinca, enquanto corta frutas para o smoothie dela.Sorrio. De fato, meu dia seria cheio, mas gosto dessa correria. Após me alimentar bem, pego minhas coisas e sigo em direção à garagem.Assim que chego, encontro Adônis encostado no carro, com uma expressão concentrada enquanto digitava algo no celular. Ele usava uma camiseta preta que destacava os músculos e jeans despojados, deixando sua presença ainda mais impactante.— Bom dia, Doni! — digo me aproximando, tocando levemente o braço dele e dando um beijo no canto da sua boca.— Bom dia, Pi. — Ele responde, sorrindo de la
Pietra Santini O almoço havia sido descontraído e divertido. Luke era uma ótima companhia, sempre com uma piada na ponta da língua que nos fazia rir. Não era surpresa que o clima entre ele e Lana estivesse tão evidente. Era quase como se estivéssemos em um encontro de casais, e isso aquecia meu coração. Talvez eles dessem certo juntos. Quando finalmente cheguei em casa, a exaustão do dia me atingiu como uma onda. Haviam sido horas de atividades físicas intensas, e meu corpo clamava por descanso.Desci do carro e me despedi do Doni, permitindo-me ser um pouco ousada. Dei um selinho rápido nos seus lábios, esperando sua reação. Ele não reclamou. Pelo contrário, sorriu e retribuiu com outro beijo de boa noite. Meu coração disparou com aquele gesto simples, mas cheio de significados. Talvez estivéssemos, finalmente, avançando.Ao entrar em casa, fui surpreendida pelo silêncio, quebrado apenas pelo som do relógio na parede. Encontrei meu pai sentado à mesa de jantar, uma cena incomum. Ele
Adônis Hart Passei a semana observando Pietra definhar aos poucos. O pai dela, com sua presença opressiva, parecia sugar toda a energia que ela possuía. Sua alegria habitual foi substituída por uma apatia preocupante. Mal comia, andava sempre exausta, e seus olhos denunciavam noites mal dormidas. Tentei intervir, mas com Pietra, nem sempre era fácil. Ela suportava mais do que deveria, carregando o peso de um pai que fazia questão de esmagar qualquer lampejo de felicidade.— Pietra, eu acho que você não deveria ir nesse jogo de tênis com seu pai hoje — disse, tentando dissuadi-la.Seus olhos se encheram de lágrimas imediatamente. Mesmo cansada, ela era teimosa e leal a uma figura que nunca lhe deu motivos para ser.— Eu não tenho opção, Doni. — Sua voz saiu trêmula, e ela se jogou em meus braços.Nos últimos dias, nossa relação havia se tornado mais íntima. Estávamos próximos, trocando carinhos e partilhando confidências. Tentei, a princípio, manter a distância. Resistir a Pietra era