Dois

No quarto rolava de tudo. Desde o oral com sua barba rala e sexy por fazer, roçando em minhas coxas, até o sexo em si, no meio das cobertas recém arrumadas.

Depois almoçamos juntos e quando eu tentava arrumar qualquer coisa, Mateo vinha até mim e praticamente me jogava em cima da mesa, para que pudéssemos desfrutar da maravilha que é morar junto com quem se ama.

Estava tomando banho e ele aparecia, para me fazer companhia. Arrumava o quarto e Mateo me jogava na cama, desarrumando tudo de novo. Cozinhava e Mateo me puxava pelo avental porque achava sexy e acabava queimando a comida.

É completamente maravilhoso poder estar com quem se ama. Poder abraçar e beijar a todo momento, simplesmente porque deu vontade. Mas com tudo isso, vem as responsabilidades e as obrigações. Cuidar de uma casa, não é simplesmente varrer e fingir que faz comida, como nas brincadeiras de criança. É muito mais que isso. Tem que realmente manter a ordem e uma diplomacia formadas, dentro de casa, e saber dividir os horários para cada coisa.

Recém casados costumam achar que tudo é um mar de rosas, quando na verdade eles ainda precisam se estabilizar, trabalhar muito e conquistar cada espacinho de sonhos possíveis. Não é como nos filmes em que uma mulher fica sexy em qualquer blusa do namorado e coque frouxo bagunçado. Eu me via assim todas as manhãs e nunca entendi porque isso é visto como 'sexy' para tantas pessoas.

Não havia nada de sexy naquilo. Só me sentia largada e preguiçosa enquanto preparava mais uma vez o café, à espera de que Mateo aparecesse e se engraçasse para cima de mim. Mas eu, como estava tão desanimada com tudo, nem os dentes escovei e muito menos saí correndo para o banheiro quando Mateo veio me beijar, como antes. Estava tudo tão preto e branco, tão monótono que eu nem me importei e simplesmente virei o rosto e dei um sorriso falso.

— Ah não, Mateo, eu não escovei os dentes ainda.

— Eu não me importo, vem cá. — ele disse e me puxou para um beijo.

O beijo de Mateo é bom. O sexo é bom. Ele é bom. Na verdade, mais que bom. Sei que qualquer garota se apaixonaria por ele na certa. Sua pele é morena, tem cabelos e olhos castanhos e seu sorriso, é totalmente apaixonante. Seu jeito é tranquilo e é um verdadeiro cavalheiro em tudo o que faz.

Mateo é daqueles que dá flores e chocolates sem ser uma data importante. Daqueles que abre a porta do carro e até puxa a cadeira quando vai a um restaurante. Faz de tudo para agradar a pessoa que estiver com ele. É inteligente, vem de boa família e ama crianças e animais.

E era exatamente ali que morava o problema. Mateo era certinho demais. Muito 'inho' pra mim.

Eu preciso de mais. Embora não saiba como e muito menos onde encontrar.

[...]

À noite, Mateo insistiu tanto que acabou me convencendo no cansaço para irmos ao cinema. Vesti apenas uma calça legging preta, uma blusa da Coca Cola branca, um sobretudo e finalizei com um all-star branco de couro. Deixei meus cabelos lisos e soltos e quase não passei maquiagem. Não estava com saco para me maquiar e muito menos para sair.

E a cada coisa que fazia no dia, me lembrava de como era quando começamos a namorar. Igual quando fomos pela primeira vez ao cinema.

Nós não sabíamos qual filme iriamos assistir e eu tinha um dilema imenso com a minha escolha de roupa. Lembro de revirar meu guarda roupa inteiro e não encontrar nenhuma roupa boa o suficiente para me encontrar com ele. Experimentei: vestidos, shorts, saias curtas, saias longas; E não ficava satisfeita com nenhuma opção.

Mas por fim, acabei escolhendo a primeira opção que havia provado e fui com uma calça jeans lavado, com alguns rasgos, uma blusa de alças finas na cor branca, e uma jaqueta de couro preto por cima.

Naquele dia, os minutos pareciam não passar e só pensava em poder logo abraçar e beijar meu amor e passar o dia inteiro com ele. Sabia que seria perfeito e não via a hora disso acontecer logo.

Quando finalmente Mateo chegou, atrasado como sempre, nos despedimos de meus pais e seguimos até o shopping. Compramos vários doces, pipoca e refrigerante até que entramos, muito entusiasmados, na sala. Nós assistimos a um filme de terror, mesmo com Mateo tendo insistido para assistirmos um de comédia. Eu amo terror e não abriria mão de assistir o meu primeiro no cinema.

