Adônis Hart A festa estava animada, com música alta e pessoas espalhadas por todos os cantos. Apesar do burburinho ao meu redor, meus olhos não desgrudavam de Pietra. Mesmo enquanto conversava com uma menina que parecia conhecer Pietra, minha atenção estava dividida. A garota era inteligente e tinha um sorriso simpático, mas, sem perceber, eu comecei a compará-la com Pietra. Não era justo. Ela não tinha a mesma leveza, o mesmo cheiro doce, nem aquela forma única de falar. Por que diabos eu estava comparando?Eu tentava me concentrar na conversa sobre jogos de videogame — um assunto que sempre me distrai —, mas minha preocupação com Pietra crescia a cada minuto. Eventualmente, olhei ao redor para encontrá-la e senti meu estômago revirar. Pietra estava sem sua jaqueta, com as bochechas coradas pelo álcool, e virando mais um copo de algo que eu não conseguia identificar. Péssimo segurança, Adônis, pensei comigo mesmo.Pedi desculpas para a garota com quem conversava, largando-a ali sem
Adônis Hart A noite parecia ter se tornado um pesadelo para mim. Enquanto ajudava Pietra a descer do carro, eu sentia o peso de todas as decisões erradas que havia tomado até aquele momento. O beijo. O toque. Meu Deus, como eu pude ceder àquele impulso?Ela resmungava algo incompreensível, tropeçando em cada passo, e eu a segurava com firmeza, sem chance de deixá-la sozinha em casa. Aquela garota que me provocava a cada segundo não estava em condições de cuidar de si mesma.— Ei, eu quero ir pra casa — murmurou, a voz embargada pela bebida e pela exaustão.— Você não tem a mínima condição de ficar sozinha. — Minha voz saiu firme, mas minha mente estava em um caos. — Vou cuidar de você. Quando estiver melhor, levo você para casa.Ela bufou, teimosa, mas não resistiu quando a guiei até minha casa. Minha mãe provavelmente já estava dormindo; o relógio passava da meia-noite. Ao atravessar a porta com Pietra, senti uma pontada de preocupação. Não era apenas sobre o que ela faria ou diria,
Pietra Santini Acordo com a cabeça latejando, a dor pulsando em um ritmo lento e constante. Minha boca tem um gosto terrível, como se um gambá tivesse decidido fazer dela sua morada. Solto um gemido baixo, pressionando a mão contra a cabeça em busca de algum alívio.— Ai… — resmungo, minha voz rouca pelo cansaço.Uma risada familiar ecoa pelo quarto. Abro os olhos lentamente e vejo Adônis encostado na porta, segurando um copo e uma cartela de remédios. Ele parece incrivelmente disposto, o oposto de mim.— Bom dia — diz ele com um sorriso divertido. — Trouxe remédio e suco. Vai ajudar com a dor de cabeça.Ele se aproxima, estendendo o copo e o comprimido para mim.— Obrigada — murmuro, aceitando o remédio. Engulo o comprimido com um gole de suco, sentindo o líquido ácido passar pela garganta. Faço uma careta e devolvo o copo para ele. — Meu estômago tá esquisito…— É por causa da bebida. Ontem ficou bem claro que você não é de beber.Solto uma risada fraca, assentindo. — Realmente, on
Adônis Hart Sério isso? Uma reunião em pleno domingo de manhã? Senhor Conrado não podia ao menos esperar até depois do almoço? Tem dias que eu me pergunto se ele faz essas coisas só pra provar que manda em todo mundo.Saio da casa em que moro com meus pais, que na prática é um anexo para empregados na mansão dos Santini. Trabalhar para eles é um destino que já estava traçado desde que eu era moleque. Cresci sendo treinado para isso — técnicas de defesa, condução, segurança particular. Meu pai é segurança pessoal do senhor Conrado há anos, e desde pequeno ele deixou claro que um dia eu seguiria o mesmo caminho. O que eu não esperava era começar antes dos trinta.Enquanto caminho para o escritório, passo pela cozinha e cumprimento minha mãe, que já está ocupada organizando o café da manhã de todo mundo, inclusive o nosso. Dou um beijo rápido no rosto dela, e ela sorri antes de voltar ao trabalho. Minha mãe é daquelas que sabe tudo sobre a casa e a família Santini, afinal, ela trabalha
