AndréDepois do banho, visto apenas uma cueca, mas, antes de me vestir por completo, me jogo na cama. Meu corpo se estica num espreguiçar preguiçoso, enquanto um cansaço pesado me domina.Agora há pouco, depois da corrida, quase desabei no chão. Um mal-estar forte me atingiu de repente. Talvez seja apenas o desgaste. Meu trabalho me consome. Cuidar de várias empresas que levam o meu nome não é apenas uma questão de injetar dinheiro—isso é fácil. O difícil é fazer o negócio acontecer, impulsionar cada projeto com minha experiência e meu networking.Passo horas analisando gráficos, avaliando riscos, estudando projeções. Vivo em reuniões intermináveis, preso em decisões que moldam mercados. Sei que preciso delegar mais, contratar executivos que carreguem esse peso comigo. Mas a vida foi dura. E, para não encarar certos fantasmas, abracei tudo. Tudo. Como um polvo que se agarra ao que pode, temendo perder o controle.Agora sou refém do trabalho.Solto um suspiro, esfregando o rosto antes
AndréMinutos depois, estamos desfrutando do macarrão com queijo parmesão e um bom vinho. Ela hesitou no início, mas com um pouco de persuasão, consegui convencê-la a aceitá-lo. A visão de seus lábios ainda com vestígios de molho me deixa sem fôlego. Um calor crescente invade meu corpo, e o desejo que estou tentando controlar parece se tornar mais forte a cada segundo.Esforço-me para não desviar o olhar e, com um último suspiro de autocontrole, coloco a última garfada do macarrão na boca.— Deus! Estava maravilhoso — falo, a voz ainda carregada de prazer.Levanto os olhos para ela enquanto mastigo, e percebo que ela se serve mais vinho, num gesto que parece ser um pequeno refúgio para o que está por vir.— Sim, esse molho é único — respondo com um sorriso que mistura carinho e uma intensidade que mal consigo esconder. Quero que ela me deseje, e a vejo se desconcertar ao desviar os olhos.Ela toma um gole do vinho, e logo olha para mim com um sorriso tímido.— A comida estava realment
Acordo com um gosto amargo na boca e uma pressão incômoda no ventre. A urgência de fazer xixi me obriga a sair da cama, mas, antes mesmo de alcançar o banheiro, a lembrança do que aconteceu me atinge como um soco no estômago.O vaso.Meu Deus! Eu quebrei o vaso!Meu coração dispara e sinto um nó apertando minha garganta. Foi uma peça cara, eu sei. Provavelmente valia mais do que tudo o que possuo. A sensação de culpa pesa sobre meus ombros, e solto um suspiro frustrado enquanto lavo as mãos, evitando encarar minha própria imagem no espelho. Mas a vergonha me obriga a fazê-lo.O reflexo me devolve olhos um pouco inchados, a pele levemente pálida e um ar derrotado. Meu cabelo está bagunçado, um emaranhado de fios rebeldes que refletem a confusão na minha mente. Meu estômago revira e a vontade de sumir cresce dentro de mim.Saio do banheiro sentindo-me desolada, e quando ergo a cabeça, dou de cara com André, parado no meio do quarto. As luzes estão acesas, lançando uma aura dourada sobre
NatashaA escuridão do quarto parece engolir tudo ao meu redor, mas não consigo me desligar das palavras, dos gestos, da presença de André. Ele está em minha mente de uma forma implacável, como uma sombra que me segue, mesmo quando tento me esconder. O filme na TV é uma distração que não me ajuda, e logo eu sou consumida pelas lembranças de nós dois.Minha mente se torna um campo de batalhas internas. Eu o afastei, eu o afastei para proteger a mim mesma, para evitar o que sei que seria um tormento ainda maior. Mas o que fazer quando o coração bate forte, quando a alma ainda anseia por algo que não deveria desejar? O fato de ele buscar companhia em outros é como uma faca cravada no meu peito. Eu sabia que isso aconteceria, mas, ao mesmo tempo, não estava preparada para a dor.O que mais me incomoda é a fragilidade da situação. Como posso explicar o que ele fez por mim? Como posso racionalizar o fato de ele ter me trazido para este lugar, me ajudado de tantas formas, sem esperar nada em