No fim, o filme foi uma grande bosta, uma merda, que nem ele ficou com medo. Saímos do cinema chateados, mas fomos lanchar e depois tomar um sorvete. Ficamos juntos a todo o tempo, de mãos dadas ou então com as mãos dele rodeando minha cintura. Ele sempre me olhava com um sorriso perfeito nos lábios ou então me distribuía beijos por todo o rosto e bagunçava o meu cabelo, mesmo sabendo que aquilo me irritava profundamente. Meu cabelo loiro natural, batia na altura do ombro, mas ainda assim, bagunçava com facilidade e me deixava com raiva. Mas ele sempre me lançava um daqueles sorrisos maravilhosos com seus dentes perfeitos e me deixando babando quase que literalmente.

Mateo me deixou em casa às dez, como havia prometido a meu pai. Assim que entrei em casa, meus pais olharam para o relógio e sorriram ao ver que estávamos sendo obedientes e pontuais.

Mas como infelizmente, o tempo passa e tudo muda, nós discutimos mais uma vez para a escolha do filme e como não estava com saco para discutir, deixei que ele vencesse dessa vez e compramos ingressos para um filme chato de merda. Só pode ser uma grande droga! Ficamos fazendo hora pelo shopping até dar o horário da sessão.

Minha vontade era de entrar numa livraria, comprar um livro me sentar em uma mesa qualquer e beber enquanto leio. Mateo me beijava e eu não aguentava toda aquela agarração.

Eu estava tão esgotada dessas idiotices. Não suportava mais essas coisas de menininhas e toda vez que ele me abraçava em alguma fila, eu dizia que estava com calor para que ele pudesse me soltar e me deixar livre, pelo menos um pouco.

O horário da sessão chegou e o braço de Mateo em meus ombros estava me irritando. Queria sentar direito, minhas costas estavam doendo e estava desconfortável naquela posição. Na verdade, a posição é desconfortável, mas qualquer pessoa apaixonadinha se sente maravilhada só de estar do lado do amado.

O filme já estava lá pela metade, mas ainda assim, parecia que tinham se passado cinco horas. Estava entediada, desconfortável e com calor. E Mateo não parava de me encarar e perguntar "o que houve?", eu sempre dizia que era nada, mas ele insistia em perguntar e isso estava me enchendo a paciência cada vez mais.

— O que foi?

— Nada.

— Fala! Eu sei que é alguma coisa.

— Se eu falei que é nada, é nada porra, que saco! — disse e me levantei em direção a saída.

Mateo veio atrás de mim, mas eu continuei andando.

— Hope! — chamou e eu nem olhei pra trás.

Já estava em frente a escada rolante quando Mateo correu e me alcançou, me puxando pelo braço e me fazendo olhar pra ele.

— O que é, porra?

— O que está acontecendo, Hope?

— Nada, só me deixa ir embora.

— Não, me fala o que houve.

— Já disse que não é nada! E acabou! — gritei, consegui me soltar dele e desci correndo pela escada rolante em direção a saída do shopping.

Por sorte estava com meu carro e poderia ir embora sem ele. Entrei no carro e corri pelo estacionamento, até a cancela da saída e iria até a casa de Roger. Ele é a única pessoa que sabe como estou me sentindo em relação a Mateo e é o único com que eu poderia conversar agora.

Eram só vinte minutos do shopping até a casa dele. Estava a três ruas de chegar, quando passei por um cruzamento em que o sinal estava aberto pra mim e na rua do lado, fechado. E então algum idiota ultrapassou e acabou batendo no meu carro.

Era tudo o que eu precisava, para terminar aquela noite muito bem.

Toda a angústia e peso na consciência que eu estava sentindo foi embora, no momento em que algum idiota bateu no meu carro, me deixando desconcertada e assustada.

Meu carro era novo e estava em perfeito estado, e até aquele momento, sem nenhum arranhão. Mas agora estava com o farol totalmente destruído e já era. Terei que me virar para pagar o conserto, o que com certeza será uma fortuna.

Saí do carro quase soltando fumaça pelas orelhas quando um cara alto saiu do outro carro. Seus cabelos grandes e cacheados me chamaram a atenção e tentei não transparecer a inveja que senti, ao reparar nos olhos verdes que ele tinha. Estava usando uma calça jeans e uma blusa de botão fechada até a altura do pescoço.

— Você é cego ou só lerdo mesmo? Não percebeu que o sinal estava fechado pra você? Isso poderia ter... — eu gritei, mas fui interrompida.

— Ei, ei, ei, calminha aí! O sinal está ruim e não percebi seu carro. Me desculpa. — o cara falou com seu sotaque forte e voz rouca.

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