Pietra Santini — Bom dia, Maleninha — cumprimento ao entrar na cozinha, depositando um beijo em sua bochecha enquanto ela termina de organizar o café da manhã.— Bom dia, querida. Vai sair hoje, mesmo sendo domingo? — pergunta com aquele tom carinhoso que só ela tem.— Ensaio extra de balé. Tem uma apresentação infantil chegando, e minha professora me escalou para ajudar as meninas — explico, suspirando, já sentindo o cansaço antecipado.— Você não para mesmo, hein? — ela sorri, com aquele ar gentil que parece um abraço silencioso. — Pelo menos se alimente direito, Pietra. Você anda comendo tão pouco ultimamente.— Ah, você sabe como é, Malena. Tenho que manter a forma — digo, sem graça, desviando o olhar.A verdade é que o balé nunca exigiu tanto de mim. A pressão para ser impecável não vem das aulas, nem das apresentações, mas sim do meu pai. Ele é o tipo de homem que vê uma mulher apenas como um reflexo de aparência, como se nossas conquistas fossem irrelevantes diante de uma cint
Pietra Santini Acordei com o corpo pesado, a sensação de exaustão me consumindo. Ontem as meninas no balé pareciam ter uma fonte infinita de energia, enquanto a minha já estava no limite. Ainda assim, eu não tinha escolha. A vida, com todas as suas exigências, não me dava tempo para parar.— Bom dia, Malena — digo, entrando na cozinha e me sentando à mesa.— Bom dia, querida. Sente-se e tome seu café — ela responde, já colocando um prato à minha frente.Enquanto pegava uma tigela de iogurte com granola e morangos, decidi perguntar algo que já sabia a resposta.— Meu pai está em casa?Malena suspira, o rosto expressando o mesmo pesar de sempre.— Não, meu amor. Ele viajou ontem, pouco depois de você chegar.— Certo — respondo, tentando soar indiferente, mas a sensação familiar de abandono lateja no fundo.Terminei meu café sem pressa. Não estava com muita fome, para variar. Hoje era dia de aula de alemão, e eu mal conseguia reunir energia para me arrastar até lá.Caminhei até o carro,
Pietra SantiniEnquanto o garfo vai da minha mão até a boca, noto o olhar de Alana. Ela não disfarça nem um pouco. Adônis está sentado do outro lado da mesa, alheio — ou fingindo estar alheio —, e ela o devora com os olhos como se ele fosse um banquete. É irritante.— Para de encarar o Adônis desse jeito — resmungo, tentando manter a voz baixa. — Deixa o cara comer em paz.Alana solta uma risada que me faz revirar os olhos antes mesmo de ouvir a resposta.— Não dá, amiga. O cara é um pedaço de mal caminho. Se você não quiser, eu quero.— Nem se eu quisesse — murmuro, cruzando os braços. — Ele é grosso e parece que tem algum problema comigo.— Será que vocês não já se conheciam? — Alana pergunta, inclinando a cabeça como se tentasse montar um quebra-cabeça. — Sei lá, brigaram na infância ou coisa assim?— Tenho certeza que não. Apesar de morarmos no mesmo terreno, eu quase não o via. Acho que... observava ele de longe às vezes, mas nada demais.— Então ele só não foi com a sua cara mes
Pietra Santini Ao abrir a porta de casa, fui recebida pelo som abafado de vozes na cozinha. Malena e Adônis conversavam em tom baixo, como se compartilhassem segredos. O contraste entre a seriedade habitual de Adônis e o sorriso sutil de Malena me surpreendeu. Era raro vê-lo assim, com traços tão humanos.Meu coração pesou. Talvez por inveja. Talvez pela saudade de algo que nunca tive. A ausência de minha mãe parecia ainda mais cruel em momentos como esse, em que uma interação simples me lembrava do vazio que carregava. Se ela estivesse aqui, tudo seria diferente. Talvez fôssemos uma família de verdade, e hoje, em vez de lidar com as sombras de um passado que não vivi, estaríamos comemorando seu aniversário.Tentei ignorar a dor enquanto caminhava até a cozinha.— Malena, estou com febre hoje, tudo bem? — perguntei, a frase carregada de um significado que só ela entenderia.Ela levantou os olhos para mim, preocupada.— Querida, tem certeza? Ele pode desconfiar. — A preocupação na voz