NatashaEu me sento sobressaltada na cama.Um grito?Eu ouvi um grito?Minha respiração está ofegante. Demoro para me localizar. Só então dou-me conta de onde estou.No meu prédio era normal ouvir barulhos de todo tipo à noite. Mas aqui?Agora estou em meio ao silêncio.Deus! Será que foi coisa da minha cabeça. Pareceu tão real o grito. Bem, pensando direito pareceu mais um gemido apavorado.Calço meus chinelos e saio silenciosamente da cama. Abro a porta e aguço meus ouvidos.Ouço passos no corredor. Meu coração dispara quando André surge na minha frente. Um arrepio percorre minha espinha com sua presença alta. Mesmo na penumbra dá para perceber que ele está sem camisa. Então reparo nas gotículas de suor em seu belo peito peludo. Ao contrário dele, André só consegue ver meu rosto, pois eu estou escondida atrás da porta.Quando me dou conta que estou observando por tempo demais seu corpo, elevo meu olhar e foco em seus olhos.—Que está fazendo acordada princesa? —ele diz e avança, par
Assim que fica pronto, ela adoça o café para mim exatamente do jeito que gosto e me estende a xícara.Tomo um gole e, instantaneamente, o acho doce demais.Dio! Será que ela quer me empurrar para um quadro de diabetes?Engulo apenas metade, sentindo o açúcar exagerado ainda grudado na minha língua.—Esta semana será pesada para mim. Tenho milhares de compromissos para colocar em ordem antes de viajar na quarta-feira. Então, estarei fora a maior parte do dia e da noite. Pega leve com ela, está bem?—Já disse que meu problema não é com ela, é com você.—Tudo bem.Deixo a xícara na pia e pego minha pasta. Antes de sair, me aproximo de Lola e deposito um beijo breve em sua testa.—Arrivederci.Dou um passo em direção à saída, mas sua voz me detém.—E quanto às folgas dela?Me viro com a testa franzida.—Folgas?—Não combinou isso com ela?—Não —digo, pensativo.—E então?—Pode ser durante a semana.—Durante a semana? Por que não no domingo?Sinto um alerta acender dentro de mim. Lola quer
AndréDepois de uma semana sem vê-la, me deparo com ela me esperando na sala. Seus traços de menina e esse corpo de mulher sempre mexem comigo. Cada detalhe seu me provoca uma inquietação que não sei nomear.Não está sendo fácil encarar seu jeito arredio. Quero dizer algo que possa amenizar essa barreira invisível entre nós, mas as palavras parecem se perder antes de alcançá-la. Apenas aceno com a cabeça e sigo para a minha suíte, sentindo o peso dessa distância imposta por ela.Entro no quarto, ainda imerso em pensamentos. Retiro minhas roupas de forma mecânica, como se estivesse no piloto automático. Minha mente, no entanto, está longe, presa na imagem dela ali na sala. Natasha tem associado meu comportamento anterior em beijá-la com a minha inocente petição, e talvez tenha razão em pensar assim. Mas será que ela não percebe que há algo mais?Ela não está errada ao achar que sempre tenho uma segunda intenção, mas, nesse caso, não consigo simplesmente ignorá-la. Um fogo incontrolável
Dias depois, quinta-feira à tarde. NatashaEu estou bem à vontade. Uso um short jeans curto e uma frente-única preta. Está calor e eu ainda estou na lida da casa. Agora estou passando aspirador de pó no tapete. Lola já foi embora.Nós limpamos toda a cobertura. Só ficou isso para eu fazer.O barulho irritantemente alto abafa todos os outros sons na casa. Estou passando o bocal num cantinho perto do pé do sofá para finalizar meu serviço.Pronto!Aperto o botão e o desligo.—Buon pomeriggio.André?Eu me viro e dou com ele dentro de seu impecável terno cinza-chumbo, parado na entrada da sala olhando para mim. As manchas escuram nas pálpebras ainda estão ali.André está nitidamente cansado.Ele continua lindo. De manhã eu já havia notado quando ele se despedia de Lola com um beijo. Mas agora ele está luminoso. Ainda mais atraente, mais selvagem. Seu cabelo está meio bagunçado; ou pelo vento, ou por ele ter passado a mão várias vezes por ele durante o dia.Ele também retirou a gravata pr